27 fevereiro 2018

Mutações naturais


Pablo Picasso
Tudo furta-cor na cena política
Luciano Siqueira, no Blog da Folha 

Hoje, após o primeiro compromisso da manhã, sou abordado no elevador por um cidadão que se apresentou como "curioso" em matéria de política e me arguiu:

- Prefeito, por que a política em Pernambuco está toda furta-cor?

- Como assim? 

- Essas coligações que estão fazendo aí eu não entendo.

- Quais?

- O PT vai se juntar com o PSB e o PTB como o DEM?

- Sinceramente, não sei. Respondo pelo PCdoB. Daqui até as convenções, no início de agosto, muita coisa ainda vai acontecer. E muita conversa também.

Aproveitei a oportunidade para (tentar) esclarecer que o meu interlocutor chama de "furta-cor" é mera expressão da realidade como ela é. E a política, em certo sentido, não passa da face institucional da vida.

Assim, divergências, desencontros e conflitos nunca são definitivos quando acontecem entre forças políticas afins, ou seja, integrantes de um mesmo campo. Adversários de ontem podem se tornar aliados hoje justamente porque a agenda mudou.

O pensamento esquemático, lastro do sectarismo e da intolerância, "justifica" a postura de palmatória do mundo e frequentemente conduz ao autoisolamento.

E não há, na História da Humanidade, um exemplo sequer de conquistas obtidas por alguma força política isolada. A conjugação de forças é sempre necessária, seja na formulação do ideário a apresentar ao povo, seja na soma de energias militantes.

Ora, se agenda atual já não é a mesma de ontem; e se os que supostamente se equivocaram ontem mudaram de posição, só o espírito da Inquisição transportado para a luta política poderia justificar a recusa a novas alianças.

Isso dito numa conversa breve não fica muito claro, talvez. Por isso recorri a exemplos mais simples, da vida cotidiana no ambiente de trabalho, na escola, na família — para tentar me fazer compreender e, quem sabe, reforçar a ideia de que no Brasil de hoje a pedra de toque da resistência é justamente a união, a mais ampla e plural possível, de forças interessadas na restauração da democracia e na retomada do desenvolvimento em bases socialmente inclusivas e soberanas. 

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24 fevereiro 2018

Poesia sempre


Marcos Beccari
Para ti
Mia Couto

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida
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Cena política


Vieira da Silva
Dois lances e um desafio
Luciano Siqueira, no portal Vermelho

Em cenário tão complexo e imprevisível, a retirada de pauta da reforma previdenciária — por falta de votos suficientes para aprová-la — significa ganho para a oposição e para o movimento sindical e popular mobilizado e derrota para o governo.

Temer e seu grupo foram até o limite, tanto nas "negociações" com parlamentares em busca de apoio, como na flexibilização do texto da reforma, no afã de cumprir o compromisso assumido perante o Mercado, porém sem êxito.

A reforma previdenciária é uma espécie de símbolo de até onde o governo tem competência e capacidade política para honrar o programa de regressão neoliberal.

Concomitantemente, sobrevém a intervenção federal na área de segurança no Rio de Janeiro — jogada de alto risco, seja pela possibilidade real de enorme desgaste pelo fracasso, seja porque poderá aniquilar em definitivo as pretensões do próprio presidente impostor de se viabilizar candidato à no próximo pleito.

A violência criminal urbana é um fenômeno multicausal, que engloba uma gama de variáveis — das desigualdades sociais à falência do aparato repressivo.

Tanto na academia como nos meios verdadeiramente sérios envolvidos com a segurança, consolida-se já há algum tempo a compreensão de que uma política nacional que vise o provimento de condições de vida pacífica para o cidadão, há que combinar a prevenção com a repressão, com ênfase na primeira; na repressão, priorizar a inteligência e não o confronto armado aberto com as organizações criminosas; e precisa se apoiar num conjunto de políticas públicas destinadas a melhorar o padrão de vida da população.

Isto porque o grau de exclusão social produtiva, o nível de escolaridade, a densidade populacional, a densidade de habitantes por domicílio, a ausência de alternativas de lazer e de vida associativa comunitária, a ambiência favorável ao crime estimulada pelo modo espetacularizado como a questão é tratada pela grande mídia, a impunidade, a vulnerabilidade de nossas fronteiras ao tráfego de drogas e armas, a promiscuidade entre instituições policiais e agentes criminosos concorrem permanentemente para o incremente da criminalidade.

Entrementes, as fundações de estudos e pesquisas do PT, PSB, PDT e PCdoB introduzem na cena política um manifesto conjunto em que são lançadas as bases para um novo projeto de nação.

Contribuição da maior importância, num instante em que urge, como principal desafio, a construção de um programa de superação da crise e de redefinição dos rumos do País.
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Palavra certeira

Manuela: "Ao contrário de Temer, meu compromisso é com a democracia"
A pré-candidata à Presidência da República pelo PCdoB, deputada estadual Manuela D´Ávila (RS), cumpre extensa agenda de compromissos no Recife (PE), onde nesta sexta-feira (23) participou de debates, encontros e concedeu entrevistas para uma série de veículos no estado.
Por Dayane Santos, no Vermelho

Durante entrevista à Rádio Jornal, aos jornalistas Wagner Gomes, Fernando Castilho e Igor Maciel, do Jornal do Commercio, Manuela abordou o tema da segurança pública e a intervenção imposta pelo governo Michel Temer. Ela também falou sobre a conjuntura política e a judicialização da política que ameaça a democracia.

“Eu tenho compromisso com uma saída para a crise que passe pelo fortalecimento da democracia”, afirmou da deputada, que considera que o país enfrenta um momento grave.

“É preciso entender que a saída da turma do Temer para a crise é uma saída antidemocrática”, denunciou. Ela reforça que o golpe contra o mandato da presidenta Dilma foi por suas “qualidades, não pelos seus defeitos”.

“E o povo está vendo isso. Está vendo a reforma trabalhista, a reforma da Previdência. Está vendo a intervenção militar. Está vendo o corte de recursos para a universidades”, frisou a pré-candidata.

Segundo ela, o mercado financeiro trata a eleição como “um detalhe”. “Se o resultado de uma eleição não servir para o mercado, assim como não serviu as medidas de Dilma numa certa feita, cassa, mesmo sem crime de responsabilidade”, enfatizou.

Questionada sobre a crise na segurança pública do pais, Manuela enfatizou que é evidente que a situação financeira dos estados tem um impacto no conjunto de política públicas.

“Mas o tema da segurança no Brasil não pode ser tratado a partir de uma veiculação da crise fiscal dos estados”, disse ela, defendendo a necessidade de tratar o tema com mais centralidade. “É preciso debater soluções mais permanentes para o tema de segurança”, argumentou.

Segundo ela, ao optar por fazer uma intervenção militar, e não política como determina a lei, “Temer cria a ideia de uma Ministério de Segurança provisório. Como assim provisório, se o que o mundo nos mostra das experiências mais bem-sucedidas de combate à violência estruturaram medidas permanentes?”, indagou.

De acordo com a pré-candidata comunista, a questão da segurança pública passa pela necessidade de uma política nacional que promova as ações de inteligência e pela unificação dos procedimentos de polícia, entre outras coisas.

Judicialização - Manuela também abordou a judicialização da política e apontou o quanto essas ações promovidas por setores do Poder Judiciário tem ameaçado o estado democrático de direito.

“Eu sou contra a judicialização da política. Sou contra a judicialização da medicina. Sou contra a judicialização da psicologia, das artes. É isso que nós vivemos. E é muito grave”, asseverou.

Questionada sobre a condenação no Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região (Porto Alegre) contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Manuela foi enfática: “Nós não defendemos aquilo que nos convém enquanto partido. Defendemos aquilo que achamos justo. Achamos que o julgamento do presidente Lula é político porque não existem provas contra ele”. 

Leia também:
Recife recebe Manuela ao ritmo de tambores e empoderamento feminino
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Regressão

Precarização + discriminação: IBGE revela que desemprego demora mais para ceder entre mulheres e pessoas negras ou pardas.

23 fevereiro 2018

Pré-candidatas


Manuela, Luciana e o debate pré-eleitoral
Luciano Siqueira, para o Blog de Jamildo/portal ne10

Daqui até agosto, quando se realizarão as convenções partidárias destinadas a celebrar candidaturas e alianças eleitorais, a cada instante se intensificarão as démarches entre forças políticas distintas mirando o pleito de outubro.

Até aí nada de novo. Passado o carnaval, em ano eleitoral é assim que as coisas acontecem.

A diferença está na complexidade da situação brasileira, marcada por uma crise grave e multifacetada, pela instabilidade e, podemos dizer, pela imprevisibilidade.

O ambiente social e político no qual acontecerá o pleito, particularmente no que diz respeito ao comportamento do eleitorado, ainda é uma incógnita.

Assim, simplesmente repetir fórmulas antigas não é o caso. Há que se reinventar a política, por assim dizer, sem desconsiderar o passado, sobretudo o passado recente, mas com o olhar focado no presente e no futuro mediato do país.

Nesse contexto, ganha corpo a pré-candidatura da deputada gaúcha Manuela D'Ávila à presidência da República, pelo PCdoB. 

Manu, como costuma ser chamada no Rio Grande do Sul, onde por duas vezes consecutivas foi a deputada federal mais votada dentre todas das legendas partidárias, embora ainda jovem, acumula rica experiência - seja nos movimentos sociais, de onde surgiu, seja no seu desempenho parlamentar, inclusive como líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, com reconhecido destaque. 

Em parceria direta com a deputada pernambucana Luciana Santos, presidente nacional do PCdoB, vem percorrendo o país para dialogar com os mais diversos segmentos da sociedade e correntes políticas democráticas e progressistas acerca da crise atual e o que considera traços essenciais de um novo projeto de nação.

É uma pré-candidatura que dialoga com as demais situadas no campo democrático e, inclusive, defende com firmeza o direito do ex-presidente Lula disputar o pleito.

Assim como Luciana Santos, no âmbito local, tem seu nome apresentado por seu partido para compor a chapa majoritária como candidata ao Senado. 


Embora as coalizões ainda não estejam definitivamente firmadas, o PCdoB entende que a presença da deputada Luciana Santos como candidata a senadora contribuirá para matizar com traços avançados uma frente ampla e plural. 

Está há de ser uma construção solidária entre as forças aliadas, a se consumar no momento devido.

Na próxima quinta-feira e durante toda a sexta, Manuela estará no Recife, juntamente com Luciana, cumprindo uma agenda que mescla contatos com a comunidade científica, o mundo da cultura, a militância partidária e dos movimentos sociais e a imprensa, incluindo a "Resenha política" deste Blog de Jamildo, culminando com um debate sobre os rumos do país no auditório do Bloco G2 da UNICAP, a convite da Associação dos Docentes.
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22 fevereiro 2018

Para quem?

“A economia vai bem“, diz Michel Temer. Mas 77% dos brasileiros ficam sem plano de saúde. Vai “bem” pra quem? 

20 fevereiro 2018

O prazer da fotografia

Cena urbana: A menina e o mar (Foto: LS) #cenaurbana #lucianosiqueira •http://bit.ly/2sjqfJc‬ 

Outubro na pauta


Agora é pra valer
Luciano Siqueira, no portal Vermelho e no Blog do Renato

Ao contrário do samba, que proclama "agora é cinza, tudo acabado e nada mais", passado o carnaval o ano começa, finalmente — e o jogo político mirando o pleito de outubro é pra valer.
Nacionalmente e em cada estado.
Tudo dentro de um script ainda indefinido, tamanha a instabilidade reinante na cena política.
A uma força política consequente cumpre examinar os acontecimentos com atenção, noção de processo e descortino de médio e longo prazo.
A História é rica em exemplos, no Brasil e alhures, de que nem sempre a corrente política organicamente mais poderosa resulta vitoriosa. Ou plenamente hegemônica.
Algumas têm força acumulada, mas não têm juízo. E das que têm juízo, ainda que preliminarmente menos robustas em termos de efetivos militantes, votações acumuladas e poderio financeiro, alguma pode vislumbrar "janelas de oportunidade" e, mediante ousadia e flexibilidade tática, alcançar importantes resultados.
Parece uma especulação distante da realidade. Mas não é.
Aqui mesmo em Pernambuco, na história recente, desde 2000, vitórias obtidas pelo PT no Recife, pelo PCdoB em Olinda e pelo PSB em âmbito estadual o confirmam.
Demais, num ambiente confuso perante o olhar do eleitor, e ainda palmilhado por contradições "internas" de certa monta, praticamente em todas as coalizões em formação, cabe a análise paciente, circunstanciada e o quanto possível precisa do cenário em formação.
As convenções partidárias que celebrarão as alianças e as candidaturas acontecerão em agosto. Tempo suficiente para avaliar tendências e possibilidades.
No que concerne ao PCdoB, de largueza de raciocínio e ainda insuficiente força organizada, a pré-candidatura da deputada Manuela D'Ávila à presidência da República, condutora do projeto nacional sustentado pelo Partido, pode e deve se confirmar agora, em ritmo acelerado, como polo aglutinador de energias criativas e de iniciativa militante em toda parte.
Para mobilizar as base partidárias próprias e semear o debate junto a segmentos políticos e sociais no campo democrático e progressista.
Daqui até agosto, pra valer - quaisquer que sejam as variações táticas que venham a prevalecer na disputa presidencial e no âmbito dos estados.
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16 fevereiro 2018

Lobby

Nos EUA, cada estado possui regras específicas sobre a posse privada de armas de fogo. Massacre da Flórida não deve provocar mudanças. O lobby da indústria armamentista segue com todo o poder.

Nó cego

Vox Populi: 85% dos brasileiros rejeita reforma previdenciária. Em ano eleitoral, cada vez mais difícil a Temer comprar os votos que faltam. 

14 fevereiro 2018

Conflito

Se Alckmin é o pré-candidato do PSDB e FHC estimula o apresentador Luciano Huck, no mínimo o ninho tucano está sem rumo definido e pode rachar quebrando muitos ovos.

09 fevereiro 2018

Realinhamento de forças


Juan Carlos Bonilla
Quem é você, para onde vamos? 
Luciano Siqueira, no portal Vermelho e no Blog do Renato

Já em pleno carnaval, pois há dias em muitas cidades do país saem blocos de rua, as articulações políticas ganham um quê de fantasia, ainda que presas à realidade...

No que se refere aos blocos em formação para a disputa nos estados, os versos de Chico Buarque caem muito bem:
“- Quem é você, diga logo...
- Que eu quero saber o seu jogo...
- Que eu quero morrer no seu bloco...
- Que eu quero me arder no seu fogo.”

Aqui mesmo na mauriceia, enquanto o prefeito do Recife, Geraldo Julio e o governador Paulo Câmara, ambos do PSB, declaram que a oposição a Temer põe num mesmo lado socialistas e petistas, e líderes do PT admitem a hipótese de uma aliança de ambos no próximo pleito (embora sofrendo resistências internas), o senador Armando Monteiro, PTB, ex-ministro de Dilma, incomodado com esse movimento e hoje aliado da base governista no plano local, denuncia o PSB como co-responsável pelo impeachment de Dilma...

Ou seja: há constrangimentos e cobranças mútuas, sob o ângulo e o interesse de cada um, em razão de posições discrepantes recém-adotadas. O realinhamento de forças, fenômeno comum e recorrente na cena política, nem sempre é bem assimilado.

Mas é tão natural quanto o parto aos nove meses de gestação! Mais ainda na complexa e instável situação brasileira.

Errado seria engessar opiniões e atitudes, como se fosse possível paralisá-las no tempo, em contraste com a realidade concreta, que dialeticamente impõe o repouso como relativo e o movimento como absoluto.

Se tudo está em permanente movimento e pode se dissolver no ar... como não considerar o redesenho de forças diante de uma nova situação criada?

O que atrapalha é a visão esquemática e mecanicista de alguns, colados no sectarismo e na intolerância, que teimam em desconhecer a realidade como ela é. Para estes, o relógio deveria marcar sempre e invariavelmente meio dia e meia noite. Qualquer alteração nos ponteiros perturba.

O PCdoB está infenso a esse tipo primário de incompreensão. Sobretudo do início dos anos sessenta do século passado em diante, vem acumulando amadurecimento teórico e tático que o permite combinar, na prática, firmeza e determinação na busca de objetivos lastreados estrategicamente com o máximo de amplitude e flexibilidade tática.

Daí comparecer às mais diversas coalizões no campo democrático e popular, buscando sempre a unidade possível em torno de proposições ao alcance do conjunto, sem entretanto borrar seus propósitos estratégicos e a sua independência de classe.
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07 fevereiro 2018

"Não é não!"


Assédio não tem graça
Cida Pedrosa*

Carnaval é sinônimo de alegria, irreverência, criatividade. Também é momento e espaço de manifestações culturais tão caras ao nosso povo como o frevo, o maracatu e os caboclinhos. Infelizmente, nessa festa de pierrôs, colombinas, Mateus e Catirinas quase sempre aparecem personagens indesejáveis.  Fantasiados ou não, eles podem ser identificados pelas suas atitudes equivocadas e machistas. Não entendem que mulher fala sério quando diz “Não!”, que roubo de beijo também é crime e que assédio não é brincadeira e não tem graça nem durante o reinado de Momo.
De olho nessa situação, estamos lançando, na semana pré-carnavalesca, a terceira edição do Pequeno manual de como não ser um babaca no Carnaval, uma parceria entre a Secretaria da Mulher e o Gabinete de Imprensa da Prefeitura do Recife. Usando a mesma linguagem leve e divertida que transformou as edições anteriores em sucesso de público e mídia com repercussão nacional, o manual mostra a conduta de uma dessas personagens desagradáveis da folia, o Zé Mamão. Ele não entende os limites entre flerte e assédio e acaba causando transtornos por onde passa.  Essa publicação será distribuída em todos os polos descentralizados do Carnaval recifense.
Para esvaziar o “Bloco do Zé Mamão”, pretendemos estimular as mulheres a denunciar qualquer tipo de agressão sofrida.  Essa ação começa no desfile do bloco carnavalesco político Nem com Uma Flor, criado para ser um espaço de prevenção à violência contra as mulheres.  Vamos divulgar material informativo com os serviços que estarão funcionando durante o Carnaval para apoiar mulheres vítimas de qualquer tipo de violência, seja física, psicológica, moral ou patrimonial. Mais uma vez, elas poderão contar com a Central da Mulher para fazer denúncias ou, simplesmente, pedir orientação.
A unidade será instalada na Rua do Observatório, no Bairro do Recife, e vai funcionar das 16h às 22h com uma equipe multidisciplinar do Centro de Referência Clarice Lispector, composta por advogadas, assistentes sociais e psicólogas. Este ano, a equipe vai contar com o apoio da recém criada Brigada Maria da Penha. Quem preferir denunciar por telefone poderá discar para o serviço gratuito Liga, Mulher (0800 281.0107).
Todas essas iniciativas fazem parte de um política que vem se intensificando nesses últimos dois anos de combate ao assédio, com ações coordenadas e apoio a iniciativas de movimentos sociais que defendem os direitos das mulheres. Entendemos que é preciso aproveitar esses grandes eventos – quando ficamos mais vulneráveis - para esclarecer as pessoas sobre temas como igualdade de gênero e respeito à diversidade. Pierrôs, arlequins, papangus: abram alas que ela vai passar como quiser e gostar!
* Secretária da Mulher do Recife
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05 fevereiro 2018

Disputa internacional

O que a disputa da Boeing com a Bombardier diz sobre o Brasil
Dizer que os países desenvolvidos deixam o mercado agir livremente não passa de uma mentira mal-intencionada

Por Manuela D'Ávila, na "Folha de S. Paulo"

O jornal britânico "The Guardian" trouxe em janeiro reportagem sobre uma queda de braço entre os Estados Unidos e o Canadá a respeito da importação de aeronaves. De um lado, estava a norte-americana Boeing. Do outro, a canadense Bombardier.

A Boeing acusou a Bombardier de vender jatos abaixo do preço de custo para a companhia norte-americana Delta Airlines e disse que o dumping teria sido financiado por subsídios ilegais dos governos do Canadá e do Reino Unido (este último está interessado no tema porque uma das principais fábricas da Bombardier fica na Irlanda do Norte).

Por conta disso, o presidente dos EUA, Donald Trump, chegou a ameaçar subir os impostos de importação da Bombardier em 292%.

No dia 25, no entanto, a Comissão de Comércio Internacional dos EUA votou por unanimidade em favor da companhia canadense, o que deve salvar milhares de empregos na Irlanda do Norte.

O que eu pretendo realçar não diz respeito a essa disputa em si, por mais que seja instigante dada a importância econômica e geopolítica da fabricação de aviões.

Chamo a atenção para um fato que pode ter passado despercebido por aqui: os protagonistas da contenda não foram os presidentes das empresas, nem seus respectivos departamentos jurídicos, mas os principais líderes políticos dos três países envolvidos. A luta entre Boeing e Bombardier foi, na verdade, uma importante queda de braço entre Theresa May e Justin Trudeau, de um lado, e Trump, de outro.

Foram eles que usaram sua força para pressionar a Comissão de Comércio Internacional dos EUA em favor dos interesses de seus respectivos países.

A história começou quando Trump, preocupado com o avanço da empresa canadense sobre o mercado da Boeing, decidiu estabelecer taxas que preservassem o mercado americano para a empresa de seu país, dificultando a entrada de aeronaves fabricadas pela concorrente.

A justificativa para estabelecer a taxação? Os governos do Canadá e do Reino Unido teriam oferecido subsídios pesados para a Bombardier, de modo que não haveria livre concorrência no caso.

Trump lutando pela Boeing. Trudeau, pelos interesses geopolíticos e tecnológicos do Canadá. May, pelos empregos em Belfast.

Enquanto esses governos lutam com unhas e dentes pelos interesses de suas empresas estratégicas e pelo emprego qualificado de seus trabalhadores, o que o Brasil faz?

Promove uma política econômica que desindustrializa o país, aceita e patrocina um processo violento de desnacionalização e, justamente na aviação, apesar do jogo de cena, permite que a Embraer seja comprada pela Boeing.

Esse caso da disputa que citamos é muito representativo. Dizer que os países desenvolvidos deixam o mercado agir livremente é uma mentira mal-intencionada.

Prova ainda a importância estratégica da indústria de ponta, especialmente em um setor decisivo, inclusive para assuntos de defesa, como o da fabricação de aviões.

E, por último, demonstra que qualquer governo comprometido com o desenvolvimento tem a obrigação de proteger, incentivar e fomentar sua indústria.

Essas são as regras do jogo geopolítico internacional. Diante delas, só há duas opções: lutar pelos interesses do país ou traí-lo, transformando-o em um quintal neoextrativista habitado por um povo pobre e sem perspectiva.


Manuela D'Ávila* é deputada estadual pelo PCdoB no Rio Grande do Sul e pré-candidata do partido à Presidência da República

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Deplorável

Rodrigo Maia e Michel Temer trocam farpas na disputa sobre qual dos dois é mais competente para “acalmar” Mercado. Ai de ti, República! 

Diretrizes do PCdoB

Amplitude para enfrentar a direita e vencer as eleições
Resolução do PCdoB

Reunida nesta sexta-feira (2), em Brasília, a Comissão Política Nacional do PCdoB divulga resolução em que afirma que diante da ofensiva da direita é preciso reagir com amplitude para enfrentar e vencer as eleições.
O texto aponta ainda que a investida jurídica contra o ex-presidente Lula é um capítulo “a mais” do golpe no Brasil, que visa abrir espaço à eleição de um candidato conservador para dar continuidade à agenda neoliberal.
O PCdoB reafirma que mesmo que os partidos de esquerda lancem diferentes nomes na disputa ao Planalto, o cenário exige um movimento de Frente Ampla.
“O PCdoB simultaneamente que sustenta e fortalece a pré-candidatura de Manuela D’Ávila, se empenha para que a esquerda dialogue entre si e estabeleça um proativo contato com um amplo leque de forças, movimentos, lideranças e representações dos trabalhadores, do povo, do empresariado, do mundo da cultura, das instituições do Estado”, diz a nota.
Nesse sentido, o partido ressalta que Manuela se movimenta de forma a ajudar a tecer esse movimento de Frente Ampla, que os comunistas consideram o caminho para que as forças progressivas voltem ao governo do país. A Comissão Política defende ainda que, para enfrentar a ofensiva da direita, é preciso persistir na mobilização do povo e dos trabalhadores, em defesa de seus direitos.
Confira abaixo a íntegra:
Ante ofensiva da direita, reagir com amplitude para enfrentar e vencer as eleições
O ano da sucessão presidencial começou com um gravíssimo ataque à soberania do voto popular. No último dia 24 de janeiro, a Oitava Turma do Tribunal Federal da Quarta Região (TRF-4), sem apresentar prova alguma – alicerçada tão somente em indícios derivados de depoimentos de criminosos confessos que receberam benefícios de delações premiadas – condenou o ex-presidente Lula, em segunda instância. A condenação de Lula é o ápice do ativismo político de parte Ministério Público e do Judiciário, a serviço de forças políticas conservadoras e de uma agenda de cunho ultraliberal e antinacional.
Em uníssono com juristas e advogados do Brasil e do exterior, o governador Flávio Dino, do Maranhão, ex-juiz federal, destacou vários aspectos do julgamento e da sentença que colidem “com milhares e milhares de páginas” do Direito brasileiro. Em particular sobre a sentença de mais de 12 anos de prisão, Flávio Dino argumentou que ela foi aumentada com o nítido objetivo de evitar a prescrição em decorrência da idade do réu, algo que nunca antes havia acontecido no direito brasileiro.
Um novo golpe contra a democracia
Agravam-se assim ainda mais a instabilidade política do país, a crise institucional, o desequilíbrio entre os Poderes da República.
Para o PCdoB e para sua pré-candidata à Presidência da República, Manuela D’Ávila, cassar os direitos políticos de Lula, prendê-lo – objetivo que vem sendo meticulosamente construído desde o impeachment – trata-se de uma investida infame, um capítulo a mais do golpe de Estado, de tipo novo, jurídico-parlamentar, que em agosto de 2016 mutilou a democracia com a deposição da presidenta Dilma Rousseff por meio de um impeachment fraudulento. Para os comunistas, essa investida visa a abrir espaço à eleição de um candidato do campo político conservador que dê continuidade à agenda neoliberal e neocolonial do governo ilegítimo de Michel Temer. Desse modo, os comunistas reafirmam sua solidariedade ao ex-presidente Lula e seguirão na luta contra o estado de exceção e na jornada em defesa do direito de Lula se candidatar.
Direita neoliberal se debate em dificuldades
O campo político conservador, embora esteja na ofensiva, enfrenta dilemas, ainda não se coesionou em torno de uma candidatura e carrega a responsabilidade de ter entronizado Michel Temer, um dos presidentes mais rechaçados e impopulares da história da República.
Cresce a indignação do povo em face do desemprego, de uma crise que não tem fim, de um governo que usa o dinheiro público para abertamente barganhar votos no Congresso Nacional para cortar direitos, como faz agora, com mais uma tentativa de a preço de ouro aprovar uma antirreforma da Previdência. Cresce a repulsa em setores da Nação a um governo que dilapida os bancos públicos, como fez com o BNDES para cobrir rombos do deficit fiscal, e criminosamente vende o patrimônio público como busca fazer com a privatização da Eletrobras, com a entrega da riqueza do pré-sal às petroleiras estrangeiras.
Movimento de Frente ampla para a esquerda e o campo progressista retomarem o governo
É grande a responsabilidade, ante momento tão grave, dos partidos, das lideranças, dos movimentos, das personalidades, que têm compromisso com o Brasil e com a classe trabalhadora. Essa situação cobra, sobretudo da esquerda brasileira, uma conduta política sagaz, flexível e, ao mesmo tempo, de coragem e coerência.
Na atual fase da pré-campanha eleitoral, é legítimo que cada partido da esquerda e do campo progressista que tenha formado convicção para tal, lance pré-candidaturas e as movimente com a maior intensidade possível. As legendas de esquerda e suas pré-candidaturas não podem, todavia, perder de vista que a força e a ofensiva da direita exigem um movimento de Frente Ampla do campo da Nação e da classe trabalhadora, dos partidários da democracia, do Estado de Direito contra o estado de exceção. O esforço conjunto para se elaborar um projeto de fortalecimento e desenvolvimento da Nação pode contribuir para se alcançar esse objetivo.
Neste sentido, é promissora a articulação das Fundações do PT, PDT, PSB, PCdoB e PSOL que conjuntamente estão debatendo um Manifesto programático em torno de alternativas para o Brasil.
A pré-campanha de Manuela D’Ávila
O PCdoB simultaneamente que sustenta e fortalece a pré-candidatura de Manuela D’Ávila, se empenha para que a esquerda dialogue entre si e estabeleça um proativo contato com um amplo leque de forças, movimentos, lideranças e representações dos trabalhadores, do povo, do empresariado, do mundo da cultura, das instituições do Estado. O movimento de Frente Ampla, construído e liderado pela esquerda, é o caminho, da ótica do PCdoB, à vitória das forças progressistas para que retomem o governo da República.
A pré-candidata Manuela D’Ávila se movimenta ajudando a “tecer” a Frente Ampla e lutando pela vitória das forças da Nação e da classe trabalhadora nas eleições presidenciais de outubro. Manuela realiza uma diversificada agenda no país, com trabalhadores, empresários, intelectuais, artistas, mulheres, jovens, tendo em vista elaborar seu programa de governo focado num novo projeto nacional de desenvolvimento.
Enfrentar a ofensiva da direita exige também persistir na mobilização do povo e dos trabalhadores em defesa de seus direitos sob ataque contínuo do governo Temer. Desse modo, é imperativo fortalecer a agenda de mobilizações das entidades e movimentos sociais na qual se destaca o Dia Nacional de Luta contra a Reforma da Previdência, marcado pelo Fórum das Centrais Sindicais para 19 de fevereiro, quando deverão acontecer greves e manifestações. É importante, também, fortalecer a realização do Congresso do Povo Brasileiro convocado pela Frente Brasil Popular.
Dar prosseguimento à construção e ao fortalecimento do Projeto Eleitoral do Partido
Finalmente, o PCdoB renova o chamamento às suas direções e ao seu coletivo militante para que dê prosseguimento às tarefas e aos preparativos que visem a assegurar a vitória do projeto eleitoral do PCdoB de 2018 ultimando as definições de objetivos e metas, táticas eleitorais e candidaturas, com a pré-campanha e o planejamento da campanha desde já, conforme as indicações da Comissão Política de dezembro de 2017, bem como do Encontro Nacional sobre as Eleições de 2018 realizado em 2 e 3 de fevereiro.
Renovamos, também, o apelo ao eleitorado do Partido, aos aliados, amigos, amigas, ao campo político e social progressista, que venham apoiar e respaldar o PCdoB na jornada que empreende desde já para superar a antidemocrática cláusula de desempenho. Restaurar a democracia exige uma esquerda forte, um PCdoB expressivo no Congresso Nacional e demais Casas Legislativas. Uma esquerda forte, o PCdoB e o campo político do povo fortalecidos, demandam a reeleição do governador Flávio Dino, no Maranhão, que realiza um governo democrático, desenvolvimentista e direcionado para distribuir renda e melhorar a qualidade vida do povo.
Brasília, 2 de fevereiro de 2018
Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil – PCdoB


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Jogo duro

Câmara e Senado iniciam o ano divididos diante da agenda anti povo proposta por Temer. Aumentar a pressão é preciso. 

04 fevereiro 2018

Humor de resistência

Maurício vê a imagem de Temer perante a opinião pública.

Insustentável

Capitalismo ultraconcentrador: 82% de toda a riqueza do planeta nas mãos dos 1% mais ricos. Prenúncio de novo ciclo de transformações revolucionárias futuras.

03 fevereiro 2018

Democratização da gestão pública

Manuela D'Ávila, pré-candidata à presidência da República, propõe a democratização da gestão pública nos três níveis federativos, tendo como fio condutor a execução orçamentária.

A força do capital

Temer usa poder dos donos do dinheiro para mudar a Previdência
Editorial do Vermelho

Quando o dinheiro manda, quem dá as ordens são os donos do dinheiro. Esta verdade é novamente comprovada pela notícia, divulgada nesta terça-feira (30), de que o governo usurpador de Michel Temer repassou a agentes do mercado financeiro uma lista com os nomes de pelo menos 90 deputados federais “indecisos”, contrários à contrarreforma da Previdência.

A informação, obtida pela Agência Reuters, foi confirmada por duas fontes – uma do mercado e outra do próprio Palácio do Planalto.

O governo radicaliza seu privatismo exacerbado e, ao apelar para a ajuda do “mercado”, para convencer estes deputados, terceiriza sua própria ação política. Que, por esta via canhestra, prescinde da legitimidade que os mandatos eletivos representam, e repassa a intermediação política diretamente para os donos do dinheiro. Cujo instrumento de pressão é o tilintar das moedas. O governo abre mão da intermediação daqueles que têm mandato popular para isso, e vai direto à fonte do poder: os banqueiros e agentes do mercado. E busca sua ajuda para tentar vencer a votação da contrarreforma da Previdência, prevista para 20 de fevereiro. A proposta só será aprovada se alcançar 308 votos, em duas votações. Segundo seus próprios cálculos está longe disso, e mal chega a 270 votos favoráveis.

O terrorismo previdenciário do governo difunde um imaginário deficit bilionário nas contas da Previdência – rombo desmentido pela CPI da Previdência, do Senado, cujo relatório foi divulgado em outubro. Mesmo assim, o discurso alarmista do governo piora sua própria situação. Um levantamento divulgado pela imprensa revelou um crescimento exagerado nos pedidos de aposentadoria em 2017. O número de pedidos de aposentadoria por tempo de serviço cresceu 5,5% no ano passado, e o de aposentadorias por idade (mínimo de 65 anos para homens e 60 anos para mulheres) subiu 3,7%.

É uma corrida óbvia. Os brasileiros tentam garantir direitos que constam da lei. E o governo tentando suprimir estes direitos, usando para isso a ação, ilegítima e ilegal, do poder do dinheiro.


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Comentando temas atuais no canal LUCIANO SIQUEIRA OPINA

Manuela: novo rumo

Esquerda deve apontar saídas para crise e não focar só Lula, diz Manuela
Pré-candidata do PC do B ao Planalto critica 'ataques machistas' a Cristiane Brasil
 Anna Virginia Balloussier, na Folha de S. Paulo
Se a esquerda quiser avançar nestas eleições, "deve trocar o pneu com carro andando, lembrando de "apontar saídas para a crise" em vez de centrar todos os esforços "no direito de Lula concorrer", diz a pré-candidata do PC do B à Presidência, Manuela D'Ávila, 36.
E não é só o campo progressista que perderia com a instabilidade da candidatura do ex-presidente, que periga cair na Lei da Ficha Limpa após ter a sentença decretada por Sergio Moro ampliada em dois anos e meio pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. A ausência do nome mais bem colocado nas pesquisas "agravará a crise", afirma a deputada.
Ser oposição ao governo não faz com que D'Ávila compactue com o que julga serem "ataques machistas" contra a indicada de Michel Temer ao Ministério do Trabalho e colega na Câmara, Cristiane Brasil (PTB) ---que, em vídeo, aparece num barco envolta de amigos com torso nu. "A crítica não deve ser moral, por ser uma mulher em torno de dois ou três homens sarados."
Com sua condenação no TRF-4, a hipótese de Lula ser candidato até o fim é cada vez mais improvável. Qual o estrago para o campo da esquerda?
Lula é o principal líder popular do Brasil. Não creio que o impacto da instabilidade de sua candidatura se dê apenas na esquerda. Seja porque ele é o primeiro colocado em todos os cenários [da pesquisa Datafolha], seja porque, na nossa interpretação, é legítimo que possa disputar. A possibilidade de não figurar [no pleito] é antidemocrática não só por acharmos que ele foi julgado sem provas, mas também porque isso agravará a crise.
Antes especulava-se que, com Lula viável, o PC do B pudesse abrir mão de ter presidenciável. Algo muda?
Nossa pré-candidatura não tem relação com a hipótese de ele ser ou não candidato, mas com apontamentos de saídas para a crise.
Em entrevista ao jornal português "Avante", você diz que "os comunistas brasileiros não podem ficar reféns" de Lula estar ou não no páreo, que isso seria "fazer o jogo da direita".
O menino [o repórter] traduziu para o português de Portugal, não usei esse termo [reféns]. Isso dá uma alterada no conteúdo. Disse que a eleição tem que ser o debate de uma saída para crise. Se juntarmos todas as energias apenas na defesa de Lula... O que disse é que temos que trocar o pneu com carro andando, ou seja, defender o direito de Lula concorrer e apontar saídas para a crise.
O Datafolha mostra que, sem Lula no páreo, nomes de centro e direita dominam. É um baque para a esquerda?
Falta bastante para a eleição ainda. Outros cenários [que excluem o ex-presidente] são sem campanha intensa do próprio PT e de outros candidatos. É um registro do momento.
Pois neste registro do momento, Jair Bolsonaro lidera, e Luciano Huck, mesmo sem se dizer candidato, chega a empatar com um político estabelecido, Geraldo Alckmin. Que leitura fazer disso?
O povo busca saída para enfrentar a crise: 12 milhões de desempregados, violência crescente etc.
Alguém que tente organizar uma força política em meio a incerteza e medo com o futuro, como é caso do Bolsonaro, segura bem. Mas, na hora do debate, qual vai ser sua proposta para segurança pública? Dizer que vai armar todo mundo é discurso de dono de fábrica de arma. Com Huck, tem essa vontade de as pessoas buscarem novidade.
Mas por que não buscá-la na esquerda?
Bolsonaro, Huck, Alckmin, todos estão aglutinados em torno do governo Temer. O que o povo sofrerá com as reformas [trabalhista e previdenciária] é o que essa turma defende. Apesar de disfarçar, são todos Temer, que só não foi no "Caldeirão do Huck", já girou toda a mídia brasileira...
A esquerda deve se pulverizar ou se unir para a eleição?
No final de fevereiro, devemos lançar um programa comum com PT, PSB, que por ora tem Joaquim Barbosa como possível candidato, o PDT de Ciro, o PC do B comigo... O ideal é que estejamos unidos programaticamente e que partidos escolham as táticas que julgarem melhor. Nós sempre achamos melhor a construção de frentes.
Testado no Datafolha, o ex-governador Jaques Wagner, um plano B do PT, tem 2%, e você, 3%. Seria mais estratégico se o PT abrisse mão de liderar uma chapa?
Não gosto de opinar sobre o partido dos outros.
Na esquerda, Ciro é o melhor posicionado (até 13%). Seria um bom nome para agregar o campo?
Ciro é grande amigo e candidato, mas hoje os partidos têm quatro candidaturas do nosso campo político.
Antes do julgamento de Lula, o líder do PT no Senado, Lindbergh Farias, disse que não era hora para uma esquerda frouxa. Ela está?
Não sei a quem ele se referiu. O PC do B tem 97 anos de zero frouxidão.
Os atos pela queda de Dilma foram maiores em público.
Vi uma esquerda muito mobilizado e ativa. Problema é que o golpe foi muito bem articulado e intenso, não foi virtual moleza da esquerda. A gente não fez propaganda no "Jornal Nacional" [para chamar gente]...
Em vídeos no Facebook, você adota uma estratégia próxima a de youtubers. Tem um para "desmistificar" o capitalismo, outro sobreTemer no Silvio Santos...
Tenho 36 anos. Meu primeiro mandato foi aos 22 [como vereadora em Porto Alegre]. Na época, a
RBS [filiada da Globo no Rio Grande do Sul] fez um giro pelo plenário para apontar mau comportamento. Outro vereador, por beber chimarrão, e eu porque usava Orkut como forma de prestar contas do meu mandato. Nunca fiz política sem redes. Hoje faço por diversas razões: por algoritmo, por capacidade de distribuição e por preço também, pois é muito barato produzir vídeo para internet.
Você defendeu Cristiane Brasil pelos "ataques machistas, por aparecer ao lado de caras sarados", que ela sofreu após ela publicarum vídeo em alto-mar para se defender de condenação trabalhista.
A gente precisa ser muito vigilante. Todos nós, em alguma instância, reproduzimos valores machistas. É muito natural que as pessoas confundam o absurdo que é uma candidata a ministra respondendo em tom jocoso críticas muito sérias. Mas a crítica não deve ser moral, por ser uma mulher em torno de dois ou três homens.
Como você, como pré-candidata, e o PC do B se posicionam sobre a crise na Venezuela?
Nós respeitamos não só a Venezuela, mas a autodeterminação de todos os povos. O Brasil tem um papel estratégico na construção da paz na América Latina e no mundo.
Mas Nicolás Maduro é ou não é ditador para vocês?
Defendo que o Itamaraty tenha postura de respeito à autodeterminação da Venezuela –e do Uruguai, dos EUA... Que busque sempre a paz para todos. [Por trás dos conflitos,] há senhores da guerra ganhando muito dinheiro com isso.

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