31 março 2021

Palavra de Luciana

 

Luciana Santos repudia ditadura e exalta quem lutou pela democracia

www.pcdob.org

 

A presidenta nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, se pronunciou, nesta quarta-feira (31), via redes sociais, sobre os 57 anos do golpe de 1964, em repúdio ao autoritarismo, em homenagem aos que foram perseguidos, torturados e mortos pela ditadura e em defesa da democracia.

“Não há o que comemorar. Em 31 de março de 1964 teve início uma das fases mais tristes e vergonhosas da história do Brasil”, declarou. A dirigente acrescentou que “hoje é dia de lembrar — para que jamais se esqueça e nunca mais aconteça — o terror, a perseguição, a tortura, mortes, desaparecimentos, execuções, exílio, censura e humilhações contra as mulheres e homens desse país”.

Luciana salientou que 31 de março “é dia de exaltar e agradecer a coragem daqueles e daquelas que não se calaram diante do arbítrio e dedicaram suas vidas a libertar o país e resgatar nossa democracia. É dia de honrar essas pessoas e renovar nosso compromisso com a democracia, com os direitos humanos e com a liberdade”.

Por Priscila Lobregatte

Veja: Jovem aos 99 anos: destaque em nossa história política https://bit.ly/3wfzW8u

Dor e resistência

Aos que partem, aos que ficam

Joan Edesson de Oliveira

Blog do Renato

 

 

Todos os dias parte alguém próximo a alguém. Um irmão, um aluno, uma amiga da faculdade, o pai do vizinho, a filha do conhecido, o camarada antigo, o camarada novo, todos os dias, alguém próximo de alguém, parte para não mais voltar.

Nossos dias têm sido esse contar os mortos, macabra matemática. Passamos de mil por dia, passamos de dois mil por dia, logo deixaremos a marca dos três mil para trás. Somos uma nação em luto permanente, uma nação que chora de norte a sul, de leste a oeste. Somos uma nação ferida de morte, a sangrar lentamente, em longa e desesperadora agonia.

Já não sabemos por quem choramos, antes mesmo de prantear um, já recebemos a notícia de que outro se foi, e depois mais outro, e mais outro, e mais outro, numa sequência infinita de mortes. A dor, o pranto, o desespero constante, o não dormir, o não conseguir pensar em mais nada, apenas raro em raro uma alegria, ao saber que o amigo tomou a vacina, que o sogro recebeu as duas doses, que o velho professor e amigo está imunizado. Pequenas alegrias, minúsculas gotas de alegria neste oceano de dor que tomou conta da nação.

Enquanto choramos, enquanto pranteamos os que partem, somos atacados por alguns dos vivos. Enquanto a nação sangra e sofre há alguns que pisoteiam a dor coletiva, que escarnecem do sofrimento da multidão, que riem da desgraça imensa que se abate sobre o povo.

Uma caricatura demoníaca, olhos cuspindo ódio e preconceitos, boca babando mentiras e tolices, as narinas resfolegando o fogo de trinta infernos, (des) governa o país, empurra todos nós para o abismo mais profundo. É seguido de perto por uma legião de pequenos demônios, criaturas vis, desprezíveis, que dançam sobre as cinzas dos que partiram, que amassam com suas patas deformadas a terra sobre as covas que não cessam de engolir os mortos, as covas dotadas de insaciável fome.

Com tal cenário de destruição somos obrigados a buscar, no mais fundo de nós, forças para resistir. Precisamos enterrar e chorar os nossos mortos pensando em como salvar os vivos. Precisamos ter empatia com os que sofrem pelos seus mortos, enquanto somos solidários com o sofrimento e com a fome dos que ficam. Precisamos inventar uma força nova dentro de nós, para sermos capazes de frear a destruição do país, para sermos capazes de fazer frente à rapinagem, para por fim ao bombardeio de mentiras.

É necessário interromper a conta dos mortos, é preciso defender a vida, é urgente garantir ao menos um prato de comida na mesa de milhões de brasileiros que passam fome em silêncio, obrigados ainda a suportar o sarcasmo e o cinismo dos urubus que sobrevoam à espera que os corpos esfriem.

Quando esta tormenta passar, e ela passará, não sabemos quantos faltarão à reunião da família, não sabemos quantas cadeiras vazias haverá no encontro dos amigos, não temos ideia de quantos terão tombado ao nosso lado.

Mas a tormenta só passará se a dor virar indignação, se o desespero der lugar à coragem, se o pranto virar luta. Honraremos os nossos mortos se lutarmos para libertar os vivos, para garantir a vida, a vacina para todos, o fortalecimento da saúde pública e, acima de tudo, se expulsarmos os demônios que nos atacam, se pusermos para correr essas hienas que hoje mordem os nossos calcanhares.

É necessário que lutemos, pelos que partem, pelos que ficam.

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Veja: Jovem aos 99 anos: destaque em nossa história política https://bit.ly/3wfzW8u

Cuba avança

Está no Washington Post: Cuba está perto de um avanço singular: tornar-se o menor país do mundo a desenvolver não apenas uma, mas várias vacinas contra o coronavírus.

Passado tenebroso


 31 de março sob névoa golpista

Portal Vermelho

 

As quarenta e oito horas que antecederam este 31 de março, data que registra o terrível golpe militar de 1964, foram marcadas por um clima político tenso, prenhe de especulações e de ameaças bolsonaristas ao regime democrático.

Um pouco antes, no domingo (28), num episódio ainda a ser esclarecido por completo, o bolsonarismo, com a deputada Bia Kicis e o deputado Eduardo Bolsonaro à frente, insuflaram a insurgência de motins na polícia militar da Bahia.

A tensão política emergiu a partir da eclosão de uma crise militar no bojo da reforma ministerial empreendida por Bolsonaro.O presidente demitiu o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, o que provocou a renúncia dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

Noutro polo, o presidente Jair Bolsonaro entronizou no Ministério da Justiça e Segurança, um delegado da Polícia Federal, Anderson Torres, pessoa de relacionamento próximo do clã presidencial.

O agravamento da situação política do país, a crise militar e a reforma ministerial são derivadas, fundamentalmente, de um único fato: a pandemia, que pela conduta irresponsável do presidente da República adquiriu a dimensão de catástrofe nacional. Em decorrência, o país sofre com um processo de ruína, de crises múltiplas que resultam em tragédia social, fome inclusive, e destruição de empresas e postos de trabalho. A conduta genocida de Bolsonaro levou o país, nas últimas semanas, ao topo do número de morte entre todos os países do mundo e transformou no Brasil no epicentro mundial da Covid-19.

Essa catástrofe provoca uma tomada de posição de setores das classes dominantes, do poder econômico e financeiro, que se apartam do governo e, também, de setores do eleitorado, que até ontem o apoiavam.

Bolsonaro vinha aumentando a pressão sobre o ministro da Defesa e os comandantes das Forças Armadas no sentido de submetê-los aos seus desvarios negacionistas e autoritários referentes ao combate à pandemia e, também, ao seu objetivo maior de provocar uma ruptura no regime democrático.

O agora ex-ministro da Defesa e os ex-comandantes, corretamente, se negaram a seguir os ditames de Bolsonaro, num gesto que adquiriu grande importância política, posto que preserva as Forças Armadas como instituições de Estado e repele a sanha do presidente de colocá-las à serviço de seu projeto política ditatorial.

Exige muita atenção das forças democráticas a nomeação de um delegado da Polícia Federal à titularidade do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Sobretudo, quando sua principal credencial é a grande proximidade com a família do presidente.

Bolsonaro estabeleceu uma ligação direta com segmentos das polícias militar e civil e seu esquema no interior delas é uma ameaça recorrente de insubordinações e motins à margem do comando constitucional dos governadores. Acuado e mais isolado, porém ainda detentor de um piso de popularidade, o presidente recauchutou seu governo, colocando em postos estratégicos figuras que são leais a ele e ao seu programa.

E seu “programa”, além da conduta genocida em relação à pandemia, contém em letras garrafais, a ameaça permanente ao regime democrático. Bolsonaro, na dita reforma ministerial, ampliou o espaço do Centrão, porém muito aquém do que exige esse agrupamento político. E por mais que tente “algemar” o Centrão ao seu governo, este seguirá volátil, pragmático, pronto para saltar do navio conforme o quadro evoluir.

Mais do que nunca se impõe a união de amplas forças políticas, econômicas, sociais, culturais, governadores, partidos, setores de Poderes da República, personalidade e líderes de expressão política e social,  em movimentos de frente ampla, para salvar o país, com ações concretas em defesa da vida e da democracia.

Veja: Tem uma casca de banana na “polarização” Lula x Bolsonaro.  https://bit.ly/3eLGZj1

Vale a pena ver de novo: 1964

Veja: Tem uma casca de banana na “polarização” Lula x Bolsonaro https://bit.ly/3eLGZj1


Desemprego recorde

O IBGE estima que 14,3 milhões de pessoas estão em busca de trabalho no país. Desemprego recorde. E o governo segue afundando a economia na estagflação.

Arte é vida

 

Zel Passavante

Veja: uma dica de leitura para quem gosta de cinema https://bit.ly/3qlLWRr


Juramento

Os novos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica devem assumir afirmando fidelidade à Consttuição. Do contrário, estarão sob desconfiança de que possam compartilhar das intensões autoritárias de Bolsonaro.

Frágil garantia

Atabalhoado e na defensiva, Bolsonaro busca no "Centrão" a garantia (sic) de que um processo de impeachment não prospera. Até quando?

30 março 2021

Divisor de águas

Flávio Dino: Estamos na fronteira do que é compatível com a democracia

Apesar dos últimos acontecimentos, o governador do Maranhão disse ao canal Band News não acreditar que as Forças Armadas vão embarcar em uma “aventura”

Portal Vermelho

 

As incertezas advindas da renúncia dos comandantes das três Forças Armadas, os ataques contínuos de Bolsonaro aos governadores e a carta destes aos três poderes da República foram tema de entrevista concedida pelo governador do Maranhão, Flávio Dino, ao canal Band News nesta terça-feira (30).

Ao ser questionado sobre a insegurança dos governadores —  na segunda-feira (29), o governador de São Paulo, João Doria, anunciou que se mudará para o Palácio dos Bandeirantes por medida se segurança e, bolsonaristas estimularam motim na PM após a morte de soldado em Salvador — Flávio Dino destacou: “Não é que tenhamos medo de oposição; agora, oposição violenta, que mente e que está armada por conta dos decretos do presidente da República, que autoriza que as pessoas comprem fuzis, metralhadoras, revólveres, de fato, isso é muito perigoso”.

Em seguida, o governador acrescentou: “Estamos no limiar, na fronteira daquilo que é compatível com a democracia e volto a destacar que tenho confiança nas Forças Armadas. E acredito que mesmo com essa intervenção inusitada, as Forças Armadas não vão embarcar numa aventura de ficarem estigmatizadas como serviçais de um projeto de poder fracassado”. Flávio Dino disse ainda: “acho que as Forças Armadas não vão cumprir o papel de serem executoras de políticas equivocadas, emanadas da Presidência da República”.

Ao analisar o caráter autoritário do governo Bolsonaro, Flávio Dino colocou: “O ministro pensa diferente, é demitido; o Supremo, tentaram fechar; o Congresso, tentam subordinar e agora, as Forças Armadas e daí o ódio aos governadores. O ódio aos governadores é o ódio ao diferente; porque desde o início da pandemia, dissemos: ‘isso é uma coisa grave, séria; não é gripezinha’. E aí surgiram essas divergências que estão aí dramaticamente expostas. E quem perde é o povo brasileiro”.

Ao falar sobre a carta aberta assinada por 16 governadores — entre os quais o próprio Flávio Dino — e tornada pública nesta segunda-feira (29), o governador declarou: “A carta é um convite a que os chefes dos poderes da República consigam, de algum modo, um pacto nacional. Até agora, não temos. Temos essa espécie de guerra eterna conduzida pelo próprio presidente da República, inclusive contra a sua própria equipe, o que é algo absolutamente inusitado”.

Veja: Tem uma casca de banana na “polarização” Lula x Bolsonaro. Veja aqui https://bit.ly/3eLGZj1

Humor de resistência

 

Charge de Gilma

Cordão da estupidez

Na marcha que vai, Bolsonaro chegará a 2022 apoiado apenas por negacionistas, terraplanistas e direitistas extremados. Que assim seja - para o bem do Brasil.

Tratado para quem?

A ideia de um Tratado Contra a Pandemia para construir uma ação internacional combinada parece interessante, desde que os países ricos assegurem recursos aos mais de 150 países pobres, que não consehuem adquirir vacinas suficientes.

No atoleiro

Acuado pelo “Centrão”, pela crise sanitária e econômica e pelo próprio Mercado a quem ele e Paulo Guedes servem, Bolsonaro muda seis ministérios e praticamente não sai do lugar. O nome disso é crise de governo.

Bola fora

Bolsonaro se "antecipou" aos três ministros militares demissionários e anunciou que iria substituí-los. Igual ao cara que chuta em gol depois que a bola entra na esperança de constar na súmula como autor... Meio ridículo, né?

Escaramuça

Ao sair, ministro da Defesa diz que Forças Armadas são instituição de Estado. Bolsonaro foi quem solicitou ao general que deixasse a pasta. Com mais essa baixa, é o segundo ministro a sair do governo em menos de 24 horas. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu demissão nesta segunda-feira (29). Leia mais https://bit.ly/31AiZY0

Bumerangue

- Em carta, Ernesto Araújo diz ser vítima de narrativa “falsa” e “hipócrita”.

- Então é um "efeito bumerangue", vítima da própria narrativa!

Poesia sempre

 


6 por meia dúzia?

O suposto chanceler Ernesto Araújo finalmente foi embora, ficaram os escombros de uma política externa desastrosa. O novo ministro das Relações Exteriores tem alguma cancha ou Bolsonaro seguirá fazendo suas próprias maluquices diplomáticas?

29 março 2021

Nas cordas, sem autocrítica

 

O machinho​

Janio de Freitas, em sua coluna na Folha de S. Paulo

 

O Bolsonaro que vemos nestes dias é o mesmo valentão que, ao se ver abordado por um assaltante, sacou sua fulminante pistola Glock —e entregou-a ao bandido. Mas não só. Entregou também a moto. Bateu o medo então, bate o medo hoje. O Bolsonaro que voltam a ver em transformação, aceitando a máscara e propagando a vacina, é só o Bolsonaro acovardado. Com citações à derrubada até na celebração do próprio aniversário, que indicam onde e como está sua cabeça.

À falta de arma para entregar, servem os pescoços dos mais próximos paus-mandados. Eduardo Pazuello acha que foi degolado por pressão de Arthur Lira, presidente da Câmara desejoso de ver no cargo uma amiga do peito, ou cardiologista. O general obediente, na verdade, foi vítima da Carta Aberta em que economistas, banqueiros e outros empresários mostraram sua delicada discordância com o consentimento do governo à mortandade pandêmica. A chegada às 300 mil pareceu suficiente a ex ou ainda bolsonaristas para merecer-lhes algumas sugestões suaves.

O noticiário exibiu e falou de um Bolsonaro apressado para dizer-se, na TV, sempre adepto e praticante das providências mencionadas na carta. Mentiu como nos melhores momentos do seu cinismo.

Bolsonaro tinha mais do que pressa, aliás. Tinha pânico desde que soube da carta. Ao Congresso chegaram informações sobre seu estado, e isso se refletiu no passo vindouro: a reunião para constituir-se um pretenso comitê dos Três Poderes contra a pandemia. Não adiantou que só se selecionassem simpatias para o encontro: não deu para disfarçar o fracasso. Mas deu para comprovar o grau de desorientação vigente.

À impropriedade do convite que lhe foi feito, o presidente do Supremo, Luiz Fux, sobrepôs uma aceitação, embora efêmera, que embaralhava Executivo e Judiciário, em função estrita do primeiro. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, aceitou assumir uma coordenadoria que não lhe compete, para a qual não tem o saber científico conveniente, e nem se deu conta do que é o comitê desejado pelo grupo do Planalto: algo que lhe sirva de bode expiatório ou de laranja, conforme as circunstâncias. Como a função dada ao vice Mourão para a Amazônia.

O presidente da Câmara, Arthur Lira, parece desejoso de esculpir nova personalidade política. Não há comparação sua com o antecessor, mas o crescimento de Rodrigo Maia, no mesmo cargo, é um exemplo estimulante. Lira não amenizou discordâncias na reunião e, ainda por cima, guardou a melhor surpresa para pouco depois. Ao voltar à Câmara, fez um discurso sobre a situação e suas propensões. Lançou-se às mais agudas considerações feitas fora do exasperado jornalismo, e por uns poucos políticos. Não faltou lembrar nem “a solução amarga, e até fatal”, que é o impeachment ao alcance da Câmara.

Com isso, lá se vai a doidice mais simpática e de conceitos mais engraçados no governo. Vai para apaziguar críticos parlamentares. Até um militar já se foi, o coronel Elcio Franco, segundo na caótica hierarquia militar do Ministério da Saúde. Ao general Braga, por exemplo, convém fugir de correntes de ar no Planalto. Quase qualquer um pode servir para Bolsonaro entregar os sucedâneos humanos de sua Glock e da moto.

Ainda que não seja o mais desejado, pode-se esperar por fatos até mais interessantes para daqui a pouco.

O continuísta

Do novo ministro da Saúde: “Quem quer o lockdown? Ninguém quer lockdown”. É a nova voz de Bolsonaro e Pazuello, portanto. Marcelo Queiroga ainda não conhece os resultados europeus e asiáticos do confinamento. Mas poderia ter deduzido, com menos bolsonarismo a orientá-lo, que, se as pessoas não se oferecem ao vírus nas ruas e outras proximidades humanas, o bicho não tem como infectá-las.

O nosso lugar

Brasil: mais de 300 mil mortos, é muito difícil imaginar essa quantidade. Quase 7.000 na espera desesperada de um leito em UTI. No estado da riqueza, três mortos asfixiados por falta de oxigênio. E quatro na fila do último sopro de vida. No Distrito Federal da presunçosa e riquíssima Brasília, corpos mortos esperam a remoção, alguns por 24 horas, no chão de unidades de saúde e de hospital regional.

Vai piorar, advertem cientistas brasileiros e estrangeiros. Até quando o país tolerará a omissão das classes e dos políticos que controlam o país, eis a incógnita.

Transcrição, em Toda Mídia por Nelson de Sá, de frase em reportagem sobre a pandemia na rede pública de rádio dos EUA: “O Brasil parece o pior lugar do mundo”.

Veja: No Brasil de hoje tudo é instável e imprevisível https://bit.ly/3eLGZj1

28 março 2021

Coronavirus avança


 A epidemia fugiu do controle, e só podemos contar com nós mesmos

Brasileiros decretaram o fim do coronavírus em novembro sob a justificativa de que ninguém aguentava mais ficar em casa

Drauzio Varella, Folha de S. Paulo

 

Os brasileiros decretaram o fim da epidemia, em novembro do ano passado. Os bares lotaram, multidões nas praias, famílias reunidas no Natal e no Ano-Novo, festas clandestinas à luz da noite espalhadas pelas cidades, Carnaval.

A justificativa para esse comportamento estúpido era a de que ninguém aguentava mais ficar em casa.

Em janeiro, chegaram as férias. Os hotéis dos recantos turísticos voltaram a receber hóspedes, as ruas das metrópoles se encheram de gente aglomerada sem máscara e de ônibus e trens superlotados pelos que não tinham alternativa senão trabalhar.

Alheio a tudo, o presidente da República passeava de jet ski, cumprimentava admiradores e posava sem máscara para selfies, o Ministério da Saúde distribuía o kit Covid, deputados e senadores tentavam aprovar uma emenda à Constituição para livrá-los da prisão em flagrante e faltava coragem à maioria de governadores e prefeitos para decretar medidas rígidas de afastamento social.

Os médicos, os sanitaristas e os epidemiologistas que alertavam para as dimensões da tragédia em gestação eram considerados alarmistas e defensores de interesses políticos escusos.

Deu no que deu: 300 mil mortos, hospitais com UTIs sem leitos para oferecer aos doentes graves, milhares de pacientes morrendo à espera de uma vaga.

O que acontecerá nas próximas semanas? Chegaremos a 400 mil mortes?

Os hospitais brasileiros estão em colapso. Os infectados foram tantos que abrir mais leitos em UTI é enxugar gelo. Os gestores investem em equipamentos e profissionais para abrir vagas que serão ocupadas em menos de 24 horas.

O número de óbitos em casa e nas unidades básicas de saúde despreparadas para o atendimento é enorme. Os estoques de medicamentos para a sedação dos doentes entubados chegam ao fim. Começam a faltar até corticosteroides e anticoagulantes, medicações de baixo custo que o Ministério da Saúde não se preocupou em adquirir.

As vacinas perderam o "timing" para conter a escalada atual. Ainda que fosse possível vacinar todos os brasileiros neste fim de semana, as mortes continuariam a se suceder da mesma forma, pelo menos durante o mês de abril e uma parte de maio.

Vejam a situação de São Paulo, o estado que conta com o sistema de saúde mais organizado do país. No pico da primeira onda, dispúnhamos de cerca de 9.000 leitos de UTI, agora temos 14 mil, lotados. No dia 17 de março havia pelo menos 1.400 pessoas à espera de internação em UTI.

O maior complexo de saúde do Brasil, o Hospital das Clínicas, recebia, em fevereiro, a média de 56 pedidos de internação; nos últimos sete dias foram 364, dos quais 110 estavam em estado grave por outras doenças e 254 por Covid.

Se esse é o panorama no estado mais rico, caríssima leitora, dá para imaginar o caos no resto do país?

Parece que nossos dirigentes despertaram para as dimensões da tragédia que se abateu sobre nós. Empresários e economistas enviaram um recado duro ao presidente, pena que tardio. O ministro da Economia reconheceu que sem vacinação a economia não se recupera. Só agora percebeu? Por que não disse nada em julho, quando nos foram oferecidos os 70 milhões de doses da vacina da Pfizer que o Ministério da Saúde rejeitou? Receio de magoar o chefe?

O presidente da Câmara declarou que "tudo tem limite" e que apertava "o botão amarelo". Amarelo, excelência? Enquanto 300 mil famílias perdiam entes queridos, o sinal estava verde?

Deprimente ver os malabarismos circenses do novo ministro da Saúde, ao justificar que ficava a critério da liberdade milenar do médico prescrever o tratamento precoce com drogas inúteis. Como assim, ministro? Enquanto a medicina foi praticada como o senhor defende, os colegas que me antecederam receitavam sangrias e sanguessugas.

Finalmente, sob pressão, o presidente convocou os três Poderes para um convescote político, com o pretexto de criar um comitê para gerir a crise sanitária. Incrível, não? Imaginar que uma equipe comandada por ele será capaz de nos tirar dessa situação é acreditar que mulher casada com padre vira mula sem cabeça.

A consequência mais nefasta de tantos desmandos, caro leitor, foi a de que a epidemia fugiu do controle do sistema de saúde. Daqui em diante, só podemos contar com nós mesmos.

Veja: No Brasil de hoje tudo é instável e imprevisível https://bit.ly/3eLGZj1

Fotografia

Visitantes na Basílica da Sagrada Família, de Antoni Gaudí, em Barcelona, Espanha (Foto LS).

O ponto de vista de Melka

Referência militante

Melka*

Essa conversa é somente pra quem como eu, se entende militante, queria saber se assim como eu vocês também se cansam de ser assim, claro, existe militância sobre tudo, militantes do meio-ambiente, do feminismo, do SUS, ou os de igrejas e de movimentos anti-vacina, ou os veganos e veganas, eu pelo menos acho que tudo isso é uma militância porque você defende algo não só pra você, mas pra toda a sociedade, então vai pra disputa de ideias, de opiniões pra que a gente possa mudar o mundo naquilo que a gente acredita. E fazer isso cansa, consome energia, desgasta. Conheci muita gente no movimento estudantil que por não saber equilibrar as doses de envolvimento com a militância e as demandas da vida pessoal e profissional, optou por abrir mão da vida política, porque de fato ela pode ser pesada se você não sabe conviver com ela.

No movimento estudantil, como costumo dizer, pude desvendar o mundo através dos óculos da militância, é como se a gente fosse limpando ele e conforme estuda, aprende, se torna consciente da realidade de como as coisas funcionam, a gente vai enxergando melhor os fatos, e eu acredito que não seja possível que o óculos se sujem novamente, pelo menos na minha percepção é um caminho sem volta. Se assumir como militante faz com que pareça que você tenha na sua testa "SOU MILITANTE, VOU DEBATER SOBRE QUALQUER COISA, PODE PEDIR MINHA OPINIÃO" e como tudo na vida, tem os dois lados.

O lado que eu considero importante e até bom é que de algum modo, independente de concordar ou não com o que você defende, você se torna referência política para os que estão a sua volta, sua família, seu trabalho, seus amigos, as pessoas com quem você se relaciona.

Lembro de uma eleição de reitor na UPE, a única que participei ativamente, estava entrando na faculdade e uma menina me abordou: - hoje tem eleição né? É pra votar em quem? Recomendei o voto, claro. Naturalmente, através das referências criadas, naquele momento ela confiava o suficiente na minha recomendação por compartilhar das mesmas ideias e opiniões que eu, só poderia ser isso.

Então desde esse tempo entendendo isso, me preocupo bastante em ser referência sobre assuntos políticos, procuro ter responsabilidade com o que falo e defendo e ter coerência pra que possa influenciar as pessoas na boa política e juntar mais gente pra refletir sobre o que eu acredito. E tem o lado cansativo disso, primeiro que às vezes eu queria não ter consciência de toda realidade existente, tanta desigualdade, tanta miséria, tanta corrupção, tanta ganância, isso me adoece enquanto gente que se importa com gente, a ignorância protege as pessoas e nesse caso, a gente fica completamente exposta quando tem noção do que acontece.

Além disso tem a parte chata de ser militante, eu me importo com absolutamente tudo, e tenho necessidade de questionar e é chato querer "consertar" tudo, desgasta muito. E aí com o tempo você acaba tendo mais afinidade com as pessoas que pensam como você, e vai se isolando numa bolha extremamente confortável, às vezes eu mesma penso que nem sei conversar em ambientes de descontração com pessoas que não sejam militantes, porque sempre vou levar qualquer conversa pra algum contexto de debate sobre as questões sociais e políticas, meu deus, que chatice.

Mais chato ainda é quando você consegue não falar dessas coisas e as pessoas que te veem como referência te questionam: - mas e tua opinião sobre isso? Aí você respira e explica o que a pessoa te perguntou, às vezes dá pra dar uma escapadinha, mas o bom mesmo é opinar com leveza e manter a referência, a possível boa referência de militante.

*Melka Pinto, ex-presidente da União dois Estudantes de Pernambuco-UEP, é enfermeira na rede pública.

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Veja: No Brasil de hoje tudo é instável e imprevisível https://bit.ly/3eLGZj1

Crimonoso atraso

Bolsonaro assina decreto que oficializa comitê para enfrentamento da covid-19. A notícia é da última quinta-feira, 25. Devia ter sido em março do ano passado. Mea culpa? Certamente não. Manobra de presidente isolado e inepto diante da tragédia sanitária.

Herança cultural

 

A pandemia e o Brasil Colônia: uma reflexão da herança cultural do comportamento brasileiro

Mikhail Gorbachiov, PCdoB/Bezerros

 

A pandemia do novo Coronavírus (COVID-19), que já ceifou a vida de mais de 300 mil brasileiros e brasileiras, e que conta com a irrestrita colaboração do presidente Bolsonaro para maior agravamento da crise sanitária que nos assola a níveis local e internacional, traz em si características importantes para que possamos compreender como elementos, ainda coloniais, reverberam no ideário e nos comportamentos de inúmeras pessoas.

A história nos revela que o projeto de colonização portuguesa no Brasil tornava os colonizadores sujeitos ativos, enquanto os colonizados não passavam de objetos passivos no processo.

É bem verdade, que a colonização exploradora, genocida e criminosa em nenhum momento intencionou nossa emancipação, mas sim a nossa dominação e subserviência. Este processo que inicialmente nos faz sentir inferiores aos europeus, posteriormente nos faz adotar um olhar europeizante/ dominador sobre as coisas e nas relações, sentindo vergonha de nossas origens, valores, cultura, pobreza, e consequentemente, não percebendo aquilo que realmente somos. A partir desse contexto, surgiram sandices do tipo: “Mas isso é Brasil”; “lá nos Estados Unidos é assim....”, “lá na Suíça é assado...” e outros afins. Notemos que a referência brasileira sempre é de vergonha e depreciação.

Pois bem, essa herança cultural do Brasil Colônia faz com que maior parte do comportamento brasileiro seja de endeusamento do que lhe é alheio, ou seja, a grama do vizinho é mais bela que a minha. E é obvio que isso reflete na nossa identidade nacional.

Por exemplo, diante do negacionismo do presidente em relação a pandemia, não é estranho ver pessoas que defendem o mesmo, alegando que a autoridade na terra é constituída por Deus, e que assim sendo o presidente está correto. Atrelado ao negacionismo, os sucessivos descuidados por parte do Governo Federal e o afrouxamento das medidas individuais de segurança sanitária, praticamente obrigaram governadores de diversos Estados a adotarem medidas mais rígidas no protocolo de segurança.

Como resultado tivemos a insatisfação por parte do empresariado, que assim como nossos colonizadores estão apenas interessados em extrair vantagens e auferir lucros, pouco se importando com seus funcionários, mas levando a eles a mensagem de risco de demissões, e consequentemente fazendo com que os funcionários venham a aderir a insatisfação empresarial, acreditando ser uma bandeira do trabalhador.

A maldita herança cultural faz com que olhemos nosso opressor com olhos de bom moço. Assim sendo o trabalhador cumpre o papel de massa de manobra do patrão.

Há um ditado popular que diz: pouca farinha o meu pirão primeiro. Será mesmo que o empresariado cortaria da própria carne, sem necessitar demitir? Ou demitiria quando visse o prejuízo se aproximar? Talvez uma análise mais crítica do nosso comportamento de colonizado possa nos dar uma resposta mais próxima da verdade.

Veja: No Brasil de hoje tudo é instável e imprevisível https://bit.ly/3eLGZj1

Palavra de poeta

 

Badalar sinistro
(Aos 57 anos de 31 de março de 1964: “DITADURA NUNCA MAIS!”)
Chico de Assis

Há um relógio tocando
reverberando o tempo.
O toque do relógio
tocava então a carne dos feridos.

Os corpos torturados
fremiam em gritos sumidos.
E em criminosas redes
o horror se implantava entre paredes.

O passar desse tempo
deixa a todos mais próximos.
Mais próximos de quê?
Talvez da História.

Alguém antes dele
fez questão de deixar
um recado numa marca de sangue.
Um pedido de socorro?

Pense bem amigo:
há outros sangrando
diria a voz antiga
escarafunchada nas paredes.

Mas o som é inaudível.
O ar irrespirável.
O falar impossível.
Quando soará o próximo badalo?

[Ilustração: Oswaldo Guayasamin]

Veja: Em livro, todas as cartas de Clarice Lispector https://bit.ly/3uKAgLu