30 julho 2016

O PCdoB nas eleições do Recife

"Frente Popular parte unida para a luta eleitoral no Recife"
Portal Vermelho
O PCdoB do Recife realiza hoje (29) sua Convenção Eleitoral, quando o conjunto da base partidária na cidade vai decidir sobre os rumos do partido nas eleições de outubro próximo. Na entrevista a seguir, Luciano Siqueira, vice-prefeito do Recife e pré-candidato à reeleição na chapa liderada pelo prefeito Geraldo Julho (PSB), fala sobre a decisão do partido de integrar mais uma vez a Frente Popular, que reúne cerca de vinte partidos, e outros temas relativos à luta eleitoral no Recife. 
"A Frente Popular parte para a luta eleitoral absolutamente unida, apesar das diferenças", garante o também dirigente estadual e nacional do PCdoB.
Leia a seguir.
Às vésperas das convenções partidárias desenha-se no Recife uma coalizão muito ampla e heterogênea. É possível a unidade dessa coalizão sabendo-se que em relação à crise política nacional as opiniões entre os vinte partidos que a compõem são divergentes?
Luciano Siqueira – Sim. A prática desses três anos e meio da atual gestão liderada pelo prefeito Geraldo Julio o tem comprovado. Num ambiente de respeito às diferenças e de tolerância a unidade se dá em torno do programa de governo para a cidade.
A possível coincidência da votação do impeachment no Senado em agosto não interferirá no ambiente político dessa coalizão?
LS – Creio que não. Os partidos que a integram fizeram diferentes opções nas eleições presidenciais, assim como, se comportaram de modo discrepante diante do impeachment e isso em nada alterou as relações mutuamente respeitosas e convergentes no governo. Não será agora, em plena campanha, que isso venha a mudar.
Em âmbito nacional, PCdoB e PT mantêm uma aliança que vem desde 1989. Por que no Recife essa aliança não se repete?
LS – Em razão da crise interna profunda que o PT viveu então, essa aliança já não se repetiu em 2012. O PCdoB mantém ótimas relações com o PT no Recife, porém, após três anos e meio de participação ativa na coalizão que governa a cidade – onde pontificam o vice-prefeito e os titulares das secretarias de Meio Ambiente e Sustentabilidade e de Esportes, além da direção do IASC (Instituto de Ação Social e Cidadania) – não faria sentido abandonar a coalizão e passar para o lado oposicionista. Sobretudo, porque construímos juntos o programa de governo, que no fundamental vem sendo implementado com êxito.
Mas, setores do PT criticam o PCdoB no Recife por estar aliado a um partido, o PSB, cuja maioria dos seus parlamentares votou a favor do impeachment.
LS – A crítica é um direito democrático. Cada partido tem a sua opinião. Mas, a meu ver, o argumento não tem consistência, pois estamos aliados ao PSB no Recife em torno de um projeto para a cidade e a eleição é municipal. Demais, o próprio PT acaba de anunciar aqui uma aliança privilegiada com o PRB, partido cujos deputados federais votaram fechados pelo impeachment e participa com destaque do governo Temer.
Unidade da Frente
Até recentemente a imprensa local noticiou a pretensão do PMDB em indicar o vice de Geraldo Julio, alegando inclusive que a presença do PCdoB na chapa poderia causar desconforto na coligação...
LS – É verdade, os jornais noticiaram isso durante algum tempo. Vejo como natural um partido da coalizão aspirar ao posto de vice-prefeito. Mas, em condições normais, essa é uma escolha do titular da chapa, que considera os muitos aspectos de ordem política e também o critério da confiança pessoal. Sinto-me honrado por ter sido escolhido pelo prefeito Geraldo Julio para mais uma jornada de luta.
Falava-se em dificuldade de relacionamento entre o PCdoB e o PMDB...
LS - Os argumentos e fatos veiculados pela imprensa não tinham aderência na realidade. O PCdoB jamais causou desconforto a aliados, nem eu, pessoalmente. Mesmo quando participamos de alianças em confronto aberto com o PMDB aqui no Recife, pondo em lados opostos Miguel Arraes e Jarbas Vasconcelos, nós do PCdoB e eu, em particular, aliados de Arraes e do PSB, jamais deixamos de manter relações cordiais com o PMDB e seu líderes. Inclusive, com o deputado Jarbas Vasconcelos e com o atual vice- governador, meu amigo Raul Henry. Nem é verdade que eu costumo chamar deputados de “golpistas” porque votaram pelo impeachment. Afirmo, que o impeachment, no que tange à observância da Constituição, é um golpe, pois a presidenta Dilma não cometeu crime de responsabilidade. Mas, não ataco deputados e senadores. Nunca fiz isso durante toda a minha vida militante, não é do meu jeito de ser. Também é falsa a informação de que militantes do PCdoB teriam pichado com frases depreciativas a residência do deputado Jarbas Vasconcelos.
Olinda e Recife são duas cidades muito interligadas. Em Olinda, o PSB tem candidatura própria e combate o PCdoB. Em que medida esse fato interfere na aliança entre PCdoB e PSB Recife?
LS – Não interfere. Preferíamos que o PSB mantivesse a aliança conosco em Olinda, assim como o PT, que lá atua ao lado do PCdoB há quase dezesseis anos. Mas, respeitamos a opção de ambos terem candidatos próprios. Vamos tentar eleger Luciana Santos numa campanha elevada, sem hostilizar os candidatos do PSB e do PT, tratando-os como concorrentes e não como adversários.
Para o PCdoB, então, o Recife é uma situação considerada excepcional?
LS – Não. É uma situação comum, perfeitamente sintonizada com a linha geral do PCdoB, que considera a pluralidade de alianças em todo o país, de acordo com a dinâmica política de cada cidade e tendo em conta que o foco das eleições está na cidade. O pleito não é “nacionalizado”. Estou certo de que, apesar das diferenças, a Frente Popular parte unida para a luta eleitoral que se aproxima, pois, além do apoio da população do Recife, conta com a contribuição de quadros experientes, como o vice-governador Raul Henry e o deputado federal Jarbas Vasconcelos (PMDB); do deputado federal e secretário estadual André de Paula (PSD); do próprio PSB; do PDT; e dos demais partidos que integram a Frente.
Disputa eleitoral
A Frente Popular do Recife considera a hipótese de um segundo turno?
LS – Toda eleição no Recife é dura, acirrada. Quando se vence no primeiro turno é sempre por uma margem apertada. Lutaremos para vencer no primeiro turno, mas, obviamente, temos que considerar a hipótese de um segundo turno. Isso, inclusive, nos remete a uma condução tática da campanha firme, esclarecedora e, ao mesmo tempo, equilibrada, serena, evitando queimar pontes para alianças num hipotético segundo turno.
Como a Frente Popular pretende sensibilizar um eleitorado em sua maioria apático e descrente da política?
LS – O ambiente do pleito ainda está em formação e é uma hipótese plausível a apatia de parcelas expressivas do eleitorado. Entretanto, o debate sobre a situação atual e os rumos da cidade sempre haverá de despertar o interesse da maioria. A cidade é a extensão do nosso lar, dizem os urbanistas. E a Frente Popular tem muito que apresentar, o conjunto da obra do governo Geraldo Julio muda significativamente a vida de boa parte de nossa população – e isso sensibiliza e emociona. Realizações como o Hospital da Mulher o Programa de Robótica nas Escolas (que já beneficia mais de 70 mil alunos da rede municipal) – só para dois citar dois exemplos – têm grande aceitação entre a população. Além disso, faremos uma campanha propositiva, em tom elevado e ao mesmo tempo leve e criativa, para reafirmar a esperança e confiança do povo do Recife.
Legado para o futuro
Que legado o atual governo deixa para a cidade?
LS – Como disse, o programa de governo vem sendo executado com êxito. Justamente por ter mantido um saudável ambiente de respeito às diferenças e de busca de unidade em torno do programa, Geraldo Julio já ostenta um legado muito importante: não se deixou vencer pela crise geral do país e pela enorme restrição de recursos dela decorrente; manteve os objetivos programáticos da gestão, reduzindo apenas a dimensão das metas; destinou mais de 80% (oitenta por cento) de toda a execução orçamentária – ações, programas, novos equipamentos, etc. – para a maioria da população, precisamente a grande maioria que sobrevive do seu salário e se submete a graus variados de vulnerabilidade. Na história recente do Recife, nunca se fez tanto em tão curto espaço de tempo em favor da população que mais necessita.
Em que um segundo mandato de Geraldo Julio poderá avançar?
LS - Poderá avançar muito, apoiado na experiência e nas realizações acumuladas. Poderá, inclusive, concretizar um dos seus legados mais importantes: a retomada do planejamento como “fio da história” na gestão da cidade. Um conjunto de planos estruturantes do funcionamento e da vida da cidade – entre os quais, destacadamente, o Parque Linear do Capibaribe / Caminho das Capivaras -, englobados no projeto Recife 500 anos nos darão as linhas seguras para seguir avançando. O Recife 500 anos será o desenho da cidade que queremos no futuro, iluminando as escolhas do presente.
Por que “fio da história”?
LS - Porque a cidade do Recife, ao lado do Rio de Janeiro, nos anos 1920 e 1930 do século passado, foi pioneira do planejamento urbano. Depois, Pelópidas Silveira, nos 1950, e Miguel Arraes, no início dos anos 1960, deram passos adiante. Depois isso se perdeu sob o imediatismo como fruto da pressão das demandas emergenciais. Planos até foram feitos, porém, sem a participação da sociedade e sem concretude. Geraldo retoma o fio condutor de Pelópidas e de Arraes.
Chapa própria
Como o PCdoB encara as eleições para a Câmara Municipal?
LS – O PCdoB pretende eleger uma bancada de vereadores e vereadoras. Nós nos orgulhamos do mandato do vereador Almir Fernando, um líder popular autêntico, incansável lutador ao lado do povo da Zona Norte da cidade. Mas, pretendemos ampliar a bancada. Disputaremos com chapa própria, uma chapa competitiva de homens e mulheres vinculados à luta do povo em várias áreas e segmentos da cidade, todos com história de luta comprovada.
(*) Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife e pré-candidato à reeleição pela Frente Popular.
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Poesia sempre

O verbo no infinito
Vinicius de Moraes
Ser criado, gerar-se, transformar 
O amor em carne e a carne em amor; nascer 
Respirar, e chorar, e adormecer 
E se nutrir para poder chorar 

Para poder nutrir-se; e despertar 
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir 
E começar a amar e então sorrir 
E então sorrir para poder chorar. 

E crescer, e saber, e ser, e haver 
E perder, e sofrer, e ter horror 
De ser e amar, e se sentir maldito 

E esquecer tudo ao vir um novo amor 
E viver esse amor até morrer 
E ir conjugar o verbo no infinito...


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Amplitude e rumo

Uma grande tarefa
Eduardo Bomfim, no portal Vermelho
Para além da imprescindível batalha contra o golpismo em curso, urge a necessidade dos segmentos democráticos, progressistas, patrióticos encontrarem os caminhos que viabilizem a constituição de ampla frente política que aponte novos rumos à sociedade e ao País.
A luta contra o golpe que sequestrou o regime democrático e mais de 54 milhões de votos dos cidadãos brasileiros está associada à necessidade de se formular através de sólida frente nacional, democrática, um norte aos destinos da nação.
Porque é verdade que no Brasil de hoje, após o putsch que derrubou a presidente Dilma Rousseff, legitimamente eleita, também houve verdadeiro terremoto, que persiste, nas instituições da República descaracterizando o que há de positivo promulgado na Constituição de 1988 com suas virtudes, defeitos ou limitações.
A vida mostra que o País não alcançou a plena maturidade nas relações institucionais. A verdade, nua e crua, é que, entre nós, a democracia não está consolidada, muito pelo contrário.
Assim como a realidade indica que não há inteira garantia da soberania nacional, porque essa também se encontra ameaçada, hoje mais ameaçada que ontem, frente aos cenários provenientes de um quadro geopolítico profundamente instável e perigoso, das constantes investidas contra as nossas riquezas naturais, com nossas dimensões continentais e uma população que supera os 200 milhões de habitantes.
Inúmeros historiadores, jornalistas e forças políticas, têm reiteradamente declarado que não se pode falar em democracia perene no País enquanto existir o monopólio das comunicações no Brasil em mãos de poderosos grupos privados, associados e subalternos a interesses estratégicos do Mercado financeiro.
Tanto como não é possível afirmar que a soberania do Brasil encontra-se plenamente assegurada, quando esse capital rentista, associado a interesses escusos, especialmente dos EUA, agem, à luz do dia, contra a democracia, o País, como na atualidade.
Assim, a energia criativa do povo brasileiro, no sincretismo de raças que aqui viceja e que constitui singular unidade e diversidade num País continente, onde se fala uma só língua, sem movimentos separatistas, deve recuperar o contínuo histórico, várias vezes interrompido e retomado, através de um Projeto Nacional de Desenvolvimento Estratégico.

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29 julho 2016

Unidade e entusiasmo

A Convenção eleitoral do PC do B do Recife, que acontece esta noite, É muito mais do que o cumprimento da legislação. Trata-se de uma estante importante da democracia partidária. A resolução "PCdoB na luta por uma cidade mais humana” é a síntese dos debates ocorridos junto às bases e traduz, de acordo com as peculiaridades de nossa cidade, a orientação Nacional do PC do B.

Assim, a decisão de renovar aliança com o PSB à testa de uma ampla coalizão partidária, em torno da chapa Geraldo Júlio — Luciano Siqueira e de disputar A Câmara dos Vereadores em chapa própria se configura numa oportunidade de afirmação do caráter almoçar tempo revolucionário E taticamente amplo e flexível do velho e renovado partido fundado em 1922.

Daí o ambiente de unidade entusiasmo que envolve a Convenção.

Unidade necessária

Ressalvadas as posições de cada partido sobre a crise nacional, impõe-se a necessidade de sólida unidade das coalizões partidárias constituídas para o pleito municipal, tendo como pedra de toque um programa para a cidade. Assim pensa e age o PCdoB em todo o país, conforme orientação do seu Comitê Central. Como no Recife, aonde a Frente Popular vai ao embate eleitoral reunindo amplo espectro partidário em torno da chapa Geraldo Julio-Luciano Siqueira (PSB-PCdoB). Este o espírito do meu diálogo, ontem, com o vice-governador Raul Henry (PMDB). 

Poesia sempre


Volta, Luciana!

Luciana oficializa pré-candidatura em Olinda
Edson Mota, no Blog de Jamildo/portal ne10
O Convento de Santa Tereza, em Olinda, foi o local escolhido para a deputada federal Luciana Santos (PCdoB) colocar de vez o seu nome na já acirrada disputa para Prefeitura do município. O ato contou com a participação da também deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), pré-candidata à Prefeitura do Rio de Janeiro e do atual vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira.
Desta vez, entretanto, a base da comunista é menor. Ao invés dos 21 partidos que formaram a chapa do atual prefeito Renildo Calheiros, desta vez só quatro siglas (PDT, PSD, PP e PRTB) farão parte do apoio à Luciana Santos. Questionada sobre a baixa adesão ao seu nome, Luciana creditou ao fato de se tratar de uma sucessão de liderança, e não de uma reeleição, como em 2012. “Quando se trata disso, as forças políticas que nos apoiaram, como o PT e o PSB, terminaram lançando candidatura própria e nós respeitamos”, argumentou.Ainda segundo Luciana, a baixa popularidade do atual prefeito Renildo Calheiros não interfere na sua pré-candidatura. “Aqui em Olinda, historicamente falando, os gestores que aqui passaram tiveram dificuldades de serem bem avaliados. Não tenho dúvidas de que esta é a eleição mais acirrada, talvez por um ceticismo político que existe na população. Mas será difícil para todo mundo”, argumentou.
Apesar da rejeição ao nome de Renildo na cidade, o próprio prefeito garantiu que estará nas ruas da cidade junto com Luciana Santos. “Mas só fora do horário do expediente”, frisou. Renildo ainda disse que outros partidos integrarão a chapa de Luciana Santos, mesmo com Luciana garantindo que não haverão outras siglas. “Existem outros partidos que irão apoiar o nome da deputada federal. A convenção será só no dia 5 e lá será anunciado as outras legendas”, finalizou o prefeito.

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28 julho 2016

Vamos abraçar Luciana


Contra a democracia

Reforma política na agenda regressiva
Luciano Siqueira, no portal Vermelho e no Blog do Renato

Em meio ao verdadeiro "tiroteio" movido por Michel Temer e seu grupo no desmonte de conquistas sociais e de direitos alcançados nos últimos 12 anos, o encontro entre o presidente interino e o senador Aécio Neves, ontem, poderia até passar como sem muita importância.
Aécio já não se mostra ousado e arrogante como na fase que antecedeu a votação do impeachment pela Câmara dos Deputados. Atordoado por sucessivas revelações, em delações premiadas, de seu envolvimento em atos de corrupção, já não busca as câmeras de TV como antes.
Mas cumpre o seu papel como partícipe ativo do desmonte neoliberal.
Com Temer, segundo o noticiário, tratou exatamente de uma nova reforma política — agora centrada em dois itens de evidente caráter restritivo: cláusula de barreira e proibição de coligações proporcionais.
Há mais de duas décadas o tema é recidivo no Congresso. Sempre traduzindo a intenção de reduzir a representação parlamentar aos poucos grandes partidos nos quais têm lugar privilegiado representantes da elite dominante.
Apenas o PT seria tolerado.
Correntes políticas hoje minoritárias seriam afastadas da lide parlamentar.
Pelo artifício, se criaria uma série de dificuldades para que partidos como o PCdoB, o PV e outros pudessem validar o mandato de seus representantes eleitos.
O que Aécio quer, e Temer se comprometeu a trabalhar por isso, é a adoção de uma cláusula de barreira (também chamada de cláusula de desempenho) dificilmente atingível pelos atuais pequenos e médios partidos.
A interdição das coligações proporcionais viria com o mesmo propósito.
No cenário atual de pulverização da representação parlamentar via a multiplicidade de legendas, os argumentos em favor da monopolização do parlamento pelos grandes partidos conservadores pode vir a ganhar guarida em parcelas da opinião pública estimuladas pelo complexo mediático.
Por outro lado, a despeito da situação francamente adversa, cabe retomar a proposta formulada pelo movimento em favor da reforma política democrática, encabeçado pela OAB e pela CNBB e integrado por mais de cem entidades populares e democráticas e organizações da sociedade civil. 
Para combater a fragmentação do espectro partidário, a adoção do sistema de votação em listas preordenadas pelos partidos, que colocaria em primeiro plano, aos olhos do eleitor, propostas programáticas e não indivíduos, como hoje ocorre.
E em complemento à extinção da contribuição empresarial, o financiamento público de campanhas.
Mas certamente não será jamais essa a direção da maioria parlamentar conservadora atual.  
O fato é que o diálogo entre Aécio e Temer se insere na agenda regressiva neoliberal ora em andamento.
Mais um sinal de alerta aos que imaginam um roteiro simplista para os possíveis desdobramentos da eventual confirmação do impeachment da presidenta Dilma no Senado. Pois não é razoável imaginar que na hipótese de dois anos e meio de governo, pelo acirramento das contradições sociais e desgaste político de Temer e aliados, o caminho para uma nova vitória do povo nas próximas eleições presidenciais estaria pavimentado.
Pelo evolver dos fatos, a agenda regressiva não apenas pretende a consolidação da hegemonia do sistema financeiro sobre a economia e a vida social e política em geral, como tenta avançar em reformas estruturais de caráter reacionário com a rapidez e a eficiência que nossas forças não tiveram em relação às mesmas reformas estruturais com conteúdo democrático. 
Assim, põe-se evidente a absoluta necessidade de se construir uma nova plataforma de luta para a qual possam convergir os atuais partidos de oposição, o amplo leque de correntes políticas e personalidades participes da resistência ao impeachment e os movimentos sociais. 
Uma tarefa ingente a ser encarada concomitantemente com a peleja eleitoral de outubro. 

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27 julho 2016

Política real versus mecanicismo

Para além de um samba curto
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

Definitivamente, a complexidade da sociedade brasileira escapa ao raciocínio reducionista e esquemático. Dando razão a Karl Marx, para quem se a essência se resumisse à aparência não haveria necessidade da ciência.
A título de exemplo vejamos duas situações emblemáticas na cena política atual.
As principais centrais sindicais, de amplo alcance nas estruturas estaduais e locais pelo Brasil afora, se dividem quanto ao impeachment da presidenta Dilma.
As situadas mais à esquerda estão nas ruas defendendo o mandato da presidenta, protestando contra o golpe.
As de perfil conservador, entrelaçadas com a representação parlamentar de centro-direita, apoiam o impeachment.
Porém agora, diante da agenda regressiva do presidente interino Michel Temer, onde se destacam as reformas trabalhista e previdenciária - pré-anunciadas como restritivas de direitos dos trabalhadores -, as dez centrais mais importantes unem-se na resistência.
Ou seja, não há uma linha demarcatória rígida que separe as centrais em qualquer circunstância. Na complexidade da vida, convergem ou divergem. 
Noutra esfera - a das eleições municipais -, legendas partidárias situadas em pólos opostos quanto à questão do impeachment e aos rumos do país, estabelecem coalizões amplas e plurais.
Igualmente neste caso a realidade concreta teima em não se enquadrar a esquemas rígidos.
Assim, as centrais sindicais que divergem sobre a questão nacional convergem na defesa dos direitos dos trabalhadores ameaçados.
E partidos que sustentam opiniões discrepantes sobre a natureza da crise nacional e as alternativas de superação, celebram alianças locais em torno de um programa para a cidade. 
Não há incoerência em ambos os casos.
Há, sim, acertada consideração das peculiaridades da sociedade brasileira, marcada por uma enorme diversidade regional e local — econômica, social, cultural e política.
E embora condenada à percepção fragmentária da realidade pela pressão midiática, a maioria dos brasileiros compreende o sentido das alianças sindicais e partidárias construídas no horizonte imediato e no espaço local.
Pois como diz Paulinho da Viola, "ninguém pode explicar a vida/Num samba curto."

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Arrivista decadente

Temer chegou ao fim da linha
Paulo Moreira Leite, em seu blog
As pesquisas dos últimos dias mostram que mesmo incluindo o esforço para levar o filho de 8 anos na escola, o baú de truques banais para tentar elevar a popularidade de Michel Temer a qualquer preço está chegando ao fim. Com números arrasadores, o Ipsos e o Paraná Pesquisas mostram uma verdade inegável. Quanto mais a população conhece o governo Temer, mais o rejeita. 
Temer sempre foi um político ruim de votos e é claro que isso quer dizer muita coisa numa democracia. Coisas ruins, em geral. Fez a carreira política beneficiado pela presença em aparelhos que lhe garantiam a eleição em pleitos parlamentares, invisível e opaco num máquina de cabos eleitorais profissionais, prefeitos, governadores e empresários amigos que garantiam votos anônimos, inexpressivos e difíceis que são assegurados hoje para serem esquecidos amanhã. Tudo aquilo que a maioria da população rejeita e condena.
Cresceu na fase sem glória e sem moral do velho PMDB que foi a legenda honrada de Ulysses Guimarães e da luta contra a ditadura. Ganhou importância quando gerenciava – o termo é este – uma força sem importância para o povo, apenas para os interesses de uma maioria arrasadora de amebas profissionais. 
Protegido pela opacidade de quem nunca sentiu necessidade de revelar uma ideia, um projeto, Michel Temer se desfaz dia após dias, há dois meses, desde que, sob os holofotes da presidência, precisa dizer a que veio e enfrentar a hora da verdade. Nessa circunstância inevitável, exibe um programa de anti-Brasil. A essência do seu problema é política.
Ele chegou ao Planalto a bordo de um golpe parlamentar, uma suspensão temporária do Estado Democrático de Direito, destinada a permitir a aplicação de medidas de exceção de caráter cirúrgico, que devem ser limitadas no tempo e na profundidade, pois não há condições políticas para ir além disso. 
Desde o primeiro dia, contudo, o governo Temer busca mudanças de outro caráter, que mesmo governadores eleitos, em disputas legítimas e inquestionáveis, teriam dificuldade de realizar. Em países com o perfil sócio-econômico semelhante ao nosso, é mais frequente em ditaduras escancaradas – e não nas envergonhadas.
Ainda que tenham sido inspirados em Margaret Thatcher e Ronald Reagan, as versões sul-americanas mais conhecidas de criação de um Estado mínimo exibidas pelo governo Temer só conseguiram avançar em suas pretensões através da ditadura, da tortura e da violência, da supressão das garantias democráticas. Você sabe de quem estamos falando: Augusto Pinochet, que destruiu no Chile o mais avançado estado de bem-estar social do continente; e Alberto Fujimori, que arrancou a raiz das primeiras iniciativas que vinham sendo construídas nessa direção. 
Pinochet chegou a La Moneda pelo sangue de um golpe que se tornou uma vergonha mundial desde o primeiro dia - como tantos exilados brasileiros conheceram na própria carne. Fujimori foi eleito e, após uma série de movimentos demagógicos, cavou terreno para um golpe institucional, origem de uma ditadura corrupta e violenta que seria derrubada com auxílio da Casa Branca, com receio de que o caráter temerário de seu governo levasse a uma situação fora de controle, ameaçando a estabilidade conveniente aos investimentos no país. Nos momentos de megalomania, seus aliados falavam que a "fujimorização" poderia ser uma entendia na América Latina.
Pinochet foi ditador por 17 anos. Fujimori, tudo somado, ficou dez.
Antes disso, porém, ambos tiveram direito a pequenos minutos de glória, permitida a partir de princípios mais flexíveis do que se imagina por parte de quem tinha o dever de negar apoio e consideração. Pinochet foi tratado por Tatcher com honras de aliado preferencial, protegido inclusive no momento em que, deposto, teve de encarar um mandato de prisão por tortura e morte assassinado pelo procurador espanhol Baltazar Garzón.
Ainda em seu posto, Fujimori estufou o peito, em Lima, na cerimônia em que Fernando Henrique Cardoso lhe entregou a Ordem do Cruzeiro do Sul, a mais alta condecoração do Estado brasileiro.
A impopularidade de Temer é recorde pelo prazo mas sua origem é o conteúdo. Trata-se de um programa que jamais teria votos da maioria dos brasileiros para chegar ao Planalto. De caráter socialmente excludente, colonial em sua essência, a rejeição era só uma questão de tempo.
Por mais que a mídia grande tenha feito o possível para esconder a natureza perversa do processo em curso, numa manipulação de informações coerente com um processo que o Prêmio Nobel da Paz Perez Esquivel chamou de golpe branco, a população já compreendeu o sentido do espetáculo. Diariamente, descaradamente, seus benefícios são reduzidos. Conquistas de tempos recentes recentes são ameaçadas – quando não foram suspensas de imediato. Não há nenhuma boa notícia para quem é pobre, dá duro no fim do mês para pagar contas e educar os filhos. A lista é tão longa que o risco de esquecer alguma coisa é real.
O projeto que limita o endividamento do governo é um programa de recessão permanente. A reforma na Previdência é uma ofensa. A mudança no Minha Casa Minha Vida é um escárnio. A base para cortes no Bolsa Família é uma mentira. O ataque a Petrobras é um crime. O retrocesso na educação é um recuo histórico. O programa de destruição da CLT envergonha qualquer cidadão com orgulho do 13 de maio de 1888.
Nos terroristas de Alexandre Moraes, na suspensão do Whatsapp, no projeto de suspensão de garantias democráticas do Ministério Público, medidas autoritárias ameaçam chegar a vida real. O nome adequado para o financiamento politicamente dirigido a portais da internet é aparelhamento. 
Nefasto por sua própria natureza, o golpe de abril-maio é um desses desafios imensos que o povo de um país está condenado a vencer, de uma forma ou de outra. Se a história conta uma lição é ensinar que cedo ou tarde a maioria consegue impor seus direitos, por mais obstáculos que encontre no caminho.
No Brasil de 2016, a opção mais civilizada e menos traumática também é a mais curta, obviamente. Reside na votação do Senado, que pode transformar o pesadelo dos últimos dois meses num episódio grave mas passageiro. Bastam os votos necessários para derrotar o golpe, abrindo caminho para um plebiscito que poderá realizar aquilo que a quase totalidade da população deseja - a realização de novas eleições presidenciais. Para além de tramas menores de balcão, disponíveis em qualquer lado, a base dessa decisão será a convicção, por parte de um número razoável de senadores, de que é impossível ignorar que mesmo direitos e prerrogativas de representantes do voto popular estão em jogo num processo que abre caminho a medidas de exceção que ninguém sabe aonde vão terminar.
A hipótese de uma derrota da democracia no Senado é lamentável, deve-se admitir. Seu efeito seria transformar a resistência num processo mais duro e doloroso, ainda que inevitável. Mas, ao contrário do que dizia a filosofia amiga de Pinochet e Fujimori, não há fim da história. Ela sempre pertence ao povo que, nas pesquisas sem truque, já disse com clareza o que pensa de Michel Temer e seu governo. 
*Paulo Moreira Leite é jornalista e editor do Brasil 247

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Editorial do portal Vermelho

A educação como privilégio de quem pode pagar
Num artigo publicado em 1956 – faz 60 anos – o grande educador brasileiro Anísio Teixeira defendeu ideias e uma interpretação da sociedade que se mantém nestes tempos turbulentos vividos por nosso país. 
O artigo resultou de palestra proferida por ele no Congresso Estadual de Educação do Estado de São Paulo, e a atualidade de suas teses é inacreditável.
O editorial que o jornalão conservador O Globo publicou neste domingo (24), sob o título “Crise força o fim do injusto ensino superior gratuito” remete diretamente àquelas teses. E revelam a força que ideias tão conservadoras e retrógradas mantêm na classe dominante brasileira, acentuadas desde que o golpe de Estado em curso interrompeu a democratização do Brasil e da educação brasileira, acentuadas desde 2003.
Jogando com as palavras, O Globo diz que a educação gratuita em todos os níveis é uma “injustiça”. Esconde que, ao assegurar a elevação educacional e cultural de todos, torna-os mais capazes para exigir direitos iguais sem exceção. Este direito foi garantido, pela primeira vez na história de nossas constituições, pela Carta Magna de 1988, e se encontra sob cerrado ataque pela mídia conservadora e sobretudo pelas mudanças constitucionais que o governo ilegítimo do impostor Michel Temer quer aprovar para acabar com aquela obrigatoriedade.
“Para combater uma crise nunca vista, necessita-se de ideias nunca aplicadas. Neste sentido, por que não aproveitar para acabar com o ensino superior gratuito, também um mecanismo de injustiça social?”, diz aquele editorial mistificador que vê a gratuidade do ensino superior como se fosse um mecanismo concentrador de renda.
É contra essa péssima ideia conservadora que vale a pena recordar as teses democráticas defendidas há 60 anos por educadores progressistas e avançados. Sobretudo duas elas, que fundamentam a defesa do ensino gratuito em todos os níveis, do elementar ao superior. A primeira, já referida, diz respeito à necessária elevação cultural e educacional para que os cidadãos de uma república sejam efetivamente iguais.
A outra, intimamente ligada à anterior, fala sobre o atraso democrático, anacrônico e persistente, das velhas oligarquias que se arrojam a comandar a política brasileira. Das quais O Globo é um porta-voz renitente. Atraso que está na base daquilo que Teixeira chamou de sociedade “dual”, em que há uma elite pequena que se julga apta para o mando, e uma imensa maioria a quem caberia apenas obedecer e sujeitar-se. 
O sistema “educacional” defendido por essa oligarquia, reproduzido pelo editorial aqui comentado, tem o objetivo duplo de criar líderes conservadores destinados ao mando, ao mesmo tempo em que procura “adestrar” os demais para a subordinação e a obediência.
A permanência deste sistema “educacional” excludente está na base da tentativa de eliminação do direito constitucional à educação gratuita e de qualidade em todos os níveis. “Educação”, assim entendida, só para os ricos que podem pagar e serão, depois de diplomados, os herdeiros e continuadores da oligarquia.
Para os conservadores que, momentaneamente, dominam o cenário político brasileiro, os avanços obtidos desde 2003 são ameaçadores e devem ser anulados. 
Afinal, os governos Lula e Dilma previam alcançar em 10 anos a meta de 10% do PIB para a educação. O orçamento do Ministério da Educação passou de cerca de R$ 35 bilhões em 2002 para quase R$ 102 bilhões em 2013. Isto é, foi multiplicado por três! Além disso, foram reservados recursos do pré-sal para a educação; criadas 14 novas universidades e duplicado o número de vagas nas federais. Foram beneficiados quase dois milhões de estudantes através do Fies e quase 1,5 milhão de estudantes pelo ProUni.
Isso contraria a opinião conservadora segundo a qual o ensino superior deve ser mantido como espaço de habilitação destinado somente aos que tem dinheiro – como sempre foi no Brasil. E não espaços democráticos que possam ser frequentados pelos filhos das famílias mais pobres e que, assim, capacitam-se para ampliar e consolidar a democracia.

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Imprensa marrom em crise

Editora Abril: a um passo de se tornar história
Luis Nassif, Jornal GGN
Pouco antes de morrer, o presidente da Editora Abril, Roberto Civita, aproximou-se de banqueiros paulistas. Conseguiu do Itaú-Unibanco uma sobrevida para a empresa.
Um dos banqueiros, mais ideológicos, fez uma última tentativa para manter vivos a Abril e o Estadão. Lançou a ideia de criação de uma fundação que assumisse as duas empresas. Chegou-se, inclusive, ao nome de André Lara Rezende para presidente.
A ideia morreu quando foram abertas as contas de ambas as empresas: eram economicamente inviáveis.
Agora, está próxima do fim a aventura da mais relevante editora de revistas do país.
O crescimento inicial foi fruto da intuição - e dos contatos norte-americanos - do patriarca Victor Civita, que por aqui aportou com a retaguarda dos grupos Disney e Time-Life, quando os americanos se deram conta que a legislação restritiva brasileira não permitiria participação direta no país e as parcerias com o Departamento do Estado conferiam à mídia papel relevante nas disputas ideológicas do continente, decorrentes da Guerra Fria.A partir dos anos 70, houve um impulso grande no grupo, graças à visão de Roberto Civita. Por incrível que pareça, para quem acompanhou a decadência de Veja, Civita foi um grande editor, inclusive na escolha dos diretores de redação que ajudaram a forjar a glória da empresa. Lançou a revista Realidade, das grandes reportagens, trazendo os maiores nomes da época, Milton Coelho da Graça, Luiz Fernando Mercadante, José Hamilton Ribeiro. Depois, foi buscar Mino Carta no Jornal da Tarde para lançar a 4 Rodas e a Veja. Surgiram as revistas femininas, a Playboy. E fascículos que marcaram época.
A Abril tornou-se uma editora imbatível, inclusive valendo-se de sua força política para obter favores oficiais graúdos, como os incentivos para a rede Quatro Rodas, dados pela ditadura, e os canais de TV a cabo pelo governo Sarney.
As mudanças tecnológicas - Dentre os editores brasileiros, nenhum foi mais antenado que Roberto Civita com as mudanças na mídia. Entendeu o papel da TV a cabo, lançando a TV A, dos satélites como difusores de sinal e da própria Internet, através do lançamento da BOL. Teve experiências bem-sucedidas com produção, com a TV Abril e com a MTV. Sempre foi o primeiro a imoprtar no país as últimas ondas do mercado norte-americano.
A visão de futuro não foi acompanhada de uma estratégia financeira adequada. Uma a uma as experiências fracassaram pela falta de executivos adequadas e por uma praga que assola empresas quando surgem tecnologias matadoras.
Sempre que aparecia uma tecnologia de corte, a ATT criava uma empresa à parte, independente, pois sabia que se fosse desenvolver dentro da própria empresa, a empresa velha mataria a nova.
A Microsoft não aprendeu a lição. Quando surgiram os sistemas operacionais para tablets e celulares, incumbiu a divisão do Windows de desenvolve-los. E os pais do Windows para computadores não quiseram amputar funções para adaptar o sistema aos mobiles. Perdeu o bonde para a Apple e o Google.
Uma a uma, as inovações da Abril foram sendo boicotadas pelos executivos do papel, receosos de perder espaço para os novos setores.
Foi assim com a TV Abril, com a TVA, com a BOL.
O erro da BOL - Um alto executivo da época me contou, certa vez, o boicote sofrido por Antônio Machado que, depois de uma brilhante passagem pela Exame, foi incumbido de colocar em pé o portal da Abril.
Houve alguns erros iniciais, como o de pretender montar uma verdadeira central telefônica para atender as chamadas, em vez das parcerias com pequenos provedores do interior, como fez a UOL. E também a ideia da padronização das revistas, transformando a BOL em uma enorme revista padronizada. Nada que não pudesse ser corrigido, sem tirar da BOL o mérito do pioneirismo e do maior acervo de publicações da jovem Internet brasileira.
De nada adiantou. Civita acabou aceitando a proposta de Luiz Frias de juntar as duas operações, da UOL e da BOL, dando a gestão para o sócio.
Pouco tempo depois, Luiz montou uma parceria com grupos da Portugal Telecom visando diluir a participação da Abril. De um dia para outro anunciou um aumento de capital e, apanhado de surpresa, Civita não conseguiu acompanhar a Folha e acabou diluído. A velha raposa sendo passado para trás pelo jovem empreendedor.
A mesma falta de visão ocorreu com a tentativa mais recente de apostar de novo na Internet, através do portal Abril e da Veja.
Certa vez, um talentoso desenvolvedor brasileiro, que havia criado uma rede corporativa de primeiro nível, me contou que tentou vender a rede para a Abril utilizar em seus portais.
Antes que concluísse a história, pedi para adivinhar o resultado:
- Um dos executivos da Abril rejeitou sua proposta dizendo que a aposta da editora, agora, era em revistas de quadrinhos de baixo custo para a nova classe C.
Ele se espantou:
- Como você sabe?
Porque, na mesma época, a IBM enviou para a Abril altos executivos da IBM norte-americana, para oferecer ferramentas para utilização em portais da Internet. E a resposta foi a mesma.
A aposta na educação - Restava à Abril apelar para a força política da Veja. A partir dos anos 90, Civita assumiu a supervisão direta da revista, envolvendo-a cada vez mais em jogadas políticas e comerciais.
Nos tempos de Mino Carta e da dupla Roberto Guzzo-Elio Gaspari, os diretores alertavam Civita quando poderia ultrapassar os limites do jornalismo para atender aos interesses políticos e comerciais do grupo. A partir dos 90, entraram diretores cada vez mais submissos e sem envergadura jornalística para se contrapor às ordens do chefe. E aí foram lambanças sucessivas.
Sem conseguir avançar em nenhuma frente digital, a Abril concentrou esforços na parte educacional. Adquiriu editoras que vendiam livros didáticos preferencialmente para o MEC (Ministério da Educação) e cursos apostilados para estados e prefeituras, valendo-se da força política da Veja e da estrutura de vendedores de assinaturas para tentar se impor. As escolas eram procuradas por vendedores que convenciam diretores a escolher os livros da Abril na cesta oferecida pelo MEC.
Na gestão Tarso Genro, fechou-se essa porta. O MEC passou a divulgar catálogos dos livros selecionados e a proibir o uso de vendedores. Civita ficou possesso e chegou a telefonar para Tarso Genro, ameaçando-o com uma capa se insistisse na nova política. Não conseguiu intimidar o Ministro.
Seguiu-se uma fase de investimentos intensos no ramo educacional. Uma a uma foram sendo vendidas as empresas coligadas e o dinheiro investido na compra de cursos, para a montagem de um grupo educacional, não apenas com recursos próprios, mas com financiamentos bancários.
Mais uma vez, Civita quebrou a cara pela má escolha de executivos. A presidência do grupo foi entregue a conhecido CEO, conhecido pela megalomania. As compras foram efetuadas por preços muito acima dos de mercado. Em plena corrida da Abril, um concorrente me descreveu a estratégias a cegueira de Civita, de não avaliar os preços dos bens adquiridos.
- As contas não fecham de maneira nenhuma.
As loucuras aconteceram em todos os quadrantes, com a empresa se endividando para apostas irrealistas. Como a proposta para João Dória Jr., para a venda do controle da Casa Cor, uma proposta tão absurdamente alta que o próprio Dória duvidou da sanidade do grupo.
A aposta na direita - Restou a Civita o último berro, a identificação talentosa da nova tendência da opinião pública, de ir para a direita e para teses de intolerância. Trouxe dos Estados Unidos o padrão Rupert Murdock que foi testado pela primeira vez na campanha em defesa das armas.
Com o sucesso obtido, radicalizou. Mais e mais Veja foi se transformando em um lago de detritos, em um esgoto a céu aberto, inventando capas inverossímeis, vendendo-se para jogadas comerciais, como a de Daniel Dantas, aliando-se ao crime organizado de Carlinhos Cachoeira, para garantir o suprimento semanal de escândalos, praticando crimes de opinião, perdendo a cada edição o contato com os fatos e com o jornalismo.
Seu último feito foi liderar um pacto de cartelização da mídia em 2005, que matou qualquer veleidade de jornalismo da parte deles e que tornou a imprensa a maior ameaça à democracia brasileira e à estabilidade política e econômica.
Depois disso, houve a queima de ativos.
A venda da parte educacional deixou a família com caixa. Mas com pouca disposição de colocar dinheiro em uma empresa inviável. Começou, então, um movimento de transferência de títulos para o grupo argentino Caras. Foram transferidos dez títulos (http://migre.me/uqLwz).
Mas os tempos são outros. Apesar da óbvia blindagem recebida do Ministério Público Federal no episódio Carlinhos Cachoeira, a transferência poderia configurar evasão fiscal. A família voltou atrás na estratégia e terminou aportando R$ 450 milhões, única maneira dos credores toparem o refinanciamento das dívidas (http://migre.me/uqLyY), mantendo com aparelhos os sinais vitais da empresa.
Por outro lado, a morte de Roberto Civita impediu que fossem feitos ajustes na linha da Veja. Apenas na véspera do fim, a família tomou medidas para tentar restaurar o jornalismo da revista, tarefa impossível: a revista tornou-se refém da malta que ajudou a criar.
Há, portanto, um ponto em comum entre os Civita e o governo Dilma que eles ajudaram a derrubar: o de fazer as mudanças necessárias com anos de atraso, e quando o desastre se tornou irreversível.

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26 julho 2016

Tendências

Entre março e julho deste ano, o percentual dos que defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff caiu de 61% para 48%. Isso demonstra que, após atingir um pico com a histeria golpista provocada pela mídia tradicional, a adesão ao impeachment caiu à medida que a população se deu conta da natureza perversa do atual processo político. Leia mais http://migre.me/us1MA

Dormindo no ponto...

Panfleto eletrônico interativo
Luciano Siqueira

A resistência à inovação tecnológica tem sido apontada, ao longo dos tempos, como um fenômeno sociológico mais ou menos acentuado, nas diversas culturas mundo afora. 
Mesmo agora com o advento da internet e da parafernália de aparelhos e aplicativos de fácil manuseio, é comum que as pessoas raciocinem e se comportem como em época passada, pré-revolução tecnológica.
Ocorre agora com pré-candidatos e candidatas a vereador. Há um enorme apego a formas tradicionais de campanha, especialmente o panfleto impresso e a outros instrumentos de divulgação.
Pois se é verdade que todos têm o seu perfil no Facebook e utilizam WhatsApp, dessas ferramentas nem sempre fazem bom uso. Porque as subestimam. 
Ora, a divulgação de impressos terá o seu lugar na campanha, particularmente os conhecidos "santinhos", de muita utilidade quando os apoiadores dos candidatos se dedicam mais intensamente a amarrar votos.
Porém ainda é incrivelmente precária a prática do diálogo com amigos e seguidores no Facebook. Como se bastasse a divulgação de fotos, vídeos, breves informes e algum comentário.
O mesmo em relação ao WhatsApp. Neste caso, com um agravante: o uso persistente do chamado "grupo", ao invés da "lista de transmissão".
Na primeira alternativa, instala-se a babel: quase todos falam de tudo, incluindo piadas, mensagens de autoajuda e afins, perdendo o foco no objetivo do grupo, originariamente criado para tratar da pré-campanha. 
A "lista de transmissão", ao contrário, possibilita que cada um que as tenha se comunique instantaneamente com até 250 pessoas por lista. E assim se estabelece um diálogo direto, conciso, produtivo e eficiente.
E se cada apoiador de um pré-candidato fizer também suas próprias listas de transmissão, repassando através delas as mensagens do pré-candidato ou da sua equipe de coordenação, em segundos centenas ou alguns milhares de amigos estarão informados de ideias em debate e das atividades em andamento. Isto a um custo irrisório.
Enfim, as duas ferramentas – o WhatsApp em especial – não substituem o contato pessoal direto com o eleitor, mas o potencializa e amplia em tempo real.
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Intolerância

Pesquisa da agência nova/sb confirma que a intolerância no debate político é mais acentuada em Pernambuco do que nos demais estados da região Nordeste, informa o Diário de Pernambuco de hoje. Deve ser mesmo - e talvez seja um subproduto da tradição histórica de disputas políticas acirradas em nosso estado.

Resistência trabalhista

As principais centrais sindicais reagem com firmeza alta regressiva de Temer-Meirelles quanto aos interesses e direitos dos trabalhadores: as reformas trabalhista e da previdência de contornos neoliberais. Estão nessa luta CUT, CTB, UGT, NCST e CSB.

Em terreno minado

Wassily Kandinsky
Quando o alvo é o aliado algo está errado
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

No futebol, diz-se "bater cabeça" quando zagueiros do mesmo time se confundem na marcação. Ou a orientação tática está errada, ou próprios zagueiros a desobedecem.
Na política é relativamente comum a desorientação tática, sobretudo quando a maré não está pra peixe. Ou seja, quando a situação é desfavorável e o time está perdendo. Ao invés de se combater o verdadeiro adversário, muita munição se desperdiça alvejando aliados.
É como que se aos aliados coubesse a culpa pelos próprios erros cometidos. Não faz o menor sentido e ainda piora a situação.
Ora, se o ambiente é desfavorável e a correlação de forças adversa, por que não conviver respeitosamente com as diferenças, explorar pontos de convergência e construir canais por onde se possa adiante restabelecer a unidade necessária?
Este é um dos desafios que se colocam para as forças do campo democrático e popular na atual conjuntura política.
O episódio eleitoral de outubro perpassará o evolver da luta política nacional, entretanto obedecendo a uma dinâmica própria. Daí o cenário caleidoscópico das diversas coalizões concertadas pelo Brasil afora.
Prato cheio para quem deseja exercitar a maturidade e o descortino estratégico e também prato cheio para quem prefere se embaraçar na contraditória situação imediata, alimentar a intolerância e o sectarismo, perdendo a perspectiva estratégica.
Há no pleito municipal um irrecusável embate de todas as forças de oposição contra quem governa — incluindo o conflito entre aliados em esfera nacional.
Aí não reside nenhuma novidade. Nunca as eleições municipais seguiram a lógica de uma hipotética verticalização das alianças.
Importa, contudo, distinguir "concorrentes" e "adversários" – digamos assim - tendo como referência um eventual segundo turno ou mesmo a futura gestão da cidade.
Mais ainda tendo como referência a continuidade da luta nacional.
Em outras palavras, na multiplicidade de desenhos políticos das diversas coalizões em disputa, toda simplificação mecanicista e todas as formas de sectarismo e intolerância só contribuem — no campo popular democrático — para agravar uma situação por si mesma complexa.
Isto é tão necessário quanto difícil tem sido a luta contra o impeachment da presidenta Dilma em sua reta final, quase às vésperas da votação definitiva pelo Senado.
Conquistar votos decisivos de senadores que optaram antes pela admissibilidade do impeachment não é possível à base do desaforo.
Nem a disputa eleitoral municipal pode servir de combustível à desagregação das correntes democráticas.

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25 julho 2016

Teoria viva

O livro não é dos maiores – são apenas 114 páginas. Mas que páginas! E o título também pode induzir a uma interpretação incorreta: Repensando o marxismo não significa, como se poderia pensar, abandonando o marxismo mas, ao contrário, enriquecendo o marxismo. Leia mais http://migre.me/ursxQ
Renovada a aliança PCdoB-PSB no Recife
 Atual vice-prefeito, Luciano Siqueira confirmou ontem que a chapa com Geraldo Julio será mantida
Fellipe Torres, Diário de Pernambuco
Foto: Roberto Pereira/DP
O vice-prefeito do Recife e candidato à reeleição para o cargo, Luciano Siqueira (PCdoB), tem feito malabarismo com as palavras em favor da diplomacia. Ontem, ao lado do companheiro de chapa, o prefeito Geraldo Julio (PSB), ele disse ter “se casado duas vezes”, em referência ao período atual e aos oito anos de governança ao lado do ex-prefeito e hoje candidato João Paulo (PT). O encontro, na sede estadual do PCdoB, antecipou algumas pautas previstas para a convenção do partido, marcada para sexta-feira. 
Siqueira descreveu o “casamento” com o petista como uma "relação ótima, de companheirismo e cumplicidade”. Ao longo dos dois mandatos eles teriam divergido apenas em três oportunidades, ocasiões essas mantidas em segredo. “Concluímos a tarefa sem nenhum arranhão e só tenho recordações ótimas. E eu tive a sorte de ter esse segundo 'casamento’, com um prefeito com características pessoais bem distintas. Mas, na essência, é o mesmo padrão de relacionamento. Muita camaradagem, diálogo. Só posso ser muito grato a ambos”.
Dois dias após ter o nome anunciado na chapa, o vice-prefeito revelou ter sido essa uma decisão tomada há pelo menos oito meses por Geraldo Julio. “Eu não tenho a menor dúvida de que iremos manter a chapa. Um pingo de insatisfação eu não tenho com a nossa aliança”, teria dito o prefeito, segundo Siqueira.
“Sempre o deixei à vontade, porque a escolha de um vice leva em conta a conveniência para a união partidária e o critério da confiança pessoal. É muito ruim quando um candidato é constragido pelas circunstâncias políticas a aceitar um vice que não seja de sua confiança”, pontuou.
Ainda no contexto da analogia entre política e amor, Luciano Siqueira classificou a visita de Geraldo Julio à sede do PCdoB como um gesto que “vale mais de mil palavras”. Com um tom menos romântico, o prefeito do Recife ressaltou a aliança histórica entre os dois partidos, inclusive no âmbito estadual. “Luciano teve papel fundamental na campanha de 2012 e no governo também. Foi uma liderança forte que nos ajudou a superar grandes desafios nesses três anos e meio”.
Diálogo - Questionado sobre as críticas ao governo feitas por João Paulo na última quinta-feira, quando o petista acusou a atual gestão de só ter cumprido 20% do plano de governo, Geraldo Julio desviou: “Vou dialogar com o povo. Qualquer acusação, agressão ou ofensa que seja feita por outros candidatos não vai fazer parte do meu debate. O Brasil passa por um momento de grande dificuldade econômica, o Nordeste sobretudo, e o povo do Recife é impactado por esse desafio”.
Com uma postura menos voltada para a defesa e mais para o ataque, o vice-prefeito aproveitou a ocasião para se posicionar sobre “especulações” do jogo político. Desmentiu a existência de um desconforto do PMDB com a sua permanência na chapa devido à possibilidade de um discurso da parte dele capaz de constranger alguns nomes do partido. Negou ter chamado de “golpistas” os deputados pernambucanos que votaram a favor do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT). Por fim, contestou a informação de que militantes do PcdoB teriam pichado o muro da casa de Jarbas Vasconcelos (PMDB). “Se alguém pichou, não era militante do partido. Esses são ruídos. E quem resolveu foi o prefeito Geraldo Julio. Como em todo relacionamento, se a gente não tiver muita paciência e maturidade, termina deixando que o caldo entorne”, finalizou Luciano Siqueira.
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