30 julho 2012

Combatividade e leveza

Semana de muita luta – com disposição redobrada, foco nas ideias, confiança no povo e mente leve alimentada pela convicção e pela poesia.

29 julho 2012

Violência e homofobia

Pesquisa aponta que 70% dos homossexuais já foram vítimas de agressão
. Está no Diário de Pernambuco de hoje. Uma pesquisa feita pelo Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids, em São Paulo, mostrou que 70% dos homossexuais entrevistados já sofreram algum tipo de agressão. O levantamento, divulgada nesta quinta-feira (26/7) pela Secretaria Estadual de Saúde, ouviu 1.217 pessoas com mais de 18 anos, residentes em São Paulo e que tiveram alguma relação homossexual.
. Do total de entrevistados que disseram ter sofrido algum tipo de agressão, 62% foram verbais,15% físicas e 6% agressões sexuais. Também houve relatos de ameaças, chantagem, extorsão e até de constrangimento no ambiente de trabalho. A pesquisa também apontou que, das 776 pessoas que concordaram em fazer o teste HIV, 16% apresentaram resultado positivo.

O poeta sabe

A sugestão de domingo é de Carlos Drummond de Andrade: “Coisas de amor são finezas que se oferecem a qualquer um que saiba cultivá-las...”

Planos de saúde e telefone celular: onde mora o engodo

Os vendedores de ilusões
Leonardo Guimarães Neto*


Publicado no boletim Opinião Econômica, da CEPLAN

O mercado não vende somente bens e serviços necessários ou demandados pela população. É muito frequente no capitalismo, recente e antigo, a venda de fantasias ou ilusões, com ou sem o suporte de um bem comercializado. Em determinados momentos vividos por esse regime, no entanto, a venda de ilusões fica bem mais evidenciada. Recentemente, nos anos que precederam a crise atual, a comercialização de títulos e papéis com promessas de um bom, e por vezes, excepcional futuro, com retorno das aplicações financeiras constituiu uma grande venda de ilusões que logo se dissiparam.

Quando os compradores percebem que as promessas de retorno das aplicações não se realizariam, o que se viu como peças de dominó foi, simultaneamente, com a falência dos desiludidos, a quebra da parte mais vulnerável do sistema financeiro, o qual, por sua vez, como nova peça do jogo, derrubou o sistema produtivo, que, em continuidade, juntamente com o sistema financeiro, desequilibraram as finanças dos governos que lhes prestaram socorro. Há quatro ou cinco anos que estas quedas sucessivas de peças do dominó se realimentam, em combinações mais complexas, sem que as políticas de austeridade ou as agendas de crescimento impeçam o agravamento da crise.

No Brasil, nas últimas semanas duas manifestações de venda e comercialização de ilusões ou fantasias passaram a ter o reconhecimento da sociedade. A primeira refere-se à atividade das operadoras de seguro-saúde que se valeram do movimento de migração dos usuários da saúde pública (que entendem ser de baixa qualidade) para a cobertura através do seguro que, imaginavam, resolveriam, para sempre, seus problemas de atendimento médico mediante o pagamento de mensalidades geralmente pesadas em relação à sua renda média. A melhoria da renda no país e, sobretudo, nas regiões economicamente mais atrasadas, que permitiu essa migração, foi percebida pelas operadoras sedentas de ganhos fáceis e que venderam os serviços que não tinham nem podiam oferecer. Para que se tenha uma ideia desse processo, dados da Agência Nacional de Saúde Complementar mostram que no país a cobertura das pessoas com seguro-saúde passou de 17% em 2004 para 25% em 2012, registrando um crescimento a uma taxa anual de 5%. A Região Metropolitana do Recife, entre março de 2002 e março de 2012 registrou um crescimento do crescimento dos usuários de 6,1%, que, certamente, não foi acompanhado pelo crescimento das unidades que prestam serviços de saúde.

A cobertura pela imprensa sobre as crescentes dificuldades dos usuários desses serviços de saúde pagos foi seguida, mais recentemente pela cobertura a respeito dos serviços de telefonia móvel. Neste caso, a comercialização de ilusões e fantasias foi interrompida pela ação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) que suspendeu as vendas das empresas que mais receberam reclamações pelos serviços prestados. Entre 2007 e 2011 a denominada base de celulares cresceu de 123 milhões para 243 milhões, o que significa uma expansão anual de 18,6%. As reclamações passaram de 670,7 mil, em 2009, para 892,4 mil em 2011. No ano de 2012, até março, elas já alcançavam 260,6 mil. Neste caso a busca de lucros fáceis teve como presa, igualmente fácil, as famílias que tiveram seus rendimentos aumentados em decorrência do crescimento da economia e do emprego e puderam ter acesso a uma ou mais linhas de telefones celulares. Some-se a isto a disseminação das redes sociais e as inovações incorporadas aos aparelhos que ampliaram a busca de novas linhas telefônicas e o uso intensivo dos celulares.

No caso específico dos serviços de saúde, vale enfatizar um determinante da maior relevância da busca crescente da população por serviços de saúde pagos através de seguro, que reside na reduzida dimensão da cobertura dos serviços públicos de saúde e na sua baixa qualidade.  Disto decorre uma grande insegurança da população que diante das grandes filas e demoras para consultas, exames e cirurgias, migra, quando pode, para os serviços pagos e pode tornar-se vítima da armadilha de planos de saúde. Nestes casos a população fica no meio de uma dupla ilusão: a dos governantes que prometem a inclusão dos eleitores e suas famílias nos serviços públicos de qualidade, e a das operadoras que, através de publicidade enganosa, vendem os serviços de saúde que não podem oferecer.
Leonardo Guimarães Neto é economista e sócio da CEPLAN 

28 julho 2012

O município no sistema federativo

Montez Magno
A força relativa do poder local
Luciano Siqueira

Publicado no portal Vermelho e no Blog de Jamildo (JC Online)

A partir de janeiro de 2013, novos governantes principiarão o seu trabalho à frente dos 5.564 municípios brasileiros. Dentre eles cidades médias e grandes que concentram perto de 60% da população. Nelas, um misto de drama urbano, de possibilidades e desafios e de esperança de uma vida melhor. E de uma parcela de poder real.

Um poder nada desprezível. Com a globalização dos fluxos financeiros, produtivos, comerciais e tecnológicos; a redução de custos de transporte e a fantástica facilidade de comunicação, as cidades passaram a assumir a centralidade das ações nas mais diferentes esferas da vida social, envolvendo a sociedade civil, o Estado (nas suas diversas instâncias) e a iniciativa privada.

Além disso, desde a Constituição promulgada em 1988 governos locais assumem crescentemente mais iniciativa e responsabilidade sobre problemas estruturais - transporte, infraestrutura, saúde, educação básica, defesa ambiental e até segurança (conforme a proposta do Sistema Único de Segurança Pública – SUSP).

É certo, por outro lado, que essa gama de atribuições e responsabilidades não tem correspondência em lastro financeiro próprio satisfatório. O município continua pouco aquinhoado na partição do bolo tributário, oscilando em torno de 14% do que se arrecada. Tanto que se fala, com muita propriedade, numa crise de financiamento das cidades, responsável pela enorme defasagem entre o volume de demandas físicas e sociais e a real capacidade de resposta das prefeituras.

Daí a atualidade da assertiva de Milton Santos (A Cidade nos Países Subdesenvolvidos. Editora Civilização Brasileira, 1965) de que "a cidade não tem poder para forçar a evolução regional de que depende o seu próprio desenvolvimento. As possibilidades de evolução regional são criadas fora da região e da cidade, de acordo com os interesses do mundo industrial”.

Certamente por isso prefeitos progressistas, imbuídos de uma compreensão realista dos desafios que têm a enfrentar, sintonizam seus programas de ação com o projeto nacional de desenvolvimento em construção sob o governo Dilma. E desse modo viabilizam investimentos necessários à melhoria da qualidade de vida em suas cidades.

Tragégia americana

No Vermelho, por Eduardo Bomfim:
Os demônios de um império

O assassinato de doze pessoas além de mais de trinta feridos no estado norte-americano do Colorado durante a sessão de um novo filme de Batman transformou-se em um trágico acontecimento mundial repercutido intensamente pela mídia internacional.

Esse tipo de manifestação de insanidade total associada a mortes em série já se materializou como rotina na sociedade americana há algum tempo e revela graves sinais de uma patologia social que se generalizou por todos os Estados Unidos.

Que não se explica só pelo fato de que qualquer pessoa nos EUA pode adquirir e receber pelo correio um fuzil metralhadora AR-15 último modelo, o que já é um absurdo, utilizado pelos marines em suas incursões invasoras por quase todos os continentes do planeta.

Na verdade a parte lúcida da sociedade norte-americana encontra-se encurralada há muito tempo, especialmente o universo cultural, e em seu lugar entronizou-se uma concepção majoritária, absoluta, de sociedade militarizada nos menores detalhes.

Quem se dá ao trabalho de observar a profusão de milhares de enlatados produzidos pela indústria do cinema nos Estados Unidos que passam tanto nas salas de cinema quanto na televisão percebe facilmente o incrível grau de alienação a que é induzida a população daquele país e ao mesmo tempo o alto estágio de paranoia, distorção da realidade, delírio coletivo a que ela vem sendo submetida.

Além disso, sua mídia que tem alcance global hegemônico é parte de um poderoso complexo de propaganda dos seus interesses e do grande capital financeiro internacional que determina os rumos de suas políticas interna e externa, tecendo invariavelmente uma versão particular, falsa sobre os fatos isolando, paradoxalmente, os cidadãos norte-americanos do mundo real.

Esses veículos ideológicos de difusão dos EUA ajudaram a aniquilar os valores pioneiros da sua fundação, exportaram em escala planetária uma gama de conceitos distorcidos, hipocrisias, medos, além do tal "destino manifesto" impondo às nações uma "civilização" centrada à sua semelhança.

Um império em crise econômica, brutalmente endividado, mas que possui atualmente um orçamento militar superior a todos os países da Terra juntos. Um Estado em guerra permanente contra o mundo agindo como se vivesse um pesadelo recorrente onde terríveis demônios interiores assumem dimensão real e o aterrorizam continuamente, indefinidamente.

Reivenção da política (e da vida)

A política como as ondas do mar
Luciano Siqueira

Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

Como na canção de Lulu Santos, “nada do que foi será/De novo do jeito que já foi um dia/Tudo passa/Tudo sempre passará”... Assim é a vida, assim é a luta política. A cada novo ciclo, novos desafios, tempo e espaço para a renovação, ainda que sobre o que se passou e se converteu em tradição e referência segura na busca de novos caminhos.

Para usar uma imagem simples, a vida (e a luta) transcorre como as ondas do mar. Cabe a cada um que pretenda inovar e trilhar novos caminhos “ler” o real sentido dos acontecimentos.

Essa divagação vem a propósito nos inúmeros encontros com personagens, a maioria quase anônima, da vida e da peleja popular na cidade que de pronto relembram episódios vividos num passado nem tão distante, mas que soma quase três décadas. São reminiscências de conquistas marcantes e também de reivindicações jamais conquistadas, mas que se colocam atuais e reclamam, enfim, solução.

Trata-se do olhar dos que permanecem em sua comunidade a que se apegam por necessidade e também por identificação com o pedaço do território onde construíram sua própria trajetória de vida. Um olhar que se traduz muitas vezes de maneira muito simples, direta, porém emocionada, que inspira e incorpora nova energia a quem ali comparece para ouvir e debater alternativas para os desafios do tempo presente.

“Para que duas criaturas se aconselhem, são necessários muitos encontros e muitas realizações”, ensina o poeta Rilke. A sensação que me vem é de que foram muitos encontros e realizações em momentos distintos, compartilhados com gente humilde e lutadora das áreas mais populares do Recife. E eu nem tinha na devida conta a dimensão da vivência comum e que agora é retomada pelo fio condutor da nova empreitada.

Impossível não enxergar esse reencontro à luz da História, ainda que modestamente na micro dimensão da localidade e nos limites de nossa própria experiência: uma espécie de espiral que faz voltar ao ponto de partida, agora em novas circunstâncias, a querência por dias melhores nutrida por uma gente que não se entrega jamais.

A História da cidade é palmilhada pela conquista de territórios a custa de muita luta, espaços ocupados na contramaré da especulação imobiliária e mantidos até hoje pela força da resistência. Ali associações e conselhos de moradores, clubes de mães, ligas de dominó, quadrilhas juninas, times de futebol, agremiações carnavalescas e até igrejas ou terreiros ou centros espíritas dão o colorido caleidoscópico da resistência e dos triunfos amealhados ao longo do tempo.

A foto na parede, já gasta e amarelada; o testemunho de filhos e netos... “Meu avô falava muito no senhor”, “Essa menina – apontando para a filha hoje mãe de alguns rebentos – nasceu naquele tempo em que o senhor vinha aqui ajudar a nossa luta” e assim por diante.

Sim, minha gente, a política feita assim lembra as ondas do mar que se renovam, crescem e recomeçam sempre. 

Para além das aparências

A dica de sábado é de Karl Marx: Se a essência fosse igual à aparência não haveria necessidade de ciência.

25 julho 2012

A construção coletiva das ideias

Raul Córdula
As muitas fontes de uma proposta
Luciano Siqueira*

Candidato que se preze e pretenda ser respeitado tem que ter proposta. Mesmo os pouco afeitos a questões substantivas e mais inclinados aos artifícios de marketing. E as propostas serão tanto mais consistentes, e capazes de galvanizar a atenção de parcelas expressivas do eleitorado, se construídas a muitas mãos. Mais precisamente a centenas ou milhares de mãos.

No caso dos candidatos a cargos executivos – prefeituras, no pleito presente -, mais ainda. Daí a necessidade de buscar múltiplas fontes – das informações oficiais acerca da cidade à ausculta dos mais diversos segmentos da população, organizados ou mesmo difusos.

Nesse esforço, pesquisas de opinião, qualitativas e quantitativas, quando possível realizar, têm também a sua inegável importância.

Nada, porém, substitui o diálogo direto com distintas parcelas da sociedade – trabalhadores, jovens, mulheres, empresários, religiosos, intelectuais, artistas, técnicos. Se há predisposição a ouvir e a valorizar o dito e o reclamado e sugerido, a proposta para o almejado futuro governo ganha atributos de qualidade e de consistência. E reverbera naturalmente através de extensas parcelas dos participantes, que exercem um papel importante na formação da opinião pública.

Mas não é, obviamente, uma empreitada simples. Custa, em primeiro lugar, a firme disposição do candidato ao cargo executivo em efetivamente assumir os compromissos perante o povo construídos coletivamente. Também custa, da parte de todos os que em maior ou menor grau se envolvam nessa construção coletiva, uma atitude compreensiva e despojada diante das diferenças, muita tranquilidade na prática democrática da busca do consenso superando eventuais divergências. Afinal, estão em jogo propostas estruturantes da vida na cidade, do padrão de ocupação e uso do território ao fomento das atividades econômicas; do bom equacionamento dos serviços essenciais à população à melhoria da qualidade da atenção à saúde, à educação. E problemas ingentes como o da mobilidade urbana, hoje central em todas as médias e grandes cidades do País.

O consenso possível e a concretude do que se propõe têm tudo a ver com a possibilidade de vencer o pleito e de bem governar.

Bom dia, Alberto da Cunha Melo

Temendo a manhã

Não corras da manhã:
enquanto vivas,
ela te alcança
com sua ameaça
ou sua promessa;
enquanto vivas,
a manhã te persegue
com dedos de luz
invadindo teu quarto
por baixo da porta,
feito carta acesa,
gritos de crianças
ou buzinas da pressa,
que já te acordaram
para sua ameaça
ou sua promessa.

21 julho 2012

Dica poética

A dica de sábado é da poeta Lenilde Freitas: “Nada passou, nada passa/nesta esta ausência dentro de nós.”

19 julho 2012

Continuidade e ruptura

Nem tudo se copia e muita coisa se cria
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Folha e no portal Vermelho

Dizem os publicitários em tom bem humorado que nada se cria, tudo se copia. Mas não é bem assim. Que seria da vida se tudo não passasse de mera repetição? Não valeria a pena viver, pois a vida que deve ser vivida é a vida reinventada, como ensina Cecília Meireles.

Pois bem. Estamos em plena campanha eleitoral e, como sempre acontece, candidatos ao Executivo municipal debatem propostas, anunciam o que se convencionou chamar programa de governo. Aqui e acolá uns acusam outros de plágio, reivindicando para si a paternidade de determinada proposição. Ou, o que dá no mesmo, reclama que o adversário copia experiências testadas em outras plagas.

Pura bobagem. Primeiro, porque as boas ideias devem ser, em tese, acolhidas por todos os que com elas estiverem de acordo. Segundo, porque experiências bem sucedidas devem sim, servir de exemplo e podem e devem ser adaptadas à realidade local.

Mas o que está no motivo da discórdia é o jogo de palavras destinado a atrair a simpatia do eleitorado. No entanto, ao se examinarem as propostas de cada um – mesmo com rotulagem semelhante -, surgem diferenças de conteúdo, muitas vezes profundas.

As diferenças qualitativas começam pela dimensão em que a proposta é apresentada. Não basta anunciar a intenção, impõe-se esclarecer o gesto: o quê, quando, onde, como, quanto custa, quais as fontes de financiamento. Isto vale, por exemplo, para a melhoria e a ampliação da rede municipal de saúde, para a requalificação da educação fundamental e assim por diante.

Demais, o contexto político que sustenta tal ou qual proposta, a depender da natureza das forças reunidas em torno dela, também faz a diferença. Por isso é comum propostas aparentemente inovadoras caírem no descaso quando se vê quem as defende – sem a menor possibilidade de realiza-las. Por outro lado, se quem a sustenta se respalda na experiência acumulada, exibe potencialidade de vitória no pleito e condições de governabilidade a posteriori, a receptividade – e a credibilidade – nem se compara.

Também pesa o modo como se gesta o programa apresentado: se urdido entre quatro paredes por técnicos que, embora competentes e bem intencionados, não dialogam com a população; ou se produzido mediante fusão entre o conhecimento e a experiência acumulada e a ausculta da população.

Finalmente, um dado de concepção que também importa, e muito. Da mesma maneira que a sociedade nova é parida na sociedade velha – numa perspectiva mais ampla da transformação social -, em geral não se deve negar integralmente o que foi feito para começar tudo de novo. Uma medida da consequência do que se propõe é a devida consideração do que terá sido construído antes, que agora pode ser reformado, requalificado e posto em bases mais avançadas.

Assim, nem tudo se copia e muita coisa pode ser criada, à luz de uma postura política renovadora e consequente e da mobilização de competências técnicas associadas ao sentimento das ruas.

17 julho 2012

Otimismo do Banco Central: que assim seja

. Informa o Valor Econômico que o Banco Central está hoje menos preocupado com a possibilidade de algum evento dramático no cenário internacional. Retomou o tom otimista e demonstra confiança em que o conjunto de estímulos monetários, fiscais e pontuais que o governo adotou nos últimos meses vai levar a economia brasileira a um crescimento anualizado de 4% no quarto trimestre - ou pouco mais de 1% em comparação com o terceiro -, com inflação no centro da meta de 4,5% e inadimplência em queda. Com juros básicos mais baixos, desvalorização da taxa de câmbio e um pacote de incentivos ao investimento que será anunciado pela presidente Dilma em agosto, estariam dadas as condições para o país crescer 4% em 2013.
. No pacote, além de redução de impostos federais sobre o consumo de energia - o objetivo do governo é diminuir em cerca de 10% o custo do insumo para grandes consumidores -, pode ser anunciada também uma desoneração mais horizontal, que beneficie todo o setor produtivo, com a unificação do PIS/Cofins e diminuição de alíquota na margem. Some-se a essas iniciativas o conjunto de concessões ao setor privado para portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. Com isso, o governo acredita que estará dando um "choque" de competitividade importante na economia.

15 julho 2012

Desafio

A sugestão de domingo é da amiga Lia: “Não sejas como um diamante que não se deixa lapidar, prisioneira de tuas próprias amarras.”

A palavra instigante de Jomard

23 Possibilidades na língua dos PPPês
Jomard Muniz de Britto, jmb

01. Papéis como este na tela ou na mão.
02. Personas de caráter social, funcional,
multiplicador.
03. Primeiridade não é origem, começo ou
fundamento, mas percepção imediata,
intencional e espontânea.
04. Pathos: emoção impactante na duração
do desamparo aos pertencimentos.
05. Pulsões, carências, participações.
06. Paráfrases dialogando com paródias:
palmeiras românticas, palmares em
quilombolos palavrações paulofreireanas.
07. Pense com pensamentos pensantes.
08. Polimorfismos da infância à madureza.
09. Partículas de Deus para outros Orf'eus.
10. Pulsações da errante poeticidade.
11. Parabólicas pelos sertões, serões,
servidões audiovisuais.
12. PAUPÉRIA, todos os dias de:
Torquato Neto potencialmente interpretado
pelo ensaista-historiador Edwar de Alencar
Castelo Branco. (Annablume: ed. esgotada).
13. Perigar: necessária ousadia.
14. Paralelas ao infinito das intervenções.
15. Pedras rolando de Ouricuri aos abismos.
16. Paciência para encarar o precipício
nas velozes leituras dos internautas.
17. Provocar IMpacientes nas sessões PSI,
psicanalistas em arte processo.
18. Priorizar o tempo lógico desmontando
tempos cronológicos e até analógicos.
19. Perambular em procissões distribuindo
santinhos em louvor da poeta Cida Pedrosa
com INTERPOÉTICA.
20. Perspectivas de um dicionário para
os descontroles do imaginário mais
simbólico do real e das realidades.
21. Perguntar, dentro e fora das didáticas,
por ofício desejante e participativo.
22. POTÊNCIA sem dominadores
nem dominados.
23. POESIA, POLÍTICA, PEDAGOGIA,
língua dos três PPPês ocupando
entrelugares da fala aos escrevivendos,
dos corpos libertários às corporações
burocráticas, das contradições linguageiras
aos fragmentos de uma totalidade por vir.
Recife, julho 2012.
atentadospoeticos@yahoo.com.br

14 julho 2012

Um cenário em formação

No Vermelho, por Eduardo Bomfim:
Eleições e economia

As próximas eleições de outubro para prefeitos e vereadores representam um ensaio geral para a intensa batalha de 2014 na luta pela presidência da República e demais instâncias de poder, governos estaduais, Senado, Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas.

Ao que tudo indica, caso não surjam graves fatores desestabilizadores, o governo federal deverá reforçar enormemente a sua base política institucional preparando assim as condições e o terreno para o grande confronto com as oposições no pleito seguinte.

Mantida a alta popularidade da presidente da República, com a aprovação de mais de 70% dos brasileiros, tudo indica que ela deverá influenciar na vitória dos seus aliados na maioria das capitais, grandes, médias cidades.

Caso isso se concretize a resultante será a total fragilização da oposição que já se encontra combalida, desprovida de uma plataforma ou discurso que leve a ampliar a sua base social de apoio.

Mas o governo federal tem um sério desafio para o futuro próximo que será reverter as consequências negativas da crise econômica capitalista global que incidem na economia brasileira reduzindo gravemente as taxas de crescimento do produto interno bruto nacional.


O diagnóstico de vários economistas respeitáveis do País aponta para um processo de desaceleração dos indicadores que sustentaram o atual ciclo de desenvolvimento da nação e possibilitaram o fortalecimento do campo político do governo federal através do otimismo da população e suas perspectivas de vida.

Principalmente com a emergência de milhões de brasileiros que saíram das faixas de pobreza, onde se encontravam indefinidamente, para novos patamares sociais favorecendo o acesso dessas camadas ao consumo.

Mas os números demonstram que o modelo econômico centrado fundamentalmente no consumo já não responde, como nos governos Lula, aos efeitos danosos da crise econômica mundial porque a capacidade de endividamento da população encontra-se saturada.

Significa também que esse modelo encontra-se superado, esgotado, precisa ser substituído urgentemente por uma nova política de longo curso que reverta o sucateamento do parque industrial, promova investimentos pesados em infraestrutura, educação, saúde, ciência e tecnologia.

Assim, o futuro da presidente Dilma em 2014 vai estar associado à materialização de um novo ciclo de desenvolvimento nacional estratégico.

Dica de quem sabe

A dica de sábado é da amiga Luana, nas palavras de Clarice Lispector: “Sejamos como a primavera que renasce cada dia mais bela...” 

12 julho 2012

Unidade e disputa na ampla coalizão

A escolha de Dilma
Luciano Siqueira

Publicado no portal Vermelho e no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online) 

Recentemente os jornais deram destaque à decisão da presidenta Dilma de não participar diretamente da campanha eleitoral que se inicia. Por razões políticas e administrativas.

Principalmente por razões políticas, presume-se. Embora nada a impeça de frequentar palanques, certamente prefere não se imiscuir nas disputas entre partidos e coligações de partidos que integram sua base de sustentação, comuns em praticamente todos os municípios do País, inclusive capitais e cidades grandes e médias. Para não gerar ciúmes agora; e descontentamento entre perdedores depois.

Grande número de parlamentares com assento no Congresso Nacional disputará o pleito de outubro, cujos resultados incidirão inevitavelmente sobre o ambiente na base parlamentar da presidenta. Não será exagero admitir um desafio maior do que atual na administração dessa base.

O rescaldo do pleito se dará em duas dimensões. No âmbito dos estados, a inevitabilidade de arranhões e ameaças de fissuras. No âmbito nacional, idem. Transporto o episódio municipal com serenidade e visão larga é um desafio de todos os partidos que apoiam o governo Dilma (e governos estaduais do mesmo campo). Se não é possível agrupá-los num mesmo palanque, como é próprio das disputas locais, que se saiba conviver com as diferenças e os conflitos momentâneos. A abordagem do day after será uma obra de engenharia política.

Nesse cenário, embora não haja nenhum impedimento de ordem legal, a presidenta faz bem ao se eximir de frequentar este ou aquele palanque, assumindo abertamente compromisso com um dos lados. Assim, ela estará acima das rivalidades provincianas e se preservará como líder da ampla coalizão governista.

Isto, no entanto, não impedirá o uso da imagem de Dilma na campanha, associando-a a candidatos das legendas que a apoiam. Pode até ocorrer conflitos jurídicos, se o PT reclamar exclusividade nesse uso, arguindo que a presidenta a ele é filiada – o que certamente denotaria estreiteza, sectarismo e exclusivismo eleitoreiro. Esperemos que isso não aconteça.

De resto, vale salientar que a vinculação do candidato ou candidata A ou B à imagem da presidenta, como também à do ex-presidente Lula, pode ajudar bastante, porém jamais será decisiva. Salvo em alguma corruptela longínqua. Nas capitais e grandes cidades, pesarão, sobretudo, a correlação de forças real e o desempenho de quem postula a chefia do executivo municipal. É aí onde a porca entorta o rabo e se exige essencialmente a defesa de propostas que empolguem o eleitorado.

Bom dia, Juareiz Correya

Companheira

quando amanhece
é em ti que amanheço.
primeira luz do dia.
meu dia.

10 julho 2012

Contra a crise

Cerca de 2,46 milhões de brasileiros receberão a restituição do Imposto de Renda na segunda-feira. Menos inadimplência; mais consumo.
Palavra desperdiçadas
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Folha 

O comentário ouvi em recente viagem a São Paulo, num voo da Gol. O vizinho do lado, ao me ver folhear os três jornais locais, arriscou: “Desculpe minha franqueza, deputado, mas acho que muitas coisas são ditas sem necessidade, palavras são desperdiçadas...”.

Ele se referia ao disse-me-disse em torno da política local. E pode até está exagerando, mas uma boa dose de razão certamente tem, reconheço. É que nem sempre se diz e se discute o essencial, há muito verbo gasto com perfumaria no pressuposto de que certas querelas entre personalidades e grupos sejam do interesse público. Podem até ser, mas seguramente de um público muito restrito.

O fato é que ainda temos uma democracia claudicante, onde o debate frequentemente se dá em torno de questões secundárias. Na atual quadra em que o mundo se consome numa crise econômica, financeira e política de enorme dimensão, com repercussões inclusive sobre países considerados emergentes, como o Brasil, e, por conseguinte, sobre a vida em nossos municípios, nada mais lícito do que imaginar que as opiniões se dirijam a um mesmo leito. Ou seja: que se debatam propostas concretas que permitam, nas circunstâncias atuais, promover o progresso econômico e social, arrostar os desafios do tempo presente numa perspectiva de futuro.

Em meados do ano passado estive em Portugal e pude verificar a natureza do debate eleitoral que antecedeu as últimas eleições gerais. Noticiário, programas de entrevistas e debates na TV e nas demais mídias – com espaços destinados aos partidos equânimes, diga-se – focavam precisamente o que cada corrente política propunha como solução à crise da Zona do Euro e suas drásticas repercussões sobre a economia portuguesa. A população teve, desse modo, a oportunidade de fazer suas escolhas – e as fez – com razoável nível de consciência e de discernimento.

Seria muito pedir que cá na província todos se dedicassem ao exame de questões substantivas, até porque na recente tradição brasileira firmou-se a falsa compreensão de que numa contenda vale muito mais o lance de efeito do que propriamente a exposição de ideias. Muito frequentemente a pirotecnia toma o lugar da substância. O fenômeno perderá força na medida em que amadureça a consciência social e om o advento – é difícil prever quando – de uma reforma política que estabeleça regras através das quais as disputas se tornem menos personalizadas e mais programáticas.

Por enquanto, que cada um faça a sua parte levando em consideração o alerta do passageiro ao meu lado, que reclama mais concretude e menos fuxico.

Idosos contra aumentos abusivos de planos de saúde

. A solução adotada por muitas pessoas a fim de garantir atendimento médico de qualidade a um custo acessível, os plano de saúde podem se transformar em pesadelo na fase da vida em que são mais necessários, forma a Agência Brasil. É comum as operadoras que oferecem esse tipo de serviço aplicarem pesados reajustes para o segurado a partir dos 60 anos de idade, sob a alegação de que clientes nesta faixa etária usam a rede conveniada com mais frequência e dão mais despesas. A boa notícia é que a legislação brasileira e a jurisprudência recente coíbem aumentos abusivos.
. Com base na Lei n°11.765/2008, que instituiu o Estatuto do Idoso, a Justiça tem proferido sentenças favoráveis a usuários de planos de saúde às voltas com reajustes excessivos. O estatuto estabelece que o aumento no preço de um serviço ou produto não pode ter como único motivo a idade do cliente, pois isto configura discriminação.
. Em decisão de 2008 contra elevações aplicadas pela Unimed Natal em 2004, a ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), abriu precedente favorável à retroatividade dessa legislação: alegou que o consumidor está sempre amparado por ela, não importando se atingiu 60 anos antes ou depois de sua vigência.

09 julho 2012

Uma crônica de Drummond

Leilão do ar
Carlos Drummond de Andrade

Nos últimos tempos, vem acontecendo leilões de navios e leilões de ilhas, não sei se de montanhas. O leiloeiro, diante de um público restrito, mas de alto poder econômico (não há por aí gente em condições de arrematar uma ilha ou um navio inteiro), faz se exatamente como se se tratasse de um aparelho de chá ou de um lote de miudezas. Só que é estranho ver uma ilha leiloada, com suas águas, plantas, bichos, minerais, caminhos, casas e outras benfeitorias. Quem dá mais? Dou-lhe uma, dou-lhe duas... De repente, ao entardecer, a ilha aparece no salão escuro, cercada de dívida; emerge da papelada do espólio, ocupa a rua, caminhamos por ela através dos lances do leilão, de gritos martelados.

Com o navio sucede a mesma coisa. É um velho barco desmoralizado, mas como viajou! Se tardar um pouco o leilão, ele se reduzirá a sucata. Vai afundando... mas tudo que foi susto ou alegria de navegação vem a tona, e a sala se enche de gíria da marujada, cabeludas histórias de bordo, ventos, tempestades, tatuagens, o diabo solto no mar. Mesmo em ruínas, que nobre é o navio, inclusive os cargueiros!

Agora o leilão é outro: banal na aparência: pequenos objetos, bolsa de viagem, cristais, saboneteiras, latas, xícaras, taças de sorvete, poltronas. Muitas poltronas. Muitas poltronas, em que os presentes podem sentar-se, testando-lhes a comodidade. No entanto, este é também um leilão raro, o primeiro no gênero, de que tenho notícia no país: o de uma empresa de aviação. Na loja da Avenida Graça Aranha, expõem-se os tristes trastes da Panair do Brasil. Coisas que escaparam de acidentes aéreos, para vir sofrer o desastre em terra, com o esfacelamento da companhia, que serviu a tanta gente por tantos anos.

Eu não ia arrematar nada, mas incorporei-me à multidão de licitantes. Pareceu-me ver um grande avião caído. Com os destroços varejados pelos curiosos. Uns calculavam com frieza o valor dos lotes. Outros olhavam, desinteressados. Algum raro pegava de uma peça. Apalpava-a, mirava-a longamente. Todas as poltronas estavam ocupadas. Pelo que dizia um cartaz, elas se adaptavam perfeitamente a um Volks, e serviam para compor um living: estão em moda as poltronas geminadas. Eram todas de avião, e só elas davam a ilusão de viagem. Mas a viagem era imóvel, paralítica. Não havia aeromoça para trazer o lanche e gratificar os passageiros com aquele sorriso circular que infunde coragem aos apavorados. Nenhum sinal de tripulação. Não se apertavam cintos, ninguém sentia nada. As coisas amontoadas, etiquetadas, vencidas, falavam do ar, mas num pretérito mais-que-perfeito, e ninguém as ouvia. Objetos acostumados a voar estendiam-se pelo chão, dou-lhe uma; aguardavam um destino de hotel barato ou de casa pequena burguesa, dou-lhe duas. De tapetes voadores, as poltronas passavam a uma domesticidade sedentária e pobre: dou-lhe três.

Assim acabava aquilo que foi uma grande empresa nacional, cujo nome sonoro retinia por toda parte. Os aviões já tinham passado a outros donos; as instalações serviam a outros fins; chegara a vez das poltronas e dos açucareiros, das latas de comida, copos e cobertores, da bugiganga que antes, integrada na máquina voadora, participava de suas propriedades mágicas, pois o avião continua a ser mágico, à medida que a viagem aérea se torna cada vez mais rotineira. E ninguém ali sentia nada de especial diante do corpo derrotado na Panair, de seus intestinos à mostra. Quase todos teriam usado suas linhas, comido seus jantares, lido seus jornais brasileiros em Paris, mas a hora era de liquidação, e não de saudades. E o leilão ficava mais lúgubre, quem dá mais? em meio à indiferença geral, que é marca registrada de leilões. Dou-lhe três.

Em dado momento, senti que uma das miniaturas de avião, que iam ser igualmente apregoadas, manifestava sinais de inquietação. Positivamente, queria evadir-se, fugindo à sorte comum. Num esforço de que não revelarei a fórmula, encolhi-me todo para caber dentro do aparelho e, em silêncio, como fazem os aviões decaídos de sua glória, ele rompeu as paredes do edifício, e alçou voo sobre o Rio de Janeiro levando-me consigo para onde os aviões se tornam estrelas inacabáveis, sem remorso dos homens.

Impasse ético

No Vermelho, por Eduardo Bomfim:
Reflexões sobre a nova ordem

Os valores éticos de civilização nos campos geopolítico, ideológico, cultural e econômico que bem ou mal subsistiram até o final do século vinte, desmoronaram e não foram substituídos por novos valores mais avançados que favorecessem a grande maioria da humanidade.

Essa é uma das conclusões do sociólogo polonês radicado na Grã Bretanha, Zygmunt Bauman, em seu esforço de diagnosticar o surgimento de fenômenos típicos desses tempos de hegemonia neoliberal, da nova ordem mundial.

Mesmo que várias de suas conclusões possam ser questionáveis há um resultado positivo em caracterizar situações e comportamentos que reflitam esse momento da História onde há uma grave, imensa centralização e concentração do capital a nível global.

Afirma que existe um evidente mal-estar generalizado em relação àquilo que passou a se chamar "a pós-modernidade" porque a sensação disseminada entre as nações é a da extrema dificuldade em trilhar um itinerário escolhido uma vez abraçado pelas maiorias.

Porque a globalização seletiva do capital, comércio, da vigilância e informação, do crime organizado transnacional, das grandes corporações militares (como a OTAN sob hegemonia imperial) possuem em comum o desdém pelo princípio da soberania territorial e o desrespeito a qualquer fronteira entre os Estados, expostos aos golpes do "destino imposto".

Assim é que se explica, afirma ele, a perda relativa de autonomia do Estado nacional declinada em favor do capital, especialmente o financeiro, assim como o enfraquecimento da função primordial dos poderes legislativos nas democracias representativas no que concerne às grandes questões políticas cujos legisladores vão sendo restringidos à condição de prestadores de serviços às comunidades.

Para Bauman "mercados sem fronteiras" é uma receita para a desordem mundial, flagrada mais uma vez nas crises da União Europeia e Estados Unidos, onde a conhecida formulação de Clausewitz foi revertida de modo que a política é que se tornou a continuação da guerra por outros meios.

Ele enfatiza que o principal movimento do capital global tem sido a tentativa de desmantelamento das grandes ideias transformadoras, "destruição dos direitos civis e políticos" para entronizar em seu lugar "um horizonte oposto, distópico, fatalista" exigindo tenaz resistência para alcançar novos tempos mais promissores, mais avançados para a humanidade.