28 fevereiro 2014

Joio e trigo

Nunca é demais comparar: os dois governos Lula, PIB 3,5% e 4,6% respectivamente; nos dois governos FHC, 2,5% e 2,1%. O ideal é o PIB alcançar pelo menos 5% - o que não se obtém com juros altos, câmbio flexível e o aperto fiscal que os tucanos defendem.

Sinais

Lula Cardoso Ayres
A sexta-feira é de Flora Figueiredo: "Um pensamento corta o espaço/versejando a esmo./Escuto passos:/é meu coração abrindo as portas de mim mesmo. 

27 fevereiro 2014

Frustrando expectativas da oposição

Brasil tem 3º melhor resultado de PIB do 4º trimestre entre 13 países
. Anoto no Valor Econômico: Em uma listagem de 13 países selecionados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil mostrou o terceiro melhor resultado na variação do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre quando comparado com trimestre imediatamente anterior, já com ajustes sazonais.
. O IBGE observou que a análise serve apenas para comparação e não oferece qualquer tipo de hierarquização. De acordo com o instituto todos os 13 países citados tiveram taxas positivas na variação de seus PIBs no período. A primeira posição é ocupada por Coreia do Sul, com avanço de 0,9% em sua economia nos três meses finais de 2013, em relação a terceiro trimestre, seguida por Estados Unidos (0,8%). No caso do Brasil, o país ocupa a terceira posição, com avanço de 0,7%, mesma variação registrada por Holanda e Reino Unido.
. Os outros países da lista que tiveram saldo positivo, na mesma comparação, foram Portugal (0,5%), Alemanha e União Europeia (ambos com 0,4%); Espanha, França, e Japão (os três com variação de 0,3%); México (0,2%); e Itália (0,1%). 
. Na evolução anual, o desempenho brasileiro também ocupou a terceira melhor posição na lista de países selecionados pelo IBGE - que juntou, nessa seleção anual, a evolução do PIB na zona do euro também. O avanço de 2,3% do PIB brasileiro em 2013, em relação a 2012, só não foi superado pelas taxas positivas observadas em China (7,7%) e Coreia do Sul (2,8%).
. Outros países mostraram saldo positivo no mesmo período, como África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos (os três com expansão de 1,9%); Japão (1,6%), México (1,1%), Alemanha (0,4%), França (0,3%) e Bélgica (0,2%). 
Já as economias que mostraram contração no PIB no período foram Espanha (-1,2%), Itália (-1,9%) e zona do euro (-0,4%).

Dor

A quinta-feira é de Cida Pedrosa: "aqui/no fim do dia/rumino a alma/e espeto a dor/com o palito de azeitona" 

26 fevereiro 2014

Sinal de alerta

'Isso não é uma recuperação, é uma bolha, e ela vai estourar'
Bolhas de proporções históricas estão se desenvolvendo nos Estados Unidos e no Reino Unido, os dois mercados de ações mais importantes do mundo.
Ha-Joon Chang - The Guardian, na Carta Capital
Londres - De acordo com o mercado financeiro, a economia do Reino Unido está vivendo um boom. Não um velho e tradicional boom, mas um histórico. Em 28 de outubro de 2013, o índice FTSE 100 atingiu 6,734 pontos, rompendo o nível alcançado no auge do boom econômico antes da crise financeira global de 2008 (que foi de 6.730 , registrado em outubro de 2007) .

Desde então, esse índice tem registrado altos e baixos, mas em 21 de fevereiro de 2014, o FTSE 100 subiu para um novo patamar de 6,838 . Neste ritmo, poderá em breve ultrapassar o nível mais alto já alcançado desde que o índice começou em 1984 - 6.930, registrado em dezembro de 1999, durante os dias de glória da bolha pontocom.

Os níveis atuais de preços das ações são extraordinários , considerando que a economia do Reino Unido ainda não se recuperou o terreno perdido desde o crash de 2008. A renda per capita no Reino Unido hoje ainda é menor do que era em 2007. E não nos esqueçamos de que os preços das ações em 2007 estavam definitivamente dentro do território bolha de primeira ordem.

A situação é ainda mais preocupante nos EUA. Em março de 2013, o índice do mercado de ações da Standard & Poor atingiu o maior nível da história, superando o pico de 2007 (que foi maior do que o pico registrado durante o boom das pontocom), apesar do fato de que a renda per capita do país ainda não ter recuperado seu nível de 2007. Desde então, o índice subiu cerca de 20%, embora a renda per capita dos EUA não tenha aumentado ainda mais de 2% durante o mesmo período. Esta é, definitivamente, a maior bolha do mercado de ações da história moderna.

Ainda mais extraordinário do que os preços inflacionados é que, ao contrário dos dois booms de preços das ações anteriores, ninguém está oferecendo uma narrativa plausível para explicar por que os níveis evidentemente insustentáveis dos preços das ações são realmente justificáveis.

Durante a bolha pontocom, a visão predominante era de que a nova tecnologia da informação estava prestes a revolucionar completamente as nossas economias para o bem. Diante disso, argumentava-se, os mercados de ações continuariam subindo (possivelmente para sempre) e chegariam a níveis sem precedentes. O título do livro, Dow 36.000: A Nova Estratégia para Lucrar com a ascensão na Bolsa de Valores, publicado no outono de 1999, quando o índice Dow Jones não era ainda 10.000, resume muito bem o espírito da época.

Da mesma forma, no período preparatório para a crise de 2008, os preços dos ativos inflados foram justificados em termos do suposto avanço em inovação financeira e nas técnicas de política econômica.

Argumentou-se que a inovação financeira - manifestada na sopa de letrinhas de derivados e ativos financeiros estruturados, como MBS , CDO e CDS - tinha melhorado enormemente a capacidade dos mercados financeiros para precificar o risco  corretamente, eliminando a possibilidade de bolhas irracionais . De acordo com essa crença, no auge da bolha do mercado imobiliário dos EUA em 2005, tanto Alan Greenspan (então presidente do Federal Reserve) como Ben Bernanke (então presidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente e mais tarde sucessor de Greenspan) negaram publicamente a existência de uma bolha do mercado imobiliário - talvez com exceção de alguma "espuma" em algumas localidades, de acordo com Greenspan .

Ao mesmo tempo, uma melhor teoria econômica - e, portanto, melhores técnicas de política econômica – era defendida para permitir políticas capazes de resolver aqueles problemas que os mercados não podem eliminar. Robert Lucas, o principal economista do livre mercado e ganhador do prêmio Nobel de Economia, em 1995, orgulhosamente declarou em 2003 que "o problema da prevenção da depressão foi resolvido". Em 2004, Ben Bernanke (sim, ele de novo) argumentou que, provavelmente, graças a uma melhor teoria da política monetária, o mundo entrou na era da "grande moderação", em que a volatilidade dos preços seria minimizada.

Desta vez, ninguém está oferecendo uma nova narrativa justificando as novas bolhas porque, bem, não há nenhuma história plausível. Essas histórias que são criadas para fazer o preço da ação subir para o próximo nível têm sido decididamente ambiciosas em escala e efêmeras em sua natureza: taxas mais elevadas do que o esperado de crescimento ou do número de novos postos de trabalho criados; perspectiva mais otimista do que o que é esperado no Japão, China, ou onde quer que seja; a chegada da "super-pomba" Janet Yellen à presidência do Fed; ou, qualquer coisa que possa sugerir que o mundo não vai acabar amanhã .

Poucos investidores do mercado de ações realmente acreditam nessas histórias . A maioria dos investidores sabe que os atuais níveis de preços das ações são insustentáveis. Dizem que George Soros já começou a apostar contra o mercado de ações dos EUA. Eles estão conscientes de que os preços das ações estão elevados, principalmente, por causa da enorme quantidade de dinheiro criada graças à política de flexibilização quantitativa (QE), do governo Obama, e não por causa da força da economia real subjacente. É por isso que eles reagem tão nervosamente a qualquer sinal que essa política pode ser reduzida em uma escala significativa.

No entanto, os investidores do mercado de ações fingem acreditar - ou até mesmo tem a pretensão de acreditar - nessas histórias fracas e efêmeras, porque eles precisam dessas histórias para justificar (para si e para seus clientes) a permanência no mercado de ações, dados os baixos retornos em qualquer outro lugar.

O resultado, infelizmente, é que bolhas de proporções históricas no mercado de ações estão se desenvolvendo nos EUA e no Reino Unido, os dois mercados de ações mais importantes do mundo, ameaçando criar mais um crash financeiro global. Uma maneira óbvia de lidar com essas bolhas é controlar o excesso de liquidez que está inflando-as por meio de uma combinação de política monetária mais apertada e melhor regulamentação financeira contra a especulação do mercado de ações (com medidas restritivas para altas negociações). Claro, o perigo aqui é que estas políticas podem furar a bolha e criar uma confusão.

No longo prazo, porém, a melhor maneira de lidar com essas bolhas é incentivar a economia real, afinal, "bolha" é um conceito relativo e até mesmo um preço muito elevado pode ser justificado se for baseado em uma economia forte. Isso vai exigir um aumento no consumo mais sustentável, baseado em aumento dos salários, em vez de dívidas, maiores investimentos produtivos que irão expandir a capacidade da economia de produzir, e a introdução de regulação financeira que fará com que os bancos passem a emprestar mais para empresas produtivas do que para os consumidores. Infelizmente, essas são exatamente as coisas que os políticos atualmente no poder nos EUA e no Reino Unido não querem fazer.

Estamos caminhando direto para o problema.

Tradução: Louisa Antônia León

Povo deve menos

Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada hoje pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), o número de famílias com empréstimos em atraso caiu em fevereiro deste ano, em relação ao mesmo mês de 2013. A explicação está melhoria da taxa de emprego, segundo os pesquisadores.

Varejo positivo

Um bom sinal. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) informa que as vendas reais nos supermercados cresceram 4,5% em janeiro deste ano, na comparação com janeiro de 2013.  Em valores nominais, as vendas tiveram alta de 10,33%, quando comparadas a janeiro de 2013. O resultado positivo tem a ver com o crescimento da massa de rendimento médio real do trabalhador, que, em janeiro deste ano, aumentou 3,3% na comparação com janeiro do ano passado.

Boa noite, Vinícius de Moraes

José Cláudio
Soneto de carnaval

Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.

Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.

E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim

De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranquila ela sabe, e eu sei tranquilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo.

Civilização pajeúnica

No Vermelho:
Pois a vida tem sentido nesse rio metrificado
O rio Pajeú atravessa Pernambuco, desde a serra da Balança e deságua no S. Francisco. Seu nome significa, em tupi, “rio curandeiro”. Mas é também o rio dos poetas que tem, nas cidades ribeirinhas, o viço do verso popular, como se pode ver, em letra e imagem, neste O rio que não passa, de Inácio França, Tuca Siqueira, Alexandre Ramos e Cida Pedrosa, que a Editora Andararte acaba de lançar no Recife, cuja introdução Prosa Poesia e Arte reproduz aqui  

Por Alexandre Ramos

Existe rio em tudo que é lugar. Deles brotam comunidades, cidades, nações e até civilizações.
Linha que articula fragmentos de saberes, sociedades e territórios; que integra e cria um fio condutor de expressões, linguagens e sentidos. Rios como, se da água ou da falta dela, existisse uma liga construindo respostas para o cotidiano da vida e suas relações. 
Considerando os vales e rios como bens culturais, percebem-se suas relações com a produção do patrimônio material e imaterial de um povo. Referenciais da memória e da identidade de coletivos sociais, os sentidos das expressões de vida, das formas e da estética ligadas por veios aquáticos. Da cultura e do relacionamento com a água, constroem-se as condições da existência, as práticas correntes e também a arte nas suas diversas dimensões e finalidades. Do sagrado à sabedoria popular, todos se embebem desse vínculo e fortalecem hábitos e ações concretas, simbólicas e ambientais.
Uma civilização pajeúnica - É fato. Para existir civilizações é preciso ter água. Assim, grandes culturas se desenvolveram junto a rios importantes. Na China, o rio Amarelo foi fundamental; na Índia, o Ganges; na Mesopotâmia, os rios Tigre e Eufrates; no Egito, o Nilo. E o que seria de Paris, sem o rio Sena ou Londres sem o Tâmisa?
Civilização para existir requer identidades sociais, econômicas e políticas, mas também uma cultura específica, única. Prontamente, os rios são referenciais históricos e simbólicos que potencializam essas características civilizatórias e fortalecem o sentido das expressões e ações de regiões distintas. 
No vale do rio Pajeú, esses fatos se desenvolvem com naturalidade e com muita particularidade. Assim, rio e poesia se unem e, descendo o Pajeú, os corações batem no ritmo da métrica. Talvez seja um caso bem singular onde a população se identifica a partir do vale de um rio, revelando a força do território, da poesia e da relação entre ambos e ainda destacam para os que chegam: “bebendo da água daqui, serás contaminado pela poesia”. 
Operários da métrica, soldados da rima, monges da palavra, advogados de uma estética pajeúnica, constroem permanentemente um sentido de civilização. Onde, além do vale do Pajeú, é possível encontram pessoas que se cumprimentem nas ruas sob o título de poeta? E em cada “bom dia, poeta”, descobrem-se médicos, mototaxistas, agricultores, advogados e comerciantes que produzem sonetos, martelos, sextilhas, décimas, com a simplicidade de quem bebe um copo d’água.
Nesse caminho, a civilização pajeúnica se consolida com valores tão notáveis que até a missa é construída em versos. E o padre estimula a participação dos fiéis-poetas a partir do improviso e da métrica. Afinal o dom da palavra foi aguçado nas criaturas destas terras.  E para além da religião, essa civilização também é construída através de uma linguagem expressiva e representativa de uma cultura, de uma organização política que articula e fortalece a sociedade de poetas e, por fim, da expansão do território. Como em toda grande civilização, seu exército se expande permanentemente através de sua força poética, ocupando novos territórios com a sabedoria da conquista pela força da palavra.
Um rio de poesia - Sim. O rio Pajeú é um bem cultural maior que a água que passa ou não passa por ele. É um território mítico onde sol e chuva, natureza e sociedade se envolvem com um complexo sistema de relações sociais e se transfigura em poética. As dificuldades das secas ou as raras enchentes, a diversidade ambiental e a poluição das águas, tudo está interligado e expressado em rimas.
A aridez do solo e a carência de água, nesse caso, se revertem na abundância de versos.
Daí, a poesia corre pro Pajeú e o rio Pajeú vai despejá-las no meio do mundo, reforçando a expressão poética desse vale e o sentido de pertencimento a um território hidrográfico muito presente no imaginário popular.
Esse livro é resultado de uma pesquisa em história oral que desceu o Pajeú entre novembro de 2010 e maio de 2011 com o propósito de registrar a produção poética da civilização pajeúnica e as histórias de vida de seus poetas. Personagens percebidos como patrimônio imaterial dos municípios onde o rio é a liga e determina a identidade e o pertencimento a essa cultura. O intento era de compreender o conhecimento popular e suas relações socioculturais e ambientais a partir do exército de poetas de diversas gerações nos municípios com maiores referências no assunto. 
Não de trata de uma antologia que destaque poetas mais expressivos, é sim, um processo de compreensão de uma sociedade ribeirinha em um determinado tempo histórico. Desse feito, seria impossível conseguir a totalidade do registro da dimensão poética pajeúnica e então buscamos expressar a diversidade: homens e mulheres, jovens surgentes e consagrados autores, de formação erudita e popular. Trata-se assim de fragmentos dessa história numa tentativa de construção da identidade e valorização da cultura de um povo.
Um caminho de encantamentos - Em rios como o Pajeú, é possível perceber com mais facilidade a proximidade entre as condições naturais e o funcionamento da sociedade, pois a poesia consegue facilitar esse caminho, causando encanto e seduzindo o olhar para o lugar. Essa impressão positiva, traduzida numa espiritualidade mitológica, reforça a sacralidade entre o ser humano e a natureza, o afeto e o território, o sentido de pertencimento a um rio e sua poesia.
Nesse caminho, apreendemos uma realidade peculiar que envolve a memória e as condições socioambientais, com muitos significados complexos para descrição em poucas linhas: a saudade de uma condição natural ou de uma vida rural já inexistente, de um cheiro de chuva no terreiro, até do que não foi vivido como descreve a poeta Izabel Gouveia. E quando estão longe, a saudade do Pajeú é inspiração precisa. Essa saudade chega a tornar gente em rio como descreve o poeta Kerlle Magalhães, “é como se a gente fosse um rio”.
Nesse percurso encantado, tentamos reprocessar a cultura a partir do rio, compreendendo a relação entre poesia e rio, pessoas e território do vale do Pajeú, registrando a memória de uma civilização que, percebendo a beleza das mínimas coisas e das condições sertanejas, encontra forças e traduz tudo isso na palavra, na poesia. 
Para nós, que aprendemos um olhar diferente, metrificado, aprendemos a respeitar a poesia e tudo associado, seu tempo e sua territorialidade. E metrificando a vida, buscamos um sentido nesse rio-civilização-mundo-universo metrificado.

Revelando a verdade dos fatos

Mentiras e verdades sobre a situação na Venezuela
Igor Fuser, no Vermelho

Nos últimos dias a Venezuela voltou às manchetes dos jornais do mundo devido a uma série de manifestações de rua. Abaixo, apresento uma série de mentiras alardeadas pela chamada “grande mídia” e as suas respectivas verdades.

Existe ampla liberdade política no país, que é regido por uma Constituição democrática, elaborada por uma assembleia livremente eleita e aprovada em plebiscito.

Mentira: Os opositores saíram às ruas porque estão descontentes com os rumos do país e querem melhorar a situação.

Verdade: O que está em curso na Venezuela é o chamado “golpe em câmera lenta”, que consiste em debilitar gradualmente o governo até gerar as condições para o assalto direto ao poder. O atual líder oposicionista, Leopoldo López, não esconde esse objetivo, ao pregar aos seus partidários que permaneçam nas ruas até o que ele chama de “A Saída”, ou seja, a derrubada do governo. O roteiro golpista, elaborado com a participação de agentes dos Estados Unidos, combina as manifestações pacíficas com atos violentos, como a destruição de patrimônio público, bloqueio de ruas e atentados à vida de militantes chavistas. A mídia venezuelana e internacional tem um papel de destaque nesse plano, ao difundir uma versão distorcida dos fatos. A aposta da direita é tornar o país ingovernável. Trata-se de criar uma situação de caos até o ponto em que se possa dizer que o país está “à beira da guerra civil” e pedir uma intervenção militar de estrangeiros. Outro tópico desse plano é a tentativa de atrair uma parcela das Forças Armadas para a via golpista. Mas isso, até agora, tem se mostrado difícil.

Mentira: A Venezuela é um regime autoritário, que impõe sua vontade sobre os cidadãos e reprime as manifestações opositoras.

Verdade: Existe ampla liberdade política no país, que é regido por uma Constituição democrática, elaborada por uma assembleia livremente eleita e aprovada em plebiscito. Nos 15 anos desde a chegada de Hugo Chávez à presidência, já se realizaram 19 consultas à população – entre eleições, referendos e plebiscitos – e o chavismo saiu vitorioso em 18 delas. Foram eleições limpas e transparentes, aprovadas por observadores estrangeiros das mais diferentes tendências políticas, inclusive de direita. O ex-presidente estadunidense Jimmy Carter, que monitorou uma dessas eleições, declarou que o sistema de votação venezuelano é “o melhor do mundo”. Esse mesmo sistema eleitoral viabilizou a conquista de inúmeros governos estaduais e prefeituras pela oposição. Há no país plena liberdade de expressão, sem qualquer tipo de censura.

Mentira: Quem está protestando contra o governo é porque “não aguenta mais” os problemas do país.

Verdade: A tentativa golpista, na qual se inserem as manifestações da direita, reflete o desespero da parcela mais extremista da oposição, que não se conforma com o resultado das eleições de 2013. Esse setor desistiu de esperar pelas próximas eleições presidenciais, em 2019, ou mesmo pelas próximas eleições legislativas, em 2016, ou ainda pela chance de convocar um referendo sobre o mandato do presidente Nicolás Maduro, no mesmo ano. Essas são as regras estabelecidas pela Constituição – qualquer coisa diferente disso é golpe de Estado. A direita esperava que, com a morte de Chávez, o processo de transformações sociais conhecido como Revolução Bolivariana, impulsionado pela sua liderança, entrasse em declínio. Apostava também na divisão das fileiras chavistas, abrindo caminho para seus inimigos. A vitória de Maduro – o candidato indicado por Chávez – nas eleições de abril de 2013, ainda que por margem pequena (1,7% de diferença), frustrou essa expectativa. Uma última cartada da oposição foi lançada nas eleições municipais de dezembro do ano passado. Seu líder, Henrique Capriles (duas vezes derrotado em eleições presidenciais), disse que elas significariam um “plebiscito” sobre a aprovação popular do governo federal. Mas os votos nos candidatos chavistas superaram os dos opositores em mais de 10%, e o governo ganhou em quase 75% dos municípios. Na época, a economia do país já apresentava os problemas que agora servem de pretexto para os protestos, e ainda assim a maioria dos venezuelanos manifestou sua confiança no governo de Maduro. Diante disso, um setor expressivo da oposição resolveu apelar para o caminho golpista.

Mentira: O governo está usando violência para reprimir os protestos.

Verdade: Nenhuma manifestação foi reprimida. O único confronto entre policiais e opositores ocorreu no dia 17 de fevereiro, quando, ao final de um protesto, grupos de choque da direita atacaram edifícios públicos no centro de Caracas, incendiando a sede da Procuradoria- Geral da República e ferindo dezenas de pessoas. Nestas últimas semanas, as ações violentas da oposição têm se multiplicado pelo país. A casa do governador (chavista) do Estado de Táchira foi invadida e depredada. Caminhões oficiais e postos de abastecimento têm sido destruídos. Recentemente, duas pessoas, que transitavam de motocicleta, morreram devido aos fios de arame farpado que opositores estendem a fim de bloquear as ruas.

Mentira: O governo controla a mídia.

Verdade: Cerca de 80% dos meios de comunicação pertencem a empresas privadas, quase todas de orientação opositora. Mas o governo recebe o apoio das emissoras estatais e também de centenas de rádios e TVs comunitárias, ligadas aos movimentos sociais e às organizações de esquerda. Isso garante a pluralidade política e ideológica na mídia venezuelana – algo que, infelizmente, não existe no Brasil, onde a direita controla quase totalmente os meios de comunicação.

Mentira: Os Estados Unidos acompanham a situação à distância, preocupados com os direitos humanos e os valores democráticos, para que não sejam violados.

Verdade: Desde a primeira posse de Chávez, em 1999, o governo estadunidense tem se esforçado para derrubar o governo venezuelano e devolver o poder aos políticos de direita. Está amplamente comprovado o envolvimento dos Estados Unidos no golpe de 2002, quando Chávez foi deposto por uma aliança entre empresários, setores militares e emissoras de televisão. Desde então, a oposição tem recebido dinheiro e orientação de Washington.

Mentira: Os problemas no abastecimento transformaram a vida cotidiana num inferno.

Verdade: Existe, de fato, a falta constante de certos bens de consumo, como roupas, produtos de higiene e limpeza e peças para automóveis, mas o acesso aos produtos essenciais (principalmente alimentos e medicamentos) está garantido para o conjunto da população. Isso ocorre graças à existência de uma rede de 23 mil pontos de venda estatais, espalhados por todo o país, sobretudo nos bairros pobres. Lá, os preços são pelo menos 50% menores do que os valores de mercado, devido aos subsídios oficiais. É importante ressaltar que o principal motivo da escassez não é nem a inexistência de dinheiro para realizar importações nem a incapacidade do governo na distribuição dos produtos. Grande parte das mercadorias em falta são contrabandeadas para a Colômbia por meio de uma rede clandestina à qual estão ligados empresários de oposição.

Mentira: A atual onda de protestos é protagonizada pela juventude, que está em rebelião contra o governo.

Verdade: Os jovens que participam dos protestos pertencem, na sua quase totalidade, a famílias das classes alta e média-alta, que constituem a quarta parte da população. Isso pode facilmente ser constatado pela imagem dos estudantes que aparecem na mídia. São, quase todos, brancos – grupo étnico que não ultrapassa 20% da população venezuelana, cuja marca é a mistura racial. E não é por acaso que os redutos dos jovens oposicionistas sejam as faculdades particulares e as universidades públicas de elite. Os jovens opositores são minoria. Do contrário, como se explica que o chavismo ganhe as eleições em um país onde 60% da população têm menos de 30 anos? Uma pesquisa recente, com base em 10 mil entrevistas com jovens entre 14 e 29 anos, revelou que 61% deles consideram o socialismo como a melhor forma de organização da sociedade, contra 13% que preferem o capitalismo.

Mentira: A economia venezuelana está em colapso.

Verdade: O país enfrenta problemas econômicos, alguns deles graves, como a inflação de mais de 56% nos últimos 12 meses. Mas não se trata de uma situação de falência, como ocorre na Europa. A Venezuela tem superávit comercial, ou seja, exporta mais do que importa, e possui reservas monetárias para bancar ao menos sete meses de compras no exterior. É um país sem dívidas. A principal dificuldade econômica é a falta de crédito, causada pelo boicote dos bancos internacionais.

Mentira: A insegurança pública está cada vez pior.

Verdade: A Venezuela enfrenta altos níveis de criminalidade, assim como outros países latino-americanos, inclusive o Brasil. Esse tema é uma das prioridades do governo Maduro, que chegou a mobilizar tropas do Exército no policiamento de certas áreas urbanas, com bons resultados. A melhoria da segurança pública foi justamente o tema do diálogo entre o governo e a oposição, iniciado no final do ano passado, por iniciativa do presidente. O próprio Chávez, em seu último mandato, criou a Polícia Nacional Bolivariana, a fim de compensar as deficiências do aparato de segurança tradicional, famoso pela corrupção. Outra estratégia é o diálogo com as “gangues” juvenis a fim de afastá-las do narcotráfico e atraí-las para atividades úteis, como o trabalho na comunidade e a produção cultural. A grande diferença entre a Venezuela e o Brasil, nesse ponto, é que lá o combate à criminalidade ocorre num marco de respeito aos direitos humanos. A política de segurança pública venezuelana descarta o extermínio de jovens nas regiões pobres, como ocorre no Brasil.
Igor Fuser é jornalista e professor da Faculdade Cásper Líbero.

Pequeno gesto

A quarta-feira é de Cecilia Meireles: "Basta-me um pequeno gesto,/feito de longe e de leve,/para que venhas comigo/e eu para sempre te leve…"

25 fevereiro 2014

A vida do jeito que é

Fogo no cais
Marco Albertim, no Vermelho

Toda multidão é cega, sem exceção; não que tenha perdido o direito de enxergar, tampouco um flagelo num fim de tarde ofuscou-lhe a razão. É cega porque tem em mira tão somente o propósito que juntou-a no meio da avenida. E o propósito, por mais pasmo que cause a quem a vê com estranheza, emprenha-a de razões.


Assim, a multidão, inda que não ocupando os dois lados do Cais do Apolo, assomou de um lado e de outro; uma multidão rala, por isso mesmo estridente e disposta a reproduzir com agonia a serenidade dos cem mil que ocuparam a avenida Conde da Boa Vista em junho.

Primeiro ocuparam o lado da avenida, contrário ao Tribunal Regional do Trabalho. Homens, mulheres e crianças, até crianças de colo, mantidas a custo em pé, segurando-se na barra da saia da mãe. Moços e moças com os cambitos expostos, descalços ou com chinelos estropiados. Nada conforme a elegante imponência da fachada do TRT. Troncos grossos, misturados a galhos secos de madeira, foram espalhados na avenida; em seguida, a mesma porção do madeirame foi disposta no lado do TRT.

Não era um fim de tarde anunciando um flagelo soturno. Dez horas sob o sol incidindo nas indiferentes águas do rio Capibaribe. Troncos e galhos secos, de fácil combustão, à espera da centelha para conferir o vigor de suas moléculas. Os raios do calor, antes rompidos pelo trânsito de ônibus e veículos menores, expuseram-se numa festiva dança de traços verticais, prateados. A madeira incendida, mesmo à luz do dia, logo fez-se em brasa ruidosa. Feito primitivos celebrando a ocupação do bocado nunca lhes oferecido, homens de morins puídos, mulheres de brocados desbotados, desdentados, rostos suados em justificada convulsão, soltando apitos agudos, gritos moleques, próprios dos rudimentos apreendidos para dar vida a um protesto.

O intento, em parte, fora alcançado. O trânsito fora interrompido. Não ocuparam a calçada do prédio da prefeitura, mesmo porque, a guarda municipal junto a um pelotão da PM, montara a barreira para impedir o acesso à administração do município.

A queima do madeirame, seguindo o curso próprio da quantidade de combustão, poupou-lhes o trabalho de monitorar a duração do fogo.

Puseram-se de um lado e de outro da avenida, mais do lado da prefeitura que do outro. No lado escasso de manifestantes, os moleques deitaram, embolaram no chão quente; os cambitos cinzentos, apáticos ao queimor do chão, fizeram-se da mesma cor do cimento cinza ainda com ressaltos na superfície.

No meio, entre um lado e outro do Cais do Apolo, um homem segura um extremo de uma faixa com pouco mais de dois metros. Do outro, o parceiro também não tem pruridos de mostrar a boca com lacunas nas gengivas. As frases na faixas semelham-se aos garranchos de dentes que há em cada uma das bocas. Do outro lado, a fábrica de biscoitos Pilar não esconde a vaidade com que deixa o vento levar o perfume da farinha de trigo no açúcar. Os homens que seguram a faixa moram ali mesmo, na comunidade que tem o nome da fábrica. Por certo não lhes incomoda o estômago o cheiro do petisco, visto ser de fácil compra, mais fácil que a um quilo do gorduroso jabá. Incomoda-lhes morar ali, em casas de alvenaria em ruínas, pressionados pelo comércio de atacadistas e pelo Cais da Alfândega, onde o monumento a Luiz Gonzaga se ergue de metais prateados durante o dia, orvalhados à noite.

Dois bem-vestidos moços estão na calçada da prefeitura; desceram às pressas para ouvir o reclamo.

- Formem uma comissão para falar com o departamento - diz um deles.

Logo, uma mulher de vestido rendado, de cor imprecisa, toma a dianteira. Atrás dela vêm outras duas. A essa altura, duas mangueiras despejando jatos d´água, dão conta do fogaréu no madeirame.

A mulher tem um filho de colo que carrega na cintura. A criança chora, posto que a mãe deixa-a com outra, enquanto ela negocia com a prefeitura a transferência da comunidade do Pilar para outro local.

Lula: otimismo com os pés no chão

Por que o Brasil é o país das oportunidades

Por Luiz Inácio Lula da Silva, no Valor Econômico

Passados cinco anos do início da crise global, o mundo ainda enfrenta suas consequências, mas já se prepara para um novo ciclo de crescimento. As atenções estão voltadas para mercados emergentes como o Brasil. Nosso modelo de desenvolvimento com inclusão social atraiu e continua atraindo investidores de toda parte. É hora de mostrar as grandes oportunidades que o país oferece, num quadro de estabilidade que poucos podem apresentar.

Nos últimos 11 anos, o Brasil deu um grande salto econômico e social. O PIB em dólares cresceu 4,4 vezes e supera US$ 2,2 trilhões. O comércio externo passou de US$ 108 bilhões para US$ 480 bilhões ao ano. O país tornou-se um dos cinco maiores destinos de investimento externo direto. Hoje somos grandes produtores de automóveis, máquinas agrícolas, celulose, alumínio, aviões; líderes mundiais em carnes, soja, café, açúcar, laranja e etanol.

Reduzimos a inflação, de 12,5% em 2002 para 5,9%, e continuamos trabalhando para trazê-la ao centro da meta. Há dez anos consecutivos a inflação está controlada nas margens estabelecidas, num ambiente de crescimento da economia, do consumo e do emprego. Reduzimos a dívida pública líquida praticamente à metade; de 60,4% do PIB para 33,8%. As despesas com pessoal, juros da dívida e financiamento da previdência caíram em relação ao PIB.

Que país atravessou por essa crise mundial promovendo o pleno emprego e o aumento da renda da população?

Colocamos os mais pobres no centro das políticas econômicas, dinamizando o mercado e reduzindo a desigualdade. Criamos 21 milhões de empregos; 36 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza e 42 milhões alcançaram a classe média.

Quantos países conseguiram tanto, em tão pouco tempo, com democracia plena e instituições estáveis?

A novidade é que o Brasil deixou de ser um país vulnerável e tornou-se um competidor global. E isso incomoda; contraria interesses. Não é por outra razão que as contas do país e as ações do governo tornaram-se objeto de avaliações cada vez mais rigorosas e, em certos casos, claramente especulativas. Mas um país robusto não se intimida com as críticas; aprende com elas.

A dívida pública bruta, por exemplo, ganhou relevância nessas análises. Mas em quantos países a dívida bruta se mantém estável em relação ao PIB, com perfil adequado de vencimentos, como ocorre no Brasil? Desde 2008, o país fez superávit primário médio anual de 2,58%, o melhor desempenho entre as grandes economias. E o governo da presidenta Dilma Rousseff acaba de anunciar o esforço fiscal necessário para manter a trajetória de redução da dívida em 2014.

Acumulamos US$ 376 bilhões em reservas: dez vezes mais do que em 2002 e dez vezes maiores que a dívida de curto prazo. Que outro grande país, além da China, tem reservas superiores a 18 meses de importações? Diferentemente do passado, hoje o Brasil pode lidar com flutuações externas, ajustando o câmbio sem artifícios e sem turbulência. Esse ajuste, que é necessário, contribui para fortalecer nosso setor produtivo e vai melhorar o desempenho das contas externas.

O Brasil tem um sistema financeiro sólido e expandiu a oferta de crédito com medidas prudenciais para ampliar a segurança dos empréstimos e o universo de tomadores. Em 11 anos o crédito passou de R$ 380 bilhões para R$ 2,7 trilhões; ou seja, de 24% para 56,5% do PIB. Quantos países fizeram expansão dessa ordem reduzindo a inadimplência?

O investimento do setor público passou de 2,6% do PIB para 4,4%. A taxa de investimento no país cresceu em média 5,7% ao ano. Os depósitos em poupança crescem há 22 meses. É preciso fazer mais: simplificar e desburocratizar a estrutura fiscal, aumentar a competitividade da economia, continuar reduzindo aportes aos bancos públicos, aprofundar a inclusão social que está na base do crescimento. Mas não se pode duvidar de um país que fez tanto em apenas 11 anos.

Que país duplicou a safra e tornou-se uma das economias agrícolas mais modernas e dinâmicas do mundo? Que país duplicou sua produção de veículos? Que país reergueu do zero uma indústria naval que emprega 78 mil pessoas e já é a terceira maior do mundo?

Que país ampliou a capacidade instalada de eletricidade de 80 mil para 126 mil MW, e constrói três das maiores hidrelétricas do mundo? Levou eletricidade a 15 milhões de pessoas no campo? Contratou a construção de 3 milhões de moradias populares e já entregou a metade?

Qual o país no mundo, segundo a OCDE, que mais aumentou o investimento em educação? Que triplicou o orçamento federal do setor; ampliou e financiou o acesso ao ensino superior, com o Prouni, o FIES e as cotas, e duplicou para 7 milhões as matrículas nas universidades? Que levou 60 mil jovens a estudar nas melhores universidades do mundo? Abrimos mais escolas técnicas em 11 anos do que se fez em todo o Século XX. O Pronatec qualificou mais de 5 milhões de trabalhadores. Destinamos 75% dos royalties do petróleo para a educação.

E que país é apontado pela ONU e outros organismos internacionais como exemplo de combate à desigualdade?

O Brasil e outros países poderiam ter alcançado mais, não fossem os impactos da crise sobre o crédito, o câmbio e o comércio global, que se mantém estagnado. A recuperação dos Estados Unidos é uma excelente notícia, mas neste momento a economia mundial reflete a retirada dos estímulos do Fed. E, mesmo nessa conjuntura adversa, o Brasil está entre os oito países do G-20 que tiveram crescimento do PIB maior que 2% em 2013.

O mais notável é que, desde 2008, enquanto o mundo destruía 62 milhões de empregos, segundo a Organização Internacional do Trabalho, o Brasil criava 10,5 milhões de empregos. O desemprego é o menor da nossa história. Não vejo indicador mais robusto da saúde de uma economia.

Que país atravessou a pior crise de todos os tempos promovendo o pleno emprego e aumentando a renda da população?

Cometemos erros, naturalmente, mas a boa notícia é que os reconhecemos e trabalhamos para corrigi-los. O governo ouviu, por exemplo, as críticas ao modelo de concessões e o tornou mais equilibrado. Resultado: concedemos 4,2 mil quilômetros de rodovias com deságio muito acima do esperado. Houve sucesso nos leilões de petróleo, de seis aeroportos e de 2.100 quilômetros de linhas de transmissão de energia.

O Brasil tem um programa de logística de R$ 305 bilhões. A Petrobras investe US$ 236 bilhões para dobrar a produção até 2020, o que vai nos colocar entre os seis maiores produtores mundiais de petróleo. Quantos países oferecem oportunidades como estas?

A classe média brasileira, que consumiu R$ 1,17 trilhão em 2013, de acordo com a Serasa/Data Popular, continuará crescendo. Quantos países têm mercado consumidor em expansão tão vigorosa?

Recentemente estive com investidores globais no Conselho das Américas, em Nova Iorque, para mostrar como o Brasil se prepara para dar saltos ainda maiores na nova etapa da economia global. Voltei convencido de que eles têm uma visão objetiva do país e do nosso potencial, diferente de versões pessimistas. O povo brasileiro está construindo uma nova era - uma era de oportunidades. Quem continuar acreditando e investindo no Brasil vai ganhar ainda mais e vai crescer junto com o nosso país.

Luiz Inácio Lula da Silva é ex-presidente da República e presidente de honra do PT

Enquanto dure

A terça-feira é de Vinicius de Moraes: "Que não seja imortal, posto que é chama/Mas que seja infinito enquanto dure."

Bom sinal

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), as vendas da indústria de materiais de construção aumentaram 9,2% em janeiro em comparação com dezembro. Ante o mesmo mês do ano anterior, houve elevação menor (1,5%). Já no acumulando nos últimos doze meses, a elevação foi 2,7%. Os números contrariam os que torcem diariamente por uma dèbacle da economia brasileira.

24 fevereiro 2014

Porto seguro

A segunda-feira é de Pablo Neruda: “As vezes amanheço, e minha alma está úmida./Soa, ressoa o mar distante./Isto é um porto./Aqui eu te amo.”

23 fevereiro 2014

A palavra instigante de Jomard

Lula Cardoso Ayres
METAMORFOSES CARNAVALESCAS
jomard muniz de britto, jmb.

É preciso continuar tendo FÉ na COPA
e nos carnavais pelo ano inteiro.
Com XICO SÁ no caldeirão dos mitos:
-“Bote óbvio nisso ad infinitum”.
Infinitamente todas as garotadas da
Livraria Jaqueira ao Instituto AR-
QUEOLÓGICO, todos carnavalizando.
Esqueçamos O CORVO do NUNCA MAIS
e continuemos desejando SEMPRE MAIS.
De todos os ARrecifes. ARdentes.
Porque Olinda “não pode agonizAR”,
ó Clóvis, folião mais ecológico revendo
BAJADO na reinvenção de Fernando Augusto.
Tudo pode ser saudável melancolia no
BLOCO da SAUDADE. Fi(d)el saudosismo.
Sempre irradiando paixões e pulsações pelo
GALO da MADRUGADA mais ainda
disputando frevanças com o Bloco do NADA.
Do Pátio de Santa Cruz com anjos e demônios
transfigurados no MAR de todas as ondas,
abismos, blogs, módulos e metaleiros.
Por que não experimentar o frenesi da
MARCHA das VADIAS na rua da Aurora?
Tudo pode indicar experimentação no AR.
Esperemos sem temer o Batman carioca no
MARCO ZERO sobrevoando ladeiras e odores
olindenses e metropolitanos.RECIFEDE?
Relembremos camarotes desautorizados pela
folia das ruas em becos sem saída nem
salvação tropicaliente.
Metamorfoses do GILuminoso deflorando
recinfernálias. Do mangue beat ao SOM
ao redor da RURAL de Roger. ARrebatando.
Dispensemos a TRANSPARÊNCIA no fervor
da politicidade. Em câmeras tatuadas.
Vamos continuar apostando na nudez foliã
de nossos corações infantis carnavalizando
príncipes e precipícios.

Recife, fevereiro de 2014.

"Classe média"

Estudo realizado pelo Data Popular em cooperação com o Serasa Experian revela que a chamada classe média brasileira, composta por cerca de 108 milhões de pessoas atualmente, gastou mais de R$ 1,17 trilhão em 2013. Esse público tem uma renda por pessoa da família de R$ 320 a R$ 1.120 e é responsável por movimentar 58% do crédito no Brasil. 40 milhões de brasileiros e brasileiras ascenderam a essa condição durante os governos Lula e Dilma. Como se comportará essa parcela da população nas eleições de outubro?

Chama

O domingo é de Thiago de Mello: “Na fogueira do que faço/por amor me queimo inteiro./Mas simultâneo renasço/para ser barro do sonho”

22 fevereiro 2014

Viva Teliana!

@lucianoPCdoB: Tenista pernambucana Teliana Pereira perde de favorita Klara Zakopalova na semifinal no Rio Open. Merece aplausos pelo grande desempenho.

Música e poesia na clara manhã

@lucianoPCdoB: Para iluminar o sábado: Silvério Pessoa, "No grau" http://t.co/zHsFUSMYMP

Pressão pela regressão civilizacional

Paul Klee
Soberania
Eduardo Bomfim, no Vermelho


Enquanto a Ucrânia arde em chamas, a Venezuela sofre ondas de turbulências golpistas, todos assistem à ofensiva dos Estados Unidos, guarda pretoriana do mercado, da governança mundial do capital financeiro global, contra a soberania das nações através de intervenções armadas que se multiplicam pelos continentes.

Seja onde for há sempre um pretexto para que se desloquem exércitos, frotas navais, força aérea contra algum País precedidos por um bombardeio de saturação midiática em escala jamais vista pela humanidade promovendo intensa lavagem cerebral contra as sociedades, fenômeno só possível porque em torno dos EUA e do Mercado há em simbiose uma verdadeira ditadura global na área das comunicações.

De tal sorte que o que prevalece não é o fato jornalístico mas a sua versão difundida através das poderosas cadeias de informação mundializadas sempre tendo como eixo central especialmente as grandes redes midiáticas norte-americanas e britânicas.


Assim ao contrário do que se diz nós não vivemos uma época de radicalização dos processos de democratização ao estilo universal ocidental clássico mas o seu inverso, uma intensa regressão civilizacional dos parâmetros democráticos conhecidos, submetidos aos objetivos essenciais desse mercado, do lucro insaciável do capital financeiro.

Da acumulação rentista que aumenta na exata progressão geométrica em que avançam sobre os Países os efeitos da crise capitalista mundial que sacudiu os Estados Unidos, Europa mas que atinge igualmente todas as nações inclusive os BRICS minando possibilidades de maior crescimento econômico, de um salto robusto ao desenvolvimento econômico, melhores condições sociais às suas populações.


O que está em curso é a tentativa de pilhagem dos recursos não renováveis, a subtração das riquezas produzidas pelos povos emergentes como o Brasil, a destruição dos pactos democráticos substituídos pelo autoritarismo, nem que para isso queiram transformar a realização de uma Copa Mundial de Futebol em teatro de operações de guerra monitorado pela CIA, promovido de forma milimétrica, planejada.


O Brasil jamais viveu outro período de tanta fecundidade democrática mas ele deve estar associado à defesa da soberania nacional, das liberdades políticas conquistadas com muitas lutas, sofrimento, dor em passado recente.

Palavra certeira e oportuna

NESTE MOMENTO EM QUE UM GOLPE RONDA UM PAÍS VIZINHO, É MEU DEVER DIZER AOS JOVENS O QUE É UM GOLPE DE ESTADO
Publicado em 20/02/2014 por Hildegard Angel
Neste momento extremamente grave em que vemos um golpe caminhar célere rumo a um país vizinho, com o noticiário chegando a nós de modo distorcido, utilizando-se de imagens fictícias, exibindo fotos de procissões religiosas em Caracas como se fosse do povo venezuelano revoltoso nas ruas; mostrando vídeos antigos como se atuais fossem; e quando, pelo próprio visual próspero e “coxinha” dos manifestantes, podemos bem avaliar os interesses de sua sofreguidão, que os impedem de respeitar os valores democráticos e esperar nova eleição para mudar o governo que os desagrada, vejo como meu dever abrir a boca e falar.
Dizer a vocês, jovens de 20, 30, 40 anos de meu Brasil, o que é de fato uma ditadura.
Se a Ditadura Militar tivesse sido contada na escola, como são a Inconfidência Mineira e outros episódios pontuais de usurpação da liberdade em nosso país, eu não estaria me vendo hoje obrigada a passar sal em minhas tão raladas feridas, que jamais pararam de sangrar.
Fazer as feridas sangrarem é obrigação de cada um dos que sofreram naquele período e ainda têm voz para falar.
Alguns já se calaram para sempre. Outros, agora se calam por vontade própria. Terceiros, por cansaço. Muitos, por desânimo. O coração tem razões…
Eu falo e eu choro e eu me sinto um bagaço. Talvez porque a minha consciência do sofrimento tenha pegado meio no tranco, como se eu vivesse durante um certo tempo assim catatônica, sem prestar atenção, caminhando como cabra cega num cenário de terror e desolação, apalpando o ar, me guiando pela brisa. E quando, finalmente, caiu-me a venda, só vi o vazio de minha própria cegueira.
Meu irmão, meu irmão, onde estás? Sequer o corpo jamais tivemos.
Outro dia, jantei com um casal de leais companheiros dele. Bronzeados, risonhos, felizes. Quando falei do sofrimento que passávamos em casa, na expectativa de saber se Tuti estaria morto ou vivo, se havia corpo ou não, ouvi: “Ah, mas se soubessem como éramos felizes… Dormíamos de mãos dadas e com o revólver ao lado, e éramos completamente felizes”. E se olharam, um ao outro, completamente felizes.
Ah, meu deus, e como nós, as famílias dos que morreram, éramos e somos completamente infelizes!
A ditadura militar aboletou-se no Brasil, assentada sobre um colchão de mentiras ardilosamente costuradas para iludir a boa fé de uma classe média desinformada, aterrorizada por perversa lavagem cerebral da mídia, que antevia uma “invasão vermelha”, quando o que, de fato, hoje se sabe, navegava célere em nossa direção, era uma frota americana.
Deu-se o golpe! Os jovens universitários liberais e de esquerda não precisavam de motivação mais convincente para reagir. Como armas, tinham sua ideologia, os argumentos, os livros. Foram afugentados do mundo acadêmico, proibidos de estudar, de frequentar as escolas, o saber entrou para o índex nacional engendrado pela prepotência.
As pessoas tinham as casas invadidas, gavetas reviradas, papéis e livros confiscados. Pessoas eram levadas na calada da noite ou sob o sol brilhante, aos olhos da vizinhança, sem explicações nem motivo, bastava uma denúncia, sabe-se lá por que razão ou partindo de quem, muitas para nunca mais serem vistas ou sabidas. Ou mesmo eram mortas à luz do dia. Ra-ta-ta-ta-tá e pronto.
E todos se calavam. A grande escuridão do Brasil. Assim são as ditaduras. Hoje ouvimos falar dos horrores praticados na Coreia do Norte. Aqui não foi muito diferente. O medo era igual. O obscurantismo igual. As torturas iguais. A hipocrisia idêntica. A aceitação da sobrevivência. Ame-me ou deixe-me. O dedurismo. Tudo igual. Em número menor de indivíduos massacrados, mas a mesma consistência de terror, a mesma impotência.
Falam na corrupção dos dias de hoje. Esquecem-se de falar nas de ontem. Quando cochichavam sobre “as malas do Golbery” ou “as comissões das turbinas”, “as compras de armamento”. Falavam, falavam, mas nada se apurava, nada se publicava, nada se confirmava, pois não havia CPI, não havia um Congresso de verdade, uma imprensa de verdade, uma Justiça de verdade, um país de verdade.
E qualquer empresa, grande, média ou mínima, para conseguir se manter, precisava obrigatoriamente ter na diretoria um militar. De qualquer patente. Para impor respeito, abrir portas, estar imune a perseguições. Se isso não é um tipo de aparelhamento, o que é, então? Um Brasil de mentirinha, ao som da trilha sonora ufanista de Miguel Gustavo.
Minha família se dilacerou. Meu irmão torturado, morto, corpo não sabido. Minha mãe assassinada, numa pantomima de acidente, só desmascarada 22 anos depois, pelo empenho do ministro José Gregory, com a instalação da Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos no governo Fernando Henrique Cardoso.
Meu pai, quatro infartos e a decepção de saber que ele, estrangeiro, que dedicou vida, esforço e economias a manter um orfanato em Minas, criando 50 meninos brasileiros e lhes dando ofício, via o Brasil roubar-lhe o primogênito, Stuart Edgar, somando no nome homenagens aos seus pai e irmão, ambos pastores protestantes americanos – o irmão, assassinado por membro louco da Ku Klux Klan. Tragédia que se repetia.
Minha irmã, enviada repentinamente para estudar nos Estados Unidos, quando minha mãe teve a informação de que sua sala de aula, no curso de Ciências Sociais, na PUC, seria invadida pelos militares, e foi, e os alunos seriam presos, e foram. Até hoje, ela vive no exterior.
Barata tonta, fiquei por aí, vagando feito mariposa, em volta da fosforescência da luz magnífica de minha profissão de colunista social, que só me somou aplausos e muitos queridos amigos, mas também uma insolente incompreensão de quem se arbitrou o insano direito de me julgar por ter sobrevivido.
Outra morte dolorida foi a da atriz, minha verdadeira e apaixonada vocação, que, logo após o assassinato de minha mãe, precisei abdicar de ser, apesar de me ter preparado desde a infância para tal e já ter então alcançado o espaço próprio. Intuitivamente, sabia que prosseguir significaria uma contagem regressiva para meu próprio fim.
Hoje, vivo catando os retalhos daquele passado, como acumuladora, sem espaço para tantos papéis, vestidos, rabiscos, memórias, tentando me entender, encontrar, reencontrar e viver apesar de tudo, e promover nessa plantação tosca de sofrimentos uma bela colheita: lembrar os meus mártires e tudo de bom e de belo que fizeram pelo meu país, quer na moda, na arte, na política, nos exemplos deixados, na História, através do maior número de ações produtivas, efetivas e criativas que eu consiga multiplicar.
E ainda há quem me pergunte em quê a Ditadura Militar modificou minha vida!
Hildegard Angel 

Olhar

O sábado é de Geir Campos: “as imagens do dia, prisioneiras/entre as dobras das pálpebras, discutem/argumentos possíveis para um sonho.”

21 fevereiro 2014

Em defesa do consumidor

Cliente poderá cancelar serviço de telefonia sem passar por atendente

Crédito de celular pré-pago terá que valer por no mínimo 30 dias. Medidas fazem parte de amplo regulamento aprovado pela Anatel

Leio no G1 que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou ontem (20) a determinação de que o cliente não precisará mais passar por um atendente para fazer o cancelamento de serviços de telefonia, banda larga ou TV por assinatura. Ele poderá realizá-lo de forma eletrônica, por telefone, internet ou terminais de autoatendimento.
A medida faz parte de um novo e amplo regulamento que detalha direitos e garantias dos consumidores e deverá ser seguido por todas as empresas do setor. A maioria das medidas, como a do cancelamento automático, deverá entrar em vigor em 4 meses, a partir da data de publicação. Se as regras forem publicadas neste mês, valerão a partir de junho.
Outra medida definida nesta quinta é que os créditos para celulares pré-pagos terão validade mínima de 30 dias. Atualmente, não existe prazo mínimo para validade: as empresas são apenas obrigadas a oferecer aos clientes o acesso a créditos com validade para 90 e 180 dias – obrigação que será mantida.
O regulamento também prevê a obrigatoriedade de as operadoras informarem seus clientes quando o crédito estiver próximo de expirar. O objetivo é evitar que a pessoa seja pega de surpresa e não consiga fazer uso do telefone em um momento de emergência.
Fatura do pós-pago - A agência também definiu novas regras para garantir direitos de clientes de planos pós-pago de telefonia celular. Entre elas está a criação da fatura detalhada, que deverá informar aos clientes o valor dos tributos cobrados sobre cada serviço contratado por ele.
O regulamento estabelece ainda que as faturas deverão ter um espaço para levar aos usuários desse serviço informações consideradas importantes, como alterações nas condições de provimento de um serviço, expiração de uma determinada promoção, reajuste no valor cobrado por serviços e existência de débitos vencidos. A agência, porém, dá prazo de 2 anos para que essa exigência comece a valer. O objetivo é dar tempo para que as operadoras se adaptem às mudanças.
Outra novidade é que as empresas passam a ser obrigadas a informar o usuário quando o consumo de um serviço, como número de mensagens tipo SMS ou uso de internet móvel, estiver próximo do limite da franquia contratada. Essa regra deverá valer em 18 meses.

Sonhos e passos

A sexta-feira é de Carina Castro: "de distâncias traçadas entre sonhos/passos e pousos/redimensiono o interior do meu interior"

20 fevereiro 2014

A prosa poética de Melka Pinto

BOSSA NOVA E CARNAVAL

Melka Pinto, em seu blog

O nome dele não é gabi, nem murilo, muito menos lucas. O nome dele não cabe aqui, o amor comeu, comeu também meu endereço, minha paz e minha guerra. Nunca vi um amor desses, só nas novelas e filmes, apenas suspeitava que existia, agora eu sinto e vivo. Um amor desses que te faz querer ser melhor em tudo, que te faz sorrir desde a hora que acorda até a hora de dormir de novo, um amor desses que enche a alma de luz e esperança, esperança de qualquer coisa bonita. Um amor. Um amor que mistura a sensibilidade da bossa nova com a alegria do carnaval. Esse amor comeu até meu medo da morte.

Emprego cresce em janeiro

Diferentemente do que usualmente acontece em janeiro, este ano foram criadas 29.595 vagas de emprego formal no país, com expansão de 0,07% em relação a dezembro de 2013. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, em janeiro, foram admitidas mais 1.778.077 pessoas e demitidas 1.748.482, o que resultou no saldo de quase 30 mil novos postos com carteira assinada.

Massa salarial em alta

Em um ano, rendimento médio do trabalhador cresceu 3,6%
Anoto da Agência Brasil: O rendimento real habitual do trabalhador ficou em R$ 1.983,80 em janeiro deste ano. Segundo dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgados hoje (20) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o valor é 0,2% acima do observado em dezembro e 3,6% superior ao de janeiro do ano passado (considerando-se valores já corrigidos pela inflação).

Trama

A quinta-feira é Mariane Bigio: "É tão simples:/história é trama/feita de nós."

Qual debate?

Para além da Babel
Luciano Siqueira, no Vermelho e no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)



(Da minha correspondência por e-mail) - Telma amiga, você se inquieta em relação ao tom "caleidoscópico" do debate político no Brasil. Tem razão. Não é só você que precisa se esforçar para identificar, em opiniões díspares sobre um mesmo tema, onde está exatamente a polêmica e onde, infelizmente, se expressa o jogo de palavras. 

"A economia vai bem ou caminha para o desastre?", você pergunta. Certamente não caminha para o desastre, embora seja fato inquestionável que cresce lentamente, muito aquém das necessidades reais do Brasil e do nosso povo. Por que? Destaco aqui um dentre muitos fatores: as turbulências advindas de uma crise mundial que se arrasta sem solução e atinge países em desenvolvimento, como o nosso. 

Vejamos. Quem decide nos EUA e nos países centrais da Europa e no Japão são os representantes diretos (ou delegados) do chamado capital financeiro internacional. A oligarquia financeira, cujo apetite é insaciável. Os mesmos que desejam descarregar parte substancial dos seus investimentos no Brasil, não exatamente para produzir, mas sim para especular e ganhar na ciranda financeira. E para tanto pressionam o governo brasileiro em favor de "garantias" de que não correrão riscos (sic). Só que essas tais garantias implicam manutenção do câmbio flexível, ao sabor das oscilações internacionais; ultra-rigor fiscal, incluindo redução de gastos públicos com programas sociais e com o incremento da microeconomia, por exemplo, responsável por parcela considerável do nível satisfatório do emprego; e taxa básica de juros crescentemente elevadas. Ou seja: querem ganhar com a usura, às custas do nosso povo.

Isto para termos uma amostra da dimensão do debate em curso, marcado por distorções de toda ordem e tendo em mira a eleição presidencial. No fundo, essas pressões, que no País encontram eco em parte do grande empresariado e na grande mídia, tendem a aumentar e a tentar seduzir os principais atores políticos que se colocam contra o atual governo, especialmente o candidato Aécio Neves, do PSDB, que se lastreia em ideário de cunho neoliberal, expressão concentrada dos interesses da citada oligarquia financeira.

Daí porque a avaliação do desempenho da economia momentaneamente ocupa o primeiro posto no noticiário dos grandes jornais, redes de TV e rádio e portais e blogs na Internet.


Então, amiga Telma, só lhe resta - e a quem deseja, como você, compreender o teor do noticiário e do debate, para tirar suas próprias conclusões - exercitar a busca permanente de separar o joio e o trigo, com foco no que há de essencial em torno de cada tema e de distinguir entre as aparências e a essência das coisas. Difícil? Sim, como tudo o que verdadeiramente vale a pena - sobretudo no complexo terreno do embate de ideias. Que tal começar pelo questionamento da opinião que acabei de externar aqui?

19 fevereiro 2014

Despertar

A quarta-feira é de Beatriz Bajo: "todo despertar é fiança enfiando-se/na agulha do tempo desfeito de amor"

PAC progride

Obras de saneamento do PAC 2 estão beneficiando 7,6 milhões de famílias. Programa completa três anos com 82,3% das obras concluídas.

18 fevereiro 2014

Rádio Frei Caneca

Após 54 anos de espera, Rádio Frei Caneca vai entrar no ar via web no sábado de Ze Pereira no Carnaval do Recife 2014. Mais um compromisso de campanha cumprido http://j.mp/1dIG5ha

Dilma ascendente

Muito cedo para conclusões definitivas, porém merece atenção a mais recente rodada da pesquisa CNT/MDA, divulgada hoje. Pela pesquisa, a presidente Dilma Rousseff seria reeleita em primeiro turno tanto nos cenários com e sem a ex-ministra Marina Silva. Dilma alcança 43,7%, contra 17% de Aécio Neves e 9,9% de Eduardo Campos. Na hipótese de uma pouco provável candidatura de Marina Silva no lugar de Eduardo Campos, Dilma também venceria a disputa no primeiro turno, pois aparece com 40,7%, a candidata da Rede 20 6% e o candidato do PSDB, Aécio Neves, 15,1% das intenções de voto.

Perspectiva nova

O projeto Horizonte Profissional, do governo do estado, leva estudantes do ensino médio das escolas públicas de referência e técnicas a conhecerem o Complexo Industrial Portuário de SUAPE - e assim tomarem conhecimento do mundo de oportunidades que se apresenta para as gerações atuais. Está na quarta edição. Os estudantes conhecem as instalações, assistem a uma palestra e recebem material impresso informativo. Uma ótima iniciativa.

Lazer & cultura

@lucianoPCdoB: Aos sábados e domingos, o Jardim Botânico do Recife tem recebido em média 2 mil visitantes. Você já foi?

Dialética

A terça-feira é de Pablo Neruda: "Saberás que não te amo e que te amo/posto que de dois modos é a vida,/a palavra é uma asa do silêncio,/o fogo tem uma metade de frio”  

Por e-mail: profissionalização do serviço público

Por e-mail: Ah, amigo, este é um mal de que nosso País padece desde quando da vinda da família real, Dom João VI à frente, e foi necessário organizar alguma coisa a guisa de burocracia estatal. Desde o nascedouro do funcionalismo público. Aos escravos cabia o trabalho braçal; aos que circundavam a Corte, apaniguados e serviçais, nada fazer e apenas usufruir. Nomeados para os nascentes serviços "públicos", o mínimo de esforço ou esforço nenhum. O País progrediu, modernizou-se, mas o germe patrimonialista jamais foi extirpado. Por isso você se queixa de que, à margem das regras do concurso realizado, esse seu velho amigo não tem como dar o "jeitinho" de nomear sua sobrinha. Infelizmente, você diz; felizmente, digo eu. Profissionalização a gestão pública é compromisso assumido e dever a ser cumprido. Um ato de valorização do servidor público. Mesmo desagradando a amigos como você. 

17 fevereiro 2014

A vida do jeito que é

Leviatã
Marco Albertim, no Vermelho

O vento rugiu de tal modo que alvoroçou toda a água do canal, de um lado e de outro. Inda que vizinha às águas do oceano, a água do rio, escura, gelatinosa, soçobrou assoviando, cobrindo a vegetação do manguezal de uma brancura prateada.


As folhas verdes das aningas, no meio do rio, vergadas sob o impacto do vento, deitaram no solo lamacento. Os troncos das aningas não se despregaram do chão, mas a metade de cada raiz ficou exposta, feito monstros saídos do chão movediço.

A balsa não afundou, por certo por causa do convés de manobra, todo de ferro, com duzentos metros de comprimento e cinquenta de largura. O piloto, no alto da cabine, foi obrigado a descer a janela de vidro. Não teve sorte, posto que as laterais se juntaram com tamanha força às bordas da janela, que o vidro se estilhaçou. Ele abaixou-se na cabine; queria descer para o convés, orientar os motoristas sobre como deviam se portar, segurando-se nos ferros do abrigo de transeuntes sem carro; e deixarem, se fosse o caso, que os veículos fossem arrastados para as funduras desconhecidas da água pesada do canal. Ainda conseguiu chegar à porta de sua cabine, em frente aos primeiros degraus da escada helicoidal; com força, abriu a porta, uma chapa de ferro já carcomida pela ferrugem. Mas não conseguiu sair para o convés. A distância para o abrigo dos transeuntes, inda que curta, tinha um vácuo suficiente para que ele fosse levado pelo sopro raivoso do vento. Entreviu, com os olhos semicerrados, os homens segurando-se nos ferros do abrigo. Rostos crispados de susto, sem gritos, o pânico em toda fisionomia.

O pilotou voltou a subir para a cabine; com cuidado, veria pela janela sem vidro, os homens se protegendo cada um a seu modo, o balanço dos veículos na trepidação das águas revoltas. Numa gaveta, sob as maçanetas de comando da balsa, pusera o único exemplar de uma bíblia que fora presente de sua mãe." Quem pôde afrontá-lo e sair com vida debaixo de toda a extensão do céu?

....Quem lhe abriu os dois batentes da goela, em que seus dentes fazem reinar o terror?...... Quando se levanta, tremem as ondas do mar, as vagas do mar se afastam." Não abriu o exemplar do Velho Testamento, mas lembrou da passagem do livro de Jó, onde há a descrição minuciosa do poder destruidor do leviatã.

Com esforço, sem afastar o pânico da mente em transe, levantou a cabeça; não para velar pela segurança dos homens, àquela altura, conforme ele, também imaginando a fúria do leviatã que súbito acordara. A balsa se desviara de seu curso de rotina. O motor deixara de emitir o ruído preguiçoso, sonolento; agora, as máquinas emitiam um soluço a cada minuto, feito um carro dando sinais de enguiço. O vento, sem forças para virar os dois mil quilos de ferro da balsa, empurrou-a a partir de um lado de seu comprimento. As águas do oceano se imiscuíram com a água do canal de Pontinha, na divisa entre Pernambuco e Paraíba.

A balsa atracou distante da plataforma de cimento, por onde desciam e subiam os passageiros. Súbito o vento amansou. Os homens abriram os olhos como que despertos do pesadelo. Na beira do canal, os barcos lagosteiros sobreviveram jogados para fora da beira do rio, revirados e em destroços.

Luiz Varela, único tripulante da balsa, pouco se importou em recolher o comprovante de pagamento dos passageiros. Correu para sua casa, onde deixara, como de costume, a mulher e a única filha resultante de dez anos de casamento. A casa, ou o que restou dela, ruíra na margem do rio estreito, afluente do canal. Em volta de tijolos, telhas, madeiras e uns móveis em trancos, a multidão observava curiosa.

- É a mulher e a filha do crente Luiz Varela - ele ouviu e não demorou a acreditar.

Possesso, voltou para a margem do canal. Trouxera a bíblia numa das mãos. Ao lado da balsa tão familiar a seus olhos, levantou os olhos para o firmamento já desfeito de nuvens escuras.

- Não estás satisfeito!?

Ouviu o silêncio do cenário morto e arremessou a bíblia para longe, por certo bem perto do leviatã.

Memória, para que serve?

Vale a pena esquecer?

Luciano Siqueira,no Jornal da Besta Fubana


Na canção de Marisa Monte, versos emocionados: “Esqueça… se ele não te ama/Esqueça… se ele não te quer” – conselho sensato para quem sofre de malquerença e se deixa abater.
Na frase sincera e algo cínica do então presidente Fernando Henrique Cardoso, “Esqueçam o que escrevi” – passando a borracha sobre convicções patrióticas que o poder se encarregou de desfazer.
Já no sentido inverso, versos de Roberto Carlos na voz pungente de Nana Caymmi apelam à memória para que não se esvaia para sempre o amor perdido: “Onde você estiver,/Não se esqueça de mim/Com quem você estiver não se esqueça de mim/Eu quero apenas estar no seu pensamento…”
Mia Couto assegura, pela voz de um dos seus personagens, que “amar e viver são verbos sem pretérito“.
O fato é que a memória atormenta o ser humano desde os primórdios da Humanidade – e muita gente gostaria de ter sobre a própria um controle seletivo: guardar apenas a lembrança de fatos e sentimentos agradáveis, enterrando para sempre num vácuo imaginário as más recordações. Sem precisar beber para esquecer, nem recorrer ao miolo de boi (rico em fosfato, dizia meu pai), para fixar conceitos e fórmulas matemáticas na aprendizagem escolar.
Bom, pelo menos esquecer o que incomoda parece que agora se tornará possível, segundo pesquisa em andamento na Radboud University Nijmegen, da Holanda. Isto através da conhecida terapia eletroconvulsiva (eletrochoques) – aplicação de correntes elétricas no cérebro, que provocam convulsão temporária – por aqui abolida, mas ainda em voga na Holanda, no tratamento da depressão aguda.
A notícia, difundida pela BBC holandesa, corre o mundo dando conta de “resultados impressionantes”: a memória produzida por estímulos visuais recentes simplesmente é apagada em pessoas submetidas ao aludido tratamento.
Parece ficção científica. Mas tem base objetiva, garantem os pesquisadores.
Além de questionamentos de ordem humanitária e ética, que me parecem incontornáveis, cá com meus modestíssimos botões tenho dúvida sobre as vantagens de esquecer o que passou. Fico com o poeta Fernando Pessoa, que já no início do século passado nos ensinava que “Tudo vale a pena./Se a alma não é pequena“. E se assim é, para que esquecer?

Plenitude

A segunda-feira é de Fabrício Carpinejar: "Ser inteiro custa caro./Endividei-me por não me dividir."

Agricultura em alta

Safra recorde mostra força de nossa moderna agricultura 

Crescimento saudável deve ser puxado pela indústria, disso ninguém dúvida. Mas é inequívoco que a moderna agricultura brasileira tem um peso importante em nossa economia e na presença do nosso País no concerto mundial. Por isso, merece destaque a previsão de uma safra recorde este ano, estimada em mais de 193 milhões de toneladas, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento. Podemos nos converter em primeiro mundial de soja, por exemplo, o que contribui na formação do PIB, melhora a balança comercial e assegura o abastecimento interno. 

16 fevereiro 2014

Resistência

O domingo é de Oswald de Andrade: "Resiste/Defende/De pé/De pé/De pé/O futuro será de toda a humanidade."

15 fevereiro 2014

Reforma urbana na ordem do dia

O progresso do programa Minha Casa, Minha Vida vem tudo a ver a redução de parte do déficit habitacional brasileiro registrado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) para o período 2007/2012, que foi de 6,2%. Cotejando os dados do programa entre 2009 e 2012 por estrato de renda com a redução do déficit, verifica-se intima sintonia entre essa redução e o ritmo das entregas nas faixas de renda beneficiadas. Assim, o déficit nas famílias com renda mensal entre três e cinco salários mínimos, na pesquisa do Ipea, recuou 21%, para 610 mil de unidades, entre 2009 e 2012. No mesmo período, nas famílias com renda de até três salários mínimos a diminuição do déficit ficou em 5% (para 3,8 milhões de unidades), abaixo do recuo total de 8,1%. Com isso, o Brasil registrou déficit habitacional de 5,2 milhões de casas no ano passado. Estamos muito longe ainda de resolver o problema, mas não podemos desconhecer os avanços conquistados. E impulsionar mais ainda a luta por esse direito fundamental - um dos pilares da Reforma Urbana, hoje tão urgente quanto necessária.