30 setembro 2013

Como no mar...

A segunda-feira é de Vinícius de Moraes: “Como no mar, vem nadar em mim como no mar/Vem te afogar em mim, amiga minha/Em mim como no mar...”

Soberania em tempo conturbado

O que o Brasil enfrenta
Eduardo Bomfim, no Vermelho


O discurso nas Nações Unidas da presidente Dilma repudiando a ofensiva de espionagem dos Estados Unidos contra os cidadãos, governo, empresas brasileiras foi uma afirmação de soberania do País e ao mesmo tempo um alerta sobre a gravidade e os desdobramentos da atual situação geopolítica internacional.

Gestada numa crise estrutural do capitalismo em escala global provocando a debacle das nações do chamado primeiro mundo só comparável à grande depressão econômica mundial de 1929-1930 quando riquezas fabulosas esfumaçaram-se da noite para o dia semeando violenta hecatombe social, espalhando a fome, desemprego por todo o planeta.

O que anda corroendo a Europa, Estados Unidos, outros Países ditos desenvolvidos é a recorrência, com diferenciações, do mesmo cenário dos anos trinta e o remédio aplicado pelo grande capital financeiro é idêntico, ou seja, jogar sobre as costas dos trabalhadores, setores médios, às nações, a fatura da orgia do rentismo chamada eufemisticamente de “exuberância irracional do capital global”.

Após a queda do muro de Berlim esse mesmo capital, os Estados Unidos passaram a exercer uma hegemonia incontestável, econômica, militar, ideológica, política e ascendeu absoluta a nova ordem mundial, o retorno do velho liberalismo com nova roupagem, o neoliberalismo.

Mas a crise estrutural capitalista em 2008 abalou os falsos paradigmas edificados nas últimas décadas: a doutrina neoliberal, um conjunto de valores impostos à humanidade, sociais, morais, culturais da “nova ordem”, a arquitetura geopolítica mundial implantada nesse período.

Com o atual naufrágio econômico, o que foi “consensualmente imposto” aos povos através de lavagem cerebral via mídia global nomeada ventríloqua do império, do grande capital, transmutou-se em guerra de rapina, em novo tipo de fascismo contra o resto do mundo.

Onde a espionagem irrestrita é apenas uma das faces dessa Novíssima Ordem que emerge sob o prisma da agressão militar, chantagens abertas contra os Países especialmente os BRICS.

Para manter-se soberano nesse dramático cenário global impõe-se ao Brasil a construção de um novo projeto de desenvolvimento econômico, superar abismos sociais históricos, mobilizar politicamente na defesa desse projeto de nação as grandes maiorias da sociedade brasileira.

29 setembro 2013

Ganha-perde


Estabilidade monetária de FHC compensou banqueiros e especuladores pagando juros de até 27% na aquisição de títulos públicos. Mais para os mais ricos e menos para o povo.

Campina Grande

. Na estrada, rumo a Campina Grande. Estarei, com honra e prazer, na Conferência Municipal do PCdoB.
. Em 1970, ´Luci e eu vivemos lá por 1 ano, como militantes clandestinos na resistência à ditadura militar.

Palavra de poeta

O domingo é de Pablo Neruda: “Quando tuas mãos saem,/amada, para as minhas,/o que me trazem voando?”

28 setembro 2013

Presidenta Antonieta

. Terminada a Conferência Municipal, nova direção eleita do PCdoB no Recife faz sua primeira reunião.
. Professora Antonieta Trindade eleita presidenta do PCdoB no Recife. Líder sindical, larga experiência partidária. Viva!

Música e poesia

Música e poesia em fim de noite: Marisa Monte, “O que me importa” http://migre.me/gbu8I

Sol

O sábado é de Vinícius de Moraes: “Aqui jaz o Sol/Que criou a aurora/E deu a luz ao dia/E apascentou a tarde”

Conferência municipal

Daqui a pouco, Conferência Municipal do PCdoB no Recife: teses do 13º. Congresso em debate. Partido unido e pronto para a luta.

27 setembro 2013

Suave é a música

Música e poesia em fim de noite: Maria Rita, “Encontros e despedidas” http://goo.gl/2Ldo7Y

Quais partidos?

Que se exerça o direito de fundar partidos. O povo, através de sucessivas eleições e progressiva elevação de seu discernimento político, fará o crivo. Mas não é saudável o surgimento de partidos manifestamente sob controle de líderes de outros preexistentes, como se fossem uma simples filial. Não fortalece a democracia.

Palavra de poeta

A sexta-feira é de Fábio Campana: “Não furtarás à própria boca/o doce fruto colhido na aurora.”

Razão e emoção

Se a motivação é o motor do ser humano, bom que para além dos interesses e projetos estritamente pessoais e familiares (justos e legítimos) uma causa catalise nossas energias cotidianas. Uma razão a mais para viver. Para muitos – eu inclusive – a principal razão. A luta para mudar o país e possibilitar a elevação das condições de vida materiais e espirituais do nosso povo imprime cor, emoção e entusiasmo às nossas vidas.

26 setembro 2013

Senador Armando Monteiro

Telefonei agora ao amigo senador Armando Monteiro. Agenda conflitante me impede de ir ao almoço-reunião do Gere hoje, onde ele fará palestra acerca dos desafios do desenvolvimento de Pernambuco.

Ministro Fernando

O prazer de receber em meu gabinete o amigo ministro Fernando Bezerra Coelho: sempre ótimo diálogo sobre a cena política nacional e local.

Como a mulher amada

Ontem, na abertura do seminário sobre o projeto Cidades da Copa, ao lado do secretário George Braga e da ex-jogadora da seleção brasileira de voleibol, Ana Moser, comparei a cidade à mulher amada: quanto mais a gente convive, alimenta o amor e cumplicidade, mais descobre o encanto, a capacidade de reação aos desafios... Penso assim. Sinto assim.

Espera

A quinta-feira é de Mia Couto: "Espero-te antes de haver vida/e és tu quem faz nascer os dias."

Nebuloso jornalismo econômico

Na Carta Maior:
A guerra da informação aqui dentro
Depois de anos de abuso do recurso adversativo -‘país vai bem, mas... ' - o jornalismo de economia agora se agarra ao verbo ‘surpreender'. Tenta, assim, explicar o que a pauta sonega. Por exemplo: a FGV  informa nesta 3ª feira que a confiança do consumidor na economia é a maior em cinco meses. A notícia colide com as previsões alarmistas veiculadas nos últimos meses. Não só ela. O PIB também 'surpreendeu' no segundo trimestre, resmungaram as manchetes diante do crescimento econômico bem acima do previsto pelo noticiário 'isento': 3,3% em relação a igual período de 2012. O emprego foi outra variável  que ‘surpreendeu'  em agosto, com um salto de 26% na oferta de vagas formais. Nesta 2ª feira, a arrecadação tributária manifestou igualmente o seu desacordo com as previsões sombrias. A receita atingiu valor recorde no mês passado. A sequência é infernal. Antes, ainda, as manchetes já haviam manifestado surpresa com a volta da inflação ao limite da meta do BC, em julho e agosto. E os consumidores não param de teimar. Em movimento quase paradoxal, eles reduziram a inadimplência e aumentaram as compras. A presença recorrente do efeito surpresa nas manchetes não deve ser entendida como sintoma do que não é. O país tem problemas estruturais. Mas não exatamente aqueles listados pela mídia que se espanta com a inconsequência de seus veredictos e a baixa aderência de suas soluções.

Direito à informação

Numa entrevista à imprensa que concedemos juntos, Arraes e eu, com referência à anistia e a reconquista da democracia no Brasil, o ex-governador afirmou que no tempo da ditadura militar não podíamos falar, pois podíamos ser presos, torturados e até mortos – como aconteceu com muitos militantes. Hoje, podemos falar. O risco não é de sermos presos, é de não sermos compreendidos, tamanha a distorção dos fatos promovida pela grande mídia parcial e tendenciosa. Abro os jornais, vejo o noticiário na TV, ouço rádios e constato que a afirmação de Arraes é cada vez mais atual. Os brasileiros têm direito à democratização da mídia – já!

25 setembro 2013

Receita tributária & emprego

Desoneração fiscal: uma mão lava a outra
Luciano Siqueira

 
De Lula em diante, na década em curso, o Estado restabeleceu, em grande medida, o papel de indutor do crescimento econômico. De muitas formas, entre as quais manobras fiscais que, embora reduzida temporariamente a receita tributária, proporcionaram a manutenção das atividades econômicas em nível satisfatório – no ambiente de crise global – e taxa de desemprego equivalente ao pleno emprego. Uma mão lava a outra.

De fato, levantamento da Receita Federal indica que o governo deixou de arrecadar R$ 51,050 bilhões nominais no acumulado de 2013 até agosto por conta das desonerações tributárias. Mais do que no mesmo período de 2012, quando a renúncia fiscal importou em R$ 29,712 bilhões.

Este ano, entrou em cena com força a desoneração da folha salarial, exatos R$ 9,756 bilhões a menos na arrecadação, junto com múltiplas reduções no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), com R$ 7,520 bilhões a menos, e a Cide-Combustível, com R$ 7,5 bilhões.

Teve também a desoneração de tributos relativos aos produtos da cesta básica, que respondeu por R$ 3,879 bilhões a menos nos cofres do governo, de janeiro a agosto.

Se pusermos uma lupa, mais detalhes poderemos enxergar. Mas importa o contraponto, ou seja, as vantagens dessa queda de receita tributária.

Dá para se ter uma ideia disso através de estudo divulgado pelo IBGE, em janeiro, num cenário de queda da produção industrial (ocorrida em 2012). Nele, se constata que a redução do IPI funcionou como motor propulsor da economia. Isto porque, naquele período, a produção industrial acumulou queda de 2,6% e, em 12 meses, baixa de 2,5%, porém a categoria de bens duráveis, diferentemente de outros ramos industriais, revelava ganho acumulado em torno de 7,3%, com destaque para a produção de automóveis e da linha branca. 


A turma que mandava e desmandava em passado recente, saudosa da financeirização em contraposição à produção, bota todos os defeitos do mundo na política de desoneração fiscal, apesar desses números. Na chamada era FHC, dizia-se que o emprego formal – aniquilado em 12 milhões de postos de trabalho, entre 1990 e 2002 – não podia crescer devido à legislação trabalhista, que por isso devia ser flexibilizada. De Lula a Dilma, em dez anos, foram ofertados 20 milhões de empregos com carteira assinada!  


Mais: apesar do crescimento do PIB atual, aquém do desejado, a taxa média de desemprego, calculada pelo IBGE em seis regiões metropolitanas, recuou de 6% em junho para 5,6% no mês passado. Mantém-se estável – em num padrão muito satisfatório, tendo-se em conta as pressões externas sobre nossa economia. Só não vê quem não quer.

Hora alva

A quarta-feira é de Luiz Gonzaga Neto: “Em certas manhãs,/a hora alva nos aniquila/se não criamos outro tempo/além do assalto do sono.”

Inclusão social

Porque o Bolsa Família é importante
Luis Nassif, em seu blog

 
Já tinha alguns anos de jornalismo, o país começava a lutar pela redemocratização, fui entrevistar Abraham Lowenthal, um dos pensadores do Partido Democrata norte-americano e estudioso da América Latina.

Na época, nós, jornalistas econômicos, estávamos empenhadíssimos em convencer o meio empresarial de que a democracia era um "bom negócio". Fiz uma série de perguntas sobre a importância da democracia para a economia. 

A resposta de Lowenthall me derrubou. "A democracia é importante porque é importante. Não precisa de justificativas econômicas".

***

Saindo de Macapá, depois de uma palestra para coordenadores do Sebrae de todo o país, me vali do ensinamento de Lowenthal.

Um dos temas debatidos foi o Bolsa Família. 

Um dos coordenadores apontou os benefícios que o BF trouxe a inúmeras regiões estagnadas do seu estado. 

Primeiro veio o novo consumo, por meio do BF e da Previdência Social. Em seguida, vieram os novos empreendimentos. Com eles, novos empregos. E a região ganhou vida própria. No país todo, a melhoria de renda gerou um mercado de consumo fantástico.

Outro coordenador tinha visão diferente. Sua percepção era a de que as mães pobres passaram a ter mais filhos, para aumentar a Bolsa; as famílias fugiram para as cidades, sobrecarregando os serviços públicos; e diminuiu a propensão de todos para o trabalho.

***

Com o BF houve redução da natalidade e da mortalidade infantil. Mesmo reduzindo a mortalidade infantil, houve redução dos filhos. Ou seja, o BF exerceu um papel civilizador, ao permitir às mães planejar, e impedindo as crianças de morrer.

As estatísticas mostram, também, número crescente de beneficiários do BF pedindo desligamento, depois de conseguir renda suficiente. Mas é óbvio que, com o BF e a Previdência, os jovens passaram a entrar mais tarde no mercado de trabalho e houve uma queda na oferta de mão de obra para empregos de baixíssima remuneração.

Os dois fatos se refletiram em toda estrutura de emprego, provocando um efeito cascata de aumento do salário real.

Já as cidades mais pobres, especialmente no Nordeste, receberam mais famílias pela relevante razão de que os caraminguás do BF deram condições a elas de permanecer na sua região, mesmo enfrentando uma das maiores secas da história. Obviamente, com a seca, procuraram as cidades.

***

Aí se entram em desdobramentos que nada têm a ver com o BF.

Um deles é o aumento do salário real, bom para o consumo, ruim para a estrutura de custos das empresas. O caminho são reformas e melhorias de gestão que signifiquem um choque de produtividade. 

O segundo problema é que, nas regiões mais pobres, aumentou a renda das pessoas mas não a receita dos municípios - contribuiu para isso a imprudente política de desoneração do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).

Mais uma vez, nada tem a ver com o BF.

No final do encontro, sugeri aos ouvintes que criticassem a Fazenda, o Tesouro, a Receita, o Ministério das Cidades, mas não o Bolsa Família. Se houver um céu no serviço público, seus criadores ganharam o assento eterno.

Lembrando Lowenthall: o Bolsa Família é importante porque acabou com a fome de milhões de brasileiros. E basta.

Acessibilidade

Para ampliar o acesso das pessoas com deficiência a serviços e equipamentos que proporcionam mais qualidade de vida, serão investidos até o final de 2014, R$ 7,6 bilhões em ações que integram o Programa Viver sem Limites. Entre as ações, a construção de casas adaptáveis, através do programa Minha Casa, Minha Vida, que atende a pessoas com renda mensal até R$ 1,6 mil. 

24 setembro 2013

Vida

A terça-feira é de Pedro Américo de Farias: “Sozinha não abre a flor sem/a luz do sol/ Que aquece a pedra, o solo/e a raiz”

23 setembro 2013

Saudade

Música e poesia para iluminar a noite: Marisa Monte, “Sintomas de saudade” http://goo.gl/UFNiDg

Comicidade feminina

Cerca de 50 mulheres, do Brasil e do exterior, que prometem alegrar o Rio de Janeiro, a partir desta segunda-feira, na quinta edição do Festival Internacional de Comicidade Feminina – Esse Monte de Mulher Palhaça, informa a Agência Brasil. Elas lutam pela afirmação da forma feminina de uma profissão tradicionalmente masculina. O evento, que vai até o próximo domingo (29), terá dez espetáculos, oficinas sobre o universo circense e uma exposição fotográfica. Uma face da luta pela igualdade de gênero.

Artesão do ser

A segunda-feira é de Thiago de Mello: “Na fogueira do que faço/por amor me queimo inteiro./Mas simultâneo renasço/para ser barro do sonho/e artesão do que serei.”

Brasil + Argentina

Matéria na Carta Maior, assinada por Martín Granovsky, cometa o estreitamento do diálogo entre o Brasil e Argentina em bases essencialmente políticas. Ou seja: sem deixar de lado a pauta comercial, os dois países tratam das suas responsabilidades mútuas na defesa da soberania nacional. Ponto para a construção da unidade no subcontinente sul-americano.    

Arco partidário complexo

É a tradição partidária no Brasil: partido uno, nacionalmente mobilizado em torno de uma só linha, historicamente apenas uma exceção: o Partido Comunista do Brasil. Tudo a ver a complexidade da coalizão que dá sustentação ao governo Dilma – ampla, complexa, heterogênea e, ainda mais, influenciada pelo fato de que os partidos somam internamente grupos locais e regionais, quando não correntes organizadas conflitantes entre si. Assim, a base parlamentar do governo está sujeita a frequentes abalos, frutos das contradições internas nos partidos.

História: 23 de setembro de 1936

Olga, presa no Rio, após interrogatório
Olga Benário, judia alemã e militante comunista, 28 anos, grávida de 7 meses, é entregue à Gestapo nazista em meio à onda repressiva pós-1935. Terá a filha Anita Leocádia em um cárcere alemão e morrerá, na câmara de gás, em 1942. (Vermelho www.vermelho.org.br).

22 setembro 2013

Nosso diálogo

Muita gente me aborda no facebook para bater um papo. Sobre questões concretas imediatas, sobre a política, sobre a vida. Como entro e saio feito um raio, porque minha agenda é pesadíssima (de domingo a domingo), torna-se impossível. Por isso recorro ao e-mail (lucianosiqueira@uol.com.br) ou convido amig@s a se comunicarem comigo pela fan page https://www.facebook.com/lucianoPCdoB. Ou pelo twitter @lucianoPCdoB. Importa não perdermos nosso contato, para que possamos estar sempre juntos. Tenham tod@s um ótimo domingo.

A força das palavras

O sentido exato das palavras: para quem as pronuncia e para quem as ouve. Palavras no tempo e no lugar. Quem as pronuncia precipitadamente ou de modo leviano; e quem as ouve preconceituosamente, sem lhes dá a devida atenção, protagoniza desencontros nem sempre fáceis de contornar. Assim é no amor, assim é na política. Na vida.

Ritmo

O domingo é de Aline Yasmin: “entre rimas alternadas/ora acelero/e peço pressa/ora - contemplo a madrugada”

O afeto entre a ciência e o cientista

Ciência Hoje Online:
O essencial é invisível aos olhos
O físico Adilson de Oliveira inspira-se no clássico ‘O pequeno príncipe’, do escritor francês Saint-Exupéry, para falar do afeto entre a ciência e o cientista. A astronomia é tomada aqui como exemplo para a exposição de sua tese.
. A citação, extraída do livro O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944), refere-se ao diálogo entre o príncipe e a raposa sobre como se tornam especiais aqueles que se cativam. O príncipe não sabia o sentido de ‘cativar’. Ele então descobre que um dos significados para o termo é ‘criar laços’, ‘fazer ligações’, ‘envolver as pessoas’. A raposa lembra que, quando cativamos alguém, esse alguém se torna diferente para nós e será sempre especial. No final da conversa, surge outra frase famosa: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”
. Da mesma forma, quando conhecemos bem a ciência, em particular a física, podemos compreender toda a sua beleza e nos tornamos cativados por elas.
. Leia o artigo na íntegra http://migre.me/gaynq

21 setembro 2013

Paulo Rosas, presente!

No 8º. Colóquio Internacional Paulo Freire, a honra de compor mesa com com os professores Osmar Fávero, Jorge Siqueira e Argentina Rosas em emocionada homenagem a Paulo Rosas.

Uma crônica minha para descontrair

 
Gastando muito? Corra ao endocrinologista
Luciano Siqueira

 
O amigo é consumidor compulsivo. Em viagem à China, comprou de tudo – pelo menos quase tudo do que lhe foi oferecido: gravatas, relógios “Rolex” de eficiência duvidosa, bolsas e apetrechos vincados como se de grifes famosas... e até prosaicos e muito úteis pares de meia.

Na viagem de volta, mil artifícios para acomodar utilidades e bugigangas na bagagem, de modo a não pagar excesso de peso – em dólares! Afinal, ao chegarmos ao Aeroporto dos Guararapes, juro que – exaurido e sonolento em razão das muitas horas de voo – o ouvi perguntar ao carregador, que se aproximava empurrando o carrinho de bagagens: “Quanto custa?” Mas testemunhas idôneas asseguram que tal não aconteceu, foi pura imaginação minha, talvez devido ao porre de consumismo que havia presenciado na longa viagem...
Pois bem. Essa coisa de consumir sem limites, uns dizem que é doença, outros acham que nem tanto, e muitos consideram reflexo da propaganda maciça na TV, que associa prazer e felicidade à aquisição dos mais variados bens – dos inalcançáveis barcos a vela e carros de última geração a perfumes, desodorantes, refrigerantes e uísques diversos.

Tem outra explicação, cientificamente embasada. Pelo menos é o que agora leio no Valor Econômico, em matéria assinada por Noemi Jaffe.  O cientista Dan Ariely, dedicado ao estudo do "comportamento econômico dos macacos" (sic), assegura que seres humanos também cometem "erros econômicos básicos", como "não agir em função do futuro e repetir nossos erros sempre da mesma maneira".

Está no livro "Eu Compro, sim! Mas a Culpa é dos Hormônios...", de Pedro de Camargo, onde se indica tratamento endocrinológico para a superação do irrefreável impulso de consumir.
Imagine. O cara chega ao consultório médico e, perguntado sobre o que o incomoda, sapeca de pronto: - Doutor, estamos muito doentes, eu e minha conta bancária. Não paro de comprar coisas e no final do mês não há renda que me impeça de operar no vermelho!
E o médico, por sua vez, após detalhada anaminese e rigoroso exame físico, solicita bateria de testes laboratoriais, com ênfase em dosagens hormonais. No retorno, o paciente sai com a prescrição do medicamento X, comprovadamente eficiente na cura da nova entidade clínica, conhecida como “síndrome da gastança”.

Tempo moderno!, diria minha avó Neném, que à sua época se espantava com tudo o que era novo, a partir mesmo do uso de calças compridas pelas mulheres, que ela nunca aceitou.

E a disputa no mercado? De um lado, varejistas apoiados em cada vez mais sofisticadas campanhas publicitárias destinadas a explorar, via estímulos visuais e sonoros, a secreção de hormônios que conduzem a vítima à primeira loja da esquina. Do outro, a indústria farmacêutica anunciando a última descoberta, um inibidor hormonal, capaz de curar o mais incontrolável comprador de quinquilharias. Uma guerra pra gente grande, sem dúvida.

É isso, minha avó: assim caminha a Humanidade! 
 

Filme pernambucano disputa Oscar

Jornal do Commercio:
"O som ao redor" é indicado do Brasil ao Oscar
Longa-metragem do pernambucano Kleber Mendonça Filho concorre a Melhor Filme Estrageiro
. O longa-metragem O som ao redor, do pernambucano Kleber Mendonça Filho, é o indicado pelo Governo brasileiro para concorrer à categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (20) pelo Ministério da Cultura (MinC).
. Sempre bem-falado, o filme, primeiro longa do crítico e diretor, já esteve entre os dez melhores filmes escolhidos pelo crítico do The New York Times, A.O. Scott. O nome de Kleber apareceu na mesma lista de Steven Spielberg e Quentin Tarantino. Entre muitos prêmios, O som ao redor também venceu como Melhor Filme no 3º Prêmio Cinema Tropical, dedicados a títulos da América Latina.
. O longa concorria à indicação junto a outros 13 trabalhos, como Faroeste caboclo e Gonzaga - De pai para filho. Agora, ele passará pelo filtro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos. A lista de finalistas ao prêmio será divulgada no dia 16 de janeiro.

Gangorra cambial

Real inverte posição e lidera lista de moedas que mais ganharam valor, informa o G1. Valorização foi de 5,21% frente ao dólar em setembro, diz estudo da CMA, empresa de tecnologia e informações financeiras. Em agosto, real havia sido a moeda com maior desvalorização, de 5,53%. Os dados foram compilados desde o inicio do mês até o dia 18 de setembro. São 31 moedas monitoradas.

Vivência

O sábado é de Angélica Lúcio: “Minha dor é molusco/e se faz de ostra:/sempre me enclausura.”

A vida do jeito que é

Raul Córdula
Luto em São José
Marco Albertim, no Vermelho

Há um vazio na Praça Dom Vital. O mercado São José não perdeu o frescor de sua pintura verde, conversa ruidoso com as copas de cada fícus no entorno da praça. O engraxate de barba rala, espreita os pés calçados de tênis de moços e meio-moços; com resignação, inda que com pesar. De dentro do mercado, o cheiro nunca sumido de carnes e pescados cortados embriaga; a primeira porção de tempero é urdida ali mesmo, no gosto e no juízo imaginoso dos marchantes.

Na esquina do Beco do Sirigado - o nome é tão só uma minúcia plástica - a prostituta se deixa espremer pelo ir e vir de moços e velhos. O pregão dos mascates sonoriza o tumulto que há em seu sexo, e expõe a fileira sinistra de dentes em sua boca. O vestido é tão desbotado que põe a nu a indiferença com o único nicho vazio da praça e do mercado.

Há uma semana ali estivera Joca (foto). Deixara de ser marchante, mesmo fuçando o bairro de São José como se estivesse desentranhando as sujeiras das unhas. Joca era miúdo e comprido, a cor pálida ele a absorvera sorvendo a liquidez gelatinosa do Rio Capibaribe. João Cristiano Gomes, 82 anos, nunca fora famoso; não tornou-se conhecido pelo nome do batistério; Joca Ganso por causa do comprimento do tronco, do pescoço; Joca do Batutas por ser da ala de compositores do bloco de frevo, desde sua fundação em junho de 1932; Joca do Batutas por ser responsável por música e letra do frevo Não deixem morrer Batutas. Ou Joca somente, o militante comunista que empunhara a bandeira vermelha ao lado de Gregório Bezerra.

No Pátio de São Pedro, onde o bloco fora fundado, as paredes brancas do Buraco do Sargento estampam uma dúzia de fotos com ele e confrades; ora segura um copo com cerveja, ora empunha o microfone e deixa luzir nos olhos a convicção de que o Batutas de São José sobreviverá ao capitalismo, dará boas--vindas ao socialismo. A gravata escura entre as abas do terno branco não destoa da indumentária, é o traço que acentua a opção que fizera por uma mulher negra; com Maria na única casa de sua propriedade, em Pau Amarelo, junto a um córrego que ora deságua no mar, ora se deixa encher para compor a trilha sonora sob a qual ele e a negra de linhagem banta coitaram para gerar vinte e dois mulatos pardacentos.

Não tivera a vocação para causídico, abandonando a faculdade ao fim do primeiro ano letivo; e logo entrou para a ensinar frevo ao povo de São  José, onde Solano Trindade se fizera poeta, poeta negro e comunista. Compôs tanto frevo, sem o cuidado de juntar a obra à matriz que a gerara, certo de que frases sem afetação são como fotos em preto e branco - atiçam a memória, documentam o episódio.

Não só a ala de compositores do Batutas empobreceu. São José está com frio no mês de setembro. As chuvas não previstas choram no cenário agora mais cinzento, tão ou mais desde a demolição da Igreja dos Martírios; da igreja e do casario no mesmo feitio barroco. Ele chorou  a morte de Gregório Bezerra, encheu-se de orgulho por ter ouvido do panelense - O que eu tenho medo é de ter medo.

O espectro de Joca ronda as entranhas de São José; não pela memória de seus moradores, porquanto os domicílios ruíram pondo fim a sua  memória; não pela memória sem memória da prostituta, filha bastarda do Recife; mas na lembrança sumida do engraxate, também enxotado do bairro e hoje oculto no Córrego do Abacaxi; por certo também no boxe em cuja pedra o compositor cortara a carne para dar vida a seus frevos. Mais ainda, na cadeira vazia do Cais de Santa Rita, onde a ala de compositores a preserva certa de que a cada carnaval, ele se imortaliza.

Direito de navegar livremente

PCdoB divulga análise sobre Marco Civil da Internet

A Secretaria Nacional da Questão da Mídia do PCdoB vem acompanhado o Projeto de Lei do Marco Civil da Internet (PL 2126/2011) desde a sua criação em uma plataforma colaborativa, chegando a receber mais de duas mil contribuições da sociedade civil. Interesses de poderosas corporações econômicas estão "desfigurando" o texto original. Para preservar o direito de navegar livremente pela rede, a Secretaria enviou uma análise do PL à Presidência e a bancada do PCdoB na Câmara dos Deputados.

Existem pontos centrais que balizam o PL com o objetivo de manter a liberdade na internet e impedir que ela seja apropriada pelas empresas de telecomunicações – as telecoms ou teles – e que não devem ser alterados: neutralidade de rede (artigo 9º); retirada de conteúdos protegidos por direito autoral (parágrafo 2º do artigo 15); privacidade e proteção de dados. Além disso, diante das denúncias de espionagem há seguimentos propondo a obrigatoriedade de armazenamento de dados em data centers no Brasil, medida que na opinião do documento é ineficaz.


"As duas primeiras questões foram até o momento as principais fontes de tensão, que impediram o projeto de ser colocado em votação. As duas últimas, surgiram principalmente após as denúncias de espionagem, mas não são públicas, ainda, as propostas concretas de redação para estes itens, portanto teceremos apenas comentários gerais sobre estes", diz um dos trechos do documento.

De acordo com o documento, é preciso estar atento ao que de fato motivou a publicação do regime de urgência, no Diário Oficial da União, na sexta-feira (13). Estar na ordem do dia "não significa que foram solucionados os impasses no interior do governo e entre os vários segmentos interessados diretamente nesta discussão: empresas de telecomunicações, grandes provedores de conteúdo, aplicações e serviços da internet, indústria do copyright – em particular aqui as empresas de radiodifusão – e os vários setores que fazem este debate nos movimentos sociais, universidades e outras organizações da sociedade civil".

Os prazos para a reta final da tramitação do PL 2126 são: os deputados têm o prazo de 5 sessões ordinárias – a contar do dia 13, para apresentar emendas de Plenário ao projeto; a votação do Marco Civil deve ocorrer até no máximo o dia 27/10/2013. Se isso não ocorrer o PL 2126/2011 passa a trancar a pauta da Câmara; depois de votado na Câmara, o projeto tem mais 45 dias para ser apreciado no Senado, caso contrário tranca a pauta para a aprovação de outras matérias.

Neutralidade

A neutralidade da rede é um dos pilares do Marco Civil, para garantir que a internet continue da mesma forma como a conhecemos hoje: livre. "A neutralidade de rede é a garantia de que as empresas de telecomunicações – que oferecem conexão à internet – não possam tratar de forma diferenciada os pacotes de dados (conteúdos, aplicações e serviços) que trafegam na rede. Ou seja, quem fornece a conexão não pode distinguir a velocidade e qualidade com o qual determinado pacote circula", defende o documento da Secretaria da Questão da Mídia, assinado pela comunista Renata Mielli, que lembra que "este tem sido o principal embate no interior do governo, entre a sociedade e as empresas de telecomunicações". Ela lembra que, por se tratar do "coração do projeto", "de nada adianta perder aqui e ganhar nos outros". Por isso reforça: "Não importa se é o download de um vídeo, uma transação bancária, um upload de música, um acesso à rede social, uma mensagem de e-mail, ou uma conexão de voz por IP. Este princípio é o que garante que a internet seja neutra e, portanto, um ambiente de colaboração, descentralizado e criativo".

O principal objetivo das teles em alterar esse princípio é claro que é o lucro, ampliando as "possibilidades de modelos de negócios e terem maior opções de pacotes para ofertar aos usuários, aumentando a capacidade de ganhos e reduzindo a obrigação de ampliação das suas redes de infraestrutura".

Para impedir a censura

"O Marco Civil da Internet é uma carta de princípios, que prevê direitos e deveres para o uso da internet no Brasil. A discussão em torno da publicação de conteúdos e de sua retirada do ar é um aspecto central para equilibrar direitos e deveres de quem presta o serviço nas suas mais variadas camadas e de quem utiliza a rede", esclarece o texto.

O texto original do PL define que o provedor de aplicações de internet só poderá ser responsabilizado pelo conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial determinando a retirada deste conteúdo, ele permanecesse no ar. As contribuições que criticavam este dispositivo o faziam a partir de argumentos variados, entre eles a judicialização do assunto, num cenário em que a Justiça não está preparada e não tem as diretrizes para julgar estes temas; parte considerável da população não teria instrumentos para solicitar, via judicial, a retirada de determinado conteúdo que considere infringente; como garantir os direitos autorais de conteúdos protegidos e postados por terceiros tendo como foco o direito de autor propriamente dito e o forte lobby da indústria de copyright envolvendo os direitos autorais.

"Sobre os pontos 1 e 2 há que se reconhecer que é preciso definir claras diretrizes para que o Judiciário atue neste campo. Contudo, reconhecer a deficiência existente não retira a validade do princípio. Já que sem a previsão explicita de notificação judicial, o que valeria é o notice and take down – ou seja, retirada apenas mediante notificação sem qualquer mediação, um verdadeiro ataque à liberdade de expressão", alerta a secretaria.

O relator da matéria, o deputado Molon, alterou o texto original do caput do artigo 15 que trata do assunto, fazendo pequenos ajustes, mas mantendo a necessidade de ordem judicial para que o provedor de aplicações seja responsabilizado civilmente pela manutenção de conteúdo gerado por terceiros. Mas, o relatório incluiu uma preocupante exceção a esta regra no 2º parágrafo deste artigo: "O disposto neste artigo não se aplica quando se tratar de infração a direitos de autor ou a direitos conexos". Ou seja, a exceção "beneficia explicitamente a indústria de copyright e afeta de forma impactante a liberdade de expressão na internet. Porque somente com uma notificação, oriunda de qualquer pessoa ou parte, um provedor pode retirar um conteúdo postado do ar se a alegação for violação do direito autoral. Sem que haja o direito ao contraditório, ou obrigação de ouvir a pessoa responsável pela postagem. Sem qualquer trâmite legal".

Mas quem de fato está interessado nesse ponto? Sabe-se que essa briga não é para proteger o artista, pelo contrário, o compartilhamento de seu trabalho na internet tem sido fonte de renda e reconhecimento. É preciso apontar as empresas que estão intereferindo diretamente no texto para se beneficiar. A Rede Globo é uma delas, que quer impedir, por exemplo, a disseminação do vídeo do SPTV, cujo estúdio foi alvo de um protesto de militantes da comunicação que usaram um laser verde para  invadir a programação da emissora. "E, mais que isso, é uma briga entre produtores de conteúdo e o Google. E nesta briga e jogo de interesses quem perde é a liberdade de expressão e o usuário", avisa o documento.

Da Redação do Vermelho com Secretaria da Questão da Mídia do PCdoB

Leia a íntegra do documento e entenda melhor porque é preciso defender o texto original do Marco Civil ou "ajustes" somente "no sentido da melhoria do texto, mas sem alterar sua inspiração inicial":

Download Análise dos pontos polêmicos do Marco Civil da Internet

20 setembro 2013

Tabuleiro de xadrez

Em tão ampla e heterogênea coalizão, a que dá sustentação ao governo Dilma, natural que surjam discrepâncias e entrechoque de projetos. Mais ainda quando se aproximam eleições gerais em um país imenso e multifacetado regionalmente. Contradições não significam necessariamente crise. Desde que haja paciência, bom senso e capacidade de entendimento em função dos objetivos maiores ditados pelos interesses da nação e do povo.

Sempre

A sexta-feira é de Carpinejar: “Um pouco de nosso amor/será póstumo./É recomendável/não descobrir todos os segredos.”

Luta renhida

Hoje, o que caracteriza a transição em curso no Brasil é a luta entre o neoliberalismo que persiste e o novo desenvolvimento nacional que emerge. A correlação de forças é definida pelo embate entre a continuidade determinada pelo status quo conservador e a transformação aspirada e empenhada pelo impulso mudancista de sentido democrático, patriótico e progressista. E há uma particularidade e uma vantagem da atual transição brasileira: ela faz parte de um movimento da América Latina. E isto estimula, facilita, reforça e acelera seu progresso. (Tese 1 ao 13º. Congresso do PCdoB).

Partido e transição

Kandinsky
Transição ao Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento e Partido – Atuais desde Lênin
Nilson Vellazquez

Começo este texto dizendo que, em 1989, ano da queda do Muro de Berlim, ainda tinha dois anos, portanto, não trago lembranças dos episódios marcantes da história da luta dos povos oprimidos, da classe trabalhadora, em prol de uma sociedade socialista.  Para açodar o que digo, preciso deixar clara o quão devastadora foi a queda dos Regimes Socialistas, na Rússia e Leste Europeu. Sendo assim, proponho-me a uma análise, tendo como ponto de referência 3 artigos publicados por João Amazonas logo após esse período: A Teoria Enriquece na Luta por um Mundo Novo; Capitalismo de Estado na Transição ao Socialismo; e Força Decisiva da Revolução e da Construção do Socialismo.

Parto desses três textos para afirmar que um dos grandes legados que o líder João Amazonas deixou a todos os comunistas do Brasil foi uma profunda e perspicaz análise dos erros e acertos constituídos na tentativa de edificação da sociedade socialista no período soviético. Arrisco-me a dizer, então, ou mal resumir que, 1) a crença de que o Socialismo será construído pela vontade dos homens apenas, sem respeitar as leis objetivas da sociedade e posteriormente, 2) a falta de atualização da teoria revolucionária – coisas que se coadunam – levaram à degenerescência da experiência do socialismo real.

Faço essa relação porque, num mundo tomado pela euforia capitalista pela derrocada do Socialismo e decepção da esquerda mundial, algumas coisas passaram longe da análise de que, como diz Amazonas, o desenvolvimento da ciência não é retilíneo e que a crise do Socialismo tem, na verdade, sua origem na degenerescência do Partido e seu ápice no revisionismo, a partir da década de 1950. Mesmo assim, com todos os problemas da construção do Socialismo na URSS, como a repressão política e ideológica; a concentração de poderes e as diferenças entre teoria e prática – gerando desafios econômicos, como desenvolver o país tecnicamente para o momento que vivia; no plano político, com a questão da democracia socialista e o modelo de estado cujo sistema jurídico-institucional deveria ser para todos os trabalhadores -, o Socialismo russo tirou o país do atraso. Para se ter ideia, em 1925, dois terços da produção do país vinha da agricultura e apenas um terço da indústria. Em dois anos a indústria elevou sua participação para 42%. Num país agrário, cuja fome assolava parcela considerável da população, a coletivização da agricultura multiplicou por 10 a produção de cereais. Alguns números são marcantes: a média anual de crescimento industrial da URSS chegou a ser 20%, enquanto nos países capitalistas, 0,3%; o número de operários cresceu de 3,8 milhões para 10. Ou seja, o Socialismo colocou a Rússia num novo patamar.

Os erros cometidos no curso da experiência soviética partem, em grande proporção, dos desvios na concepção marxista de partido que ocorreu em vários países da URSS. Segundo João Amazonas, a maioria dos partidos comunistas se afastou do leninismo e perdeu sua independência ideológica. Com o advento do Revisionismo, vários partidos tornaram-se partidos de reforma, aliados da burguesia, do imperialismo. Poucos resistiram e mantiveram sua independência organizativa, política e ideológica. Vários extinguiram-se ou reduziram-se a pequenos grupos inofensivos socialdemocratas.

Além disso, o liberalismo foi outro fator importante na degenerescência do partido leninista, fruto de um desvio burguês, opondo-se ao centralismo democrático.

Contudo, reconhecer e retomar conceitos trabalhados por Lênin no que concerne à transição ao Socialismo recupera o ímpeto revolucionário e fazem os comunistas reconhecerem com mais clareza e firmeza de objetivos os caminhos a serem tomados. Para combater, de um lado, o oportunismo revisionista, de outro, o esquerdismo, Lênin reconhecia que, mesmo a vanguarda “passando diretamente ao socialismo”, uma grande parcela da população não estava realizando essa transição, e que para realizá-la plenamente era preciso utilizar recursos e instrumentos intermediários para a passagem das relações pré-capitalistas ao socialismo. Por isso, formulou a teoria do Capitalismo de Estado. Portanto, com o poder político nas mãos dos trabalhadores, era preciso desenvolver o capitalismo num país atrasado como a Rússia. Para isso, Lênin formulou várias questões sobre as concessões no estado socialista; o mesmo afirmava que não havia perigo, pois “absurdo seria entregar a maioria das propriedades. Isso já não era concessão, mas um retorno ao capitalismo”. E proclamava: “Que a pequena indústria privada se desenvolva até certo grau, e que se desenvolva o capitalismo de Estado – o poder soviético não deve isso temer”.

Para João Amazonas, essa análise acertada de Lênin parte do fato de que ”a revolução não ocorre na Idade da Pedra, mas em estágio superior do desenvolvimento da sociedade. O capitalismo atingiu parâmetros elevados na produção dos bens materiais. O socialismo não pode ficar atrás. Tem de construir algo melhor e superior ao sistema capitalista. Contudo, não reúne inicialmente as condições necessárias para isso. Tampouco poderá fazê-lo arbitrariamente, fugindo às etapas que se impõem.” Portanto, desenvolver o Capitalismo de Estado e garantir o desenvolvimento das forças produtivas é essencial para realizarmos as transições ao socialismo.

Essas transições, para cumprirem o papel civilizacional que podem cumprir, devem ter como condutores a classe trabalhadora. Por isso, o essencial é o poder nas mãos do proletariado, sem o qual, aí sim, o Capitalismo serviria à burguesia. No Brasil, realizar as condições para uma transição a um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento é, em certa medida, retomarmos conceitos como o de Capitalismo de Estado, no qual o poder pertence aos trabalhadores e não ao Capital. Cabe, então ao Brasil, realizar essas transformações naquilo que entrava a realização plena do nosso desenvolvimento através da garantia das reformas democráticas e, principalmente, dando a “cotovelada” que precisamos dar no Capital, que diuturnamente tenta impedir o salto civilizacional de que o país precisa. Sendo assim, avançar nas mudanças, garantindo mais desenvolvimento e elegendo um projeto popular e democrático que tenha como centro de atuação o trabalho é essencial para nossa luta. Façamos avançar!

19 setembro 2013

Reforma microscópica

A mini reforma política que o Senado aprovou e a Câmara se apressa a votar está longe de democratizar a legislação eleitoral. É mini sob todos os aspectos. Cuida de detalhes e escamoteia o principal: financiamento público de campanha e votação em lista preordenadas pelos partidos para os postos legislativos.

Paranóia psicossocial

Vampiros e alienígenas
Eduardo Bomfim, no Vermelho

 
O episódio em que Aaron Alexis, veterano de guerra norte-americano, matou 13 pessoas com um fuzil metralhadora ferindo várias outras em Washington, a poucos quilômetros da Casa Branca, tornou-se uma rotina macabra que se instaurou na sociedade americana.

Expondo os efeitos colaterais à manutenção de um império que se estende por todo o planeta com seus exércitos de ocupação, pelos altos investimentos na desestabilização de várias regiões como na África, Oriente Médio, Ásia, sofisticadas estruturas de espionagem dos cidadãos pela rede mundial de computadores ou através da grande mídia global em uma hegemonia incontestável.

Uma potência que exporta ao mundo sua própria versão sobre democracia, economia, geopolítica já que o “excepcionalismo (constitucional) de nação escolhida por Deus” manifesta que os valores da humanidade devem ser obrigatoriamente à sua imagem e semelhança.

Com a queda do muro de Berlim os Estados Unidos, e a Grã Bretanha, passaram a conduzir as diretivas do capital internacional formatando uma “nova ordem mundial” de acordo com os imperativos da acumulação, centralização do capital financeiro sob a batuta da doutrina neoliberal.

Além disso, os EUA contam com outro forte instrumento ideológico a indústria de Hollywood que, com exceções, produz uma enxurrada de películas, jogos de guerra, séries televisivas que espalham ao mundo a ideologia da elite financeira global, do establishment norte-americano.

O ex-agente da CIA Chalmers Johnson mestre na Universidade da Califórnia afirmou que os EUA estão mergulhando em um estágio de paranóia psicossocial que ele definiu como “blowback” espécie de tiro pela culatra resultante de inúmeras agressões militares mundo afora.

Tendo “visões de inimigos horríveis, reais ou imaginários, e o maior sintoma desse delírio patológico é a profusão de filmes sobre duendes, monstros tremendos, sociedades paralelas de vampiros, alienígenas rondando os Estados Unidos” onde realidade, ficção se confundem esquizofrenicamente.

Os efeitos desses transtornados fenômenos sociológicos são repassados às demais nações, ao Brasil como extensão da crise interna da sociedade americana sinalizando que a luta passa pela defesa intransigente da nossa identidade cultural, a emancipação social, soberana do povo brasileiro.

Suave é a noite

Música e poesia em fim de noite: Gal Costa e Djavan - Pela luz dos olhos teus http://goo.gl/vFcgti

Discernimento e habilidade tática

A força e o jeito
Luciano Siqueira

Publicado no portal Vermelho www.vermelho.org.br

Em política, ter força é fundamental. Óbvio. Mas é preciso jeito para o bom uso da força. Vale para quem governa e para quem se coloca na oposição.

O jeito de fazer as coisas, ou seja, de se conduzir na cena política, tem tudo a ver com a justa avaliação da correlação de forças e com uma postura tática consequente. Em todas as esferas da luta - da guerra militar às porfias cotidianas da política -, incontáveis são os exemplos de uso inadequado da força que se presume ter ou que efetivamente se tinha, resultando em fracassos muitas vezes surpreendentes.

No Brasil, há exemplos emblemáticos. Na Insurreição Pernambucana, contra a ocupação holandesa (1645 a 1654), na Batalha dos Guararapes, Francisco Barreto Menezes, Henrique Dias e André Vidal de Negreiros, lideraram uma epopéia em que a astúcia e a capacidade de manobrar em situação adversa, possibilitaram aos insurretos vencer o poderoso exército holandês, de contingente muito mais numeroso, munido do que havia de mais moderno em armamento à época, fortalecido por vitórias obtidas em outras terras - porém treinado para a guerra de posição, em terreno plano. Atraído para área acidentada e semi-encoberta pela mata, surpreendido por emboscadas típicas da guerra de guerrilhas, o mais forte perdeu para o mais fraco.

Em pelejas eleitorais, no passado e em tempo recente, situações que inicialmente se apresentavam previamente definidas tiveram desenlace inverso, justamente pela capacidade tática de forças inicialmente em desvantagem, e pelo comportamento precipitado, extemporâneo ou presunçoso das que partiram em vantagem.

Estamos a pouco mais de um ano das eleições gerais de 2014, que terão como cerne a disputa presidencial, por si mesma fator de tensão e até de instabilidade institucional, ao longo de nossa breve história republicana. O poder local também tem essa característica. Em Pernambuco, por exemplo, desde a República Velha, quando Dantas Barreto e Rosa e Silva chegaram a trocar tiros na disputa pelo Palácio do Campo das Princesas, ao tempo presente, em geral ocorrem disputas acirradas.

Portanto, renhidas batalhas simultâneas darão o formato e o ritmo do que acontecerá no ano que vem. Daqui até lá, toda atitude precipitada pode resultar em prejuízos irrecuperáveis no futuro. Isto porque o cenário ainda está por se configurar, sob a influência de muitas variáveis – umas poucas postas, a maioria ainda em gestação.

O fato concreto e irrecusável é que estarão em disputa dois rumos para o País: o que vem sendo trilhado há uma década, desde o início do primeiro governo Lula; e o que soçobrou no pleito de 2002, encerrando o ciclo neoliberal. De um lado e do outro se organizarão as forças presentes na cena política. Podemos até ter múltiplas candidaturas, mas a linha demarcatória estará nítida. Quem tem força ou supõe que pode conquistá-la no transcorrer da peleja, há de situar-se no lado que lhe cabe e não perder o rumo – porque por mais que se o subestime, o eleitorado brasileiro tem amadurecido e sabe distinguir as coisas.

A poeta sabe

A quinta-feira é de Olga Savary: “A noite não é tua/mas nos dias/—curtos demais para o vôo —/amadureces como um fruto.”

Futebol no fio da história

Portinari

De chaleira, como antigamente
Luciano Siqueira

Antigamente, no caso, faz bastante tempo mesmo: anos cinquenta do século passado, na Lagoa Seca, em Natal, campo do Tremembé, onde transcorriam partidas que valiam por uma final de Copa do Mundo. Em nossa imaginação de meninos.

A rigor, nem posso dizer que fazia parte dos jogos no Tremembé, pois foram poucas as vezes que pisei naquele chão meio areia solta, meio barro batido. Meu pai admitia tão somente tímidas peladas na própria rua onde morávamos, a São João, esquina com a Alberto Silva (“para evitar as más companhias”). Ali, em reduzido espaço, a gente se sentia no Maracanã, disputando autênticos clássicos no barra-a barra com bola de meia. 

Mas o Tremembé é que era mesmo o nosso Maracanã. E ali, numa barra feita por dois paus na vertical e um cordão grosso fazendo as vezes de travessão, defendi um pênalti quase por milagre – para alegria da galera; e também, na mesma partida, engoli um frango decepcionante. Por debaixo das pernas, falha capaz de por abaixo a reputação dos melhores goleiros da região. Eu era apenas sofrível.

A proibição de frequentar o Tremembé o tornava objeto de fascínio. Certa vez, vindo de uma aula particular de matemática com um jovem professor que, se não me engano, se preparava para ingressar no Colégio Militar do Recife, parei para assistir o final de um jogo eletrizante. Estava empate e a torcida era grande, nervosa, parece que rolava aposta em dinheiro, coisa assim. Minha irmã Socorro, que nada entendia de futebol, me viu à distância por trás da barra e deduziu que eu teria matado a aula para tomar parte na peleja. Resultado: me denunciou em casa e terminei levando uma surra de minha doce mãe Oneide, que raramente nos batia em reprimenda por alguma falta considerada grave. 

Essa surra doeu muito, mais moral do que fisicamente, por se tratar de uma imensa injustiça. E eu que gostava mesmo de estudar, no dia seguinte resolvi cometer o pecado pelo qual pagara, sem razão, na véspera. Talvez o primeiro marco da minha índole rebelde, que anos depois me levou à militância no movimento estudantil.

Mas, por que hoje, mais de cinco décadas passadas, me vem à memória lances de modestas peladas? Porque acabo de ver na TV um gol de chaleira feito por Nilton, meio campista do Cruzeiro de Minas Gerais, contra o Botafogo do Rio de Janeiro. Batido o escanteio, fez-se o bolo de jogadores dentro da área, aquele agarra-agarra onde vale tudo e o juiz nunca dá pênalti, e a bola sobrou para Nilton, que bateu meio sem jeito, quase com o calcanhar, um tanto desequilibrado. Exatamente a chaleira do meu tempo de menino. Um gol espetacular, sonho de qualquer atacante naquele tempo.

A chaleira tinha tanta importância no imaginário da turma da Lagoa Seca, que ficávamos a tecer lances incríveis protagonizados pelos craques da seleção brasileira, Zizinho, Ademir e outros tantos, destaques nos álbuns de figurinhas e nos sonhos da meninada.

O tempo passou, já nem me lembrava da preciosa chaleira, até que nesse Cruzeiro X Botafogo o Nilton me vez reviver a infância. Grande Nilton! Feliz meu tempo de menino! Viva as peladas de rua! Viva o bom futebol brasileiro!

18 setembro 2013

Inspiração

Música e poesia para inspirar a noite: Paula Lima “Só tinha de ser com você” http://goo.gl/sKJUae 

Unir para avançar

“...para o passo adiante, com mudanças de fundo, para que se complete a transição rumo a um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, na concepção programática do PCdoB – os desafios são ainda maiores; o que exigirá grandes embates políticos. As grandes manifestações juvenis e populares de junho soaram como alerta de que as conquistas, uma vez iniciadas, precisam rapidamente avançar. Para que o povo vença esses grandes confrontos, cresce a exigência e ganha corpo a justificada aspiração de que a elas se agreguem as correntes políticas, as lideranças atuantes em várias legendas, as personalidades de diversos setores da sociedade. Enfim, que se unam todos quantos tenham compromisso e afinidade com as bandeiras da esquerda, em contraposição às tendências conservadoras e retrógradas da sociedade atual.” (Da Tese 1 ao 13º. Congresso do PCdoB).

Diretriz

Aprendemos com João Amazonas: não devemos jamais nos deixar isolar; construir as alianças possíveis e persistir sempre na defesa dos interesses fundamentais do povo e a Nação. Com os pés no presente, mirando o futuro socialista. 

Destino

A quarta-feira é de Tarciana Portela: “pela janela aberta/o que é sina/se debruça”

Conquistas sociais significativas

Um dado significativo da última década
Luciano Siqueira

Publicado no Blog de Jamildo (JC Online)
 
Certamente por muitos ângulos se deve examinar a última década em nosso País – desde que a eleição de Lula, em 2002, interrompeu o reinado neoliberal, patrocinado por FHC, aos dias atuais. Em que medida o Brasil vem se afirmando, no concerto internacional, como nação soberana? Como tem sido possível melhorar nossa débil e distorcida democracia? Qual a dimensão das conquistas sociais alcançadas.

Nesse último aspecto, vale anotar conclusões de pesquisa recente do Ipea que aponta uma redução em 19,3%, da vulnerabilidade das famílias brasileiras, no período.

Considerando informações dos censos demográficos de 2000 e 2010, o Ipea atesta que há dez anos a vulnerabilidade era de 0,305, enquanto que em 2010 caiu para 0,246.

Segundo os pesquisadores, o acesso ao trabalho (29,4%) e aos recursos financeiros (36,2%) se destacam entre os seis componentes do índice geral, com maior peso na redução média nacional. O item desenvolvimento infanto-juvenil diminuiu em 16%.

Por outro lado, com desempenho negativo aparecem as condições habitacionais (-13%) e o acesso ao conhecimento (-11,9%).

Ainda que aqui não se aprofunde a análise (que pode ser feita através do estudo detalhado de nota técnica do Ipea a respeito, no site www.ipea.gov.br), é possível sublinhar, a partir dos indicadores mencionados, o inegável avanço na melhoria da qualidade de vida da população, lastreada na enorme expansão do mercado de trabalho e na efetiva valorização da renda dos trabalhadores.

No polo oposto, o registro das condições habitacionais, que são precárias para contingente enorme das famílias, assim como o padrão de escolaridade ainda muito aquém das crescentes demandas que acompanharam, no período, o incremento das atividades econômicas.
 
O fato, entretanto, é que os dados aqui mencionados são uma espécie de ponta do iceberg em sentido positivo, subproduto da combinação entre crescimento econômico e inclusão social, que vem caracterizando o Brasil (e alguns países da América do Sul), na contramaré da regressão social que se verifica no EUA e na Europa, atolados em crise sistêmica.

Mesmo no difícil ano passado, a economia semiestagnada operou com taxa de desemprego pouco acima de 5% - o que tecnicamente se pode considerar pleno emprego para muitas categorias -, em tremendo contraste com o que ocorre agora nos países capitalistas centrais.

Dados inquestionáveis, portanto, que instigam uma análise cuidadosa e multilateral, para que se compreenda o processo de mudanças em curso no País, sujeito a avanços e a retrocessos em meio à penosa transição da ordem herdada de FHC para um novo projeto de desenvolvimento.