30 junho 2006

Lula: "Contem com o meu carinho"

Coube ao vice-presidente nacional do PCdoB, deputado Renildo Calheiros (PE), que presidiu o ato político de encerramento da Convenção Nacional, ontem, em Brasília, ler a mensagem de Lula à Conferência. Eis a íntegra do documento:

“Prezado companheiro Renato Rabelo,presidente do Partido Comunista do Brasil.

Meu caro Renato,

Neste dia em que o nosso querido PCdoB realiza sua Convenção Nacional, quero transmitir a você, aos dirigentes nacionais e regionais e a cada militante aqui presente meu afetuoso abraço e minha saudação mais fraterna.

Tenho orgulho do caminho que juntos temos percorrido ao longo de tantos anos. Tenho orgulho e alegria em ter contado com a parceria do PCdoB, de sua valorosa militêwncia e de sua corajosa direção no enfrentamento das grandes questões que a construção de uma nova sociedade nos tem colocado neste período.

O governo que tenho a honra de presidir neste momento deve muito ao PCdoB. Seja pela sustentação valorosa de sua militância, seja pea atuação dos seus parlamentares – e aqui permitam destacar o papel fundamental exercido pelo nosso querido deputado Aldo Rebelo --, seja pelo desempenho exemplar dos ministros que têm servido a este governo, como o ministro Orlando Silva, o companheiro Agnelo Queiroz e o próprio Aldo Rebelo.

Agora um novo desafio, uma nova etapa se coloca em nossas vidas: as eleições de outubro de 2006, e, esperamos, um novo mandato. Neste desafio, a tarefa de ampliar e consolidar o projeto que iniciamos em 2003. Neste desafio, a tarefa de impedir que nosso país e nosso povo sofram com uma volta ao passado. Neste desafio, a tarefa de estabelecer de forma segura e indestrutível novos direitos e uma nova dignidade para a nossa gente, particularmente aos que até hoje foram marginalizados e excluídos em nossa sociedade.

Por isso a minha satisfação e minha alegria em acolher a decisão generosa que neste momento oe senhores tomam de seguirmos juntos nesta nova etapa. Mais do que nunca é necessária nossa unidade. Mais do que nunca, o Brasil precisa de nossa maturidade e de nossa generosidade.

Quero terminar essa breve mensagem, meu caro Renato, agradecendo a você, à direção do Partido e a cada uma e cada um de seus militantes e simpatizantes o apoio, a camaradagem, e, particularmente, a fidelidade da amizade nas horas mais difíceis que passamos nestes duros tempos de provação. Reafirmo minha disposição de seguirmos juntos, companheiros da mesma jornada e das mesmas causas, repartindo o pão de nossos sonhos, de nossas lutas e das realizações, que, tenho certeza, já começam a tornar e tornarão ainda mais justa e feliz a vida de nosso povo.

Contem com meu respeito, meu carinho e minha mais profunda admiração.

Luiz Inácio Lula da Silva.”

Missão histórica


“A homologação da candidatura Lula para um segundo mandato é o começo de uma nova etapa, que resulta daquilo que se construiu até agora e permite, para diante, o avanço da transição a um projeto nacional de desenvolvimento com distribuição de renda, valorização do trabalho e integração continental.

O primeiro mandato, superando a difícil situação herdada do governo de FHC, criou as condições para vingar a construção do novo projeto. Por isso, o segundo mandato se impõe a fim de se alcançar a concretização desse projeto, impedindo a sua descontinuidade e a volta das forças conservadoras, capitaneadas pelos tucanos.” (Trecho do discurso de Renato Rabelo, presidente do PCdoB, na Convenção Nacional Eleitoral do Partido, ocorrida ontem, 29, em Brasília).

Política pode rimar com festa

Pode, sim. Em certos momentos – como o de hoje à tarde-noite, no Clube Internacional, quando a coligação Melhor para Pernambuco, reunida em torno da chapa Humberto Costa-Augusto César-Luciano Siqueira, celebrará com festa a consolidação da unidade entre os partidos que a integram. Num clima de alegria, a começar pelos jingles dos candidatos ao governo estadual e ao Senado. Vale comparecer.

"Uma pontinha de inveja"


O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Resende, que integra o PSB, ao se pronunciar na Convenção Nacional do PCdoB, confessou estar “com uma pontinha de inveja”. “O meu partido, por contingências diversas, acabou por não fazer isto”, disse. O PSB suspendeu a Convenção Nacional que havia convocado para esta quarta-feira (28), optando por um apoio não-formal à reeleição.

29 junho 2006

A palavra dos movimentos sociais


O Projeto Brasil, que a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) encaminhou ao presidente Lula, ontem (quarta-feira), em Contagem, MG, constitui uma importante contribuição ao debate acerca dos rumos do desenvolvimento do país. O documento reivindica a redução da taxa de juros, o crescimento econômico com distribuição de renda, mais investimento nas áreas sociais e uma participação efetiva da sociedade nas grandes decisões políticas.

Amigo e bom companheiro

Ter o deputado Jorge Gomes (PSB) como concorrente no pleito para o Senado é uma honra. Sério, ético e competente, Jorge certamente qualificará o debate. Somos amigos e companheiros de luta desde 1967, quando ambos integramos o Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da UFPE.

Comparações e bola pra frente

Têm razão o presidente Lula e os partidos que o apóiam em comparar os três anos e meio do atual governo com os oito anos de Fernando Henrique Cardoso. O contraste é imenso, com larga e insofismável vantagem para Lula. Tanto que o candidato tucano, Alckmin, parece fugir disso – precisamente pela consciência de que a polêmica lhe é desvantajosa.

Outro dia, falando para funcionários públicos municipais, registrávamos algumas diferenças marcantes entre os dois governos quando alguém da platéia soltou o comentário bem ao gosto de nossa gente: “Assim é covardia, prefeito. É o mesmo que comparar Jesus Cristo com Zé Buchudo.”

E é mesmo – dos indicadores macroeconômicos aos programas sociais, passando por medidas estruturadoras como a nova política industrial, o fortalecimento e a expansão das universidades federais, que se interiorizam.

Porém não basta fazer comparações. É preciso ir mais adiante, tocar a bola pra frente, indicando um novo descortino para o desenvolvimento do país, com distribuição de renda e valorização do trabalho. E é aí que se salienta o papel dos partidos políticos que apóiam o presidente. A eles cabe justamente a análise o quanto possível racional do desempenho do governo nesses três anos e meio, cotejando inegáveis avanços e erros, falhas e deficiências. Especialmente no que concerne ao nível e ao padrão do crescimento econômico, que ainda se dá a taxas baixas quando comparadas com a média mundial.

Em outras palavras, cabe aos partidos ajudarem o presidente Lula a dar nitidez ao projeto de governo, no sentido de avançar no rumo das mudanças num provável segundo mandato.

O PCdoB faz a sua parte ao aprovar hoje, em Convenção Nacional, uma resolução a ser encaminhada a Lula, contendo proposições nessa direção.

Os comunistas sugerem que o plano do novo governo fixe com clareza metas e caminhos ousados de crescimento, de investimento e de geração de empregos. E indicam a necessidade, por exemplo, de progressiva e consistente redução das taxas de juros reais; diminuição do peso da dívida pública e da dimensão exagerada dos superávits primários como pré-requisitos da recuperação da capacidade de investimento do poder público, da ampliação do mercado interno e do estímulo a novos investimentos privados em segmentos dinâmicos da economia.

Este é um tema irrecusável na campanha eleitoral – para a formação de uma forte vontade desenvolvimentista na sociedade brasileira. (Coluna semanal no portal Vermelho www.vermelho.org.br. Texto publicado hoje, 29 de junho).

Renildo entre os deputados mais influentes


O Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) divulgou hoje a edição 2006 da lista dos 100 parlamentares mais influentes do Congresso. Conforme noticia o Vermelho (http://www.vermelho.org.br/), o PT continua sendo o partido com maior número de cabeças (22) no legislativo federal. Mas, proporcionalmente, é o PCdoB quem se destaca: metade da bancada comunista figura na lista. O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), volta à lista dos mais influentes após ter ficado fora enquanto ocupava cargos ministeriais. Além de Aldo, da bancado do PCdoB mereceram o destaque Renildo Calheiros (PE), Inácio Arruda (CE), Jandira Feghalli (RJ) e Agnelo Queiroz (DF).

28 junho 2006

Partido programático e uno


Longe de nós, os comunistas, qualquer laivo de presunção. Mas é importante anotar que, na hora do vamos ver, o caráter nacional, uno e disciplinado do PCdoB e a natureza estratégica da aliança firmada com o PT desde 1989 pesam decisivamente para que a coligação em torno da candidatura de Lula à reeleição se dê formalmente. Isso num país cuja história institucional sempre foi marcada pela existência de partidos políticos efêmeros, conjunturais e não-programáticos, características que os deixam, em geral, ao sabor das circunstâncias e das conveniências locais, sob a pressão das diferenciações regionais. A postura do PCdoB é uma contribuição ao fortalecimento da instituição partidária no Brasil, além, óbvio, de ser uma confirmação da sólida convergência de idéias e propósitos com Lula e o PT.

Faz de conta: a vítima é Alckmin

Uma das piores desgraças que podem acontecer a um candidato é receber apoios apenas na base do "faz de conta". Parece ser o martírio do tucano Alckimin. Há algumas semanas atrás foi a Petrolina quase só - sem o atual governador Mendonça Filho nem o ex-governador Jarbas. Nos festejos juninos, em Caruaru, semana passada, notório era o constangimento do candidato ao Senado, por mais que tenha se esforçado por elogiar a boa vontade do candidato a presidente. Mendonça Filho, buscando a reeleição, sequer chegou junto.

O exemplo pernambucano tudo indica é seguido pelos baianos. Os joornais de hoje falam num provável abandono do candidato do PSDB por parte de ACM, do PFL.

Lula x FHC: a diferença é abissal

Têm razão o presidente Lula e os partidos que o apóiam em comparar os três anos e meio do atual governo com os oito anos de Fernando Henrique Cardoso. O contraste é imenso, com larga e insofismável vantagem para Lula. Tanto que o candidato tucano, Alckmin, parece fugir disso – precisamente pela consciência de que a polêmica lhe é desvantajosa. Esse será o tema de nossa coluna do Vermelho (www.vermelho.org.br) de amanhã.

27 junho 2006

Quem sabe das opiniões do ex-governador?


Em quase todos os auditórios que ora freqüentamos, ao expor pontos de vista sobre questões candentes na esfera nacional e regional – reforma tributária, crescimento econômico com distribuição de renda, alteração do perfil da dívida interna, redirecionamento do BNDES, política industrial, interiorização do desenvolvimento em Pernambuco, transposição das águas do São Francisco, Transnordestina, abordagem metropolitana dos problemas do Recife e cidades circunvizinhas, etc. – surge a pergunta: “E o que pensa disso o seu adversário, ex-governador Jarbas?” Nossa resposta não poderia ser outra, sinceramente: “Não sei”. E você – saberia dizer? Claro que não.

Apesar de haver ocupado por duas vezes a chefia do governo municipal e do governo estadual e cumprido mandatos de deputado, pouco se conhece das opiniões do ex-governador. Sabe-se de suas atitudes. Por exemplo, apoiou subservientemente a orientação neoliberal de Fernando do Henrique Cardoso, sem sequer exigir um tratamento adequado a Pernambuco – que só veio a receber do governo Lula, apesar de se portar – ele, o então governador – na oposição. Oxalá a campanha eleitoral que se iniciará dia 6 de julho próximo dê azo a que o ex-governador diga ao povo de Pernambuco o que pensa sobre os problemas centrais do Brasil e do nosso estado, na atualidade. Para o benefício do processo democrático. E para que o eleitor faça a sua escolha com conhecimento de causa.

O bom debate com os operários

Tarsila Amaral

Ontem à noite (segunda, 26), o último compromisso, juntamente com o companheiro Humberto Costa, foi como um bálsamo. Animado e instigante debate com quase uma centena de operários, alunos do CTC (Centro Trabalho e Cultura). Violência e criminalidade, crescimento econômico com expansão das oportunidades de trabalho, saúde, educação, transporte, habitação. O papel de um senador. A relação do poder executivo com o legislativo. O tempo – quase duas horas – foi curto para debater tudo. Voltaremos. É sempre bom freqüentar o CTC – que há mais de quarenta anos ajuda operários a se aprimorarem no seu ofício, acrescentando técnica e capacidade de pensar.

Frente política e social

Uma conjugação de experiências, idéias e propósitos. Não apenas uma mera aliança eleitoral. Uma aliança política, sim. E social, na medida em que alarga substancialmente a base de apoio de nossas candidaturas – de Humberto Costa a governador, e a nossa ao Senado. É o que ficou confirmado ontem ao celebrarmos, na Assembléia Legislativa, a integração do deputado Augusto César (PTB) à chapa, como candidato a vice-governador. Bom seria que a imprensa registrasse o essencial de cada discurso pronunciado, para que os leitores pudessem compreender com clareza os motivos da junção do PTB e do PMN à coligação inicialmente constituída pelo PT e pelo PCdoB.

26 junho 2006

À moda da velha UDN

A julgar pelo contraponto que Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Geraldo Alckmin tentaram fazer ao discurso de Lula na Convenção do PT – os três tucanos centraram suas “respostas” na defesa da “ética” na Convenção Estadual do tucanato em São Paulo, ontem -, haverá uma grande identidade entre PSDB e PFL na campanha que se iniciará em 6 de julho. Os dois partidos tentarão reeditar a velha jogada da extinta UDN, que a História se encarregou de desmascarar: a direita pousando de defensora da moralidade pública. O PFL também bateu nessa tecla requentada em seus últimos programas na TV.Tirante a demagogia, fica evidente que a oposição continua sem propostas inovadoras que possam galvanizar o eleitorado brasileiro. Na verdade, o ideário tucano-pefelista se resume ao retorno ao desastroso padrão de gestão econômica e financeira do país dos tempos de FHC, que o povo brasileiro rejeita.

Para conhecer a vida e a luta de João Amazonas


Do historiador e mestre em ciência política Augusto Buonicore, o livro João Amazonas, um comunista brasileiro (Editora Expressão Popular, São Paulo) conta a trajetória de um dos mais importantes líderes revolucionários da história. Segundo Buonicore, “o comunista João Amazonas tem várias dimensões. A primeira, e mais conhecida, é como dirigente político. Em segundo lugar, João se destacou como grande estrategista dos comunistas brasileiros. Soube articular com primazia a radicalidade com amplitude. Esse mesmo espírito norteou a tática adotada durante os governos neoliberais de FHC”.

25 junho 2006

Para descontrair: uísque cheira a breu?


Vivendo e aprendendo. Ou descobrindo que a gente sabe muito pouco. Durante o jogo Inglaterra e Equador, que vemos pela TV, Luci chama a atenção para o odor do uísque: “Parece breu”. E pergunta: “Para que serve breu?”. O jeito é recorrer ao dicionário. No Houaiss a gente fica sabendo que breu é um “sólido escuro, inflamável, obtido a partir de secreções resinosas de várias plantas, especialmente de coníferas (Pinus palustris etc.), ou da destilação do alcatrão”. E que é usado em adesivos, vernizes, isolantes, revestimentos etc., e igualmente em plásticos e na fabricação de papel. Também é “betume artificial composto de sebo, pez, resina e outros ingredientes, usado pelos calafates para dar acabamento e cobrir as costuras do tabuado do navio”. Bom, o resto você sabe: o termo também significa escuridão.

Você concorda que uísque tem cheiro de breu?

Com a força do povo


"Estou aqui para dizer a vocês que decidi submeter meu nome e meu governo, humildemente, ao julgamento dos meus irmãos brasileiros", disse ontem (sábado 24) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em discurso na Convenção Nacional de seu partido, o PT, no Minas Tênis Clube, em Brasília, que homologou a chapa Lula-José Alencar.

O slogan de campanha "É Lula de novo, com a força do povo" situa com muita nitidez de que brasileiros o presidente espera o julgamento de sua obra de governo. O que corresponde ao que têm revelado as pesquisas: é justamente nas massas do povo que o governo e o presidente-candidato alcançam mais elevados índices de aprovação.

Há razões para tanto. As condições de vida dos mais pobres tem melhorado sob o governo Lula. Não apenas mediante programas sociais, como Luz para Todos, Bolsa Família (que beneficia quase 10 milhões de famílias), ProUni, Pronaf e Samu. Pesam as iniciativas em favor do crescimento econômico com a ampliação das oportunidades de trabalho, que já geraram mais de quatro milhões de empregos com carteira assinada em três anos e meio de governo.

PCdoB e Lula: apoio com os pés no chão


Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB, ao discursar ontem na Convenção Nacional do PT, expressou com clareza a percepção e o sentimento de quem se comporta como aliado estratégico do PT. “Esta convenção é o relançamento da esperança, esperança realista, fundada na experiência do governo, que renasce, fruto dos ensinamentos retirado dos erros e do compromisso mais avançado de perspectiva que vai adiante”, disse ele.

Sobre a natureza da aliança firmada entre os comunistas e o PT, afirmou: “O PCdoB não é aliado conjuntural ou temporário do PT ou do presidente Lula, temos afinidades estratégicas e nosso esforço não perde de vista a construção de projeto nacional de desenvolvimento baseado na soberania do Brasil, aprofundamento da democracia, do progresso social e da integração continental”.

Desigualdade social nos EUA

Está no editorial do Vermelho (www.vermelho.org.br). Vale a pena ler. Sob o título de “Desigualdade e o sonho americano”, The Economist, a tradicional revista conservadora britânica e principal porta-voz da alta finança internacional e seu programa neoliberal, aborda em matéria de capa o agravamento da distribuição de renda e o aumento da distância entre ricos e pobres nos Estados Unidos, que joga sobre os ombros dos trabalhadores norte-americanos a carga pesada da ameaça de desemprego, precarização do trabalho, redução de direitos sociais e da proteção social (como saúde e previdência), salários menores. Uma agenda semelhante àquela que é imposta aos demais trabalhadores pelo mundo afora.

24 junho 2006

Aldo: ousadia para crescer


O presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), declarou, durante evento na sede da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), em Belo Horizonte, ontem (sexta-feira 23) que os comunistas apoiarão "com muito entusiasmo", coligando-se formal ou informalmente, a campanha pela reeleição do presidente Lula. Porém, fiel à orientação do seu partido, teceu críticas à atual política macroeconômica e defendeu a necessidade de uma ampla coalizão de forças políticas, sociais e intelectuais para remover os "entulhos doutrinário, ideológico e político que travam o crescimento do País", noticia a Folha de São Paulo de hoje."Acabamos com a inflação, mas ficamos com medo de crescer até hoje", disse o presidente da Câmara. Ao observar que o Brasil tem crescido em "proporções muito abaixo das nossas possibilidades", ele citou países como a Índia, Rússia, China, que apresentam taxas de crescimento "muito mais ousadas". "Podemos ter até problemas diferentes, mas não temos problemas maiores do que esses países".Os principais "obstáculos" ao crescimento brasileiro, segundo Rebelo, são as altas taxas de juros, a carga tributária muito elevada e problemas na área de infra-estrutura e logística.Cá com os nossos botões, na província pernambucana, devemos encarar o desafio de uma proposta de governo para a coligação reunida em torno da candidatura de Humberto Costa ao governo estadual em sintonia com essas idéias. Para alavancar o desenvolvimento de Pernambuco.

Quase unanimidade no PT pró-Alencar


Uma boa notícia. A proposta de chapa – Lula-José Alencar – a ser levada à Convenção Nacional do PT, que se realiza hoje (sábado, 24) no Minas Tênis Clube de Brasília, obteve quase a totalidade dos oitenta e quatro membros do Diretório Nacional do PT, com apenas uma abstenção. A unidade do PT é muito importante para a conquista da vitória em outubro.

Alckmin cada vez mais anêmico


Especula-se que na reunião que manteve com os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Tarso Genro (Relações Institucionais), ontem, em Brasília, o governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto, que compõe a banda oposicionista do PMDB, teria se convencido de que o melhor para ele, que tenta a reeleição, seria manter uma postura neutra em relação ao pleito presidencial. Isso enfraquecerá mais ainda a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB), que tem em sua estratégica compensar no Sul a larga derrota para Lula que amargará no Nordeste e no Norte.

23 junho 2006

Dá gosto ver Gana derrotar os EUA

Não parece boa coisa misturar política com futebol. Pelo menos no que se refere à preferência de cada um por determinado clube. Flamengo e Corinthians, por exemplo, os clubes de maior torcida no Brasil, frequentemente são dominados por dirigentes comprometidos com o conservadorismo político mais retrógrado. Também não são poucos os que se elegem apoiados nas suas torcidas, em geral candidatos de inclinação direitista. Isso também vale em relação a uma hipotética apreciação sobre a orientação política reinante em cada selecionado nacional que disputa a Copa do Mundo.

Feita a ressalva, vale registrar o prazer estético (e político, por que não?) que nos enche os olhos proporcionado por numerosos negros com suas vestimentas coloridas e seus instrumentos de percussão, dançando nas arquibancadas para comemorar a vitória de Gana (classificada) sobre os EUA (desclassificados).

Alencar e a geopolítica do voto


Os jornais de hoje reproduzem notícia veiculada pela Agência Estado dando conta de que Lula teria anunciado, oficiosamente, a permanência do atual vice-presidente da República, José Alencar, como seu companheiro de chapa no próximo pleito. A decisão se tornaria oficial na convenção nacional do PT, a se realizar amanhã (24). O presidente teria usado como argumento o jargão futebolístico: “em time que está ganhando não se mexe”. No entanto, mais do que o suposto bom entrosamento entre titular e vice, pesa certamente a geopolítica do voto. Alencar, mineiro, teria força para ajudar a consolidar a posição de virtual neutralidade do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), favorito na tentativa de reeleição e aparentemente pouco empenhado em ajudar o candidato do seu partido à presidência da República, Geraldo Alckmin. Minas é o segundo colégio eleitoral do país, ficando atrás apenas de São Paulo. Tem peso específico considerável na correlação de forças e no mapa eleitoral que brotará das urnas em outubro.

Ariano qualificaria o debate


Desde aonteontem os jornais especulam acerca da permanência ou retirada da pré-candidatura de Ariano Suassuna ao Senado. Em toda parte a pergunta se repete: "A candidatura de Ariano atrapalha a sua?" A resposta, sincera e objetiva, é uma só: Sim, na medida em que pode subtrair parte signficativa do voto oposicionista difuso, tal a notoriedade e o prestígio (mais do que justificado) do amigo Ariano. Não, porque ajuda a dar importância e visibilidade à disputa pela vaga no Senado. A presença de Ariano no pleito seria, por si mesma, uma notícia que a mídia não poderia jamais desconsiderar. Mais do que isso, acrescentaria qualidade ao debate durante a campanha. E seria uma honra ter concorrente esse grande amigo.

Em contraste com a possibilidade de Ariano vir a enriquecer a campanha eleitoral com a sua presença, deplorável tem sido o comportamento do senador José Jorge (PFL-PE), que repete desaforos e ataques de natureza pessoal ao presidente da República, Luis Inácio da Silva Lula. Custa crer que os pernambucanos tenha escolhido o pefelista ao invés de Humberto Costa, há oito anos, para representá-los no Congresso Nacional. Um mandato bisonho, que ganha notoriedade no crespúculo justamente pela tentativa que faz de rebaixar o nível da disputa eleitoral. Coitado do Alckmin, que não bastassem as divergências internas no seu partido, o PSDB, que o impede de decolar, vê sua candidatura se enfraquecer através do discurso desqualificado do seu companheiro de chapa.

22 junho 2006

A peteca e o livro

Artesã de profissão, de parcos recursos e muita curiosidade literária, trazia à mão uma peteca e disse alguma coisa a princípio incompreensível. E, num gesto surpreendente e ao mesmo tempo simples como o desabrochar de uma rosa, ofereceu uma peteca em troca do exemplar do livro de crônicas que estávamos lançando, Como o lírio que brotou no telhado, coletânea de textos originariamente publicados nesta coluna no portal Vermelho.

- Folheei o livro, tem coisas bonitas, fala de experiências de luta, tenho interesse em ler, mas o dinheiro está curto... O senhor aceita trocar um exemplar por essa peteca?

- Claro, minha querida! Será um prazer, acredite.

Na dedicatória, escrevemos “um afetuoso abraço e a crença sempre renovada na força e na arte do nosso povo”, como uma homenagem àquela inesperada e comovente leitora.

E a troca estava consumada. Uma espécie de escambo cultural.

O sorriso tímido deu lugar ao espanto quando soube que o autor do livro, vice-prefeito da cidade, ao sair da cadeia e retornar ao Recife, no final da década de setenta, sobreviveu dois anos e meio como artesão de bolsas de couro, que vendia aos domingos, na feirinha de Boa Viagem, enquanto dava seqüência ao curso médico na Universidade Federal de Pernambuco (arbitrariamente interrompido em 1969, por determinação do regime militar).

Faltou dizer que o artesão-estudante de medicina muitas vezes chegou à enfermaria do Hospital das Clínicas Dom Pedro II com as unhas tingidas de matizes escuros, porque virara a madruga cortando, costurando e pintando e mal dera tempo para a remoção da tinta Enigma.

Nem deu para comentar que o estudante de medicina sentia orgulho do seu ofício, tanto que no registro de nascimento da primeira filha, Neguinha, consta exatamente artesão como profissão do pai.

Também não foi possível dizer que justo no ponto de vendas da feirinha típica de Boa Viagem foi possível reaglutinar companheiros e amigos dispersos e retomar a estruturação do PCdoB em Pernambuco, desarticulado pelas prisões ocorridas no início de 1974.

Depois o artesão se converteu em jornalista, assumindo a chefia da sucursal do semanário Movimento, que fazia oposição à ditadura, a convite de Raimundo Rodrigues Pereira, função que tocou até concluir o curso na Faculdade e iniciar o exercício da nova profissão.

Da experiência de sobreviver do artesanato ficou a clara percepção do valor do trabalho criativo que o artesão realiza sobre a matéria bruta. Por isso não cabia verificar se a peteca e o livro têm o mesmo valor, quando ela teve a gentileza de comentar:

- Não sei se essa peteca vale o livro, mas é o que tenho para trocar.

Claro que têm o mesmo valor, pois semelhantes são as mãos que fazem a peteca e as muitas mãos que constroem a História, objeto das crônicas contidas no livro. (Publicado no portal Vermelho www.vermelho.org.br em 22.06.06)



21 junho 2006

Como o lírio que brotou no telhado

O livro, que teve noite de autógrafos ontem (terça, 20) no Paço Alfândega, literalmente é produto de uma vontade coletiva. A começar das crônicas nele reunidas, que expressam, todas, experiências compartilhadas na luta pela vida verdadeira, jamais uma visão de mundo individualista. O projeto gráfico, de Oscar Malta; a seleção de textos, feita por Cida Pedrosa, Rosier Custódio e Tuca Siqueira, com a colaboração inestimável de Luci (primeira leitora da maioria dos textos publicados originariamente no portal Vermelho www.vermelho.org.br); as fotos de Tuca, Oscar e Teógenes Leitão; o trabalho meticuloso e competente de revisão feito por Heloisa Arcoverde; o prefácio de Marcelo Mário de Melo, a bela crônica de Tuca Entre grades e liberdade, o texto de orelha de Raimundo Carrero, a colaboração direta de Tadeu Lira e Guido Bianchi na concepção do projeto.

Hoje, quarta-feira, 21, ao manusear o livro, com aquele sentimento de dever cumprido, uma ponta de tristeza pela ausência de tanta gente boa que já se foi e a certeza de que – como escreve Tuca em seu depoimento - “corajosos homens, fortes mulheres e belos ideais permaneceram”. Por isso, vale a pena lutar - e continuar escrevendo.

20 junho 2006

O pardal e o poeta


Às voltas com o ofício de botar as idéias em ordem, em meio à turbulência de uma agenda mais do que carregada, a surpresa de ver um pássaro minúsculo pousar no parapeito da janela do escritório e fugir apressado. Nem deu para distinguir – parecia um pardal. De pronto vem à mente o poema de Vinícius:

A um passarinho

Para que vieste
Na minha janela
Meter o nariz?
Se foi por um verso
Não sou mais poeta
Ando tão feliz!
Se é para uma prosa
Não sou Anchieta
Nem venho de Assis.

Deixa-te de histórias
Some-te daqui!

Beleza dos versos do poeta à parte, bem que preferia que o pardal – era mesmo um pardal? – voltasse para quebrar a monótona seqüência das anotações feitas com o único objetivo de dar coerência às atividades programadas para esse meio de semana.

19 junho 2006

De rosas e lírios: o sentido das coisas

As pessoas perguntam - inclusive um repórter em entrevista em emissora de rádio -, como é possível a um vice-prefeito de cidade grande, atuante, e ainda mais pré-candidato ao Senado, encontrar tempo para escrever diariamente. Mais: indagam também o porquê de fundir opiniões e vivências, defesa de pontos de vista polêmicos com a exaltação de rosas e lírios. A única e definitiva explicação está no bom hábito de viver e lutar sem perder a capacidade de perceber o que está em torno, especialmente as experiências humanas, nem a sensibilidade da emoção a cada instante da luta e da vida. Tal como sugere o poeta Fernando Pessoa: “Tudo o que sonho ou passo/o que me falha ou finda,/é como que um terraço/sobre outra coisa ainda./Essa coisa é que é linda.”

18 junho 2006

Presenças de Arraes e Lula

Luciano, Arraes e Lula: diálogo inesquecível

Ontem (sábado, 17) fizemos visita à feira de Quipapá, em companhia do padre Djalma e do deputado federal Renildo Calheiros, Humberto Costa, prefeito João Paulo. Almoço em Garanhuns, com dezenas de lideranças do Agreste Meridional, agora com os deputados Izaías Regis e Armando Monteiro Neto. Em seguida, recepção na residência do prefeito Audálio Ferreira, em Bom Conselho, e abertura dos festejos juninos em Saloá, com o prefeito Zé do Leite. Também, nos quatro municípios visitados, entrevistas em emissoras de rádio. Em toda parte, nos diálogos sobre os problemas locais e os desafios do desenvolvimento econômico com inclusão social, a lembrança de Miguel Arraes, que sempre esteve atento ao tema, e uma forte percepção, nessa mesma direção, das realizações do governo Lula.

Aquela gente simples sabe o que quer. O desafio, para quem pleiteia o cargo de governador e uma cadeira no Senado, é traduzir os reclamos ouvidos em propostas factíveis – e é o que estamos procurando fazer.

Fred 04 minutos


No jogo de hoje, Brasil x Austrália, Fred teve apenas 4 minutos para entrar na história da Copa do Mundo, ao fazer o segundo gol do time brasileiro no finzinho. Estava no lugar certo, no momento certo - como aliás costumava fazer desde quando atuava no Cruzeiro, de Belo Horizonte. Como futebol não é matéria a ser tratada dentro dos padrões mínimos de racionalidade, pelo menos entre nós brasileiros, não faltará quem fale de sorte, de vocação sobrenatural ou de predestinação de artilheiro. Pode anotar: nos próximos jogos, se o gol demorar a sair, muita gente vai pedir que Parreira bote o Fred, inclusive muitos dos que hoje – no grupo familiar que via o jogo pela televisão aconteceu – perguntavam: “Quem é esse Fred?”, sem saber que o centroavante do Lion, da França, foi o principal goleador do penúltimo campeonato brasileiro.

Na luta política também é assim. Engels chegou a escrever sobre a importância do acaso no desencadeamento de movimentos transformadores, numa determinada conjuntura. Também não são poucos os casos registrados em nossa própria história de fatos aparentemente fortuitos que funcionaram como detonadores de uma mudança no quadro político. Idem em campanhas eleitorais, que tiveram ser curso inesperadamente alterado. Vale acompanhar atentamente o evolver dos acontecimentos.

16 junho 2006

Lula e o povo de Olinda

No ato público ocorrido hoje em Olinda, quando o presidente Lula assinou convênios com as prefeituras da Região Metropolitana do Recife e da cidade de Palmares, situada na Zona da mata Sul, para retirada de favelados e construção de casas, no montante de R$ 74 milhões, foi possível observar, de cima do palanque oficial, a fisionomia marcante de centenas de pessoas que se comprimiam na platéia. Rostos maltratados pela dor e pela fome, porém tomados de uma emoção difícil de descrever. Esperança, alegria, orgulho diante de um dos seus, o próprio presidente, nascido menino pobre no Agreste pernambucano, hoje chefe da Nação. Algumas mulheres, durante o seu discurso, ouviam com as mãos juntas como que numa postura de prece.

O presidente respondeu aos recentes ataques feitos a ele por adversários políticos, entre os quais o senador José Jorge (PFL-PE), que o acusou anteontem de “beber demais”. Disse o presidente: “As respostas que nós temos que dar para esses que transmitem ódio todo dia é transmitir mais carinho, é trabalhar mais, é a gente mostrar mais amor com o povo deste país, é a gente mostrar mais alegria, porque, na verdade, o que eles estão torcendo é que a gente fique nervoso e faça o jogo rasteiro que estão fazendo. E eu não vou fazer porque o povo não merece isso, o povo merece respeito, o povo merece ser tratado com dignidade, e é por isso que eu estou aqui hoje. Onde eles estão? Eu estou aqui no meio de vocês.”

Olinda mobilizada

Uma sociedade em movimento. Essa é a impressão que passou a solenidade de outorga, pela Câmara Municipal, do título de cidadão olindense ao ex-secretário de Governo municipal, Luciano Moura, ontem à noite (quinta-feira, 15), no Mercado Eufrásio Barbosa, proposição do vereador Marcelo Soares (PDT). Esse tipo de evento geralmente atrai pouca gente, em geral os familiares do homenageado e alguns outros que comparecem quase que por dever. Mas o que vimos foi um plenário ocupado por mais de seiscentas pessoas, dentre as quais numerosas lideranças e personalidades representativas dos mais diversos segmentos da sociedade. Prestígio de Luciano Moura? Certamente sim. E mais: sinal de uma sociedade mobilizada.

O lado de cada um

Ontem à noite (quinta-feira, 15), ao recepcionarmos o presidente Lula no Aeroporto dos Guararapes, por um bom tempo ficamos juntos – o governador Mendonça Filho, o ex-ministro Humberto Costa, o deputado Eduardo Campos, o prefeito João Paulo, o ex-ministro Armando Monteiro Filho e esse amigo de vocês -, numa conversa agradável e bem-humorada com o presidente.

A cena, vista por alguém pouco afeito ao quadro político-eleitoral pernambucano, poderia confundir. Estariam todos do mesmo lado? Isto quer dizer que, sem prejuízo do espírito democrático e do respeito aos adversários e concorrentes, cabe a cada um dos atores envolvidos, no curso da campanha eleitoral que se avizinha, dizer claro a que veio, o que propõe e como pretende realizar o que propõe. Demarcando campos, num pleito polarizadíssimo, a partir mesmo da disputa presidencial protagonizada por Lula e por Alckmin. Ou seja: explicitar de que lado está. Para que o eleitor, munido dessa informação básica, possa definir o seu voto. Mendonça Filho, assim como seu companheiro de chapa, o ex-governador Jarbas Vasconcelos (que não compareceu à recepção ao presidente da República) estão coerentemente do lado contrário a Lula. Nós outros, oposicionistas no plano estadual, obviamente nos situamos ao lado do presidente. Vale dizer: defendemos, para o país e para Pernambuco, projetos antagônicos. Caberá aos pernambucanos optarem através do voto.

15 junho 2006

Pátria de chuteiras?

Num certo sentido, sim. A seleção brasileira na Copa do Mundo de futebol significa “a Pátria de chuteiras”? Tirante algum exagero dessa frase cunhada por Nelson Rodrigues, repetida em manchetes de primeira página antes da estréia contra a Croácia, nossos jogadores bem que representam, sim, no campo, a nação brasileira – suas contradições, potencialidades, dilemas, desafios.

Começa que, com uma ou outra exceção, o elenco canarinho é formado por atletas oriundos das camadas mais populares da sociedade. É gente que nasceu muito pobre e que escapou da miséria através do talento com a bola no pé. Num país em que, a despeito da modernização alcançada nas últimas décadas e da iniciante mudança de rumo atual, chegar até onde essa gente chegou é uma proeza e tanto. Mostra a capacidade inventiva, a força combatente e vontade de vencer do nosso povo.

É das entranhas do povo brasileiro que surge gente assim – da mesma forma que surgiu um operário, ex-retirante nordestino, que se tornou presidente da República. Na Copa do Mundo, tortuosos e arriscados são os caminhos que levam ao gol em cada partida. É preciso aliar a técnica apurada com a criatividade e o senso de oportunidade. Na sociedade brasileira, tanto quanto as considerações de ordem técnica, devem pesar a sensibilidade social e política do presidente e sua capacidade, como líder e governante, de mobilizar a vontade nacional em favor do novo projeto de desenvolvimento. Os caminhos, aí, mais do que no campo de futebol, são arriscosos (para usar a expressão do personagem de Guimarães Rosa), pois os poderosos interesses contrariados, daqui e de fora, geram contra-reação no parlamento, na mídia e nas mais diversas esferas da sociedade onde o conflito e a luta pelo poder se verificam.

Os Ronaldinhos e seus companheiros, na análise de um comentarista especializado, revelam traços de astros do passado, como Heleno de Freitas, Friedenreich, Zizinho, Didi, Pelé, Garrincha e tantos outros, e expressam, assim, a continuidade da tradição vencedora do futebol-arte.

Lula e os milhões de brasileiros que lhe dão base para governar e se inclinam a votar por um segundo mandato no próximo pleito, trazem na sua índole as marcas de Tiradentes, Frei Caneca, Zumbi, Padre Roma, Abreu e Lima, Oswaldão, Elenira Rezende, Carlos Danielli e tantos outros que tingiram com o seu sangue generoso a luta pela Liberdade e por uma nação soberana e socialmente justa.

Bom que o Brasil seja admirado e respeitado pela competência e pela magia dos seus craques.

Ótimo que, no mundo globalizado, o Brasil esteja se fazendo respeitar por nações amigas e outras nem tanto e por organismos internacionais, fruto de uma política externa independente e ousada.

Quem sabe, neste afortunado ano de 2006, o povo brasileiro possa iniciar julho com a conquista do campeonato mundial e em outubro comemore uma nova vitória política.

10 junho 2006

Democracia, insanidade e baderna

Ao ultrapassarmos a grade que dava acesso ao pavilhão dos presos políticos na Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá, em meados de 1974, uma contraditória alegria nos invadiu a alma.

Pelo reencontro com companheiros da “geração meia-oito” do movimento estudantil no Recife; e – acreditem – pela sensação de liberdade por passar a conviver com mais trinta e dois presos e com eles realizar reuniões imensas, comparadas às conversas de três a cinco, em aparelhos rigorosamente protegidos ou nos escondido das matas e das serras de algumas áreas nordestinas.

Na dura clandestinidade, falávamos baixo e aplaudíamos os oradores estalando o polegar no indicador. No presídio, ultrapassada a fase das torturas, podíamos falar alto, debater o que bem quiséssemos, ler o que se encontrava à disposição. Tinha coisas boas na modesta biblioteca do nosso pavilhão: Marx, Engels, Lênin, Gramsci; Cortazar, Joyce, Borges; Guimarães Rosa, Machado de Assis, Lima Barreto, Graciliano Ramos, José Lins do Rego. Era, o ambiente da cadeia, por assim dizer, por mais paradoxal que seja dizer isso agora, uma espécie de antevisão da democracia que ansiávamos restaurar no Brasil. Mesmo nos moldes liberais que, ao gosto da elite dominante, sempre se fez instável e vigilante diante dos avanços das correntes populares.

As liberdades democráticas foram restabelecidas, enfim, a partir da vitória de Tancredo contra Maluf, justo no Colégio Eleitoral que havia sido criado para perpetuar o regime autoritário, sufocado entretanto pelo amplo movimento democrático e popular Muda Brasil. Dali em diante, por caminhos complexos e tortuosos, os que vivem do próprio trabalho e só têm a ganhar com o alargamento da democracia vêm aumentando sua participação nas esferas políticas e administrativas do poder. Uma conquista a ser preservada e aperfeiçoada com vigor e carinho; com destemor, mas com esmero na observação de regras processuais mínimas que lhe assegurem a institucionalidade, tão necessária na presente correlação de forças.

Mas nem sempre essa atitude a um só tempo ativa e equilibrada é assumida por alguns fragmentos dos movimentos sociais. Aqui e acolá, por influência negativa de correntes políticas tão radicais no palavreado quanto inconseqüentes na ação, a frágil democracia reconquistada se vê atingida precisamente por quem dela mais necessita. Como aconteceu terça-feira última, com nítidas nuances de provocação política, na baderna promovida pela organização autodenominada Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST).

Não fosse a firme atitude do presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo, que usou de suas prerrogativas mandando inclusive prender os irresponsáveis, a fúria destrutiva teria causado mais estragos ainda. Alguns atos de vandalismo praticados exibiram a marca da insanidade e do descompromisso com o processo democrático: a destruição de computadores usados para registrar dados do povo que ali ingressa e para orientar os visitantes; e do busto de uma das vítimas do regime militar, o ex-deputado, ex-senador e ex-governador de São Paulo Mário Covas.

Ao que se sabe, o MLST congrega dissidentes do MST e tem em seus quadros dirigentes integrantes do PSOL, PSTU e mesmo do PT.

Cabe a pergunta: sabe essa gente o valor da liberdade e a importância de conduzir a luta dos trabalhadores rurais por trilhas e métodos conseqüentes? Ou pretendem apenas agitar as bandeiras do caos à margem do processo real da luta do povo brasileiro?

05 junho 2006

Pesquisas: prematuras, porém importantes

Pesquisas de intenção de voto antes da campanha carecem do calor das ruas. Medem, provavelmente, a lembrança que os eleitores conservam em relação aos nomes de maior notoriedade e de presença mais freqüente na mídia. Valem pouco, portanto. Mas servem. Pois trazem certas indicações úteis. Quer um exemplo? O somatório das intenções de votos registrado em relação aos três pré-candidatos oposicionistas – Humberto Costa, Eduardo Campos e Armando Monteiro Neto – suplanta o desempenho de Mendonça Filho, do PFL, que continua na dianteira. Moral da história: se formos capazes de nos unir de fato no segundo turno, alcançaremos a vitória. Vale pensar nisso. E tirar as conseqüências práticas.