31 outubro 2014

A palavra instigante de Jomard

VELÓRIO POÉTICO: O QUE É ISTO?
Jomard Muniz de Britto, JMB

Investigar tudo ou inventariar o nada.
Doa em quem doer, o PAPA pode ser POP
e Deus continua brasileirinho da Silva.
Para escapar das selvas e esquizo-análises.
País dividido. Promessas multiplicadas.
- “Não é tempo de mortos / é tempo de vida
e de vivos”.
- “Novembro é um alquimista / que faz
transformações quase impossíveis”.
O poeta-filósofo Daniel Lima nos arrebata.
Acreditar na palavração de Paulo Freire:
D I Á L O G O. Nosso educador em transe:
homenageado, negociado ou desconstruído?
Salve-se quem souber do verbo em processo
de permanente criticidade. PÓS-TUDO.
Diálogo para investigar TODOS:
do Príncipe da Sociologia aos precipícios,
dos familiares aos familionários,
das redes sociais às utopias socialistas.
Dos que fingem NADA SABER aos barrados
pela coragem da fazer autocrítica.
Gentileza gera Gentileza?
O RJ continua lindo!
Grosseria gera dialogismo?
De Brasília ao São Francisco.
Vidas Secas em São Bernardo.
Velório de contraDICÇÕES.
Continuar apostando na CREDIBILIDADE?
Novas classes média flutuando pelo TRANS
capitalismo das novelhas multidões.
Futebolísticas multidões.
Multicarnavalescos do planetário.
Multimídias evangélicas em neonconversões.
Multidões afro-brasileiras dos Orixás.
Indigentes multidões indígenas.
Onde foram (dis)parar as multidões
(ex)solitárias nas lutas e lutos dos
classiFICANTES? Velório da poeticidade.
Esquecer as cúpulas partidárias além do
bem e do mal das cópulas transgenéricas.
O filme SETE CORAÇÕES veio ultrapassar
os recalques nordestinados & outros diante
dos AXÉS, longe dos Pelourinhos.
Mas Naná Vasconcelos jamais perderá
o bonde nem o bode das historiografias.
JANELAS do cinema entre a inocência da
CASA GRANDE e o fulgor das
NOITES TRAIÇOEIRAS.
Velório para transcender e atualizar
o VAMPIRISMO de nossas brasilidades.

Recife, novembro de 2014.

Integridade nacional

Brasil uno e indivisível

Eduardo Bomfim, no Vermelho

O segundo turno da eleição presidencial que elegeu Dilma Rousseff traz-nos algumas avaliações sobre a realidade política nacional.

Em primeiro lugar foi uma vitória de grande porte, incontestável, com votos espalhados pelo território brasileiro, nos mais diversos extratos do eleitorado, com respaldo das grandes maiorias sociais protagonistas do processo de investimentos em políticas públicas nos últimos 12 anos.

Cresceu o nível de discussão ideológica, programática, sobre os rumos do País. Nesse processo tiveram papel decisivo o espírito de lucidez e a coragem da presidente da República no enfrentamento a toda sorte de armadilhas e provocações.

Durante a campanha, mesmo após o seu término, sugiram variadas demonstrações de ódio, intolerância, fobias, preconceitos que já se vinham expressando há alguns anos mas alcançaram o paroxismo após o resultado das urnas.

Os ataques contra os nordestinos, por exemplo, pela imensa votação recebida por Dilma na região é fato. Mas a presidente elegeu-se tanto com os votos maciços do Nordeste quanto do Sudeste, do Rio e Minas, onde conquistou apoio eleitoral majoritário, além do grande sufrágio no Sul, e Centro-Oeste. Ela foi eleita pela sua votação em todo o País.

As sementes de ódio e preconceito, não há dúvida, foram inoculadas em setores da população, aberta ou veladamente pela grande mídia hegemônica, cuja intenção foi, continua sendo, um golpe midiático.

A elevação da consciência das grandes maiorias fez com que o capital financeiro e a grande mídia apostassem numa campanha de desestabilização, incentivando restrito núcleo reacionário de antigos e novos atores, que não representam a grande maioria dos eleitores de Aécio. E objetivos para além das eleições.

A História mostra-nos ideias de inspiração separatista no País, como tem sido divulgado nas redes sociais, de fragmentação do tecido social, territorial, o butim das nossas riquezas. E sempre foram derrotadas.

A bem da verdade, a tese do Brasil dividido em dois é eleitoralmente, estatisticamente, politicamente falsa. Finalmente, o Brasil é uno, indivisível, tanto porque diz a Constituição, como pela vontade soberana, irredutível do povo brasileiro.

Passadas as eleições deve prevalecer o desarmamento dos espíritos, bom senso, legítima disputa democrática, a defesa da Nação.

Palavra

Manuel Amado
A sexta-feira é de Mauricio Terra: "uma flor, uma fresta de luz.../que seja tênue, porém rubra/a derradeira palavra"

Desigualdade

O estudo “Estatística de gênero, do IBGE, confirma a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho: com índices de escolaridade superiores aos dos homens, as mulheres brasileiras continuam atrás quando analisados o rendimento e a inserção no mercado de trabalho. O rendimento mensal médio das mulheres equivale a 68% do masculino (dados de 2010).

Crianças na crise

Leio agora no portal da Fundação Maurício Grabois: A crise mundial empurrou mais 2,6 milhões de crianças para a pobreza em países desenvolvidos desde 2008. Com isso, o número de crianças vivendo na pobreza nos países desenvolvidos subiu para cerca de 76,5 milhões. Na contramão do acontece no Brasil, onde acontece a gradativa inclusão social.

O povo em primeiro lugar

Não faz sentido prever atitude de “retaliação” da parte do governo federal em relação a Pernambuco, em razão do governador eleito, Paulo Câmara, haver apoiado o tucano Aécio Neves, contra mais de 70% de votos dados pelos pernambucanos a Dilma. Discriminar Pernambuco seria retaliar, isto sim, o povo pernambucano que praticou a sua soberania através do voto. Algo impensável! A exemplo da atitude de Lula durante o segundo governo de Jarbas Vasconcelos, em que o governador fazia ferrenha oposição ao governo federal. Justamente no período, o presidente tomou as decisões estratégicas – como a localização da Refinaria da Petrobras no Complexo Portuário de Suape - que viabilizaram a atual fase de crescimento econômico do estado. O Brasil, o povo e a redução das desigualdades regionais estarão em primeiro lugar, muito acima de eventuais sequelas de uma campanha eleitoral que já passou.

30 outubro 2014

Sentimento

Antonio Dias
A quinta-feira é de Wellington de Melo: “Assumo-me imperfeito/enquanto durmo/e te esqueço/e te lacero/e te devoro.”

O joio e o trigo na campanha eleitoral

Fragmentado, porém programático

Luciano Siqueira

Passado o pleito presidencial, multiplicam-se as queixas de que, sobretudo no segundo turno, “agressões” pessoais se sobrepuseram ao necessário e inexistente (sic) debate programático. É a conclusão a que chegam “analistas” da grande mídia e próceres das forças derrotadas. Será?

Separemos o joio e o trigo.

O joio: a cobertura jornalística das eleições jamais propiciou o bom debate de ideias, pois impôs a fragmentação e, via de regra, a tergiversação em torno do que seria essencial. Os debates organizados pelas redes nacionais de TV repetiram um formato que jamais possibilitará aos candidatos a explicitação de suas propostas programáticas, pois enredados num roteiro de perguntas, respostas e tréplicas que variam de um a dois minutos. Demais, o noticiário, além de tendencioso e parcial, concentrou os holofotes em questões secundárias ou situações supostamente embaraçosas.

Mesmo sites especializados permaneceram a anos luz de distância do que seria a boa polêmica em torno de questões vitais para os destinos do País.

O trigo: assim mesmo, se cotejarmos o conjunto da obra, ou seja, o somatório desses fragmentos e a entrevistas diárias – breves, porém esclarecedoras – em que cada candidato se pronunciava sobre temas relevantes; e o horário eleitoral oficial, veremos que ideias essenciais vieram à tona e possibilitaram uma delimitação de campos entre os principais candidatos. Foi exatamente por isso, chamada a esclarecer propostas contraditórias entre si e inconsistentes aos olhos da opinião pública, que Marina Silva percorreu a trajetória de um foguete: tão rápida na ascensão quanto na queda – reduzindo-se ao que realmente é, bem diferente do que a mídia quis promover na esteira da comoção pela morte trágica de Eduardo Campos.

Marina não suportou o embate direto com Dilma acerca do papel e do lugar institucional do Banco Central e dos demais bancos públicos, o sentido estratégico da exploração do petróleo da camada do pré-sal, o real conteúdo do denominado tripé macroeconômico e que tais.

Postos frente a frente, no segundo turno, Dilma e Aécio viveram momentos de acirrado confronto, que trouxe à tona traços marcantes da personalidade política e da trajetória de ambos, para o candidato tucano inconvenientes sob todos os títulos, daí reagir com a cantilena de que a presidenta estaria mentindo e com crescente agressividade e falsa ironia. Esses entreveros, entretanto, não ficaram em si mesmos, deram azo a que os dois projetos de nação em conflito pudessem ser em boa medida desnudados.

Foi assim que temas tão como complexos quanto cruciais para a os destinos do País e para vida cotidiana ganharam espaço nas conversas de botequim, contribuindo para que o eleitor fizesse a sua própria leitura das propostas litigantes e tomasse posição. Terá sido por isso, em razoável grau, que a votação de Dilma se deu principalmente nos estratos mais populares da sociedade. Bom pelo resultado final, ótimo como passo relevante na formação de uma consciência social avançada. (Publicado no portal Vermelho, no Blog de Jamildo e no Jornal da Besta Fubana)

Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

29 outubro 2014

Interinidade

Geraldo em viagem ao exterior, assumo o governo da cidade por 11 dias. Com muita honra e discrição.

Marina insiste

Marina Silva, que agora se ocupa da formação do seu partido, o Rede Sustentabilidade, divulga vídeo em que afirma que a presidenta Dilma fará, na condução da economia, o que criticou durante a campanha (sic). A ex-candidata não desceu ainda do palanque e ainda faz coro com a grande mídia, que deseja pautar a presidenta reeleita. Oxente!

A vez do povo

Como será o segundo governo Dilma? Melhor do que o primeiro, dizia Lula durante a campanha eleitoral. Pode ser, sim - mas para tanto deverá contar com um fator que nem Lula considerou em seu governo, nem a presidenta, neste seu primeiro mandato: a mobilização do povo para dar sustentação à continuidade das mudanças previstas, fundamental para pressionar o Congresso Nacional, que terá composição mais conservadora. 

Tempo

Foto: Ryan McGinley
A quarta-feira é de Waldir Pedrosa Amorim: “Breves as horas que mereço,/longo/o tempero dos meus sonhos!” 

28 outubro 2014

Eduardo

@lucianoPCdoB: Agora há pouco, integrei a Mesa na solenidade em homenagem a Eduardo Campos, na Assembleia Legislativa.

A vida do jeito que é

Perfil de um voto

Marco Albertim, no Vermelho

 - Por que a senhora está vestida de azul?

- Pra ninguém saber que eu voto em Dilma.
Seria um fim de tarde rotineiro, caso Dilma Rousseff não viesse ao Recife. Seria uma tarde tão cinzenta quanto a amurada de concreto em volta dos tanques com peixes e tartarugas, no Parque 13 de Maio. A mulher, vestida de azul, viu-se diluída no meio da multidão vestida de vermelho. Não decidiu mostrar-se de vez, ficou por trás de um sombreiro de tronco grosso. Mas logo cansou e foi sentar-se num banco, assim que uma estudante fogosa resolveu agitar sua bandeira vermelha, quando ouviu do alto-falante distante, que Lula viera com Dilma. A estudante fora dar expansão a sua energia revolucionária. A mulher acomodou-se para fazer o cálculo das consequências, caso decida votar em Dilma Rousseff.

Com pouco mais de sessenta anos, inda que aparentando ter setenta nas costas abauladas. O vestido, um tailleur caboclo, sem o casaco, cobrindo os ombros, metade dos braços e tão comprido que não se via um palmo das pernas abaixo dos joelhos. A singularidade do traje chamou a atenção da estudante, de cabelos tão ruivos quanto sua camiseta e a bandeira balouçante. Com pernas curtas e ágeis, voltou para o banco onde estivera sentada. Por certo movida pela energia, e por ter cedido a prerrogativa de usar o assento, insistiu com a mulher:

- Hoje é dia de usar vermelho!

Sem poupar o riso febril no rosto sardento, tirou um adesivo pequeno, dos muitos que tinha no tiracolo pendurado no ombro; tirou-o e colou-o no vestido da mulher, acima do peito. Pasma, meio tonta, a sexagenária reagiu como alguém que quer se livrar de um incômodo percevejo.

- Mas a senhora disse que vai votar em Dilma...!

- Mas não quero que ninguém saiba.

- A senhora sabia que nesta praça cem mil pessoas aplaudiram Carlos Prestes num comício?

- Quem é Carlos Prestes?

- O Cavaleiro da Esperança.

- Ele não está aqui não!?

- Ele já morreu.

- E agora?

- Agora, Dilma é a esperança.

- Essa festa toda só por causa de uma mulher.

- Não é só por causa de uma mulher. É porque a vida vai mudar pra todo mundo, até pra senhora. De onde a senhora é?

- De Panelas de Miranda. Lá tem muita terra e pouca gente plantando.

- E isso que pode mudar.

Formou-se um reboliço a dez metros dali. Um crioulo retinto, de olhos vivazes, fazendo uso do pragmatismo sem retórica, anunciou a distribuição de camisetas vermelhas. A estudante correu para perto, conseguiu uma camiseta e trouxe para a mulher.

- Tome.

A mulher dobrou-a, segurando-a entre as mãos sobre o regaço.

- Vista agora!

- Não. Só quando chegar em casa.

Ao lado das duas, o homem da carrocinha de sorvete, usando camiseta vermelha, instalou uma bandeira da mesma cor, na bandeja da carrocinha. Instalou-a e aumentou o preço do sorvete, para tirar proveito da festa vermelha.

O alto-falante, por fim, anunciou a presença de Dilma Rousseff ao lado de Lula. A multidão correu para a frente da Câmara Municipal. O sorveteiro também se pôs em disparada. O céu do Recife, o do centro, fechou-se com a cor chumbosa do fim da tarde. Difícil mesmo era perceber que a sombra densa acima das cabeças, era um envoltório blindado a chuvas e trovões. Não se viam nomes, inda que sorvessem o fôlego espectral de Cristiano Cordeiro, Gregório Bezerra, Diógenes Arruda, Pelópidas Silveira e Miguel Arraes.

A mulher do vestido azul viu-se só, sem a interlocutora de presença fugaz. Quis seguir o cortejo na marcha galopante. Tinha força nas pernas grossas, mesmo com as ancas bamboleantes. Seguiu lenta, inda que dando pistas de seu rumo. Não foi para avenida Cruz Cabugá, com medo de sofrer um tropeção. Alcançou os fundos da Câmara e andou pelo passeio na lateral livre do prédio. Não foi para a frente, vestiu a camiseta vermelha sobre o vestido azul e encostou-se na esquina; encolhida para não ser vista.

Exortação

Clarice Lispector: "Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

Especulação

Daqui até janeiro, quando se inicia o novo mandato da presidenta Dilma, tenhamos todos paciência: o noticiário será rico em especulações de toda ordem, da composição do novo governo a mudanças na política econômica. Papel aceita tudo. Microfones e câmeras de TV e sites e blogs, idem. Mesmo quando se diz algo que tem lá sua lógica, vale manter a cautela. Depois do Peru do Natal é que o novo ministério, por exemplo, estará definido.

Frustração

Foi assim na primeira eleição de Dilma, há quatro anos e agora se repete: a mídia quer pautar a presidenta. Não conseguiu antes, agora vai se frustrar novamente.

Palavras

A terça-feira é de Cecília Meireles: “assim firmes, duras,/entre as coisas fluidas,/fiquem as palavras,/as vossas palavras.”(Foto: Patrícia Costa)

27 outubro 2014

Monopólio versus opinião pública

A democratização do mercado de opinião

Luis Nassif, em seu blog

A coluna de sexta-feira especulava sobre a possibilidade do terceiro turno – a tentativa de ganhar no tapetão as eleições. Foi escrita antes da divulgação da capa da revista Veja, com a informação de que o doleiro Alberto Yousseff havia acusado Dilma Rousseff e Lula de participarem dos esquemas da Petrobras.
Na reportagem, limitava-se a colocar uma suposta pergunta do delegado ou procurador (sobre quem mais sabia do esquema), uma suposta resposta do doleiro (que Dilma e Lula sabiam). Só: uma frase apenas. Na sequência, a revista informa que o delator não apresentou nenhuma prova e nem lhe foi exigida. No mesmo dia, em entrevista ao insuspeito O Globo, o advogado do doleiro garantiu não ter havido o diálogo.
***
É a enésima tentativa de grupos de mídia de tentar influir em eleições através de notícias falsas ou deturpadas. Em toda eleição, sempre há um festival de denúncias que surgem, explodem e desaparecem como se nunca tivessem ocorrido.
A maioria absoluta desses factoides desaparece no tempo, sem que nada ocorra com os divulgadores de notícias falsas.
***
Essas manipulações trazem à tona a discussão sobre o aprofundamento da democracia.
Como reza a Constituição, todo poder emana do povo. As discussões, formação de opinião, direito à informação se dá no chamado mercado de opinião. Em muitos aspectos, trata-se de um mercado similar a outros mercados. Quando existe competição, o consumidor é beneficiado; quando não existe concorrência, impõe-se ao consumidor qualquer produto por qualquer preço. No caso da informação, apenas a parte da notícia que interessa ao emissor.
***
Desde o aparecimento de tecnologias de transmissão, especialmente após o advento da TV aberta, em todo mundo democrático os grupos de mídia tornaram-se os personagens mais influentes do mercado de opinião, mais do que as religiões, os sindicatos e os próprios partidos políticos.
Cada salto tecnológico – telégrafo sem fio, telefonia, radiodifusão, televisão – acabava enquadrado em monopolios públicos, entregues aos grupos com maior influência política.
Para amenizar o extraordinário poder das emissoras, a concessão do espaço público para empresas de mídia veio acompanhada da exigências de se respeitar a pluralidade cultural, religiosa, política, de não se alinhar com candidatos ou partidos políticos.
Na prática, não ocorreu. Não apenas no Brasil, mas em outras democracias de mercado ocorreram abusos e interferências indevidas de grupos de mídia, que acabaram se tornando o principal ator político nas democracias.
***
O advento da Internet pela primeira vez trouxe a competição ao mercado de opinião. Não havia mais as restrições à entrada de novos players – como no rádio e na TV. Além disso, todos os atores sociais – de grupos de mídia a cidadãos individuais – passaram a atuar no mercado de opinião dentro da mesma plataforma tecnológica.
A perda de eficiência cada vez maior das denúncias e dos factoides jornalísticos é sinal desses novos tempos. Em parte, devido ao rebate das redes sociais. Em parte, pelos exageros das denúncias não fundamentadas.
***
Um dos desafios do próximo governo será atuar com ferramentas de mercado, aplicando regras de direito econômico e de aprofundamento da democracia, definindo limites à concentração da propriedade do setor.

Quarta derrota

A grande mídia monopolista brasileira fez de tudo para derrotar Dilma: provocou, mentiu, distorceu fatos, agrediu - e perdeu. É a quarta derrota consecutiva, desde 2002, quando Lula se elegeu presidente pela primeira vez. O povo venceu.

Discernimento

Por que justamente os mais pobres e os assalariados deram a vitória a Dilma? Porque têm certo grau de consciência de que com Aécio o governo não seguraria o emprego e a renda do trabalhador, poria o ônus da crise global nas suas costas.

Paixão e amor

Glória Marino
A segunda-feira é de Mia Couto: “Assim, o amor e a paixão:/um, fruto; outro, sombra.” 

Minha página

Fora o período da campanha, praticamente uso meu perfil (sempre lotado) no Facebook apenas para a administrar minha página – que vocês podem acessar aqui https://www.facebook.com/lucianoPCdoB e curtir. Estaremos juntos, diariamente – no bom e sempre saudável diálogo. 

O primeiro pronunciamento

Dilma: "Quero ser uma presidenta muito melhor do que fui até agora"

O primeiro pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff depois que as urnas deram a ela o segundo mandato foi realizado às 21h30 em um hotel em Brasília-DF com a presença de presidentes dos partidos da base aliada, autoridades políticas e militantes.

“Eu queria cumprimentar e agradecer a cada um de vocês. Começo saudando o ex-presidente Lula. Dirijo meu agradecimento ao vice-presidente da República, Michel Temer.” Dilma cumprimentou ainda o presidente do PT, Rui Falcão, o presidente do PDT, Carlos Lupi, e o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, além dos ministros, deputados, senadores, jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas, “que me honram com a sua presença”, disse.

Bastante rouca, a presidenta pediu por várias vezes silêncio para o público que, entusiasmado, aclamava seu nome. “Chegamos ao final de uma disputa eleitoral que mobilizou todas as forças do nosso país, da nação. Como vencedora eu tenho palavras de agradecimentos”, disse Dilma.

A presidenta agradeceu ainda à sua militância dizendo que eles sustentaram a aliança e foram decisivos para a vitória. “Agradeço a cada um e a cada uma dos militantes combativos, que foi a alma e que foi a força que nos levou à vitória. Agradeço sem exceção a todos os brasileiros e brasileiros. Eu faço o agradecimento ao militante número um, das causas do povo e do Brasil, o presidente Lula.”

“Conclamo sem exceção a todas as brasileiras e a todos os brasileiros para nos unirmos em favor do futuro de nossa pátria, de nosso país e de nosso povo. Não acredito sinceramente que essas eleições tenham dividido o país ao meio, entendo que elas mobilizaram ideias e emoções em sentimento comum em busca por um futuro melhor para o país.”

Dilma fez ainda um chamamento à base e a união e disse que o seu primeiro compromisso do segundo mandato, será o diálogo. “Quando uma reeleição se consuma tem que ser entendida como um voto de esperança dado pelo povo na melhoria do governo. É um voto de esperança, muito especialmente na melhoria dos atos realizados até então. Eu sei o que o povo diz nas urnas, por isso, quero ser uma presidenta muito melhor do que foi até agora. Quero ser uma pessoa melhor. Quero ser uma presidenta muito melhor do que fui até agora. Esse sentimento de superação deve não apenas impulsionar o governo, mas toda a nação.”

A presidenta disse ainda que entendeu que uma das palavras mais comentadas nesta campanha foi a mudança e o tema mais amplamente enfocado foi a reforma. Ela disse que vai fazer as grandes mudanças que a sociedade brasileira exige. “Podem ter certeza estou pronta a responder essa convocação.”

Dilma falou ainda do poder de liderar as grandes causas populares e disse que assim o fará. “A minha disposição mais profunda é de liderar da forma mais pacífica e democrática. Estou disposta a abrir um grande diálogo em todos os setores da sociedade para encontrar soluções mais rápidas.”

Reforma Política

“Meu compromisso como ficou claro é deflagrar esta reforma que é responsabilidade do Congresso e que deve mobilizar a sociedade através de um plebiscito, como instrumento dessa consulta nós vamos encontrar a legitimidade exigida à reforma política. Quero discutir este tema profundamente com o Congresso e a população, tenho a convicção de todas as forças ativas na nossa sociedade para abrir a discussão e encaminhar. Quero discutir com todos os movimentos sociais e todas as forças da sociedade civil, quando cito a reforma política a importância das demais reformas que temos também a obrigação de promover. Terei um compromisso com o combate à corrupção, fortalecendo as instituições de controle e propondo mudanças. Anunciei medidas muito importantes para que o país como um todo enfrente a corrupção e acabe com a impunidade.”

Dilma falou ainda da retomada do crescimento da economia, da garantia dos altos índices de emprego, da parceria dos setores produtivos e financeiros, do combate à inflação e “o estímulo do diálogo com todas as forças produtivas antes mesmo do inicio do meu próximo governo eu prosseguirei nessa tarefa”.

“É hora de cada um confiar no Brasil.” Dilma falou do privilégio de pertencer cada vez mais a uma sociedade próspera e mais justa. “O Brasil, este nosso querido país, saiu maior dessa disputa e eu sei da responsabilidade que pesa sobre os meus ombros.” A presidenta falou ainda do “país ser mais inclusivo, mais moderno, o país da solidariedade. Um Brasil que valoriza o trabalho e a energia empreendedora, com um olhar especial para as mulheres, os negros e os jovens, um Brasil voltado para a educação, cultura, ciência e inovação”.

A presidenta reeleita chamou a sociedade a se dar as mãos e avançar nessa caminhada e construir o presente e o futuro. “O carinho e o afeto e o apoio que recebi me dão energia para seguir em frente com muito mais dedicação. Estou mais forte, mais serena e mais madura”, disse.

“Brasil, esta filha tua mais uma vez não fugirá da luta. Viva o Brasil, Viva o povo Brasileiro!”, finalizou. (Da Redação do Vermelho, Eliz Brandão)

Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

26 outubro 2014

Um ato de amor

Essa imagem me emociona e traduz meu voto como um ato de amor.

Desespero desregrado

Bala de prata de Aécio é crime de pistolagem

Desde o primeiro turno, a campanha de Aécio, diante da força de Dilma, se desespera à procura de uma bala de prata que a abata. Esse jargão “bala de prata” nada mais é do que golpismo e crime de pistolagem política.
Adalberto Monteiro, no Vermelho
Em 2002, um líder operário liderou a viragem política que inovadoramente associou crescimento econômico e distribuição de renda, ampliou a democracia e fortaleceu a soberania nacional. Desta vez, a esperança do povo se concentra numa mulher que “doou a alma” ao seu país.
Dessa doação de Dilma ao Brasil e de seu inquebrantável compromisso com o povo, sobretudo com os pobres, vem o horror, e mesmo o ódio, dos banqueiros e dos abastados, dos conservadores.
Por isto, desde o primeiro turno, a campanha de Aécio, vendo a força dessa mulher junto ao eleitorado, se desespera, se descabela, à procura de uma bala de prata que a abata. Esse jargão “bala de prata” nada mais é do que a legitimação do golpismo, e da pistolagem política. Armas prediletas da direita, desde a campanha que levou Getúlio Vargas ao suicídio.
A revista Veja tem praticado reiteradamente uma pistolagem contra Lula e Dilma. No primeiro turno, quando Aécio comia poeira nas pesquisas, Veja, com a armação da delação premiada de Paulo Roberto Costa, desferiu mentiras contra Dilma, e de “raspão” atingiu o falecido Eduardo Campos para debilitar Marina Silva. Aécio agarrou-se à revista como o afogado atrela-se a um bote.
Mancomunado com a pistolagem de Veja e de outros grandes veículos de comunicação, Aécio chegou ao segundo turno. Com as mãos sujas, mas chegou.
Agora, a dois dias da eleição, Veja antecipa de domingo para sexta-feira a sua circulação, para disparar mais uma pretensa bala de prata contra a presidenta. Sem prova alguma, diz que a presidenta e Lula sabiam dos ilícitos que estão sendo investigados na Petrobras. O advogado do doleiro Alberto Yousseff desmentiu a revista, afirmando jamais ter ouvido tal acusação de seu cliente.
Mesmo assim, Aécio Neves, em entrevista coletiva, assina embaixo a abjeta denúncia de Veja. O conluio está escancarado. Os “pistoleiros” que dispararam a bala suja de Veja não se resumem aos medalhões da Marginal Pinheiros, sede da revista em São Paulo. O agressor que até ontem posava de vítima se desmascara por inteiro.
Essa fúria do consórcio oposicionista contra Dilma vem de sua inarredável diretriz de enfrentar a grande crise mundial do capitalismo sem penalizar os trabalhadores e os pobres. Mas, a ira não brota apenas disso. Dilma se tornou, ao lado de Lula, a liderança que encarna um projeto de Nação, de um Brasil próspero, desenvolvido, respeitado no mundo, integrado com nossos irmãos latino-americanos. Um país no qual a riqueza a ser abundantemente produzida deve, sobretudo, ser canalizada para a elevação do bem-estar do povo, para a garantia de seus direitos que lhe foram negados em 500 anos de trajetória histórica.
Dilma Rousseff, mãe e avó, ao longo de 67 anos, a vida a preparou, a lapidou, para desempenhar essa grande responsabilidade de liderar a nação que possui a 7ª riqueza do mundo. Pela causa da liberdade, do socialismo, enfrentou a ditadura, padeceu a tortura. Estudou, exerceu várias responsabilidades em distintas instâncias de governo.
Lula dizia que não poderia errar porque senão jamais um operário voltaria a governar o Brasil. Foi reeleito e a porta do Palácio do Planalto ficou aberta para outras lideranças dos trabalhadores. Jamais um reacionário poderá dizer que um operário não tem competência para presidir o Brasil.
Dilma, do mesmo modo, sabia que não podia fracassar. É a primeira mulher a exercer a presidência da República. Um país onde as mulheres são milhões de heroínas anônimas. Um país no qual sua histografia esconde, oculta, a contribuição das mulheres à construção do Brasil. Se ela fracassasse, o machismo, o conservadorismo iriam reforçar o preconceito.
Dilma, mesmo acossada pelo conservadorismo e pelas consequências de uma grave crise mundial, fez um mandato exitoso. Firmou-se como uma liderança nacional respeitada.
Assim, a vitória de Dilma é a vitória de um projeto de Nação, vitória que, ao ser liderada pela segunda vez consecutiva por uma mulher, impulsionará também o avanço civilizacional, e a construção de uma sociedade sem preconceitos.
*Presidente da Fundação Maurício Grabois e editor da revista Princípios
Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

Liberdade

Portinari
O domingo é de Thiago de Mello: “A partir deste instante/a liberdade será algo vivo e transparente/como um fogo ou um rio...” 

25 outubro 2014

Jogo baixo Veja-Rede Globo

Como prevenir um crime eleitoral que será cometido logo mais no Jornal Nacional 

Luis Nassif, no GGN

Hoje à noite, exatamente às 20 horas, será cometido um crime de imprensa e um atentado à democracia. O Jornal Nacional dará entre 5 a 10 minutos de reportagem sobre uma informação falsa veiculada pela revista Veja.
O que fazer?
O primeiro passo é entender que a Constituição (e a democracia) não admitem censura prévia. Mas não havendo a censura prévia tem que se prever consequências, como forma de inibir o crime.
No Brasil, não existe a censura prévia nem as consequências. É isso que explica o estupro permanente da verdade.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) permite o direito de resposta. Ocorre que um direito de resposta convencional só poderia ser exercido na segunda-feira, quando as eleições já ocorreram.
Os advogados do PT deveriam ir agora ao TSE e solicitar uma medida cautelar com direito de resposta. Seria assim:
Um porta-voz de Dilma ficaria disponível no estúdio da Globo, aguardando o Jornal Nacional.
Saindo a reportagem sobre o factoide da Veja, lhe seria assegurado o mesmo tempo para apresentar a sua versão.
Não se trata de uma saída jurídica convencional, mas tem todos os elementos de justiça para ser aceita pelo TSE.
Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

Um braço da direita na campanha eleitoral

O terrorismo econômico dos mercados

Sem saída, os mercados implantam o terror. Contam para isso com a preciosa ajuda da grande mídia impressa e rádio-televisiva e de doutos pensadores.
Leda Maria Paulani (*), na Carta Maior

Há exatamente 12 anos, o país vivia um clima muito semelhante ao de hoje, no que concerne às avaliações sobre o desempenho da economia e às suas perspectivas. Como é sabido, naquelas alturas colocava-se claramente a possibilidade de Lula chegar à presidência da República, na disputa com José Serra, do PSDB. Como isso não era do agrado das forças financeiras que protagonizaram e dominaram os dois mandatos de FHC, instalou-se um clima de terror que operava em todas as frentes, da mídia aos agentes do mercado, das análises “científicas” dos doutores das universidades às peripécias internas do próprio Banco Central.
E tudo isso acontecia mesmo depois da Carta aos Brasileiros, em que Lula se rendia às pressões do mercado e prometia continuar ipsis litteris a política econômica em curso, garantindo a predominância do rentismo e os juros elevados que irrigavam os ativos dos credores. A ideia de que a economia iria se desfazer como gelatina, derreter como manteiga e sair do “controle” na hipótese de Lula vencer foi se disseminando despudoradamente e sendo “confirmada”, num claro movimento de profecia que se autorrealiza, pela queda das bolsas, subida do dólar e consequentes impactos sobre o nível de preços.
Nada disso encontrava muito respaldo nos dados, a não ser a marola provocada pelo próprio terrorismo. Apesar de um nível de reservas muitíssimo mais baixo que o de hoje e das três idas ao FMI em menos de quatro anos, os indicadores macroeconômicos usuais não estavam em colapso e não se verificava qualquer movimento parecido a uma fuga de capitais como a que ocorrera entre setembro de 1998 e janeiro de 1999 (esta sim, por sinal, indicadora de uma grave crise, pois ocorria mesmo com a garantia da permanência do capataz, reeleito em primeiro turno contra Lula nas eleições presidenciais de 1998).
A situação hoje é muito parecida. Basta girar o dial das rádios, virar as páginas da grande mídia impressa ou zapear pelos comentaristas econômicos da TV para ler e ouvir à exaustão que a inflação está fora de controle, que os gastos do governo passaram de todas as medidas, que o país perdeu sua credibilidade, que a economia brasileira, enfim, está à beira do abismo. Mas mais uma vez os dados desmentem esse coro histérico. Muito melhores do que em 2002, os parâmetros macroeconômicos estão absolutamente dentro do previsto, a inflação segue a trajetória de normalidade inaugurada em 2003 e não há vislumbre de fuga de capitais ou perda de investimentos externos. A desvalorização do dólar e queda das bolsas que acontecem em uníssono, se dão ao mero sabor da divulgação das pesquisas eleitorais.
Para não cansar o leitor vejamos apenas 3 desses parâmetros. Os investimentos externos diretos, a única parcela “saudável” dos fluxos internacionais de capital, apresentam-se, nos valores acumulados em 12 meses até junho, no mesmo nível histórico recorde dos últimos quatro anos, em torno de 64 bilhões de dólares anuais, muito mais elevado, por sinal, do que a média do quadriênio 2007-2010 (35,5 bilhões), é bem verdade que afetada pela crise internacional, mas igualmente bem mais elevada do que a média do quadriênio 2003-2006 (15,5 bilhões), ou 1999-2002 (25,1 bilhões), ou ainda 1994-1998 (18,7 bilhões), os dois últimos, além de tudo, beneficiados pela avalanche de privatizações executadas nos dois mandatos de FHC. As reservas internacionais do país também se encontram em nível recorde, cerca de 380 bilhões de dólares. Como falar então de perda de credibilidade?
Consideremos agora a questão do déficit público. O atual governo é sistematicamente acusado de descontrole nas contas públicas, de estar gastando em demasia, sem preocupação com o resultado primário positivo que tem de produzir. Sem entrar no mérito de tal exigência, vejamos os dados. É verdade que o superávit primário vem apresentando uma trajetória de queda nos últimos quatro anos, mas, em média (2,2% do PIB), ele não é substantivamente inferior ao dos quatro anos anteriores (2,9% do PIB), ainda que relativamente menor do que os dos quadriênios 2002-2007 (4,3%) e 1999-2002 (3,5%). Mas, no que tange ao resultado nominal, que constitui de fato o resultado final das contas públicas, ainda que não valha nada para a ortodoxia econômica, pois o que interessa a ela é a sobra de recursos públicos (superávit primário) para o pagamento dos juros da dívida, os resultados são diferentes.
Extrapolando dados de junho, chegamos a um déficit de 3% do PIB na média do quadriênio 2011-2014, um pouquinho maior do que o do quadriênio 2007-2010 (2,6%), mas bem menor do que os dos quadriênios 2003-2007 (3,6%) e 1999-2002 (5,7%). Só para efeitos de comparação, nos quatro anos findos em 2013, enquanto o déficit nominal brasileiro atingiu média de 2,7%, o déficit nominal da área do euro atingiu 4,1%, o dos Estados Unidos, 9,2%, o do Reino Unido, 8%, e o do Japão, 9,4% do PIB. Não parece um tanto exagerado falar em total descontrole dos gastos públicos?
Finalmente a inflação. A histeria pelo fato de o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, calculado pelo IBGE) ter atingido o teto da meta (6,5% ao ano) e de poder vir a ultrapassá-lo em 0,25% encobre o fato de que mesmo com o valor de 6,75% para este ano, a média do quadriênio 2011-2014 será de 6,2%, pouco acima da média do quadriênio anterior (5,2%), mas abaixo da média do quadriênio 2002-2006 (6,5%), e muitíssimo menor que as médias dos dois quadriênios anteriores (8,7% em 1999-2002 e 9,4% em 1995-1998). Que outro nome encontrar senão terrorismo econômico para a reiterada acusação de que a inflação está fora de controle?
Qual a razão da histeria? A resposta não é difícil de adivinhar. A presidenta Dilma não conta com o apreço dos mercados financeiros. Ao longo de sua trajetória na cadeira de presidente, ela foi se afastando da cartilha ortodoxa que detinha ainda grande peso no governo (daí a inexistência de terrorismo econômico nas duas eleições seguintes à de 2002) e tomando decisões pouco palatáveis para os interesses representados por esses mercados. A começar pela troca de comando do Banco Central, a presidenta teve a coragem de enfrentar o lobby bancário-financeiro, não só reduzindo a Selic, como utilizando os bancos públicos para forçar a queda dos vergonhosos spreads bancários, que ainda assim continuam muito altos.
A heterodoxia econômica, que havia ficado completamente escanteada no início do período de 12 anos de gestão do governo federal sob o comando do PT, foi ganhando espaço no governo da presidenta, para horror dos mercados financeiros, que agora escutam estarrecidos pela voz do atual ministro chefe da Casa Civil, Aloísio Mercadante, que não será dada nenhuma guinada ortodoxa no segundo mandato da presidenta.
Sem saída, os mercados implantam o terror. Contam para isso com a preciosa ajuda da grande mídia impressa e rádio-televisiva e dos doutos pensadores da universidade, onde a cartilha ortodoxa tem domínio quase absoluto. Seu poder de influência é efetivo, pois, em parte, eles podem “produzir” os resultados mentirosos que alardeiam e difundem. Já vimos esse filme em 2002 e vimos também que consequências danosas ele teve, pois o terrorismo econômico foi funcional mesmo após as eleições, levando um governo supostamente de esquerda a ser mais realista que o rei e a “beijar a cruz” do neoliberalismo.
Esperemos que agora esse trunfo ideológico a serviço do projeto conservador e reacionário encarnado na candidatura de Aécio Neves não seja suficiente para instalá-lo no poder e que, sendo vitoriosa a candidatura da presidenta, a política econômica se liberte de vez dos ditames da ortodoxia e retome o enfrentamento dos interesses financeiros, seguramente dos mais lesivos ao País.
(*) Professora Titular do Departamento de Economia da FEA-USP e Secretária de Planejamento, Orçamento e Gestão da Prefeitura de São Paulo
Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

Ontem na Globo

O debate de ontem não produziu nenhum “fato novo”, como desejava Aécio, em desvantagem nas pesquisas. Não afetou a ascensão de Dilma, que se assenta em razões objetivas – o conjunto da obra de governo e suas repercussões sobre a vida das pessoas – e subjetivas, a percepção disso pela maioria do eleitorado. Hoje é dia de luta, amanhã é dia de voto.

Hoje

Gilvan Samico
O sábado é de Vinícius de Moraes: “Nasço amanhã/Ando onde há espaço:/— Meu tempo é quando.”

24 outubro 2014

Um programa social que deu certo

Bolsa Família: 11 anos e 11 conquistas

Uma análise livre de preconceitos revela que o programa aumenta a frequência escolar e cria uma população mais saudável e uma sociedade mais igualitária
por Rosana Pinheiro-Machado e Luana Goveia, na Carta Capital

No exterior, o reconhecimento do Programa Bolsa Família é notável: políticos do mundo todo e pesquisadores das mais prestigiosas universidades querem conhecer essa política social. Já no Brasil, o cenário é bastante diferente. Passada mais de uma década, uma grande parte da população ainda tem grande dificuldade de aceitar os benefícios alcançados pelo Bolsa Família. Poder-se-ia argumentar que o entusiasmo de fora é fruto do desconhecimento da realidade brasileira. Nós acreditamos que o que ocorre é exatamente o contrário: fora do Brasil, as pessoas olham abertamente para o Programa, desprovidas dos preconceitos que paralisam uma grande parte da população brasileira.
Com base nos relatórios de impacto do Bolsa Família, sintetizamos aqui algumas das conquistas alcançadas nos últimos 11 anos. Nosso objetivo é ajudar a desconstruir alguns mitos que prevalecem no senso comum, como a ideia de que o Bolsa Família está produzindo uma geração de “vagabundos”. Na verdade, devido à condicionalidade na área de educação e saúde, o Programa comprovadamente está produzindo exatamente o oposto: uma geração de estudantes com frequência escolar 10% maior do que a média nacional, uma população mais saudável e, finalmente, trabalhadores mais engajados – e consequentemente mais críticos e exigentes - no mercado de trabalho.
1. O Bolsa Família tem um custo muito baixo aos cofres públicos
Ao contrário do que é dito popularmente, em termos econômicos, o Bolsa Família é um programa barato, representando apenas 0,45% do Produto Interno Público (PIB) brasileiro.
2. Aquecimento da economia
O dinheiro pago ao Bolsa Família volta para os cofres públicos via impostos, já que ele é usado principalmente para a compra de produtos básicos para uso imediato, como comida e remédios, ou a médio prazo, como bens duráveis. Por ser um dinheiro dinâmico de alta circulação, ele também aquece a economia de baixo para cima, dinamizando, consequentemente, o setor de serviços do País. Como resultado, a cada real adicional gasto no Bolsa Família estimula-se um crescimento de 1,78 reais no PIB.
3. Superação da extrema pobreza e redução da desigualdade social
O Bolsa Família ajudou a retirar 36 milhões de pessoas da situação de pobreza. A pobreza e a extrema pobreza somadas caíram de 23,9% para 9,6% da população. Houve uma redução inédita da redução da desigualdade de renda no Brasil nos últimos 10 anos, e o Bolsa Família foi responsável por 13% dessa redução.
4. Melhorias na saúde da população de baixa renda
Redução em 51% no déficit de estatura média das crianças beneficiárias. O déficit de estatura é um indicador de desnutrição crônica e está associado ao comprometimento intelectual das crianças. Os meninos beneficiários de cinco anos aumentaram 8 milímetros, em média, em quatro anos.
Entre 2005 e 2009, a cobertura de vacinação entre as famílias beneficiárias passou de 79% para 82%.   As mulheres grávidas beneficiárias têm 1.6 consulta a mais do que as mulheres não beneficiárias na mesma condição.
Houve também redução da mortalidade infantil entre zero e seis anos em 58% por causas relacionadas à desnutrição e diminuição das doenças infecciosas relacionadas à desnutrição e à diarreia, além do aumento da porcentagem de crianças de até seis meses alimentadas exclusivamente pela amamentação.
5. Melhorias na educação da população de baixa renda
O Bolsa Família mantém 16 milhões de crianças e adolescentes na escola. Os estudantes beneficiários do programa têm menor taxa de abandono do que os não beneficiários.
No ensino médio, a taxa de abandono dos beneficiários do Bolsa Família é de 7,4% ante a dos não-beneficiários de 11,3%. No ensino fundamental, a taxa de abandono foi de 2,8% para os beneficiários do programa, enquanto a dos não-beneficiários era de 3,2%. Ou seja, o cumprimento da condicionalidade do Bolsa Família faz com que os beneficiários não apenas frequentem a escola, mas também apresentem melhores indicadores que crianças pobres e não beneficiárias do programa.
6. Redução do Trabalho Infantil
O Bolsa Família ajudou a diminuir o número de horas do trabalho doméstico entre crianças e adolescentes de 5 a 17 anos – decréscimo de 4,5 horas no geral e de 5 horas para os meninos.  Houve o adiamento de 10 meses na entrada no mercado de trabalho de crianças e adolescentes do sexo masculino.
7. Empoderamento das Mulheres
O pagamento é feito diretamente à mulher responsável pela família, o que levou a um processo de empoderamento em seus lares. Com um poder sobre os gastos familiares, as beneficiárias decidem mais sobre as compras e têm mais controle sobre sua vida conjugal. Com a segurança monetária proporcionada, as mulheres se sentem menos dependentes dos seus maridos, muitos dos quais agressivos e têm mais poder em uma eventual separação.
As beneficiárias ampliaram o uso de métodos contraceptivos (9,8 pontos percentuais de alta), reforçando a autonomia e o exercício dos direitos reprodutivo entre as mulheres.
Para as mulheres não ocupadas, o Bolsa Família contribui para um aumento  de 5 pontos percentuais procura por trabalho, com destaque para a região Nordeste.
8. Superação de preconceitos contra o Bolsa Família (1): “O Bolsa Família incentiva os pobres a fazer filhos”
Diz-se que as pessoas oportunisticamente terão mais filhos para receberem mais benefícios. Na verdade, a tendência de declínio de fertilidade da população brasileira continua notável em todas as faixas de renda, sendo que a redução recente da taxa de fertilidade tem sido ainda maior entre as mais pobres.
9. Superação de preconceitos contra o Bolsa Família (2): “O dinheiro do Bolsa Família é gasto com roupas de ‘marca’”:
Beneficiárias não fariam uso adequados dos recursos monetários a elas transferidos. Na verdade, verificou-se que famílias pobres em situação de insegurança familiar são mais propícias a gastarem seus recursos em alimentação.
10. Superação de preconceitos (3): “Efeito-preguiça: o Bolsa Família acomoda e sustenta vagabundos”:
Em termos de ocupação, procura de emprego ou jornada de trabalho, os dados são iguais entre beneficiários e não beneficiários do programa. Ademais, a probabilidade de quem recebe o Bolsa Família estar trabalhando é maior – 1,7% a mais para homens, 2,5% para mulheres – do que entre pessoas da mesma faixa de renda que não participam do programa.
Há também estudos que mostram que o Bolsa Família também não incentiva a informalidade. O incentivo à acomodação ou à informalidade é praticamente nulo.
Sobre o número de pessoas que já deixaram o Bolsa Família voluntariamente, calcula-se que foram 1,7 milhão de famílias.
11. Superação de preconceitos (4): “Bolsa Família estimula corrupção local e clientelismo”
O pagamento é feito da Caixa Econômica Federal diretamente às famílias, via cartão bancário, sem passar pela interferência dos agentes do poder local. Agentes locais apenas coletam informações das famílias beneficiárias, informações estas que são enviadas ao MDS para análise da elegibilidade das famílias e finalmente o sorteio das que serão beneficiárias do programa.
Prestígio e Futuro
Por essas e muitas outras razões, como a melhoria nas moradias e no sentimento geral de bem estar das populações mais pobres, o Bolsa Família é um modelo no contexto internacional, sendo considerado o principal instrumento de transferência de renda do mundo pela Organização das Nações Unidas (ONU). O Bolsa Família foi apontado, em 2013, pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) como uma das principais estratégias adotadas pelo país que resultaram na superação da fome, retirando, assim, o país do mapa da fome mundial. Adicionalmente, a Associação Internacional de Segurança Social (AISS) concedeu ao Brasil um prestigioso prêmio internacional devido ao caráter inovador de redução da pobreza trazido pelo Bolsa Família, considerado o mais importante do mundo dentro dos grupos de programas de transferência condicional de renda. A instituição espera, ainda, que o Bolsa Família sirva de exemplo para que mais países implementam programas similares em benefício de seus cidadãos.
A população brasileira precisa ter consciência de suas próprias conquistas para que possa reivindicar pela manutenção e aperfeiçoamento do Programa. Se, em uma década, o Bolsa Família trouxe resultados tão positivos que sequer eram previstos, é possível acreditar que, daqui a poucos anos, teremos uma geração de cidadãos que, por estar ainda mais nutrida, educada e empoderada, reivindicará por seus direitos fundamentais, exigirá mais respeito e encarará o Brasil de forma mais crítica, inclusive exigindo melhor qualidade – e não apenas o acesso - dos serviços de educação e saúde.
Se não está se formando uma geração de vagabundos, se traz tantos benefícios gastando apenas 0,5% do PIB, por que muitos ainda se opõem tão veemente ao Programa Bolsa Família?

Fontes: Campello, T.; Neri, M.  (2013) Programa Bolsa Família: uma década de inclusão e cidadania. Brasília: IPEA; International Social Security Association (ISSA); Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
Luana Goveia é mestre em Políticas Sociais pela London School of Economics (LSE) e doutoranda na Universidade de Oxford
Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

Empatar é vencer

Colunistas políticos gastam tinta e papel lamentando a postura defensiva de Aécio, a que associam o avanço de Dilma nas últimas pesquisas Ibope e Datafolha, e jogam agora todas as fichas no debate de hoje, na TV Globo. É a busca de um último e milagroso “fato novo”, já que as capas das revistas semanais e as manchetes diárias, todas contra Dilma, parecem não fazer o efeito desejado. Na verdade, o debate de hoje provavelmente não alterará nada. E a Dilma basta administrá-lo com atenção e paciência. Para quem está na frente nas preferências do eleitorado, basta empatar para vencer.

Soberania versus neoliberalismo

O Brasil soberano

Eduardo Bomfim, no Vermelho

Neste 2° turno eleitoral há uma radicalização das manifestações de opiniões contra Dilma Rousseff, insufladas por uma campanha de ódio ideológico através da grande mídia oligárquica.
Na medida em que avança sua candidatura, aumentam leituras preconceituosas, racistas, sobre a base social de apoio a Dilma, acerca do modelo constitucional em pleno vigor no País.
Âncoras da grande mídia vociferam que o Brasil transformou-se num tipo de regime bolivariano da Venezuela.
A resistência do povo venezuelano em sua luta contra as velhas elites predadoras nativas, às ameaças dos EUA às suas fabulosas reservas petrolíferas tem nossa solidariedade.
Mas as características históricas, econômicas, políticas, sociais entre o Brasil e a nação irmã são distintas.
O que há mesmo no Brasil é a disputa eleitoral entre um modelo de desenvolvimento econômico soberano com investimentos sociais e o neoliberalismo dogmático defendido por Aécio Neves apoiado em editorial pelo The Economist, jornal do capital rentista inglês.
Em contraponto ao apoio do capital financeiro, grande mídia hegemônica, há o pleno exercício da soberania popular, da luta política. Alguns indagam onde estão os jovens manifestantes de 2013, das tempestades de ansiedades difusas, depois instrumentalizadas pela grande mídia.
Hoje eles estão é na campanha eleitoral em meio a apaixonados debates, elevado nível de discussão política, na peleja sobre os rumos do País.
Dizer que os eleitores de Dilma não têm nível superior, de baixa renda, desinformados, é óbvio preconceito de classe. Eles se encontram em todos extratos da sociedade. E Dilma tem sim imenso apoio nas grandes maiorias com autoestima elevada pelos avanços sociais.
Há grupos conservadores que anseiam por algo semelhante a uma nova fórmula digital da República Velha, derrotada pela Revolução de 1930 que aboliu o voto exclusivo de bico de pena, aristocrático, de alta renda, de propriedade, assegurou o voto universal, secreto, voto feminino, com avanços garantidos na atual Constituição brasileira.
A eleição presidencial mostra as lutas políticas, sociais, democráticas em um Brasil da 7a economia mundial, na emergência de dezenas de milhões de pessoas ao pleno exercício da cidadania, o direito legítimo de decidir sobre seu futuro, o projeto político do País.
Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

Imprensa marrom

O golpe de Veja: processo e fim de anúncio

Altamiro Borges, no Brasil 247

Em sua página no Facebook, a revista Veja já anuncia a sua “bomba” para a véspera da eleição presidencial. A capa é das mais tenebrosas: “Eles sabiam de tudo”. No fundo escuro, as fotos sombrias de Dilma e Lula. Na chamada de capa, o “vazamento ilegal” do depoimento à Polícia Federal do doleiro Alberto Youssef, um bandido notório brindado com uma “delação premiada e premeditada”. Ele teria denunciado que a presidenta e o ex-presidente conheciam o esquema de desvio de dinheiro da Petrobras. A “reporcagem”, que ainda não foi disponibilizada no site da revista, é a última cartada da mafiosa famiglia Civita para tentar dar sobrevida à cambaleante candidatura do tucano Aécio Neves.

Vale lembrar que Figueiredo Basto, advogado do doleiro suspeito de realizar estes vazamentos criminosos, é muito ligado ao governador tucano Beto Richa. Em meados de outubro, o senador Roberto Requião (PMDB) revelou no seu Twitter: “O advogado do Alberto Youssef, nessa cruzada contra o PT, é Antonio Augusto Lopes Figueiredo Basto. Ele foi membro do conselho da Sanepar”. O site da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) informa que ele foi conselheiro administrativo da empresa estatal até 28 de abril passado. Ele foi indicado para o cargo por Beto Richa e é tido como um homem da total confiança do governador tucano. Neste sentido, a “bomba” da revista Veja é mais uma armação descarada.

Em 13 de outubro, o ministro Admar Gonzaga, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), acatou pedido da coligação da presidente Dilma Rousseff (PT) e concedeu liminar pela suspensão de uma inserção na rádio da “Veja”. Ele entendeu que a revista, a pretexto de veicular publicidade comercial, burlou a legislação eleitoral ao fazer propaganda ilegal de Aécio Neves (PSDB). “O ministro considerou que houve divulgação de conteúdo próprio do debate eleitoral, porém veiculado na programação normal do rádio na forma de publicidade comercial, em desacordo com a regra contida no artigo 44 da lei 9.504/97, que veda a veiculação de propaganda paga”, descreveu o jornal Valor.

Esta decisão do TSE, porém, parece que não intimidou os capangas da famiglia Civita. A “Veja” esta desesperada com a queda nas intenções de voto do cambaleante tucano, confirmada nesta quinta-feira (23) pelas pesquisas do Datafolha e Ibope. Já era previsível que tentasse uma última cartada ainda mais suja – mesmo correndo o risco de nova condenação. Diante destas e de várias outras atitudes ilegais e criminosas, o governo e o PT não podem vacilar. A revista deve ser processada, exigindo-se a imediata resposta da Justiça Eleitoral e, inclusive, a retirada de circulação deste panfleto tucano.

Este novo golpe também deveria fazer com que o governo repensasse sua política de publicidade. Não tem cabimento bancar anúncios milionários numa publicação asquerosa e irresponsável, que atenta semanalmente contra a democracia e o livre voto dos brasileiros. Não dá mais para alimentar cobras! Chega!
Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

Dor

Endigo
A sexta-feira é Nelson Cavaquinho: “Tire o seu sorriso do caminho/Que eu quero passar com a minha dor” (Arte: Endigo)

Filho de empregada doméstica, cursando engenharia

Um depoimento emblemático

Por João Bosco Euclides da Silva

“Uma das razões por eu votar em Dilma se deve a um telefonema que recebi semana passada de uma amiga minha. Ela pediu-me que ajudasse a encontrar um estágio para o filho dela. Perguntei a ela que curso o filho estava fazendo, informou-me que era engenharia. Bem, como eu sou advogado, para mim não seria muito fácil, mas lembrei de alguns amigos que são engenheiros a quem poderia me socorrer. Podem perguntar se teria sido a primeira vez que alguém teria me pedido ajuda para conseguir estágio para um filho. Respondo que não, sendo que essa amiga minha é Luzinete Claudino da Silva, ex-empregada doméstica de minha casa, hoje o seu filho está cursando engenharia. Outros ainda podem dizem que eu também, que sou filho de uma mãe assalariada, fiz faculdade de Direito. E aí eu respondo, a diferença é que em minha época eu era uma exceção, e hoje isto está virando uma regra. Por isso voto 13. Por isso voto Dilma.”

Bom Dilma!

Manchete UOL/Folha: “Dilma avança em todas as classes e Aécio retrocede entre as mais altas”. Bom Dilma a tod@s!

23 outubro 2014

Dilma avança mais

Boa notícia – mas a luta tem que se intensificar: pesquisa Datafolha divulgada hoje revela que Dilma abriu seis pontos de vantagem sobre o tucano Aécio Neves. Nos votos válidos (sem considerar brancos, nulos e indecisos), Dilma tem 53% das intenções de voto, um ponto acima da pesquisa realizada na terça-feira, quando tinha 52%. Aécio caiu um ponto, indo de 48% para 47%.

Responsabilidade pessoal

Aviso aos navegantes: para mim, Twitter, Facebook, Instagram, e-mail e meu celular ninguém administra: são pessoais e intransferíveis. Assumo total responsabilidade por tudo o que escrevo nas redes sociais. Sempre disponível para o bom diálogo e a saudável polêmica – com absoluto respeito às diferenças.

A poeta sabe

Christina Nguyen
A quinta-feira é de Cecília Meireles: “Deixai que cantem as fontes,/ao menos, sobre esta pedra/que põem no meu coração.” 

Diferença pró-Dilma pode ser maior

As duas vozes das ruas

Eleição presidencial no Brasil jamais foi tranquila – mesmo quando se dava circunscrita aos membros do Estado Maior das Forças Armadas, na vigência do regime militar. A tensão é a marca. Afinal, nos tempos que correm, de exercício da democracia, trata-se de conquistar o apoio da maioria dos eleitores para legitimar determinado projeto de nação. Não é simples, nem se faz apenas, da parte de cada litigante, pela apresentação de suas ideias programáticas; implica polêmica e, em certa medida, na exploração das contradições do adversário. Sobretudo agora, no segundo turno, quando estão frente a frente Dilma e Aécio.

A resultante disso está no debate de idéias pelos diversos caminhos ora disponíveis – no horário eleitoral na TV e no rádio, nas entrevistas diárias, nos debates promovidos pelas redes de TV, na internet – e nas ruas.

Pode não ser o debate dos nossos sonhos, pois permeado por regras restritivas – os organizados pelas redes de TV principalmente – e pela parcialidade explícita da grande mídia. Porém muito longe do “rebaixamento” que alguns criticam – precisamente os que perderam com Marina e se sentem ameaçadas do perder com Aécio.

O fato é que a temperatura aumentou no confronto de projetos diametralmente opostos e, pouco a pouco, foi assumindo lugar na cena, a disseminação do preconceito e do ódio. Há um antipetismo alimentado pelos adeptos de Aécio pouco fundado em idéias e fortemente assentado no preconceito contra os pobres, contra os nordestinos, contra o chamado segmento “C” emergente. O PT é atacado muito menos pelos seus erros e muito mais pelos seus acertos. A redução da desigualdade social, a incorporação de mais quarenta milhões de brasileiros ao sistema produtivo e ao mercado de consumo, nos doze anos de Lula e Dilma, têm gerado uma espécie de repulsa de classe da parte das elites dominantes e de extensa parcela da denominada classe média alta, que contamina parte do eleitorado menos esclarecido e mais embaixo na estratificação social.

Nas últimas semanas, contudo, o confronto de ideias na mídia ganhou as ruas – positivamente, pois além de esclarecer o eleitorado, contribui para a elevação da consciência política de milhões.

As pesquisas captam isso. Reflete, nesta reta final do embate, a voz das ruas. A voz barulhenta, sim; mas a outra voz, a silenciosa, creio que ainda não. Talvez apenas na pesquisa de boca de urna o consiga.

É que há mesmo duas vozes das ruas: a que se expressa claramente e a que se mantém contida, inibida face o ambiente agressivo que se espraia na sociedade. Nos segmentos classificados pelos pesquisadores como C, D e E isso é real: muita gente não revela o voto, se sente intimidada. O fenômeno é captado nas pesquisas qualitativas, destinadas e recolher a subjetividade das pessoas. Cá na província já vivemos essa experiência em vários pleitos.

É bem provável que a diferença pró-Dilma seja maior do que a assinalada até agora nas últimas pesquisas. Uma franja importante do eleitorado, maior do que a situada entre indecisos traduzirá seu peso real na hora de digitar o voto. (Publicado no portal Vermelho, no Blog de Jamildo e no Jornal da Besta Fubana)

Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

Voto feminino

Datafolha revela que 47% das mulheres pretendem votar em Dilma, contra 41% em Aécio. Só? Acho que domingo a diferença será ainda maior.

22 outubro 2014

A palavra de Dilma: o País e a campanha eleitoral

Dilma Rousseff: "Houve uma aposta violenta contra o Brasil neste ano"

A candidata à reeleição fala de seus planos e confronta a oposição
Na Carta Capital
Para quem atravessou a semana espremida entre uma nova leva de vazamentos das denúncias contra a Petrobras e a consolidação de uma inédita coalização partidária contra o PT em torno da candidatura de Aécio Neves, a presidenta Dilma Rousseff exibia excelente humor, embora estivessem à vista os sinais de cansaço da extenuante campanha eleitoral. Por cerca de uma hora e meia, ela recebeu CartaCapital na biblioteca do Palácio da Alvorada, logo após retornar de um compromisso em São Paulo. A candidata à reeleição criticou o que considera uma interferência do Judiciário na disputa presidencial, o cinismo da oposição, acostumada a “engavetar” os casos de corrupção quando estava no governo, e a aposta contra o Brasil em 2014. Na comparação entre as administrações petistas e tucanas, disparou: “O PSDB só sabe fazer programas piloto, para 2% da população. Nós incluímos os pobres no Orçamento”.

CartaCapital: A senhora defendeu a divulgação “ampla, geral e irrestrita” das investigações da Operação Lava Jato, que envolvem a Petrobras. Por quê?
Dilma Rousseff: Para obter as provas, a Justiça e o Ministério Público valeram-se da delação premiada, um método legítimo, previsto em lei. E muito útil para desmontar esquemas de corrupção. Na Itália, contra a máfia, funcionou muito bem. Mas há um fato estranho nessa história. De repente, o juiz Sérgio Moro reúne os dois principais depoentes que assinaram os termos da delação premiada e os ouve em outra instância, em outro processo, sem relação com a ação sob análise do ministro Teori Zavascki no Supremo Tribunal Federal. E aí começam a vir a público partes selecionadas. Um dos envolvidos cita João Vaccari, tesoureiro do PT, e outros nomes. Há sem sombra de dúvidas uma seleção dos vazamentos. Fizeram tudo baseados na lei, pois são competentes. E só divulgaram a parte que lhes interessa. O delator deve, porém, provar o que diz ou ao menos oferecer indícios suficientemente fortes. E o que se viu até agora? O uso de termos como “falaram”, “disseram”, “pode ser que seja”.
CC: A senhora acha que eles mentem?
DR: Só acho estranho aparecerem essas histórias neste momento. Por que no início do segundo turno das eleições? Por que desta maneira selecionada? Tem muita coisa no ar além dos aviões de carreira. Esses vazamentos não servem ao interesse central dessa investigação, se o propósito for esse mesmo, de desvendar os atos de corrupção.
CC: Presidenta, o escândalo atinge a maior, a mais importante empresa do Brasil. Como não foi possível evitá-lo e de que forma a senhora pode garantir que esse tipo de coisa não voltará a acontecer caso seja reeleita?
DR: Não será preciso esperar um segundo mandato. Tomamos todas as medidas necessárias para coibir qualquer tipo de abuso ou malfeito na Petrobras e nas outras empresas e áreas do governo. Já, hoje. Obviamente e infelizmente, nunca se consegue em uma instituição acabar com todos os processos de corrupção, isso não é mérito, ou melhor, demérito dos países em desenvolvimento ou da América Latina. A União Europeia reconhece uma perda de cerca de 1% do Produto Interno Bruto no conjunto das nações do bloco decorrente da corrupção. Como tenho dito, não se pode apostar apenas na virtude dos homens e mulheres. Quem precisa ser virtuosa é a instituição. Ela necessita dos elementos e contrapesos para impedir o processo de corrupção. É fundamental, antes de mais nada, acabar com a impunidade. Por onde anda o bicheiro Carlinhos Cachoeira? Está solto. E o ex-senador Demóstenes Torres? Solto. E tantos outros acusados de corrupção nas últimas décadas? Fora o pessoal do PT, não tem ninguém na cadeia. A impunidade sanciona o ato de corrupção. E é preciso ser completamente ingênuo para achar que a escandalização da política pela mídia resolve os problemas.
CC: E como se resolve?
DR: O corrupto e o corruptor precisam ter a sensação de que seus atos terão consequências. No Brasil, caixa 2 é mero crime eleitoral. Por isso proponho algumas medidas, mantido o direito de defesa em todo processo, sem condenar previamente ninguém, para fechar o cerco à corrupção. No nosso país é comum “condenar” suspeitos por meio de denúncias estampadas na mídia, mas na hora de puni-los de verdade, ao fim da ação judicial, nada acontece. Condena-se tão somente na opinião pública. Proponho transformar o caixa 2 em crime, não só eleitoral. Essa mudança está ligada a uma reforma política. Se continuar a existir financiamento privado de campanha, não teremos uma ação eficaz contra a corrupção. Vamos além: o servidor público que não for capaz de comprovar a origem de um bem será enquadrado em um crime e, entre outras medidas, perderá esse bem. Não vai adiantar mais fazer um termo de ajustamento com a Receita Federal e pagar os impostos devidos. Defendo ainda uma instância mais ágil nos tribunais superiores para julgar os casos de foro privilegiado. Queria lembrar, aliás, que o foro privilegiado foi criado no governo Fernando Henrique Cardoso, na administração dos nossos opositores nesta campanha. Sem essas medidas que proponho em meu programa, e algumas outras, não se combate de fato a impunidade. E não pode haver vazamentos indevidos. Os vazamentos anulam as provas.
CC: O escândalo da Petrobras virou uma arma eleitoral da oposição e reforça em uma parte do eleitorado a ligação entre o PT e a corrupção, não?
DR: Há uma diferença entre nós e a oposição. Ela não investiga e nunca investigou nada. Os governos do PSDB não são muito chegados a uma apuração de denúncias. Há uma extensa lista de casos que foram simplesmente engavetados. O procurador-geral da República da época do FHC foi apelidado de engavetador-geral. Não fomos nós que o apelidamos assim. Tudo ia para a gaveta, tudo abafado. São duas políticas completamente distintas. No governo Lula, a Controladoria-Geral da União ganhou status de ministério, teve sua estrutura reforçada. Criamos o Portal da Transparência. Um gasto autorizado estará, no mais tardar, em 24 horas exposto na internet. Nenhum estado, nenhum outro Poder no Brasil tem algo parecido, com a mesma agilidade. Só a União. Abolimos critérios, digamos, convenientes para o governo na escolha do procurador-geral da República. Respeitamos a lista tríplice indicada pelos próprios procuradores e promotores e isso aumentou a autonomia do Ministério Público. O mesmo acontece na Polícia Federal. O diretor da PF não integra os quadros do PT, veio da estrutura de funcionários da autarquia. O último diretor da PF no governo FHC era filiado ao PSDB e foi candidato duas vezes a deputado pelo partido.  Não vetamos a Lei da Ficha Limpa. Aprovamos a legislação contra o nepotismo, aquela de acesso à informação, que garante ao cidadão a obtenção de dados que não afetem a soberania do País. Antes, a Justiça punia os corruptos e não os corruptores. Aprovamos uma lei que alcança também os corruptores. É outra estrutura, outro Estado, muito mais equipado para combater esse tipo de mazela. E faremos mais.
CC: O candidato Aécio Neves anunciou Arminio Fraga no Ministério da Fazenda caso se eleja. E a senhora informou que Guido Mantega não continua em um segundo mandato. Há quem defenda que, a exemplo de seu adversário, a senhora deveria anunciar o futuro ministro da Fazenda. Por que não fazê-lo?
DR: Não acho necessário ou conveniente fazer esse anúncio no meio de uma eleição. Trata-se de uma absoluta prerrogativa do presidente eleito anunciar o ministério. Por que o senhor Arminio Fraga foi “empossado” antecipadamente? O que significa? O PSDB diz: com a mesma receita e o mesmo cozinheiro farei o mesmo prato. Essa é a mensagem, embora eles neguem a intenção de preparar o mesmo prato oferecido durante os quatro anos em que o senhor Arminio presidiu o Banco Central. E não podemos esquecer. Segundo ele, ao assumir o BC, o Brasil atravessava uma crise gravíssima. Havia, sim, uma crise, mas vamos comparar. Era a crise dos Tigres Asiáticos, da Rússia, do México. Em meados dos anos 1990, os países emergentes não tinham a força que têm hoje e aquela crise se concentrou nessas nações. É completamente diferente e bem menos avassaladora quanto esta de agora, que feriu o sistema capitalista em seu cerne, nas economias centrais. Seis anos depois do estouro da bolha que levou à quebra do Lehmann Brothers, um dos maiores bancos de investimento do mundo, a Europa continua mergulhada em crise profunda...
CC: ...Em um debate recente com Mantega, Fraga afirmou que a crise acabou há cinco anos...
DR: Talvez por considerar que uma crise acaba quando cessam os problemas dos grandes bancos dos Estados Unidos. O que são 100 milhões de desempregados ao redor do planeta, não é mesmo? Desde 2011, quando assumi a Presidência, só se discute a crise nas reuniões do G-20, o grupo das 20 maiores economias do mundo. Em 2011 e 2012, a preocupação era a recuperação dos Estados Unidos e os efeitos de sua política expansionista, de inundação de dólares no mercado. Depois veio o debate sobre o imenso risco sistêmico diante da possibilidade de a união monetária na Europa ruir e arrastar o sistema financeiro “bichado” da região. A crise não só continua como entrou em uma nova fase e atingiu, com certo atraso, os países emergentes. Como o Brasil, a China saiu-se bem em 2009 e 2010, mas começou a enfrentar problemas depois. O crescimento caiu de 10% ao ano para 7,5%, e inclusive em um dos trimestres ele ficou abaixo desse patamar. É um porcentual bem baixo para os padrões chineses e paras as necessidades do país. A Rússia teve uma queda fantástica, a Índia também. A América Latina, é claro, não escapou. Algumas análises são engraçadas. Os chamados mercados agora amam o México, que cresceu 1,1% no ano passado, enquanto o Brasil registrou uma expansão de 2,7%... Há diferença fundamental entre o Brasil de 1999 e o de agora. Naquela época, em consequência de uma crise de muito menor proporção, os juros chegaram a 45%, o desemprego a 15% e o governo foi obrigado a passar o pires no Fundo Monetário Internacional. Quebramos naquela ocasião. Agora temos a menor média de juros da história recente e a mais baixa taxa de desemprego. Pelos critérios estatísticos, estamos perto do pleno emprego. Enfrentamos essa crise, a pior dos últimos 80 anos, sem desempregar, sem obrigar o trabalhador a pagar a conta.
CC: A despeito da crise internacional, o governo não errou em algumas medidas? O que a senhora teria feito de maneira diferente caso pudesse voltar ao início de seu mandato?
DR: Vamos analisar. Fizemos a desoneração tributária da folha de pagamento de vários setores. A outra opção era seguir o caminho da União Europeia. O resultado está aí: desemprego, redução dos direitos trabalhistas, cidadãos sem perspectivas. Preferimos desonerar para manter os empregos. A arrecadação caiu? Sim, mas foi a forma de manter a competitividade do trabalho. Deveríamos parar de investir em infraestrutura como os tucanos fizeram quando estavam no governo? Nunca. Aprimoramos os marcos regulatórios das concessões. No tempo de FHC, nos contratos de 1997 e 1998, estradas foram concedidas à iniciativa privada, com pedágios altos, e o único compromisso era fazer a manutenção. A duplicação era feita por fora, em outros contratos. Mudamos o padrão de investimento.  É sempre possível melhorar, anunciei várias ideias novas para o segundo mandato, mas pergunto: o que poderia ter sido diferente?

CC: O governo não represou os preços dos combustíveis?
DR: Adoro discutir esse assunto. Durante o meu governo, concedi reajustes de 31,5% para os combustíveis, acima do IPCA, o índice oficial de preços, que subiu perto de 26%. Do que reclamam então? Querem que eu iguale os preços da Petrobras ao valor do barril de petróleo brent. Pergunto: o que os Estados Unidos fazem?
CC: E o que os EUA fazem?
DR: Quanto é o preço do gás no mercado interno dos Estados Unidos? É de 3,96 dólares por milhão de BTU, uma medida térmica. E quanto custa no mercado internacional? Varia, ao gosto do freguês, de 14 a 17 dólares. Atrelar o preço do petróleo brasileiro ao mercado internacional só interessa aos acionistas da Petrobras, dentro e fora do País. Passamos um período difícil na empresa. Houve atraso no fornecimento de sondas e isso não é responsabilidade de fornecedores locais, da política de conteúdo nacional. Foram as encomendas internacionais que chegaram depois do prazo. Tiveram atrasos de um ano, 18 meses. Acharam que não conseguiríamos produzir no pré-sal. Pois bem, a Petrobras já produz cerca de 500 mil barris por dia. Foram necessários 30 anos para o Brasil alcançar a marca de 500 mil barris diários. E só oito para produzir mais 500 mil do pré-sal. Estamos no período de maior produção dos últimos anos. Em seis anos nos tornaremos grandes exportadores de petróleo, e isso até o Departamento de Energia dos EUA admite.

CC: No fundo, a Petrobras está no centro da eleição.
DR: As reservas brasileiras são extremamente atraentes. A valorização das empresas de petróleo tem relação direta com a quantidade de reserva que possui. Os tucanos vão ficar muito tentados a conceder parte dos blocos do pré-sal a empresas internacionais, em detrimento da Petrobras. O modelo atual impede que façam isso na proporção que desejavam fazer antes. Mas...
CC: O modelo de partilha.
DR: Sim. Ele podem modificar a lei. Não tenho nada contra o modelo de concessão, mas queria dizer por que ele não serve ao pré-sal. A concessão funciona quando não se sabe a quantidade de petróleo existente. Aí, tudo bem. Quem se arrisca e encontra óleo é premiado. Mas no caso do pré-sal está tudo mapeado, sabemos onde o petróleo está, que a qualidade é boa e a quantidade, extraordinária. Parte dessa disputa está em desmoralizar a Petrobras. O escândalo reside nesse ponto. Detectaram um caso de corrupção, sim, infelizmente, mas não se pode chamar de corrupto o corpo de funcionários da empresa, um orgulho do País.
CC: A senhora tem falado em “governo novo, ideias novas” em sua campanha. Pode ser mais específica?
DR: Fizemos o Mais Médicos. A oposição, o PSDB à frente, foi contra, embora anuncie agora a disposição de “aperfeiçoar o programa”. Qual o estado mais beneficiado? São Paulo. Dos 50 milhões de brasileiros atendidos pelos quase 14,5 mil médicos, 7 milhões vivem no estado de São Paulo. É um programa emergencial? Sim, pois conhecemos a lacuna de tempo para formar novos médicos no Brasil. Mas se implementei o programa, contra todos os prognósticos, sob intensas críticas, principalmente dos tucanos, tenho credibilidade para garantir outro passo, o Mais Especialidades. Perto de 80% dos problemas de saúde são resolvidos nos postos. Os outros 20% dependem de internação, cirurgia, tratamentos. E de especialistas, de exames laboratoriais. Pretendemos organizar uma rede, com consultórios privados, filantrópicos e públicos, para atender a essa demanda. Na área de segurança, a experiência de integração durante a Copa do Mundo, os 12 centros de comando e controle, a união entre as forças nacionais, estaduais e municipais, foram uma experiência riquíssima e nos serve de base. Mas nada disso funcionará se não mudarmos a Constituição. A União precisa tornar-se parte responsável pela segurança pública. Antes do governo Lula, Brasília empurrava o problema para os estados. Com Lula surgiram ações mais integradas. As UPPs no Rio de Janeiro são um caso. Com a mudança da Constituição não seremos apenas transferidores de recursos. Teremos responsabilidades correlatas. Um terceiro ponto são as escolas de tempo integral, os planos para a educação. É preciso mudar o ensino médio para combater a elevadíssima evasão. Já começamos as mudanças com o Pronatec, mas não basta. Lula mudou a lei dos tucanos que proibia o governo federal de construir escolas federais de ensino técnico. Durante o governo do PSDB foram feitas apenas 11 escolas técnicas. Somadas às 129 construídas desde o Império, dava 140. Só Lula ergueu 214. Eu, 208. São 422 em 12 anos ante 140 em toda a história do País antes dos nossos governos. Esse volume nos permitiu fechar uma parceria com o Sistema S. Um país deste tamanho não pode viver à base de programas piloto como fazem os tucanos.
CC: Programas piloto?
DR: Eles gostam de programas que beneficiam 2%, um pouco mais, da população. Para ter escala é preciso ser gratuito e universal. Pois bem, fechamos a parceria com Sesc, Senai e outros do Sistema S. Investimos 14 bilhões de reais e ofereceremos 8 milhões de matrículas em quatro anos. O efeito será extraordinário. Não só oferece oportunidades aos brasileiros, aos jovens em particular, como afeta positivamente a produtividade. E não só: financiamos por meio dos bancos públicos a criação pelo Senai de 26 instituições de inovação e 60 de tecnologia. Os tucanos criticam os bancos públicos e os juros subsidiados do BNDES. Programas como este serão diretamente afetados. E não só. O agronegócio tem de ficar muito atento, pois é financiado com taxas de juro subsidiadas. Os 180 bilhões de reais neste ano para a agricultura vêm de onde? As obras de infraestrutura tiveram seus prazos de financiamento alongados. Como se constroem metrôs? Uma parte vem de dinheiro a fundo perdido saído do Orçamento-Geral da União. Outra parte, do financiamento de pai para filho concedido pelos bancos públicos. São 30 anos para pagar, quatro anos de carência e juros baixos. Hidrelétricas? A mesma coisa. O resultado: vai parar tudo, como parou no tempo deles. E mais, para levar a inflação a 3% no período em que eles prometem, o único caminho é estabelecer uma taxa básica de juros de 25% na média e desemprego de 15%. Eles falam em baixar juros, logo eles, campeões nesse quesito. Arminio Fraga elevou os juros a 45% em 1999. Aliás, o “ministro do Aécio” declarou que o salário mínimo está muito elevado no Brasil. Diz, até incorretamente, que o reajuste supera a curva de produtividade. Não é verdade. No período tucano, a curva do salário caiu. No nosso, ela subiu e se aproximou da curva da produtividade. Não tem nada de absurdo no salário mínimo.
CC: Como a Petrobras, outra herança getulista está em debate, não é de hoje: as leis trabalhistas...
DR: Eles prometem atualizar a CLT. Essa é a palavra. A outra é flexibilizar. Como ficam o 13º, as horas extras, as férias, o FGTS? Não acredito que o povo brasileiro os deixará fazer isso. Mas há um risco imenso. Eles dizem: “Continuaremos as boas políticas, o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Mais Médicos”. Todas as políticas aprovadas pela população eles prometem continuar. Mas aí você aproxima a lente e nota: eles nunca fizeram política social em grande escala no Brasil. Veja o Bolsa Educação. No debate, Aécio Neves citou 5,1 milhões de beneficiados. O Bolsa Família atinge 50 milhões de brasileiros. O Minha Casa Minha Vida, sem os bancos públicos, que eles combatem, não funciona. Quem ganha 1,6 mil reais paga 5% da renda. São 80 reais de mensalidade. Se você colocar a preços de mercado, a família pagaria 940 reais. Se ganhar 800 reais, não tem como pagar 940, e se ganhar 940, empata e não tem o que comer. A política dos tucanos é uma equação que não fecha, pois não leva em conta as pessoas. Lula tem uma ótima expressão: o maior mérito do nosso governo é ter incluído o pobre no Orçamento. O PSDB deixou os pobres de fora. Vamos discutir o legado do candidato de oposição em Minas Gerais, governado por ele e seu grupo durante 12 anos. Lembro que ele perdeu a eleição lá, teve menos votos do que eu, e Fernando Pimentel venceu a disputa ao governo do estado em primeiro turno. Como alguém que afirma ter realizado um governo decente e eficiente acumula a segunda maior dívida entre as unidades da federação? Como acreditar na promessa de compromisso com a educação e a saúde se ele foi obrigado a assinar um termo de ajustamento de gestão com o Tribunal de Contas do Estado por não ter cumprido os investimentos mínimos nestas áreas exigidos pela Constituição? Segundo o TCE, a dívida na saúde somava 7,6 bilhões de reais. Na educação, 8 bilhões. Que mudança é essa oferecida pelos tucanos? Para pior, só pode ser. O sonho transforma-se em pesadelo. Não podemos subestimar o povo. Acho que os eleitores estão no momento de reflexão.
CC: O Brasil cresceu pouco sob o seu mandato. Neste ano a expansão ficará abaixo de 1%. Como recuperar a economia?
DR: Houve uma aposta violenta contra o Brasil neste ano. Essa aposta beirou o absurdo durante a Copa do Mundo. Falaram que o torneio não ocorreria, se ocorresse seria desastroso e se fosse desastroso não conseguiríamos tomar nenhuma medida para evitar o pior. Que havia problemas em todas as áreas: aeroporto, segurança, comunicação. Um quadro assustador. Depois surgiu a história da tempestade perfeita, uma união do aumento dos juros nos Estados Unidos, que tiraria capital dos mercados emergentes, e do rebaixamento da classificação de risco do Brasil. A tempestade não veio. Desde o início do meu governo fala-se em inflação fora do controle, mas se esquecem de mencionar os dois choques desse período, um provocado pela seca nos reservatórios das hidrelétricas, que afetam as tarifas da energia, e outro no preço dos alimentos. Engraçado: a tolerância com o racionamento de água em São Paulo não se repete no caso dos reservatórios. Enquanto amenizam a falta de água no estado mais populoso e mais rico do País, governado pelos tucanos, criam o fantasma do racionamento de energia para nos atacar. Isso afetou o humor dos investidores, a confiança necessária para os empresários tocarem seus planos.
CC: Quanto a mídia influi nesse ambiente?
DR: Não vou dizer 100%, pois seria injustiça. Uns 98%, por aí.
CC: Mas os estrangeiros continuam a investir...
DR: ...67 bilhões de dólares neste ano.
CC: Eles investem por serem mais espertos ou por não estarem contaminados pelo ambiente?
DR: Pelos dois. Eles percebem: é impossível o Brasil estar à beira do abismo. Quem faz superávit primário hoje no mundo?
CC: O Brasil e a Arábia Saudita.
DR: E quase nos matam por causa da redução do superávit primário. Quem tem uma relação entre a dívida líquida e o PIB de 35%, 36%? A Turquia tinha, não tem mais. Há uma exigência muito forte em relação ao Brasil, em relação a parâmetros que não são corretos. Não somos o Chile. Somos muito mais complexos. Não nos compare com a Colômbia.
CC: Por que o Brasil não fez mais acordos comerciais durante o seu mandato?
DR: O ambiente não é dos mais favoráveis, certo? Acho muito grave a visão de política externa do PSDB. Como eles enxergam a América Latina, a miopia em relação aos BRICS. Pior é o alinhamento na linha de uma Alca escondida. E o que é isso? É aceitar a liberalização do comércio em troca de nada. É a completa ausência de uma política de afirmação e soberania. Existe um equívoco no debate sobre o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Depois da votação recente no Parlamento Europeu, alguns países tornaram-se refratários a acordos de livre-comércio, em especial a França, a Hungria e a Irlanda. A própria UE, no processo de transição, não tinha condições de aprovar um acordo. Culparam a Argentina de forma errônea. Queriam transformar Cristina Kirchner em bode expiatório. Mas a Argentina topou. Temos uma posição consolidada no Mercosul. Quem não tem são os europeus e não seremos ingênuos de exibir nossa proposta sem vermos a deles. Na atual conjuntura existe uma disputa maior por mercados. Isso não pode nos levar ao protecionismo, tampouco precisamos aceitar qualquer acordo como parecem defender os tucanos. Chico Buarque foi muito feliz ao definir a política externa do PSDB: falar fino com os EUA e grosso com a Bolívia. Temos uma boa relação com os Estados Unidos, mas somos autônomos. E é sandice recusar a integração com os BRICS. O bloco tem sido construído a duras penas. Chegamos ao banco de investimento com capital de 100 bilhões de dólares. Christine Lagarde, diretora do Fundo Monetário Internacional, gostaria que o contingente de reservas dos BRICS tivesse relação com o FMI. Isso fortaleceria o fundo e as economias emergentes.
CC: O FMI anda muito interessado nas eleições brasileiras, não?
DR: Não só o FMI. É um sinal de que o Brasil tornou-se mais relevante no mundo.
Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD