31 dezembro 2018

Contraste

Pesquisa Datafolha revela que 61% dos brasileiros opinam que “a posse de armas deve ser proibida, pois oferece risco à vida de outras pessoas.” [Mas o capitão presidente anuncia um decreto flexibilizando o porte de armas — em favor da indústria bélica].

27 dezembro 2018

À deriva

Segundo a Folha de S. Paulo, perguntado sobre priorados e oncinhas ações iniciais do novo governo, o futuro ministrando Casa Civil, Ônyx Lorenzoni apressou-se em negar improviso, porém não soube responder à pergunta. [Faça sua aposta: incompetência, confusão mental ou falta de unidade na equipe ministerial?]

26 dezembro 2018

Contra

Em dois anos e sete meses de governo, Michel Temer editou 140 medidas provisórias. Nenhuma em favor do povo.

Lei do mais forte

Segundo o Anuário da Justiça Saúde Suplementar informa que o Superior Tribunal de Justiça votou mais a favor de empresas do que de consumidores em processos ligados a planos de saúde julgados em 2018, anota Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo. [Também nessa matéria a Justiça tira a venda dos olhos e pende para o lado economicamente poderoso].

Conservadorismo

Em 1986, igrejas evangélicas elegeram 32 deputados à Assembleia Constituinte. Em 2019, 84 deputados e 7 senadores constituem a bancada evangélica. Influência crescente, porém de conteúdo ultraconservador. 

Minha mensagem de fim de ano

Resistir sem perder a esperança e a leveza. Sempre juntos.

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Midias e manipulação


Ramonet: A opinião pública não quer verdades, quer confirmar crenças
"Na física quântica é possível estar em dois lugares ao mesmo tempo. Hoje estamos diante de informações quânticas. (...) A verdade não é relevante, não é mais pertinente, e por isso se colocou esse conceito de pós-verdade ou verdade alternativa: você tem a sua, eu tenho a minha", diz o jornalista frânces Ignácio Ramonet

Por Cíntia Alves, do GGN, reproduzido no portal Vermelho

Em novembro de 2018, La Casa Encendida, um centro cultural de Madri, divulgou no Youtube o vídeo de uma mesa de debate com o jornalista francês Ignácio Ramonet, autor de "A Explosão do Jornalismo" na era da internet. 

No início dessa década, Ramonet viajava o mundo propagando ideias sobre como as novas tecnologias da informação e comunicação (TICs) catapultaram a ascenção dos "meios-polvo" sobre os "meios-sol". Qualquer cidadão com um dispositivo conectado à internet agora opera como um propagador de mensagens ou produtor de conteúdo, dinamitando o monopólio da imprensa tradicional.

Por um lado, esses avanços tecnológicos representaram a democratização dos meios de informação mas, de outro, já perto do final da década, ficou claro que esses mesmos avanços nos levaram diretamente a uma segunda explosão do jornalismo: no mérito, uma desvalorização ou desqualificação do conteúdo feito por profissionais, somada à uma crise de confiança que desbaratou emissoras de TV e rádio, jornais impressos e digitais, blogs e afins.

Manipulado ou espontâneo, certo é que esse desinteresse de parte da sociedade acerca da verdade factual lapidada pelo jornalismo profissional virou terreno fértil para as fake news.

No vídeo abaixo, Ramonet comenta suas perspectivas sobre a era da pós-verdade, notícias falsas e uso das redes sociais por populistas de direita na América Latina, Estados Unidos e Europa.

A partir de 1 hora e 6 minutos de vídeo, ele trata da eleição de Jair Bolsonaro neste contexto de sociedade organizada em rede, com cidadãos fortemenete inclinados a formular uma verdade própria.

O GGN destacou alguns trechos desse momento do debate:


"Para entender a comunicação no século XXI é preciso entender que naturalmente a opinião pública não busca a verdade. O que a opinião pública busca são informações que confirmem suas crenças prévias.

O que acaba de passar no Brasil de Bolsonaro?

Há uma investigação sobre Bolsonaro ter utilizado oficianas de ciberguerra para infiltrar no WhatsApp mensagens falsas.

No Brasil, as empresas ajudaram Bolsonaro financiando a difusão de mentiras.

Em particular:

- Que o Haddad havia distribuído um kit gay aos meninos de 6 anos nas escolas.

- Que o homem que apunhalou Bolsonaro era militante do PT e amigo de Lula. E havia uma foto de um meeting de Lula com o esfaqueador, uma foto manipulada.

- Uma atriz com os olhos roxos, difundiram que ela foi agredida porque gritou em favor de Bolsonaro. Ela faleceu há 2 anos.

- Disseram que Haddad defendia o incesto e o comunismo.

- E difundiram que se Haddad ganhasse as eleições, ira aprovar uma lei para legalizar a pedofilia.

São exemplo de fake news que permitiram a Bolsonaro ganhar a eleição. 

A internet não impede que uma informação falsa possa se difundir. 

Todas as controversias se alimentam, todas as teses são válidas. Todas as afirmações são legítimas. É a teoria da relatividade em matéria de informação. Não há informação mais válida que outra, se eu a afirmo com mais força.

Na física quântica é possível estar em dois lugares ao mesmo tempo. Hoje estamos diante de informações quânticas. 

Foulcault dizia que a verdade tem uma história. Finalmente o mundo funciona com uma ideia de verdade não-científica, não-racional, que ele chamava de "verdade raio", porque se manifesta num momento, num lugar e numa pessoa. 

No século XVIII apareceu a "verdade céu". Um metro mede um metro seja aqui ou em qualquer lugar do planeta. 

A pergunta que faço hoje é se estamos abandonando a "verdade céu" para regressar à "verdade raio".

Estamos sendo enganados pela ideia de que podemos ter crenças que se podem introduzir no nosso pensamento.

Os psicólogos nos dizem que preferimos crer em realidades alternativas do que na realidade real porque nos dá mais prazer emocional.

Nos EUA, 61% já se informam através do WhatsApp.

Escrevemos o que pensamos que as pessoas querem ler, não a verdade.

A pós-verdade e os meios alternativos estão reposicionando o campo da informação, modificando a batalha eleitoral e contribuindo na influência da opinião pública. É um problema para a democracia, o emocional das verdades fictícias.

É perigoso porque a historia nos ensina que quando desaparece a verdade, também desaparece a liberdade."

"Já não influenciam os meios influentes?"

Estão aparecendo novas formas de governo. No mundo democrático, globalmente, tinhamos governos conservadores, progressistas ou de alianças entre os dois. De uns anos para cá, estamos vendo surgir organizações políticas que vencem as eleições e que não correspondem a nenhuma dessas famílias políticas que conhecemos.

Em vários países europeus, mais recentemente na Itália, temos visto a ascensão do governo populistas que fazem a Europa entrar numa nova etapa política, em que a questão das imigrações e das novas tecnologias são importantes.

Hoje o funcionamento da democracia está em crise. Estamos entrando em uma nova era da política em que as regras do jogo não estão funcionando. Há uma crise de confiança nas democracias.

Em vários países da América Latina, a maioria responde que entre um governo democrático sem emprego e um governo autoritário que promova empregos, eles preferem o segundo. É o que estamos vendo na Europa.

Uma parte da sociedade já não crê na democracia e na economia neoliberal. 

A crise de 2008 provocou uma crise de desconfiança traumática na economia de mercado tal como estava sendo dada.

As sociedades que pensavam ter deixado a pobreza para trás viram como os ricos continuaram bem durante a crise e isso ajudou a desencadear a crise da democracia.

Nem o neoliberalismo, nem o marxismo tradicional, nem a sociodemocracia têm conseguido responder às mudanças dessa sociedade que não se vê representada na classe política.

Ao mesmo tempo, estamos com dificuldade de encontrar uma agenda política com a qual nos identificamos diante da oferta.

O caso mais emblemático é o de Trump. Sua eleição constitutiu um verdadeiro traumatismo. 

Como alguém atacado por todos os meios hegemônicos pode ter sido eleito? A mesma pergunta pode ter sido feita sobre Bolsonaro.

Trump tinha a mídia e Wall Street contra ele. Todos os grandes intelectuais e todos os grandes pensadores e formadores de opinião estavam contra.

A mesma coisa com o Brexit: toda a vida inteligente estava contra o Brexit.

Fica a pergunta: já não influenciam os meios influentes?

As coisas mudaram com a internet. Não estamos no mundo midiático que conhecemos por muito tempo. 

Agora, todos somos meios. E todos podemos nos comparar com grandes canais de televisão. É uma revolução copernicana. Todos podemos produzir conteúdo. 

Os meios dominantes impuseram a moral e a agenda política. A imprensa era capaz de criar uma manipulação de massa sutil para conduzir a sociedade na direção desejada. Isso se rompe com a democratização dos meios de comunicação.

Trump, por exemplo, não foi a programas de televisão durante a campanha. E diz que a imprensa é inimigo do povo. Os EUA têm 4 grandes canais, sendo a Fox um deles, o único em que Trump vai.

Trump tem 55 milhões de seguidores no Twitter, o dobro de espectadores que assistem a um telejornal. E tem mais 24 milhões de seguidores no Facebook. Tem mais do que os meios tradicionais, que estão perdendo audiência.

O meio dominante hoje são as redes sociais. Está fragmentada, mas é o meio domintante. Não há nenhum canal de televisão hoje que tenha mais influência que os chamados digital influencers.

Não podemos mais pensar que a TV tem influência. Muita gente tem TV para ver Netflix ou canais privados. Hoje os indivíduos podem se comunicar por suas redes e alcançar mais gente do que os grandes canais de comunicação. É uma revolução comunicação de grande envergadura.


Os meios de massa deixaram de ser meios dominantes e devemos perguntar se continuam sendo meios de massa ou só meios hegemônicos, porque os meios sociais são os novos meios de massa. Eles é que estão fazendo mudança no plano político e eleitoral, inclusive.

"A verdade não é mais necessária"

A vitória de Trump também demonstrou que a verdade não é mais necessária. Para ganhar a eleição, você não precisa se apoiar na verdade. A verdade não é relevante, não é mais pertinente, e por isso se colocou esse conceito de pós-verdade ou verdade alternativa: você tem a sua, eu tenho a minha.

As fake news, a construção de uma falsidade é algo que a gente pensava ser normal, já existia. Mas profissionalmente é algo novo. Foram uma parte do debate político, como se fossem algo normal.

Estamos impactados e traumatizados pelo universo da comunicação estar colonizado pelas falsas notícias. (
Fonte:GGN)

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Arte é vida

José Pancetti

História recente


Manual do Exército orientou perseguição a comunistas durante a ditadura

Publicação acusou dissidentes de infiltração em associações, propaganda ideológica e lavagem cerebral

Alline Magalhães, Folha de S. Paulo

Um documento encontrado por um pesquisador na cidade de Santos (SP) evidencia que o Estado-Maior do Exército distribuiu material com orientações para que autoridades militares perseguissem pessoas consideradas comunistas durante a ditadura militar (1964-1985).
Trata-se do “Manual de Campanha C 100-20 - Guerra Revolucionária”, um livro de 266 páginas que indica ter sido impresso em 1969 pelo Estabelecimento General Gustavo Cordeiro de Farias (EGGCF), a gráfica do Exército.
Segundo quatro especialistas no período de ditadura militar consultados pela reportagem, trata-se de uma publicação rara.

De circulação interna e tiragem de 5.000 exemplares, o manual registra ter sido aprovado e colocado em prática pelo então general do Exército e chefe do Estado-Maior do Exército, Adalberto Pereira dos Santos (1905-1984).

Vice-presidente no governo de Ernesto Geisel (1907-1996), Santos foi membro do Conselho de Segurança Nacional, que, em 13 de dezembro de 1968, aprovou o Ato Institucional número 5.

O decreto permitiu o fechamento do Congresso Nacional, cassação de mandatos políticos e suspensão do direito de habeas corpus pelo governo de Costa e Silva (1899-1969).

O manual do Exército contextualiza a Guerra Fria como sendo o período em que a humanidade se defrontou com duas grandes correntes ideológicas, o comunismo e a democracia.

“Às Forças Armadas, parte integrante da nação e, como ela, democráticas por convicção, cabe indiscutivelmente papel essencial nessa vigilância”, diz um dos trechos do manual, que argumenta ter havido um contragolpe para evitar uma revolução comunista em março de 1964.

Embora também discuta a questão das guerrilhas, o foco da publicação do Exército é a “arma psicológica” que seria utilizada por subversivos por meio de propagandas, livros e encontros em associações civis, estudantis, sindicais e até mesmo no âmbito do Ministério da Educação —que estaria sofrendo uma sistemática doutrinação “marxista-leninista”.

Em certos pontos, o documento apresenta uma perspectiva dos dissidentes que beira a paranoia.
“Pela lavagem cerebral, destrói-se a personalidade dos indivíduos”, diz o manual.
Em outros, descreve os aspectos brutais da repressão. Um dos capítulos, por exemplo, narra as “ações destrutivas” dos supostos agentes da revolução comunista com o fim de desmoralizar o governo e atingir a ordem social.

Algumas dessas ações seriam as greves de operários, as passeatas e os comícios considerados ilegais pelo regime militar.

Ao descrever o comportamento dos rebeldes, o manual menciona que eles desafiam as autoridades para provocar o “derramamento de sangue” e criar os “mártires da revolução”.

“A massa é levada a considerar a ‘missão sagrada de não trair a fé dos mártires mortos’. E o sangue derramado pode transformar o mais banal dos acontecimentos em um fato de grande repercussão, por sua exploração emocional”, diz o texto.

No entanto, o conceito de “guerra revolucionária” nele abordado já foi encontrado em outras publicações militares, como no “Mensário de Cultura Militar” e no “Boletim de Cultura Militar”.
Para João Roberto Martins, professor de ciências políticas da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), a publicação tem importância histórica.

“A leitura desse documento parece comprovar que a repressão e a tortura tinham um sólido fundamento ideológico”, diz Martins.

O professor explica que a doutrina da “guerra revolucionária”, definida como guerra interna com viés ideológico, fora importada pelos militares latino-americanos do Exército francês, que a empregava junto a práticas violentas nos conflitos na Indochina (Sudeste Asiático) e na Argélia.

Eduardo Heleno de Santos, professor do Instituto de Estudos Estratégicos da UFF (Universidade Federal Fluminense), que tem convênio com órgãos militares, também avalia a influência da doutrina no aparato repressivo.

“Um dos aspectos mais importantes é que ela assume a ideia de um inimigo interno”, diz.

O pesquisador aponta que o setor militar, que sempre agregou correntes ideológicas distintas, com 
destaque para o pensamento conservador, hoje segue rumo à institucionalização.

“O mundo deles está muito mais próximo das missões de paz [da ONU], e a valorização deles também”.

O documento menciona, ainda, outras duas publicações, supostamente, com estudos complementares: “Manual C-33-5 Operações Psicológicas” e “Manual de Campanha C-31-16 Operações Contra Guerrilhas”.

A reportagem enviou a publicação na íntegra ao Exército Brasileiro e fez questionamentos sobre o seu conteúdo. A instituição respondeu com a seguinte nota:

“O Centro de Comunicação Social do Exército informa que deve prevalecer neste momento um espírito de conciliação entre todos, civis e militares, tendo como ideal a reconstrução de nossa pátria. Com este espírito é que a instituição continuará cumprindo suas missões constitucionais, contribuindo para o desenvolvimento do País”, declarou o Exército.

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Cena política: uma análise


Xadrez dos rumos do fascismo à brasileira
Luís Nassif, Jornal GGN

Peça 1 – os ciclos da história

Desde o Plano Cruzado me interessei pelos ciclos históricos, pela maneira caprichosa com que os fatores históricos vão sendo tecidos e os eventos se repetem, com cem anos de diferença, mas seguindo a mesma lógica férrea. Explano essa processo no meu livro “Os cabeças de planilha”.
Quem primeiro me chamou a atenção foi a leitura de “América Latina, males de origem”, do médico, psicólogo, historiador Manuel Bonfim.
Admirador da revolução americana, descreveu logo após a República o que seria o desenho de um país moderno e sua decepção com a República que se desenhava no país. Especialmente com a maneira como o Brasil naufragou com o encilhamento e o jogo político dos financistas.
Justamente por mudar o foco dos males nacionais, do mito da sub-raça (que ele desmontou, como médico) para o da sub-elite, acabou ignorado pela geração seguinte de brasilianistas, de Gilberto Freyre a Sérgio Buarque de Holanda.
Essa visão dos ciclos é essencial para entender a quadra atual do mundo e do Brasil, o advento do fascismo em suas diversas formas.
Em meados do século 19 e início do século20 ganham forma as grandes inovações tecnológicas, especialmente nos meios de transporte e nos serviços públicos. Essas inovações permitem a notável expansão do capital financeiro, mas, ao mesmo tempo, provocam terremotos nas atividades tradicionais, levando insegurança a todos os setores.
Como descreve Madeleine Albright no beste-seller “Fascismo, um alerta”:
Invenções espantosas como a eletricidade, o telefone, o automóvel e o navio a vapor aproximavam o mundo, mas essas inovações deixavam milhões de fazendeiros e trabalhadores manuais sem emprego. Por toda parte, pessoas estavam em movimento. Famílias de trabalhadores rurais se amontoavam nas cidades e milhões de europeus levantavam acampamento e cruzavam o oceano. Para muitos dos que ficavam, as promessas inerentes ao iluminismo e às Revoluções Francesa e Americana haviam se esvaziado.
No plano internacional, além disso, vivia-se o advento de uma nova potência industrial, os Estados Unidos, desequilibrando o jogo de poderes na Europa. E o modelo de articulação entre as nações, a Liga das Nações, não mais conseguia administrar os conflitos entre as partes.
A Velha República esboroa-se no Brasil e em todas as partes do mundo. Na Europa, a crise decreta o fim das dinastias monárquicas que dominavam os países mais relevantes.
Cem anos depois, o modelo financista esgota-se com a crise de 2008. Em outros tempos, cederia espaço à socialdemocracia. Mas, na Europa, a socialdemocracia agonizava, devido às enormes concessões feitas à financeirização. Em 2010, a única esperança de revitalização da socialdemocracia era Lula, recém-saído de um governo vitorioso.
É esse quadro que provoca, tanto há cem anos, quanto agora, o fim do modelo de democracia restrita, abrindo espaço para as lideranças agressivas, populistas, primárias, brandindo discursos de ódio.

Peça 2 – psicologia do fascismo

 Esse é o tema principal do livro de Madeleine Albright. Além das comparações históricas, Albright se dedica a dissecar a psicologia do fascismo, a partir dos exemplos maiores – Hitler e Mussolini -, mas também dos partidos de extrema-direita que aparecem nos Estados Unidos, Inglaterra e França.

O medo como fator impulsionador

O medo é a razão de o alcance emocional do fascismo se estender a todos os níveis da sociedade. Não existe movimento político que floresça sem apoio popular , mas o fascismo depende tanto dos ricos e poderosos como do homem ou da mulher da esquina – dos que têm muito a perder e dos que não têm nada. Essa colocação nos fez pensar que talvez o fascismo deva ser visto menos como ideologia política e mais como forma de se tomar e controlar o poder.
Na Itália dos anos 1920, por exemplo, havia autodeclarados fascistas de esquerda (que advogavam uma ditadura dos despossuídos), de direita (que defendiam um Estado corporativista autoritário) e de centro (que lutavam pelo retorno a uma monarquia absolutista).
Na origem da formação do Partido Nacional-Socialista Alemão (Nazista) há uma lista de reivindicações com apelo a antissemitas, anti-imigrantes e anticapitalistas, mas que defendia também pensões mais altas aos idosos, mais oportunidades educacionais aos pobres, fim do trabalho infantil e melhorias no sistema de saúde para as mães. Os nazistas eram racistas e, na cabeça deles, ao mesmo tempo reformistas.
Enquanto uma monarquia ou uma ditadura militar são impostas à sociedade de cima para baixo, a energia do fascismo é alimentada por homens e mulheres abalados por uma guerra perdida , um emprego perdido , uma lembrança de humilhação ou a sensação de que seu país vai de mal a pior . Quanto mais dolorosa for a origem da mágoa, mais fácil é para um líder fascista ganhar seguidores ao oferecer a expectativa de renovação ou prometer restituir - lhes o que perderam.

O fascismo de Trump

Nesse processo , aviltou sistematicamente o raciocínio político nos Estados Unidos , exibiu um desprezo impressionante pelos fatos , caluniou predecessores , ameaçou “ encarcerar ” rivais políticos , referiu - se aos jornalistas da grande mídia como “ inimigos do povo americano ” , espalhou mentiras sobre a integridade do processo eleitoral do país , promoveu de forma impensada uma política comercial e econômica nacionalista , vilanizou imigrantes e os países de onde vieram e alimentou uma intolerância paranoica direcionada aos seguidores de uma das principais religiões do mundo

A violência e a hipocrisia

(Mussolini) aceitava dinheiro de grandes corporações e bancos, mas falava a língua dos veteranos e dos trabalhadores. (...) Como o clima político continuava a piorar, teve de tornar-se cada vez mais militante só para manter-se em compasso com as forças que alegava comandar. A um repórter que lhe pediu para resumir seu programa, Mussolini respondeu: “É quebrar os ossos dos democratas... e quanto mais cedo, melhor”.
(...) Discursando em praças, cervejarias e tendas circenses, Hitler se utilizava repetidamente dos mesmos verbos de ação – esmagar, destruir, aniquilar, matar. Sua rotina era gritar até espumar de fúria, vociferando em meio ao agitar de braços contra os inimigos da nação.

A ditadura dentro do devido processo legal

Em 1924 , Mussolini forçou a aprovação de uma lei eleitoral que entregava aos fascistas o controle do parlamento . Quando o líder socialista apresentou provas de que a votação fora fraudada , foi raptado por bandidos e assassinado . Ao final de 1926, Il Duce já havia abolido todos os partidos políticos concorrentes, acabado com a liberdade de imprensa, neutralizado o movimento trabalhista e reservado a si mesmo o direito de nomear autoridades municipais. (...) Assumiu o controle da polícia nacional, expandiu-a e multiplicou sua capacidade de conduzir a fiscalização interna. Para sufocar a monarquia, reivindicou o poder de aprovar o sucessor do rei. Para apaziguar o Vaticano, mandou fechar os bordéis e aumentar os ganhos dos padres, mas em troca ficou com o direito de aprovação dos bispos.
(...) Aos 43 anos, (Hitler) fez um apelo aos parlamentares por confiança, na esperança de que não pensariam muito a fundo antes de votarem o próprio epitáfio. Sua meta era assegurar a aprovação de uma lei que o autorizasse a ignorar a Constituição, passar por cima do Reichstag e governar por decreto. Garantia a seus ouvintes que não tinham nada com que se preocupar; seu partido não tinha a intenção de minar as instituições alemãs. (...)  Poucas semanas depois, os partidos políticos que colaboraram haviam sido abolidos, e os socialistas, presos. O Terceiro Reich havia começado.

O início das ditaduras fascistas

(Hitler) Começou pela abolição das assembleias locais e pela substituição dos governadores das províncias por nazistas. Enviou valentões da SA para brutalizar adversários políticos e, quando necessário, despachá-los para os recém-abertos campos de concentração. Deu cabo dos sindicatos ao declarar o 1o de maio de 1933 feriado nacional sem desconto em folha e então ocupar as sedes dos sindicatos país afora no dia 2. Expurgou o serviço público de elementos desleais e emitiu um decreto banindo judeus de profissões. Pôs a produção teatral, musical e cinematográfica sob o controle de Joseph Goebbels e impediu jornalistas não simpatizantes de trabalhar. Para garantir a ordem, consolidou numa nova organização, a Gestapo, funções policiais, políticas e de inteligência.

Como o sistema os recebia

Destilava seu escárnio pelos comunistas, estratégia que lhe valeu amigos na comunidade financeira e cobertura favorável em alguns dos maiores veículos de imprensa do país.
(...) O establishment político do país – grandes empresários, militares e Igreja – descartara inicialmente os nazistas como um bando de brutos gritalhões que jamais atrairiam o apoio das massas. Com o tempo, passaram a enxergar valor no partido como bastião anticomunista, mas nada além. Não tinham metade do medo de Hitler que deveriam ter. Subestimavam-no em razão da falta de estudo e se deixavam levar por suas tentativas de cativá-los. Ele sorria se fosse preciso e certificava-se de responder-lhes às perguntas com mentiras tranquilizadoras. Para a velha guarda, era claramente um amador com uma ideia exagerada de si, improvável de manter-se popular por muito tempo.

Rádio e Internet

O Führer foi o primeiro ditador capaz de atingir 80 milhões de pessoas num único instante com um chamamento à união. O rádio era a internet dos anos 1930, mas, como meio de comunicação de mão única, mais fácil de controlar. Jamais estivera disponível ferramenta tão eficiente para manipular a mente humana.

As mulheres do lar

Ao tomar posse, Hitler quase que de imediato retirou mulheres de funções burocráticas, prometendo “emancipá-las da emancipação”. Eram aconselhadas a cuidar da lareira, fazer remendos, costurar, cozinhar apfelkuchen [tortas de maçã] e dar à luz uma nova geração de super-homens arianos.

A globalização

O ímpeto globalizante atordoava a muitos e os levava a buscar refúgio na toada familiar das noções de nação, cultura e fé; e, por toda parte, pessoas pareciam em busca de líderes que trouxessem respostas simples e satisfatórias às perguntas complicadas da modernidade.

O fascismo na Inglaterra

Sir Oswald Mosley , um intrépido inglês com um bigode escovinha de fazer inveja a Hitler , libido comparável à do Duce e o que uma colega definia como “ arrogância esmagadora e convicção inabalável de ter nascido para reinar ” , era alguém que se via em tal papel .
De volta a Londres , Mosley fundou a União Britânica de Fascistas ( BUF , na sigla em inglês ) , com uma plataforma que abarcava o característico programa de obras públicas , anticomunismo , protecionismo e libertação da Grã - Bretanha de estrangeiros , “ sejam hebreus ou qualquer outro tipo de forasteiro ” . À imagem e semelhança do Duce , recrutou uma força de segurança de aparência ameaçadora , ensinou - os a fazer a saudação romana e distribuiu - lhes camisas pretas inspiradas no modelo de seus uniformes de esgrima . Em 1934 , os comícios de Mosley atraíam multidões de trabalhadores , comerciantes , empresários , aristocratas , membros descontentes do Partido Conservador e um punhado de repórteres , soldados e policiais de folga .

O fascismo na França

Na França , o Solidarité Française , com suas camisas azuis , foi um dos vários grupos de direita a digladiar com a esquerda : assumidamente pró - nazista , fez campanha com o slogan “ A França para os franceses ” e foi banido pelo governo socialista em 1936 .

O fascismo nos EUA

O escritor autodidata William Pelley fundou a Silver Legion of America em janeiro de 1933, poucas horas após Hitler ascender ao posto de chanceler da Alemanha. Sediada em Asheville, na Carolina do Norte, atraiu cerca de 15 mil filiados. Seus seguidores usavam calças azuis e camisas prateadas com um “L” escarlate acima do coração, que significava Love, Loyalty and Liberty (Amor, Lealdade e Liberdade). Os camisas prateadas militavam pelo antissemitismo e buscavam reproduzir o modelo nazista de vigilantismo. (...) Em 1936, Pelley foi candidato à presidência com o slogan “Fora, vermelhos, fora, judeus”, mas seu nome só esteve na cédula do estado de Washington e recebeu menos de 2 mil votos. Os camisas prateadas não tardaram a desaparecer, mas os preconceitos que disseminaram encontraram eco em organizações como a Ku Klux Klan e nas transmissões em rede nacional do padre Charles Coughlin, polêmico radialista isolacionista de Detroit.

Peça 3 – o fascismo à brasileira

O fascismo à brasileira transcende a figura de Jair Bolsonaro. Há uma fase de transição, já em andamento, que definirá o desfecho dessa trajetória política do fascismo.
Com as devidas ressalvas, já que o país atravessa uma fase de profunda irracionalidade, com a besta solta nas redes sociais e nas ruas, é possível delinear alguns desdobramentos do governo Bolsonaro. Principalmente quando o governo estiver em andamento e as expectativas do eleitorado não forem atendidas.

Os fundamentalistas

Pessoalmente, Jair Bolsonaro é uma personalidade vulnerável psicológica, intelectual e socialmente. Depende, em tudo, dos filhos.
Dos seus quatro filhos, um é apolítico, dois são baixo clero de pequena ambição e o quarto, Eduardo, é o megalomaníaco. Tem ideias grandiosas, ambiciona suceder o pai. Assim como um Duce tupiniquim, acredita piamente na sua intuição e nas asneiras que repete. E tem seguidores que também acreditam.
É de sua responsabilidade a parte mais non-sense do Ministério: o inacreditável chanceler Ernesto Araújo, o Ministro da Educação Ricardo Veléz e a Ministra de Direitos Humanos Damares Alves. A mediocridade  de seu círculo de influência mostra um político de tiro curto.
Pela lógica interna do governo, dada pelo núcleo mais racional, o dos militares, não se espere longa vida dos fundamentalistas, especialmente do Ministro das Relações Exteriores. Trata-se de um bajulador que assimilou as pirações fundamentalistas dos Bolsonaro por puro oportunismo e monta um jogo de cena mirando exclusivamente a falta de discernimento dos Bolsonaro sem se importar com as consequências para o país.
Ocorre que o MRE terá uma função chave, para complementar as estratégias econômicas do futuro Ministro da Economia Paulo Guedes. Em poucos meses, mesmo antes de começar o governo as declarações de Ernesto e Jair têm produzido terremotos na imagem do Brasil no exterior. Possivelmente, nem nos tempos da Albânia, da Coreia do Norte, estados nacionais conseguiram produzir uma dupla tão ridiculamente atemorizante quanto o duo Jair-Ernesto. Esse estilo rede social é totalmente incompatível com qualquer projeto sério de país, de direita ou esquerda.
Não se tenha dúvida que partirá de Eduardo o primeiro grande trauma político do governo Bolsonaro.

Os catões

A posse de Bolsonaro, no dia 1º de janeiro, marcará formalmente a transmutação da Lava Jato de agente desestabilizador para co-participante do banquete dos vitoriosos. Essa mudança está expondo de uma maneira surpreendentemente rápida seu viés político. E exigirá do futuro Ministro da Justiça Sérgio Moro habilidades políticas que, aparentemente, ele não dispõe.
Nem se fale do caso do motorista de Flávio Bolsonaro. Os palpiteiros gerais da nação, Deltan Dallagnol e colegas, não ousaram ir além de comentários genéricos. O procurador que montou um power point em cima de provas indiciárias, e se tornou dono de uma verborragia incontrolável, sobre o caso do motorista lmitou-se a um sintético “Bem lembrado”, ao comentário de uma colega, sobre as razões do motorista não ter sido submetido a uma condução coercitiva.
Nos primeiros dias após ter aceito o convite, Moro garantiu que funcionaria como um filtro dos escândalos do governo Bolsonaro. Escândalos não embasado seriam relevados, escândalos de peso seriam considerados.
O caso do novo Ministro do Meio Ambiente  Ricardo Salles será seu terceiro desafio.
No primeiro, o caixa 2 de Onyx Lorenzoni, demonstrou uma enorme incapacidade de construir sofismas verossímeis, sugerindo que estava absolvido por ter demonstrado arrependimento.
No segundo, o caso do motorista, o silêncio foi constrangedor.
O terceiro será mais desafiador: encarar as acusações contra o futuro Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Enquanto Secretário do Meio Ambiente de São Paulo, Salles modificou mapas elaborados pela Universidade de São Paulo, alterou a minuta do plano de manejo e é acusado de ter perseguido funcionários da Fundação Florestal que se recusaram a participar da jogada, que beneficiava mineradoras em áreas de manejo florestal. Como fica?
Mas o desafio final serão as revelações sobre a vida pregressa política de Jair, um frequentador histórico das práticas políticas do baixo clero.
Se o motorista do filho já produziu esse estrago, o que não ocorreria com a revelação das práticas de Jair?

Os militares

De certo modo, a eleição de Bolsonaro não é o início de um novo tempo, mas o capítulo final da desmoralização do poder civil e das instituições democráticas. Afinal, para os inimigos da democracia, é o exemplo mais acabado da irracionalidade do processo eleitoral.
Na montagem do governo, os militares montaram o eixo mais racional, impedindo a ação dos lobbies no Ministério das Minas e Energia e em outros postos chave. Além de monitorarem as impropriedades de Bolsonaro, providenciando correção rápida das declarações absurdas, que poderiam ter implicações nas relações externas.
Á medida em que se sucedam as impropriedades da banda fundamentalista, o eixo militar irá ampliando sua atuação. Já há notícias de que reivindicam o comando da Infraero e outras estatais chaves.
Retomando nosso fio inicial, sobre a repetição de padrões históricos, a experiência de 1964 foi uma repetição a dos tenentes em 1930 e será repetida em 2019.
Os primeiros militares ascendem aos postos com o sentido de missão. À medida em que seu poder vai se estendendo, haverá um movimento similar na iniciativa privada, de contratação de militares da reserva bem relacionados com os que estão no governo. Retornarão os convites sociais aos comandantes militares, serão retomadas as visitas aos quarteis.
Tudo isso resultará em um ganho de status social e econômico que, mais à frente, será o maior fator de resistência para os militares se recolherem novamente aos quarteis e clubes militares.
Com a ascensão do poder militar, o projeto da direita ganhará racionalidade. Mas, a julgar pelo mais influente dos militares no governo, o general Augusto Heleno, não se abandonará o discurso do perigo vermelho e dos inimigos da pátria. Enfim, não parecem ter cabeça para um projeto unificador do país.
O livro de Madeleine Fullbright traz um bom retrato do que virou o fascismo na Itália, depois que Mussolini caiu em desgraça.
As notícias da partida de Mussolini foram o estopim para celebrações Itália afora. Milhares de fotos emolduradas do ditador deposto foram retiradas de paredes e jogadas no lixo; de uma hora para outra, um fascista assumido virara a criatura mais rara de se encontrar.
Aqui no Brasil, assim que cair o mito Bolsonaro, os neo-direitistas se recolherão e voltarão a fazer profissão de fé, ou no poder militar, ou na democracia, dependendo apenas do vento do momento.
Na época de Hitler, Charles Chaplin produziu e protagonizou um filme célebre, “O grande ditador”, no qual um inofensivo barbeiro é confundido com o ditador.
O discurso final ajudou a acalentar a humanidade nas décadas seguintes, em que o mundo redescobriu a colaboração e tentou se civilizar:
Em vez da torrente de impropérios esperada pela plateia , Chaplin profere uma homilia sobre a resiliência do espírito humano perante o mal . Pede aos soldados que não se entreguem a “ homens que os desprezam , escravizam . . . tratam a vocês como gado e os usam como bucha de canhão . . . homens antinaturais – homens mecânicos com mentes e corações mecânicos . Vocês não são máquinas ! Vocês não são gado ! Vocês são homens ! Têm o amor da humanidade em seus corações . ” “ Neste momento minha voz atinge milhões de pessoas mundo afora ” , diz à plateia o humilde barbeiro . “ Milhões de homens , mulheres e crianças desesperados – vítimas de um sistema que leva homens a torturar e aprisionar gente inocente . Aos que podem me ouvir , digo : não se desesperem . . . O ódio dos homens vai passar , os ditadores perecerão e o poder que tomaram do povo retornará ao povo . . . A liberdade nunca perecerá . ”
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Humor de resistência

Bessinha vê o retrocesso no Congresso

Bom senso

Quando se compõe um governo de caráter democrático, duas intenções deve ser fundamentais: a eficiência técnico-administrativa e o equilíbrio entre as forças políticas que o apoiam. 

25 dezembro 2018

Briga de branco

“Atitudes intempestivas, movidas não por uma sólida política de Estado, mas por idiossincrasias dos ocupantes temporários do poder, podem danificar a imagem do Brasil. Hostilizar organismos multilaterais, abandonar pactos globais, seguir cegamente o governo americano e romper relações com países como Cuba e Venezuela são atitudes que farão o Brasil perder a importância conquistada no concerto internacional, sem nenhum ganho que compense tamanho prejuízo”, diz em editorial o jornal ‘O Estado de São Paulo’ hoje. [A crítica é justa. E revela contradições no seio da direita, às vésperas da posse do seu presidente.]