31 julho 2014

O Brasil na cena internacional

Desalinhamento e pragmatismo: a política externa de Dilma Roussef

O posicionamento brasileiro abandona a posição de quem se aguarda o silêncio. A reação de Israel é sinal de que voz do governo brasileiro não é irrelevante

Carlos Frederico Pereira da Silva Gama*, no portal da Fundação Maurício Grabois

O governo Dilma viveu recentemente dias de intensa atividade diplomática. Após o encerramento da Copa do Mundo (prestigiado por diversos chefes de estado e governo) houve a cúpula dos líderes dos países BRICS em Fortaleza, celebrada pela criação do Novo Banco de Desenvolvimento (o “Banco dos BRICS”). Em seguida, houve a reunião de cúpula da UNASUL.

A aceleração do calendário diplomático contrasta com críticas, frequentes nos meses anteriores, de que a Presidenta pouco se importava com questões de política externa. Seria Julho de 2014 um ponto fora da curva?

Um ano antes da apoteose diplomática, Dilma enfrentava questionamentos no plano doméstico que incidiam sobre sua política externa. À época, três manifestações da soberania brasileira tiveram sua fragilidade exposta em sequência.

Primeiro, a sede da diplomacia brasileira. Nas manifestações de Junho, o Palácio do Itamaraty foi ocupado e atacado. Em seguida, a privacidade da Presidência. Em Julho, Edward Snowden denunciou que Dilma foi alvo de espionagem eletrônica pela agência norte-americana NSA. Por fim, representações diplomáticas brasileiras. Em Agosto, aconteceu a cinematográfica fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina da embaixada brasileira em La Paz (onde esteve durante 13 meses, sem status jurídico definido) para Corumbá, auxiliado por um diplomata brasileiro.

A sobreposição de crises conferiu à política externa de Dilma uma aparência disfuncional. Essa percepção vitimou a figura pública responsável pela diplomacia brasileira. Antônio Patriota foi demitido do Ministério das Relações Exteriores em Agosto. Fragilizado pela ocupação do Itamaraty e nas relações com a Bolívia (após prolongada prisão de torcedores brasileiros naquele país, acusados e julgados com celeridade pela morte de um torcedor boliviano em Fevereiro), Patriota perdeu o cargo após a fuga da embaixada em La Paz, apenas alguns dias após a visita do Secretário de Estado norte-americano John Kerry ao Brasil, durante a qual o tema da espionagem eletrônica não foi enfatizado.

Mudanças no Itamaraty manifestaram uma das linhas mestras da política externa de Dilma – o desalinhamento entre Brasil e EUA. Dilma cancelou sua visita aos EUA, marcada para Outubro (a primeira de um mandatário brasileiro desde 1995) e foi à ONU, onde acusou a espionagem eletrônica de violar a soberania e os direitos humanos. Propôs, em seguida, a criação de um mecanismo multilateral para combater a espionagem eletrônica. A iniciativa ganhou fôlego no esteio de uma resolução da Assembleia-Geral da ONU (Novembro) e de uma conferência internacional em São Paulo para reformular a gestão da Internet (Abril, 2014).

Divergências entre o Brasil e os EUA se estenderam ao longo de 2014 na Síria, Ucrânia e Gaza. Em março, John Kerry acusou os BRICS de “relativismo moral”. O grupo se absteve em votação na Assembleia-Geral da ONU condenando a invasão russa da Criméia, parte do esforço dos EUA de impor sanções (condenadas pelos BRICS) à Rússia.

O desalinhamento brasileiro não se confunde com uma postura de antagonismo para com os Estados Unidos. Assim como nos anos 1970 – quando, à revelia da superpotência, a ditadura brasileira comprou reatores nucleares da Alemanha (Ocidental) e reconheceu o governo socialista de Angola – o governo Dilma manifesta os limites que o alinhamento automático imporia sobre a realização de objetivos brasileiros. O Brasil adota uma postura cautelosa de manutenção de sua autonomia, sem deixar de colaborar com os EUA em questões de interesse comum (como a manutenção da paz no Haiti).

A partir desse desalinhamento combinado com cooperação seletiva, outra linha mestra da política externa de Dilma vem à tona: o pragmatismo, fundado na autonomia. Este pragmatismo é uma das características que aproximam os países BRICS – e, ao mesmo tempo, um elemento que dificulta a consolidação de políticas comuns do grupo.

O pragmatismo faz com os BRICS se agreguem para contestar soluções (intervencionistas) para controvérsias internacionais, oferecidas por Europa e EUA. Em contraste, os BRICS apoiam, com limitado engajamento, negociações multilaterais no sistema ONU (Síria, Gaza).

Porém, ao manter suas respectivas autonomias, os BRICS têm dificuldades para produzir respostas conjuntas. Mantêm questões politicamente sensíveis distantes da deliberação conjunta, agindo unilateralmente. Caso da Rússia na Ucrânia (Fevereiro, 2014), da China nas Coréias (Março, 2013) e do Brasil após as eleições presidenciais de Horácio Cartes no Paraguai e Nicolás Maduro na Venezuela (Abril, 2013). Essas crises foram enfrentadas individualmente pelos BRICS ou via instituições regionais (no caso brasileiro, MERCOSUL e UNASUL).

A novidade da cúpula dos BRICS não foi, portanto, o ressurgimento da política externa no governo Dilma. A cúpula consolidou as duas linhas de ação da política externa da atual gestão.
A criação de instituições conjuntas dos cinco países (o “Banco dos BRICS” com 50 bilhões de dólares em caixa e o Fundo de Reservas de 100 bilhões de dólares para o enfrentamento de crises) são fruto do pragmatismo. O Brasil abriu mão da presidência do “Banco dos BRICS” para que as negociações fossem bem-sucedidas.

Novas instituições também manifestam o desalinhamento entre Brasil e EUA. Questionam o quase monopólio das instituições de Bretton Woods na regulação da economia internacional. Os BRICS pleitearam reformas no FMI e Banco Mundial – o que indica não seu antiamericanismo, mas sua busca por ter suas autonomias reconhecidas. O malogro das reformas incentivou os BRICS a investir em interesses compartilhados pós-2008 (estado como motor do crescimento econômico, prevenir crises internacionais).

O desalinhamento e o pragmatismo provocam incômodo, frustrando expectativas sobre o lugar do Brasil no mundo – associado a um menor engajamento em questões internacionais. Tal ocorreu na crise em Gaza.

Inicialmente, o Brasil condenou o uso da força tanto por Israel quanto por grupos palestinos. Os BRICS conclamaram todos os lados a respeitar o direito internacional humanitário e a aceitar um cessar-fogo mediado pela ONU. Em votação no Conselho de Direitos Humanos da ONU, o Brasil e a maioria votaram favoravelmente a investigar internacionalmente a invasão israelense. Os Estados Unidos foram os únicos a votar contra a medida. Em seguida, o Brasil condenou o uso desproporcional da força por Israel – país com quem possui fortes laços comerciais, inclusive no setor militar. A convocação do embaixador brasileiro em Tel Aviv para consultas acirrou os ânimos. Repetindo a fala de Kerry, Israel acusou o Brasil de “relativismo moral” e as críticas brasileiras como atitudes de um “anão político”.

O posicionamento brasileiro abandona a posição de quem se aguarda o silêncio. A reação de Israel é sinal de que a voz do governo brasileiro não é irrelevante, tampouco berros de um anão. A atitude brasileira foi simultânea à condenação das ações de Israel na ONU. Em contraste com o (malsucedido) apoio incondicional dos EUA a Israel, o Brasil adotou atitude pragmática legitimada multilateralmente. A convocação do embaixador fora feita, na véspera, pelo governo do Equador. As atitudes brasileiras não demonstram pequenez e isolamento, mas autonomia.
* Professor de Relações Internacionais na PUC-Rio

Amizade

Da minha correspondência pessoal: "Amizade não comporta cobranças. A atenção, a solidariedade e o afeto devem ser sempre espontâneos, traduzidos em palavras e gestos. Sem estresse."

Esperança

Waltraud
A quinta-feira é de Chico Buarque: "Ai, eu quero uma lembrança/Eu quero uma esperança/A tua primavera"

Abelardo, 90 anos

Abelardo da Hora, um ícone da arte e da resistência cultural pernambucana. Veja aqui matéria de Audicea Souza http://migre.me/kJ79A

Mídia X povo: um imenso fosso

Pesquisas, PIB e vida real 

Luciano Siqueira, no portal Vermelho www.vermelho.org.br

Outro dia, um importante empresário europeu comentou aqui no Recife a absoluta discrepância entre o olhar estrangeiro (dos investidores, sobretudo) acerca da cena brasileira e a visão predominante na mídia tupiniquim. Fosse verdade o que se lê nos jornais e revistas semanais e sites e o que se vê na TV e ouve no rádio – disse ele -, o Brasil estaria mergulhado em profunda recessão, o desemprego teria assumido proporções “espanholas” e o ambiente social seria de revolta ou caos. Porém, apoiado em números concretos, e comparando a situação brasileira com a do resto do mundo, asseverou (expressando a opinião reinante lá fora) que aqui reside, em meio à crise global, parte das melhores oportunidades de negócios – especialmente porque não há recessão, a oferta de emprego se mantém estável e o mercado interno continua em expansão.

De fato, a mídia hegemônica de há muito abandonou a missão de informar, trocando-a pela propaganda explícita de sentido político. Na oposição ao governo federal, todos os mecanismos de deturpação dos fatos são empregados para fomentar uma opinião pública insatisfeita e tendente à mudança no pleito presidencial que se aproxima.

Dentre muitos, dois itens frequentam o noticiário e ocupam os “analistas”: as pesquisas eleitorais e o desempenho do Produto Interno Bruto. E associada a ambos, a cantilena de que o “mercado” estaria inseguro diante da possibilidade da atual presidenta renovar o seu mandato.

O ridículo e odioso episódio do Banco Santander, que veio à tona dias atrás, diz bem desse tal “mercado” referido como se fora a expressão do sentimento da maioria da população. Nada mais é do que o setor rentista, empenhado em fomentar as candidaturas de oposição e pautar o aparato midiático.

As pesquisas eleitorais teimam em revelar uma enervante (para eles) estabilidade das intenções de voto na presidenta Dilma, a despeito do implacável bombardeio diário disseminado em todas as mídias. Com a possibilidade real de uma sensibilização forte da maioria dos eleitores a partir da veiculação do programa eleitoral gratuito na TV e no rádio, quando a atual mandatária poderá expor o conjunto da obra.

Quanto ao PIB – assim como o terrorismo inflacionário -, por mais que se faça alarde do baixo crescimento da economia (omitindo-se os condicionantes externos negativos), que é concreto, não parece ter aderência na percepção do eleitor.

Há, assim, um contraste notável entre a pregação oposicionista midiática e a vida cotidiana. Estima-se que um terço dos lares brasileiros abriga famílias beneficiadas pelos programas sociais do governo federal – uma das razões para a enorme dificuldade da candidatura de Aécio Neves (e também da de Eduardo Campos) penetrar no Nordeste e no Norte, que numericamente desequilibram a tendência majoritariamente oposicionista do eleitorado do Centro-Sul.

O eleitorado classificado pelos padrões mercadológicos como pertencente aos segmentos C, D e E provavelmente não se dispõe a trocar sua relativa segurança atual, resultante da melhoria objetiva das suas condições de existência, por um apoio a candidaturas oposicionistas que acenam com o desconhecido – ou, pior, para uma volta ao passado recente de grandes vexames para o povo trabalhador.

30 julho 2014

Bancos versus Dilma

Expansão do crédito: Dieese aponta por que bancos privados estão arredios a Dilma 

Instituições privadas seguem ideário da austeridade e cortam oferta de empréstimos. Bancos públicos, por outro lado, ampliam carteiras duas vezes mais rápido e já detêm 48,1% do mercado

Diego Sartorato, no site Rede Brasil Atual

Não são apenas os partidos e candidatos que formulam projetos a serem debatidos durante as campanhas eleitorais: organizações da sociedade civil e entidades privadas também avaliam quais mudanças na condução do poder público são necessárias para garantir o atendimento de interesses singulares ou coletivos. Algumas dessas plataformas "setoriais" são tornadas públicas, mas nem todas, especialmente quando se referem a interesses empresariais, seja pelo sigilo do planejamento nos negócios, seja porque há objetivos patronais inconfessáveis à opinião pública, a regra é que os interesses econômicos de setores poderosos sejam discutidos privativamente.

Para as eleições presidenciais deste ano, porém, empresas do mercado financeiro, central no capitalismo e no jogo político brasileiro, romperam o silêncio habitual e têm tomado posição agressivamente contrária à reeleição da presidenta Dilma Rousseff (PT). Nas últimas semanas, o banco espanhol Santander divulgou análise em que previa cenário econômico negativo caso Dilma se reeleja, mesma prática adotada por diversas consultorias que atendem a investidores do mercado financeiro. Por meio de estudo encomendado ao Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) e divulgado pela Folha de S.Paulo, o setor chegou até a conferir valor concreto a cada ponto percentual perdido por Dilma nas pesquisas eleitorais: seriam US$ 801 milhões a mais investidos em ações de estatais a cada vez que a vitória da oposição se mostrasse mais provável do que no levantamento anterior.

Um dos motivos para a campanha agressiva do setor financeiro, como visto apenas às vésperas da primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2002, está em estudo divulgado pelo Dieese sobre o desempenho dos bancos em 2013. De acordo com o levantamento, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, ambos públicos, conquistaram 48,1% do mercado de crédito no país no ano passado e seguem ampliando as carteiras de crédito em ritmo duas vezes superior aos bancos privados nacionais (que detêm 38% das carteiras) e três vezes superior ao crescimento das empresas estrangeiras (com 13,9% dos contratos de crédito). Não conta, para o levantamento do Dieese, o BNDES que, em 2013, investiu R$ 514,5 bilhões em consumo e infraestrutura.

As instituições públicas foram as principais responsáveis pelo crescimento, entre 2002 e 2013, da relação entre volume de crédito e Produto Interno Bruto (PIB). Há 12 anos, o crédito disponível no país somava 23,8% do PIB; hoje, são 55,8%. Entre 2008 e 2013, mudou também o perfil do microcrédito: se há seis anos os pequenos empréstimos tinham 73% do volume destinados ao consumo, em 2013 apenas 10% foram voltados a essa modalidade. Os outros 90% foram empenhados em micro e pequenas empresas (MPEs), setor que mais cria emprego e renda no Brasil – em 2013, de acordo com o Sebrae, 85% dos empregos com carteira assinada foram abertos nele.

O momento e a motivação dos bancos públicos e privados são bastante distintos: enquanto os primeiros seguem a diretriz do governo federal de ampliar o acesso e baratear o crédito com o objetivo de fortalecer o poder de consumo das famílias e evitar os piores efeitos da crise econômica mundial, os bancos privados seguem a direção oposta. Demitem trabalhadores (foram 10 mil dispensas em 2013) e ampliam taxas e juros para garantir a rentabilidade.

O Itaú, por exemplo, que teve o maior lucro da história do sistema financeiro brasileiro no ano passado (R$ 15,6 bilhões), aumentou em 12,8% seus ganhos, principalmente por meio de cobranças de serviços e taxas. Já o Banco do Brasil, por meio da ampliação de sua atuação no mercado, foi relativamente mais bem-sucedido e aumentou o lucro líquido em 29,1% em relação a 2012.

Desde 2008, quando os mercados de capitais se desequilibraram nas potências econômicas, o Brasil aplica políticas anticíclicas de incentivo ao setor produtivo e ao consumo, com manutenção de um baixo índice de desemprego e intensificação da transferência de renda, solução oposta à adotada pela zona do Euro e no campo de influência dos Estados Unidos. Nesses países, houve corte de investimentos públicos e distribuição de pacotes de amparo ao sistema financeiro. O FED, banco central norte-americano, por exemplo, injeta US$ 75 bilhões mensais no mercado financeiro atualmente.

Os bancos brasileiros, que atuam nas mesmas linhas gerais de suas contrapartes internacionais, parecem estar à espera do mesmo tratamento: tanto Aécio Neves quanto Eduardo Campos, candidatos a presidente por PSDB e PSB, sinalizaram ao setor financeiro que estão dispostos a tomar medidas "impopulares" para a economia, eufemismo para reformas no sentido de reverter a política focada na geração de empregos e maior aproximação com o modelo econômico norte-americano.

Já os governos petistas, a partir de 2003, embora tenham garantido lucros astronômicos ao setor (que foi de um lucro global de R$ 4,8 bilhões em 2000 para R$ 46,6 bilhões em 2010), tomaram decisões importantes para que os bancos públicos fossem capazes de induzir e equilibrar o mercado financeiro, e, para tanto, até impediram privatizações. Em 2008, o então governador de São Paulo, José Serra (PSDB), colocou à venda o último banco público do governo estadual, a Nossa Caixa. Luiz Inácio Lula da Silva, então em seu segundo mandato como presidente, acertou a compra da empresa pelo Banco do Brasil por R$ 5,3 bilhões. Em 2009, o Banco do Brasil pagou mais R$ 4,3 bilhões por 50% do Banco Votorantim, em nova ação agressiva de tomada de mercado.

O estudo do Dieese aponta, como um dos indicadores do sucesso da aposta no crédito, o fato de que 2013 registrou os patamares de inadimplência mais baixos já observados, com média de 3% de compromissos financeiros descumpridos por clientes de bancos privados e na casa de 1% entre clientes de bancos públicos. O cenário é próximo do descrito pela presidenta Dilma em pronunciamento para o 1º de maio de 2012, quando enviou recado bastante direto para o sistema financeiro.

Visão distorcida

FMI inclui Brasil entre as economias mais vulneráveis à crises externas. Omite que somos um dos poucos países que se mantêm sem recessão e desemprego.

Perda

Gil Vicente
A quarta-feira é de Fabrício Carpinejar: “Passei a vida aprendendo a respeitar teu espaço./ Como povoá-lo após tua partida?” 

Ameaça

Ajuste fiscal propagado por Aécio significa enfraquecimento dos programas de geração de emprego e distribuição de renda. Um tema destacado no debate desde agora.

Transição à multipolaridade

Intenção velada da Alemanha integrar Brics assusta EUA

Carl Edgard, no portal da Fundação Maurício Grabois

Analista afirma categoricamente que a Alemanha está prestes a abandonar o sistema unipolar apoiado pela Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) e os EUA, para se unir às nações dos Brics, o grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, razão pela qual a agência norte-americana de espionagem NSA ampliou suas escutas à lider germânica Angela Merkel e terminou flagrada.

Os piores pesadelos do presidente Barack Obama têm ganhado forma, em uma velocidade com a qual ele não contava, no front financeiro. Uma análise do doutor em Estatística Jim Willie, PhD na matéria pela Carnegie Mellon University, nos EUA, afirma categoricamente que a Alemanha está prestes a abandonar o sistema unipolar apoiado pela Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) e os EUA, para se unir às nações dos Brics, o grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, razão pela qual a agência norte-americana de espionagem NSA ampliou suas escutas à lider germânica Angela Merkel e terminou flagrada por agentes do serviço secreto alemão, após as denúncias do ex-espião Edward Snowden. Em entrevista ao blogueiro Greg Hunter, editor do USA Watchdog, Willie afirmou que a verdadeira razão por trás do recente escândalo de espionagem da NSA, visando a Alemanha, é o clima de medo que ronda o governo norte-americano de que as potências financeiras da Europa estejam procurando fugir do inevitável colapso do dólar.
Editor de um boletim financeiro a partir de Pittsburg, no Estado norte-americano da Pensylvania, Jim Willie afirma que o apoio dos EUA à Ucrânia e as consequentes sanções impostas à Rússia integram o esforço dos EUA de tentar segurar o êxodo europeu no campo econômico e político, em nível mundial. “Aqui está a grande consequência. Os EUA, basicamente, estão dizendo à Europa: você tem duas opções aqui. Junte-se a nós na guerra contra a Rússia. Junte-se a nós nas sanções contra a Rússia. Junte-se a nós nas constantes guerras e conflitos, isolamento e destruição à sua economia, na negação do seu fornecimento de energia e na desistência dos contratos. Junte-se a nós nessas guerras e sanções, porque nós realmente queremos que você mantenha o regime do dólar. (Em contrapartida, os europeus) dizem que estão cansados do dólar… Estamos empurrando a Alemanha para fora do nosso círculo. Não se preocupem com a França, nem se preocupem com a Inglaterra, se preocupem com a Alemanha. A Alemanha tem, no momento, 3 mil empresas fazendo negócios reais, e elas não vão se juntar às sanções”.
Willie continua: “É um jogo de guerra e a Europa está enjoada dos jogos de guerra dos EUA. Defender o dólar é praticar guerra contra o mercado. Você está conosco ou está contra nós?”. Quanto à espionagem da NSA sobre a Alemanha, Willie diz: “(Os espiões norte-americanos) estão à procura de detalhes no caso de (os alemães) passarem a apoiar a Rússia sobre o ‘dumping’ ao dólar. Eu penso, também, que estão à procura de detalhes de um possível movimento secreto da Alemanha em relação ao dólar de união aos Brics. Isto é exatamente o que eu penso que a Alemanha fará”.
Willie calcula que, quando os países se afastarem do dólar norte-americano, a impressão de dinheiro (quantitative easing, QE) aumentará e a economia tende a piorar. Willie chama isso de ‘feedback loop’, e acrescenta: “Você fecha o ‘feedback loop’ com as perdas dos rendimentos causados pelos custos mais elevados que vêm da QE. Não é estimulante. É um resgate ilícito de Wall Street que degrada, deteriora e prejudica a economia num sistema vicioso retroalimentado… Você está vendo a queda livre da economia e aceleração dos danos. A QE não aconteceu por acaso. Os estrangeiros não querem mais comprar os nossos títulos. Eles não querem comprar o título de um banco central que imprime o dinheiro para comprar o título de volta! A QE levanta a estrutura de custos e causa o encolhimento e desaparecimento dos lucros. A QE não é um estímulo. É a destruição do capital”.
Na chamada “recuperação” a grande mídia tem batido na mesma tecla durante anos, Willie diz: “Os EUA entraram em uma recessão da qual não sairão até que o dólar tenha desaparecido. Se calcularmos a inflação corretamente… Veremos uma recessão monstro de 6% ou 7% agora. Não creio que a situação melhore até que o dólar seja descartado. Portanto, estamos entrando na fase final do dólar”.
“Você quer se livrar de obstáculos políticos? Vá direto para o comércio e negócios. Por que é que a Exxon Mobil continua realizando projetos no Ártico e no mar Negro (na Crimeia) com os russos e suas empresas de energia? Nós já temos empresas de energia dos Estados Unidos desafiando nossas próprias sanções, e mesmo assim estamos processando os bancos franceses por fazerem a mesma coisa. Isso é loucura. Estamos perdendo o controle”, aponta.
Um mundo não norte-americano
No Brasil, a cúpula realizada em Fortaleza, na semana passada, durante a qual foi criado o Novo Banco de Desenvolvimento, chamou a atenção do mundo para o próprio projeto de desenvolvimento do bloco, bem como para o papel da China e da Rússia nesta organização. O vice-diretor do Instituto de Estudos do Extremo Oriente da Academia de Ciências da Rússia, Serguei Luzyanin, anda em paralelo à linha traçada por Willie. Leia, adiante, a entrevista que Luzyanin concedeu à agência russa de notícias VdR:
– Foi referida a criação do embrião “de um mundo não norte-americano”. Porque é que os BRICS não gostam da América do Norte?
– A cúpula brasileira ficou para a história enquanto o mais fértil encontro do “quinteto” – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A sua fertilidade não ficou apenas patente na criação de instrumentos financeiros – o Banco de Desenvolvimento e Arranjo Contingente de Reservas – mas, sobretudo, no nível de empenho dos líderes dos Brics – no auge da Guerra Fria 2.0, quando os norte-americanos tentam esmagar qualquer um que age à revelia das “recomendações” de Washington – em criarem o seu embrião “de um mundo não norte-americano”. No futuro, outros projetos poderão estar ligados ao desenvolvimento dos Brics, como a Organização de Cooperação de Xangai (RIC). O importante é que, de fato, existe a concepção “de um mundo não norte-americano” que se desenvolve ativamente e de forma concreta. Os Brics parecem prestes a se tornar o epicentro deste novo fenômeno. Não é preciso ser um político habilidoso para sentir que os povos e as civilizações dos países em vias de desenvolvimento estão cansados de “padrões norte-americanos” impostos. Aliás, padrões para tudo, economia, ideologia, forma de pensar, os “valores” propostos, vida interna e externa, etc. O mundo inteiro viu pela TV o aperto-de-mão dos cinco líderes dos Brics, ao qual, passado uns dias, se juntou praticamente toda a América Latina. É discutível se, neste impulso comum, existiu uma maior dose de contas pragmáticas ou de solidariedade emocional, mas, uma coisa é certa, nele não houve qualquer amor pela América do Norte. E isso ainda é uma forma polida de colocar as coisas.
– E quanto à adesão da Argentina, quem, no Sul, irá “apoiar” os EUA?
– Para a Índia os Brics são uma oportunidade de reforço na Ásia Austral e de desenvolvimento econômico fora da alçada da Ocidente. A motivação regional é conjugada com expectativas financeiras e tecnológicas que unem a África do Sul e o Brasil. No futuro, o “segmento” latino-americano poderá ser reforçado. Muitos peritos esperam que o “quinteto” seja alargado através da adesão da Argentina ao projeto. Ultimamente tem existido um desenvolvimento fulgurante das relações bilaterais da Rússia e da República Popular da China com países da América Latina, em setores como o tecnológico-militar, comercial, de investimento e energético. Neste quadro, as visitas em Julho de Vladimir Putin e de Xi Jinping marcaram o tendencial círculo de potenciais aliados dos Brics, nomeadamente Cuba, Venezuela, Nicarágua, Argentina, entre outros. Como é sabido, geograficamente, a America Latina “apoia”, a partir do Sul, os EUA. O reforço dos Brics, nessa zona sensível para os norte-americanos, é um trunfo adicional para o mundo em vias de desenvolvimento.
– Relativamente à “descoberta” muçulmana dos BRICS. Como será a institucionalização?
– Também se estuda o prolongamento dos Brics da direção do Islã, onde também existe descontentamento face ao domínio norte-americano. Espera-se que, após a entrada da Argentina, a fila de adesão aos Brics seja engrossada pelo maior, em termos de população, país muçulmano do mundo (cerca de 250 milhões), ou seja, a Indonésia. Ela, seja pela sua ideologia, seja pela ambições, nasceu para aderir ao projeto e assim fechar a região do Sudeste Asiático. O novo governo indonésio confirma a sua intenção de desenvolver o relacionamento com os Brics. A entrada da Indonésia encerrará a “corrente regional” que englobará as principais regiões do mundo. Além disso, cada um dos países dos Brics irá representar a “sua” região, tornando-se no seu líder informal. Brasil a América Latina, RAS a África, Rússia a Eurásia, China o Nordeste da Ásia, Indonésia o sudeste asiático. Os futuros cenários de desenvolvimento do projeto poderão ser diversos. Mas um deles já é atualmente equacionado e de forma bastante concreta. Num futuro próximo, os líderes dos BRICS deverão trabalhar no sentido da institucionalização do projeto, nomeadamente através da criação de um fórum de membros permanentes (atualmente são cinco Estados), e um fórum de observadores e de parceiros de diálogo.
– Há alguma chance de os EUA dialogarem?
– É possível que, com tempo, os EUA sejam obrigados a dialogar com os Brics. Porém, não parece ser algo que venha a ter lugar num futuro próximo. Hoje o projeto está em ascensão. Ele combina, organicamente, as vantagens de diversas civilizações, economias e culturas políticas. Aqui não existem imposições nem domínios de um só país. É claro que existem incongruências, algumas “divergências e visões diferentes quanto à concretização de alguns projetos internacionais. Mas não são diferendos estratégicos. Trata-se de questões objectivas, que surgem, normalmente, nas relações internacionais do mundo político. Os Brics acabam por ser o reflexo bastante preciso do nosso mundo multifacetado e bastante complexo.
Fonte: Correio do Brasil, com agências internacionais - de Nova York, EUA, Moscou e São Paulo

Economia do Brasil entre 2004 e 2013

José Luis Fiori, no Valor Econômico: “Segundo cálculos recentes do Banco Mundial, o Brasil passou a ser a sétima maior economia do mundo na década entre 2004 e 2013. Além disto, segundo os dados do Bird, o Brasil foi o país que teve a 5ª maior taxa média de crescimento anual do PIB e da renda per capita, entre as dez maiores economias do mundo, neste mesmo período. Por último, e apesar de tudo, o Brasil obteve a 4ª maior taxa de crescimento entre as grandes potências econômicas do mundo em 2013 e está mantendo a 7ª maior taxa no ano de 2014.” Leia o artigo na íntegra http://migre.me/kI0wI

29 julho 2014

Uma análise de pesquisas recentes

Por que o tiro saiu pela culatra

Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa
Cautelosamente, os jornais brasileiros começam a interpretar o quadro mais amplo das pesquisas de intenção de voto, colocando em perspectiva alguns fatos que foram vinculados recentemente às escolhas do eleitorado.
 
Manifesta-se na imprensa uma necessidade de entender por que razão a vantagem da presidente Dilma Rousseff sobre seus principais adversários se mantém praticamente incólume, contrariando as expectativas criadas pela maioria dos analistas a cada rodada de consultas.

A pergunta por trás desse esforço é a seguinte: como é que ela continua na liderança, com grande potencial para vencer no primeiro turno, se quase tudo que se noticiou ao longo dos últimos meses deveria ter induzido a uma queda na sua aprovação?

Uma das respostas vem junto com a própria pergunta: quanto mais se fala de um candidato, mais conhecido ele se torna. Se o cidadão não enxergar uma grande diferença entre eles, e se a situação geral não produz um desejo massivo e radical de mudanças, a tendência é que o nome mais conhecido acabe se consolidando na mente dos eleitores.

Ainda que predomine nos principais jornais do país um viés negativo na abordagem dos assuntos mais relevantes sempre que se referem ao governo de Dilma Rousseff, é preciso considerar, ao mesmo tempo, que os tradicionais mediadores da comunicação social se tornam menos influentes quanto mais cresce o uso das mídias digitais. É legítimo considerar, portanto, que a mensagem centralizada das mídias tradicionais tem se tornado marginal no amplo sistema de informações da sociedade hipermediada.

Uma análise interessante sobre o assunto foi produzida pelo colunista José Roberto de Toledo, publicada na edição de segunda-feira (28/7) do Estado de S.Paulo. Ele observa que um terço dos eleitores vivem em domicílios beneficiados por algum programa social do governo federal, mas a escolha da presidente pelas famílias que não recebem nenhuma bolsa ou auxílio é quase igual, em termos proporcionais, o que o faz concluir que o apoio a Dilma Rousseff vem de uma aprovação geral à política social por parte da população como um todo.

Jornalismo e bobagens

Por outro lado, pode-se acrescentar à análise do colunista outras visões sobre o noticiário e seu esperado efeito nas escolhas dos eleitores. Por exemplo, se formos considerar a versão pessimista que a imprensa vem apresentando sobre a situação econômica do país, teremos que confrontar esse viés com a percepção da sociedade sobre sua própria circunstância e relativizar a influência da imprensa.

Os indicadores de confiança e otimismo mostrados pelas pesquisas não confirmam a expectativa criada pelos jornais – o que indica, claramente, que a maioria da população discorda da visão homogênea da imprensa. Não é difícil constatar que esse viés do jornalismo brasileiro não se constrói com um olhar amplo sobre a economia como um todo: o noticiário econômico da imprensa nacional se faz com a perspectiva de uma minoria, exatamente o mesmo público visado pelo desastrado comentário divulgado recentemente por analistas do banco Santander.

O comunicado oficial do banco espanhol, condicionando lucros futuros de investidores a uma eventual queda das intenções de voto na presidente Dilma Rousseff, representa um microcosmo do ideário que predomina na imprensa.

Os jornais genéricos não escrevem para a sociedade, mas para um pequeno conjunto de investidores, de renda mais alta mas não necessariamente vinculados a atividades produtivas. As editorias de economia e negócios do Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e o Globo destoam, escancaradamente, daquilo que apresentam os diários especializados, como o Valor Econômico e o DCI, que costumam abordar as questões econômicas de maneira mais ampla e equilibrada.

Observe-se, por exemplo, a reportagem publicada no sábado (26) pelo Estado, com título destacado ao lado da manchete: “Petrobras amplia gastos em publicidade em meio a crise”. A reportagem não resiste a um questionamento básico: praticamente todas as grandes empresas concentraram os investimentos publicitários no primeiro semestre, por causa da Copa do Mundo. A Petrobras tem mais razões para isso, porque sua publicidade fica limitada durante o período eleitoral.

Bobagens como essa explicam, em parte, por que o noticiário negativo não afeta a grande massa de eleitores.

Pertencimento

A terça-feira é de Adalberto Monteiro: "Vês aquela minúscula/mancha na imensidão azul?/Sinto–me assim/uma andorinha em ti." (Foto: LS)

Sucesso

Excelente a plenária de apoiadores do Recife, com mais de 700 participantes (apesar da greve dos motoristas), em torno das candidaturas de Marcelino e Luciana.

28 julho 2014

Centenário de um pioneiro

Paulo Duarte, um construtor da Nação


Luciano Siqueira

Na sexta-feira, 25, o Departamento de Química da Universidade Federal de Pernambuco homenageou em cerimônia simples, mas rica em conteúdo e emoção, o centenário do professor, pesquisador e engenheiro químico Paulo José Duarte (1916-1995).

Na ocasião, ao lado do reitor Anísio Brasileiro, em breve comentário, assinalei a minha compreensão de que a Universidade Federal de Pernambuco (e suas congêneres) é feita por uma fração do povo brasileiro, dedicada a essa tarefa estratégica – na pesquisa, da docência, na extensão. E como tal, contribui para a construção da Nação.

Na verdade, a edificação de uma nação democrática, progressista e soberana é obra de milhões. Mas esses milhões têm nome, personificados por indivíduos que se destacam em determinadas fases de nossa História e por cumprirem papel singular em determinado instante. É o caso de Paulo Duarte – um construtor da nacionalidade.

Paulo Duarte encarnou em sua larga e profícua atividade profissional, a um só tempo o professor, o pesquisador e o técnico envolvido com a solução prática de desafios da produção industrial. Notabilizou-se pela descoberta das jazidas de fosfato em Pernambuco. Em 1988, recebeu o título de Professor Emérito da UFPE.

Precursor e pioneiro, inclusive por se empenhar pessoalmente na criação do curso de geologia na então Universidade do Recife, hoje UFPE, praticou o que hoje almejamos como a uma necessidade do desenvolvimento brasileiro: a fusão, por assim dizer, da pesquisa acadêmica com a produção industrial e de serviços – condição indispensável para que a produção do conhecimento, em todas as áreas, se conecte às necessidades reais do povo e da Nação.

São incontáveis os registros de sua dedicação ao ensino e à pesquisa, exímio formador de quadros que foi. Igualmente reverenciada é a sua produção como técnico a serviço de empresas consideradas, à época, de ponta.

A Universidade Federal de Pernambuco tem, pois, na figura de Paulo Duarte um dos seus ícones, ao lado de Ricardo Ferreira, Oswaldo Gonçalves de Lima e tantos outros fazedores de conhecimento científico e formadores de novos quadros, que têm criado verdadeiras escolas de pensamento e de compromisso com a sociedade brasileira.

Para mim, modesto ex-aluno da UFPE – onde fiz o curso médico, residência médica e a pós-graduação e em cujo solo sagrado pude dar consistência à minha militância política – participar da homenagem a Paulo Duarte, e encontrar seus familiares, entre eles a arquiteta e designer Clementina Duarte, foi sobretudo um prazer. (Publicado no Jornal da Besta Fubana e no site www.pcdobrecife.com.br) 

Hoje, na Casa Rosada

Uma conversa objetiva e leve, ao mesmo tempo. Luciana, Marcelino, eu e vocês. Hoje, 19h, na Casa Rosada (Av. Santos Dumont, Rosarinho). Vamos nessa?

Magia

A segunda-feira é de Mário Quintana: "Se as coisas são inatingíveis... ora!/não é motivo para não querê-las./Que tristes os caminhos, se não fora/a mágica presença das estrelas!" (Arte: Volpi)

Vamos juntos

Campanha eleitoral baseada em ideias, emoção e comprometimento coletivo. Em favor do Brasil e das aspirações do nosso povo. É possível, sim; concorrendo com candidaturas riquíssimas, que não conquistam o voto, compra-o. A vitória é possível: depende de nós. Vamos juntos nessa batalha? 

Saldo positivo

Estrangeiros deixaram US$ 1,4 bilhão durante a Copa do Mundo. No acumulado do ano, visitantes gastaram US$ 4,254 bi no Brasil.

27 julho 2014

Diálogo

Por e-mail, o amigo generoso (porque lê o que escrevo) pergunta como encontro tempo para escrever sobre variados assuntos e ainda manter em dia minha correspondência pessoal. Simples: falar com as pessoas é uma necessidade visceral; escrever é um modo de conversar. Daí meus artigos e crônicas carecerem sempre de ajustes, correção neste ou naquele trecho, pois são apenas isso: um breve diálogo em meio às muitas tarefas que me consomem os três turnos do dia. 

Instantes mágicos

Da minha correspondência pessoal: "Há instantes na vida - mescla de sonho e realidade - que valem uma vida inteira. Mas é preciso sensibilidade para perceber e sentir."

Olhar

Modigliani
O domingo é de Adalberto Monteiro: "Os olhos,/sem sua linguagem/quantas vidas teriam perecido,/quantos amores teriam deixado/de se reatar." 

Contra o jogo baixo

Campanha de Dilma aciona consultoria por "oportunismo político"

No Vermelho www.vermelho.org.br
O comitê de campanha da presidenta Dilma Rousseff entrou nesta sexta-feira (25) com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a empresa Empiricus Consultoria & Negócios – que faz análise de mercado e orienta investidores – e também contra o Google e o candidato do PSDB à presidência, Aécio Neves, por veiculação de propaganda eleitoral indevida, paga, na internet. 
“A empresa Empiricus tem se utilizado de posts patrocinados junto ao Google para divulgar conteúdo propagandístico favorável a Aécio e desfavorável a Dilma, o que é juridicamente reprovável", disse o coordenador do PT, Flávio Caetano.

“Desde o início do período eleitoral, a Empiricus vem vinculando suas publicidades a cenários que se referem ao pleito presidencial de 2014”, dizem os advogados da campanha petista na ação. “Ocorre que o conteúdo de sua propaganda ultrapassa qualquer limite da liberdade de informação e atenta frontalmente aos ditames da legislação eleitoral, chegando a incitar, em seu anúncio pago, um certo ‘terrorismo’ no mercado financeiro, em caso de vitória da candidata".

Citando o Marco Civil da Internet, já em vigor, os advogados ressaltam respeitar “toda iniciativa de livre expressão”, mas afirmam que há um “flagrante extravasamento” de direitos no caso.

A petição petista elenca situações concretas. “O sítio eletrônico do jornal O Estado de Minas noticiou matéria sobre as eleições em que o candidato Aécio Neves negava financiamento de aeroporto em terreno da família. Após a notícia, aparece a propaganda ‘Como Proteger seu Patrimônio da Dilma’, com um link da primeira representada (Empiricus Consultoria & Negócios)”, explica. “No importante sítio eletrônico do jornal Correio Braziliense, o feito vem a se repetir, nas mesmas condições”, acrescenta.

A representação diz que em anúncio de link patrocinado, por meio de publicidade contratada da Google, há a mensagem “Saiba Como Proteger Seu Patrimônio em Caso de Reeleição da Dilma, Já”. “O link direciona o internauta a uma página desenvolvida pela primeira representada (Empiricus) especificamente para tirar proveito da situação eleitoral, com texto intitulado ‘Como a corrida presidencial pode influenciar seus investimentos?’, que insinua a possibilidade de instabilidades futuras no país, no caso de uma reeleição da presidenta Dilma Rousseff”.

Afirma também que a empresa de consultoria demonstra “claro partidarismo e ilegítimo oportunismo político”, ao criar anúncios associados às eleições, como os dos jornais Estado de Minas e Correio Braziliense.

Segundo os advogados, em contexto impossível de ser dissociado da disputa na eleição, é clara a conotação eleitoral de propaganda paga na internet, cujo conteúdo “é claramente difamatório e injurioso à candidata (Dilma)”.

A petição registra o tratamento oposto dado à candidatura do oposicionista Aécio Neves. Enquanto é veiculada a mensagem negativa à presidenta Dilma Rousseff, em outro anúncio na mesma página a mensagem é positiva ao tucano: "E se o Aécio Neves Ganhar? Que ações devem subir se o Aécio Ganhar a Eleição? Descubra Aqui, já".

Afirmando não haver como fugir do conceito de propaganda eleitoral paga na internet, a campanha de Dilma Rousseff pede a proibição de novas veiculações na internet de links patrocinados pela Empiricus Consultoria & Negócios. (Fonte: Rede Brasil Atual) 

26 julho 2014

Importante fonte de consulta

Biblioteca virtual oferece 10 milhões de páginas de periódicos

São jornais, revistas, anuários, boletins e outras publicações brasileiras desde 1808 até os dias atuais
A historiografia brasileira, de 1808 até os dias atuais, pode ser consultada na Hemeroteca Digital Brasileira, que leva ao público uma coleção de jornais, revistas, anuários, boletins e outras publicações seriadas da coleção da Biblioteca Nacional. Por meio da Lei do Depósito Legal - obrigatoriedade do depósito na Biblioteca Nacional de um exemplar de tudo o que se publica no País –, a instituição se beneficiou com a aquisição de milhões de páginas de nossa memória impressa.
Considerada a mais antiga e completa do País, a Hemeroteca Digital Brasileira, a partir de 2011, com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), começou a digitalizar e disponibilizar dez milhões de páginas de periódicos brasileiros, que estão em domínio público. E, por meio do Plano Nacional de Microfilmagem de Periódicos Brasileiros (Plano), iniciou a localização, reunião, organização, recuperação e preservação do acervo de outras instituições brasileiras.
Fazem parte da coleção jornais raros, extintos e correntes como o Correio da Manhã (1901) - um dos mais importantes da história da imprensa brasileira e o jornal extinto mais consultado na Biblioteca Nacional -, O Paiz (1860), Gazeta de Notícias (1875), Gazeta do Rio de Janeiro (1808) e Correio Braziliense (1808).
O acervo inclui, ainda, uma coleção, de 1907 a 1945, da revista Fon-Fon, "um semanário alegre, político, crítico e esfusiante" (com grafia da época), segundo a própria publicação.
Do século XX, há revistas como Careta, O Malho, Revista da Semana, Klaxon (revista sobre arte, criada depois da Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, pelos participantes do Movimento Modernista), entre outras. Jornais que marcaram a história da imprensa no Brasil, como A Noite, Correio Paulistano, A Manhã e Última Hora, também podem ser consultados. (Do Portal Brasil).

Contra o povo

O chamado "mercado" - ou seja, o grande capital financeiro - domina a mídia e faz campanha agressiva. Publica "avaliações" sobre o quadro eleitoral com a mesma desfaçatez com que manipula indicadores econômicos. Sempre em favor dos lucros estratosféricos que obtêm através da usura, em prejuízo da produção e do emprego. Aécio é o candidato preferencial dessa gente.

Presença

Edvard Munch
O sábado é de Paulo Leminski: “Ao ver teu rosto feito tocha/Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha/Sim, eu estarei aqui” 

A vida do jeito que é

Portinari

O negro Zildão

Marco Albertim, no Vermelho

Por toda a extensão da orla, as escavadeiras deixaram um sulco comprido. À medida que a escavação avançava, sacos de náilon, vazios, se sobrepunham. Em seguida, o tubo alongado de borracha, acoplado à torneira da betoneira na parte de trás do caminhão, despejava a mistura de concreto ainda mole, numa abertura em cada saco, cujo diâmetro coincidia com o do tubo.
Cheios, os sacos tornavam-se colchões bojudos de cimento; um em cima do outro, logo se mostravam semelhantes a arquibancadas de estádios. Primeiro a escavadeira abria o caminho, não importando se encontrasse pela frente muros residenciais, bares à beira-mar ou mesmo uma singela peixaria onde a vizinhança de classe média se provia de prateadas carapebas, de róseas ciobas.
O negro Zildão há trinta anos estabelecera seu negócio de pescados na beira da praia. Tornou-se conhecido pelo torso largo, o rosto com salientes bochechas de comum acordo com os peitos largos, acolchoados de músculos. Chegara aos sessenta anos e não perdera a robustez, inda que com a gota corroendo-lhe os dois tornozelos, forçando-o a cobrir as feridas chaguentas com rodilhas de algodão sob panos finos.
Com a marcha ininterrupta das escavadeiras, Zildão deu conta de abespinhamento no juízo. A gota formigando nos pés, nas pernas, juntou-se ao ruído importuno da betoneira girando. Confessou, então...
- Ninguém vai me tirar daqui. Meu pai nunca foi preso. Quando a polícia corria atrás dele, ele se virava num toco de pau. A polícia ficava zonza, sem saber onde ele tinha se metido.
A gorda com quem se amigara assentia com o juízo entregue ao negro de quadris ameaçadores, sêmen espesso.
- Com quantos anos ele morreu? – quis saber a vizinha, também com negócios de peixes nos fundos da peixaria do negro.
- Com oitenta anos.
A vizinha, com tumescência na barriga e palidez no rosto, punha-se servil, aduladora, rendida ao tronco lustroso, negro, de Zildão.
- Pois você não vai morrer antes dessa idade. É a herança que seu pai deixou.
Choveu na mesma noite. O barco de Zildão foi ancorado pouco antes da meia-noite. Mimo, único filho da confiança do negro, e mestre do barco a motor, despejou junto com dois ajudantes, proeiros, a caixa de isopor cheia de carapebas, ciobas, dentões, albacoras e garajubas. Os peixes, depois de pesados, foram depositados nos dois freezers da peixaria.
- Pai, na entrada do maceió, a maré já derrubou a barreira de cimento da obra.
- Essa obra não tem futuro. Ninguém pode com o mar. Só Deus.
- E amanhã? – perguntou súbito o filho.
- Amanhã à noite vai ser de maré baixa. Traga o povo para fazer a cerimônia.
Na manhã seguinte, os peixes foram vendidos. O frescor do pescado recém-capturado chamara a atenção da vizinhança, já acostumada aos horários de saída e retorno do barco de Zildão. A gorda, no começo da noite, quis soltar rojões na frente do boteco de sua propriedade, junto à peixaria. Os dois dormiam num quarto atrás da parede do boteco; ali coitavam, ali a gorda fazia reparos nas feridas do macho.
- Não, agora não. Quando começar a cerimônia.
À meia-noite a negrada paramentada de branco deu conta do propósito de homenagens a iemanjá.
O babalorixá, tão bojudo quanto Zildão, agitou na mão direita um sino de ruído agudo. Deu a permissão para que os ajudantes entrassem na água carregando o vaso de barro com oferendas. Mimo, segurando o leme do barco, acolheu-os sem esconder o suor do rosto, a vermelhidão nos olhos depois do sorvo da liamba. Zildão ficou na beira da água. Convencido de que gozava de proteção da iabá, jogou um monte de moedas na água.
A tia, irmã do pai do negro, atestou os poderes transformistas da família.
- Não se preocupe, meu filho. Com a força de iemanjá e o sangue de seu pai, ninguém vai lhe tirar daqui.
- Tenho fé em Deu, tia.
A gorda,ouvindo, ordenou a detonação dos rojões.
Choveu toda a madrugada, choveu de a água socar com bordoadas o teto de zinco do negro Zildão. A gorda acoitou-se sem medo nos músculos dos ombros do parelho.
O dia mostrou os sulcos abertos pelas escavadeiras cobertos de água, da mesma areia removida para cima e para baixo da beira do mar. A escavadeira, a do pelotão de frente, mirando a peixaria do negro, atolou-se no charco. O coqueiro na frente caíra com a tempestade; o olho com palhas e cachos de cocos, destroçara a cabine do operador da escavadeira.

Nova ordem à vista

Protagonismo crescente

Eduardo Bomfim, no Vermelho

Os recentes fatos geopolíticos demonstram que se encontra em processo de transição mais acelerada a mudança para outra ordem internacional multilateral, indicando, por sua vez, a tendência mais acentuada à decadência da chamada Nova Ordem mundial que já apresenta sinais de falência.
Os novos atores no palco das relações globais, o Brics, mais da metade da população do planeta, que antes representavam uma promessa significativa ultrapassaram o sinal que demarcava a expectativa do futuro promissor, para o outro lado da História, o da realidade tangível.

Ou seja, o processo histórico mundial já se encontra naquele momento da viragem sem volta, com todas as possibilidades e as consequências que esses tempos sempre registram na vida dos povos.

No campo das possibilidades surgem grandes perspectivas, indicadores econômicos, sociais, políticos que se apresentam a toda humanidade, esperançada por esse núcleo de Países, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, de características gerais, idiossincrasias, vicissitudes, realidades distintas.

Mas crescem os desafios às nações, especialmente os BRICS, em uma etapa complexa onde o velho já caducou, mas ainda sobrevive e o novo já se fez inevitável, mas ainda não se consolidou inteiramente.

São momentos singulares, de choque entre essas duas tendências assumindo características variadas conforme o contexto social, político, regional de cada País.

Os estrategistas da Nova Ordem, municiados de análises, números, há algum tempo dominavam essa mudança acentuada dos ventos, adversos aos seus privilégios hegemônicos financeiros, imperiais e já fazem de tudo para sustar o inexorável.

O Brasil é sujeito de primeira grandeza nessa nova configuração geopolítica multilateral com território continental, imensos recursos renováveis, sem conflitos com vizinhos, movimentos separatistas ou de etnias, vocação democrática, de língua una, identidade nacional preservada, pacifista.

Mas por essas mesmas razões especiais o País vem sendo alvo de crescentes ataques midiáticos, financeiros, ideológicos, geopolíticos.

Cabe às forças progressistas, patrióticas, incorporar o protagonismo solidário do Brasil, combinar a luta política estratégica, com essa tendência avançada, de vanguarda mesmo, que os fenômenos históricos indicam.

25 julho 2014

A questão nacional, ponto de convergência

Ariano Suassuna, uma relação de cumplicidade e afeto com o PCdoB

A política, a cultura e a arte são elementos que se entrelaçam não só na vasta produção literária de Ariano Suassuna, escritor e dramaturgo, mas em toda a trajetória de vida desse paraibano/pernambucano, que faleceu esta semana.
Nacionalista ferrenho e defensor vigoroso da cultura brasileira e nordestina pode-se dizer que Ariano manteve uma relação com a política desde seu nascimento, em 1927, filho que era do ex-governador da Paraíba, João Urbano Suassuna, assassinado no Rio de Janeiro, em 1930.
Uma relação que, ao longo do tempo, foi se tornando cada vez mais explícita e na qual se inclui a convivência com o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) marcada pela cumplicidade, pelo afeto e pela convergência de pensamento sobre o presente e o futuro do país.

Na entrevista a seguir, Luciano Siqueira, vice-prefeito do Recife e dirigente estadual e nacional do partido, traduz essa afinidade entre o mestre Ariano e os comunistas.

Sabemos que o nacionalismo e a defesa da cultura brasileira e nordestina são alguns dos pontos de convergência entre Ariano Suassuna e os comunistas. Que outros aspectos dessa relação você destacaria?

Luciano Siqueira - Eu sintetizo a relação de Ariano Suassuna com o PCdoB em dois sentimentos: cumplicidade e afeto. Cumplicidade porque, ao tomar conhecimento de que nós perseguimos uma ideia de socialismo que não copie supostos modelos aplicados a outros países, mas que estejam atento às peculiaridades históricas, culturais, econômicas, sociais, políticas e institucionais brasileiras, Ariano sentiu um motivo muito forte para uma aliança com o PCdoB. Em uma entrevista o Jornal do Commercio, de Pernambuco, ele disse: "Esse é o socialismo que eu apoio, um socialismo com a cara do Brasil". Ele que foi um verdadeiro baluarte, um paladino, da defesa da cultura nacional.

Ariano se comportava de maneira jocosa em qualquer situação, uma verve muito grande, às vezes uma certa irreverência. Eu me recordo que ele era secretário de Cultura do segundo governo de Miguel Arraes e eu presidente estadual do partido e fui com minha filha Tuca a uma palestra que ele daria para jovens recém-chegados à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ariano fazia essas palestras com um álbum de recortes de jornais, e ao perceber minha presença ele disse: "Está aqui na plateia um grande amigo meu, dirigente do Partido Comunista do Brasil, e eu quero mostrar para vocês uma entrevista que ele concedeu ao Diario de Pernambuco".

E leu um trecho da entrevista. Exatamente aquele no qual eu me referia ao fato de que o Programa do PCdoB buscava - o que chegamos a atingir no 12º Congresso - uma definição clara da ideia do socialismo segundo as peculiaridades brasileiras. Então, ele fez um comentário: "Este é o socialismo que eu apoio". E fez uma brincadeira. Pediu que eu me levantasse e aos alunos, uma salva de palmas.

De que outras manifestações de apoio ao PCdoB você se recorda?

Luciano - Em diversas oportunidades Ariano expressou essa relação de cumplicidade política com o partido. Ele semeou a informação de que não recusaria um pedido meu. Na campanha da reeleição de FHC (1998), que nós perdemos mais uma vez com Lula, em um comício aqui no Recife, a direção da campanha de Lula e do PT me pediu para convidar Ariano a participar do ato de lançamento de um manifesto de apoio de intelectuais à candidatura de Lula, em Natal (RN). "Nós sabemos você é um grande amigo de Ariano e que ele sempre lhe atende", me disseram. Falei com Ariano e ele a princípio fez um gesto de rejeição, alegando que não gostava de viajar - de fato, ele não gostava de viajar. Ele me pediu um tempo para pensar, depois me chapou e disse: "Eu aceito, mas diga à campanha de Lula que só aceito porque você está pedindo".

Ele nunca recusou o convite para um evento do Partido. Quando Luciana Santos era deputada estadual e eu ganhei uma ação contra a Veja por calúnias que a revista divulgou contra mim e ganhamos na Justiça, ela propôs uma homenagem a mim na Assembleia Legislativa, Ariano compareceu e foi o primeiro orador. Não conseguiu fazer o discurso que ele queria porque se emocionou muito e desceu da tribuna chorando.

Em outra ocasião, talvez no último programa do PCdoB na televisão naquela fase em que os programas gratuitos tinham quase uma hora de duração, e a direção do partido me propôs abordá-lo sobre a possibilidade de ele gravar para o nosso programa. Telefone para ele e de pronto ele aceitou: "Quando vamos gravar?", perguntou.

No dia seguinte fomos eu, Guido Bianchi, nosso companheiro da área de Comunicação, e uma equipe de televisão a casa dele, que nos recebeu como sempre de maneira muito afetuosa. Sentou-se na clássica cadeira em que dava entrevistas e em sua fala foi muito preciso ao afirmar: "Se eu fosse marxista, eu seria membro do Partido Comunista do Brasil, o PCdoB, porque é o nosso grande aliado na luta contra o governo antinacional e antipopular de Fernando Henrique Cardoso e defensor da soberania do Brasil”.

Eu poderia citar várias outras oportunidades em que ele foi muito solícito em atender aos convites do partido. Quando Aldo Rebelo comemorou 20 anos de vida pública, no Memorial da América Latina, em São Paulo, foi um dos que prestigiaram nosso Aldo Rebelo, por quem tinha uma grande admiração. Ele se sentia muito identificado com as posições nacionalistas de Aldo. Quando Aldo, deputado federal, apresentou um projeto de lei limitando o uso de diversas expressões em inglês em diversas situações, para valorizar a língua portuguesa, brasileira, ele se empolgou, ele era um defensor do mandato e das posições de Aldo em defesa da cultura brasileira.

Então, eu acho que havia muita cumplicidade com o nosso partido na compreensão da questão chave para o desenvolvimento do país e para a abordagem da luta pelo socialismo que é a questão nacional. Por outro lado, uma relação de muito afeto. Eu já registrei a presença e a emoção dele numa solenidade em minha homenagem na Assembleia Legislativa; a ida dele ao evento alusivo aos 20 anos de vida pública de Aldo Rebelo; ele comparecia aos eventos do partido toda vez que era convidado; compareceu e foi o primeiro a chegar ao lançamento do meu primeiro livro O vermelho é verde amarelo. Ele também apresentou na primeira Bienal da UNE aqui no Recife, há muito tempo, uma de suas famosas aulas-espetáculo. Nessa ocasião, ele estava veraneando numa praia, mas mesmo assim aceitou nosso convite. Sempre com essa disposição: "Convite do PCdoB eu não recuso".

Uma vez aconteceu um fato muito típico de Ariano. Nós estávamos conversando lá na sede do partido e um militante razoavelmente estimulado pelo álcool ao vê-lo exclamou: "Ariano, meu ídolo!", tirou do bolso uma conta de luz e uma caneta e pediu um autógrafo. Concedido o autógrafo, o companheiro deu-lhe um beijo meio exagerado na face e eu comentei: "Ariano, me desculpe porque nessa altura o pessoal já bebeu um pouco e aparece um maluco lhe abraçando e lhe beijando". E ele: "Maluco? O homem que me chama de ídolo? É muito lúcido!". Típico dele, típico dele!

Quando vocês se conheceram?


Luciano - Eu conheci Ariano nos anos 1980, quando era deputado estadual e fui paraninfo de uma turma acho que de Enfermagem e entre os formandos estava uma filha dele e ele na plateia. Ao terminar a solenidade, ele veio falar comigo e disse: "Gostei muito do seu discurso, a sua fala é muito aprumada. E deixa eu te falar uma coisa, eu costumo guardar recortes de jornais com suas declarações, artigos e entrevistas. Gosto muito de suas opiniões. E, a partir daí, nós tivemos uma sequencia de oportunidades de nos relacionarmos, seja conversando sobre arte, literatura, sobre política, ora nos encontrando na casa de Miguel Arraes e, posteriormente, na casa de Eduardo Campos, ou em eventos, nos pronunciando juntos. Então, essa era a relação de Ariano Suassuna com o nosso partido.
Há a percepção de que, além de traduzir todo aquele sentimento em relação ao assassinato do pai, a obra de Ariano é na verdade um manifesto político intenso a partir do momento que nela ele reafirma a brasilidade, a nordestinidade. É um exercício da política e político por meio da arte.

Como você avalia isso?


Luciano - Existiu uma polêmica entre ele e Hermilo Borba Filho, romancista e dramaturgo pernambucano, seu amigo, porque Ariano não gostava de Brecht, pois considerava que ele tinha enveredado pela arte panfletária, porque as posições ideológicas eram explícitas em demasia. Com o quê Hermilo não concordava. Nós também polemizamos um pouco sobre isso. Ariano, do alto de sua sabedoria de professor de Estética da Universidade Federal de Pernambuco, de artista consagrado que era, e eu, modestamente, como mero consumidor de cultura e das artes.

E, nessa ocasião, eu me lembro de ter dito a ele que na essência a arte que ele praticava é profundamente identificada com a arte de Brecht ou por outra tem algo em comum, tem um posicionamento político. O grau de explicitação, de maneira mais clara, que possa ser identificada como mais próxima ou menos próxima de certas correntes políticas é secundário. O que pesa é o conteúdo essencial de sua obra que é uma obra eminentemente política. Não só no sentido dessa persistência em revelar o modo de pensar, de agir, de amar, de sofrer, de viver suas dúvidas, suas angústias, suas contradições da nossa gente, particularmente, a gente simples do interior.

Em várias entrevistas, Ariano dizia que as noites que passou na fazenda da família em Taperoá (PB) ouvindo as histórias contadas pelos empregados da propriedade, histórias verdadeiras ou imaginadas, foram muito importantes na formação dele, pois despertaram seu interesse para a arte de contar histórias.

Interessante é que Ariano fez um caminho muito difícil. Ele tinha um domínio profundo da estética da arte erudita e fundiu essa percepção com a percepção da vida simples do interior e produziu a revelação do que é o homem brasileiro, do que é o homem nordestino, do que é o sertanejo. A obra de Ariano é eminentemente política, mas não explicitamente partidária.

Aliás, ele só assumiu uma postura partidária em um período mais recente, quero crer que a partir do segundo governo Arraes. Ele foi evoluindo politicamente e dando, digamos assim, formato a uma percepção própria da luta política não necessariamente traduzida em termos explícitos em sua na obra, mas expressada em seu comportamento. Então, ele passou a frequentar os palanques nas eleições; ele participou de três ou quatro campanhas de Lula, inclusive as vitoriosas, dando depoimentos, participando das caminhadas. Isso aconteceu também nas duas campanhas de Eduardo Campos para o governo de Pernambuco; na campanha do ex-prefeito João Paulo (PT); e, recentemente, na campanha de Geraldo Julio (PSB) para prefeito do Recife, além de se filiar ao PSB. Sempre assumindo uma posição política clara, embora tenha preservado o conceito que tinha de fazer uma arte que ele chamava de não panfletária.

Entrevista concedida à jornalista Audicéa Rodrigues, do Recife.

Ao mestre, com carinho

Ariano, iluminando as estrelas!

Ruy Sarinho
Ao cair da tarde desta quarta-feira, 23 de julho de 2014, o Recife escureceu derramando do céu pesadas lágrimas de despedida do grande paraíbucano Ariano Suassuna.
Apesar da tristeza do momento, não poderiam ser tristes, essas lágrimas dedicadas a esse brincalhão por natureza.
Acabara de se encantar o Mestre, escritor, poeta, dramaturgo…
Um artista completo, da alma mais brasileira da cultura popular, mais irrequieta, irreverente, debochada, buliçosa, moleque.
Um eterno caçador da verdadeira alma-identidade brasileira, radical, polêmico.
Não apenas um caçador.
Mas um criador nato dessa identidade-alma do povo brasileiro.
Teimoso, graças a Deus!
Na defesa dos valores nos quais acreditava, Ariano tinha a teimosia da Mulher do Piolho.
Uma de suas histórias mais engraçadas que tive a felicidade de ouvir, numa entrevista que fiz com ele, ao vivo, para rádios do interior pernambucano, acho que em 1995, 1996, por aí, no Rádio da Secretaria de Imprensa do Governo do seu amigo Miguel Arraes de Alencar.
Certa vez, Ariano disse que gostava mais das histórias que contava em que a polícia saia apanhando.
Eram as que eu mais gostava de ouvir.
Um combatente perpétuo contra a descaracterização da cultura brasileira e a sua vulgarização.
Uma estrela de um brilho do tamanho da luz do sol.
Um Iluminado, iluminante, por natureza.
Sem estrelismo nenhum.
Simplicidade pura!
De gênio!
Para fazer rir, bastava Ariano começar a falar.
E aí, era só olhar pro seu jeito puro e transparente, que a gente começava a rir, aquele riso leve e espontâneo.
Sem nem saber por que, mas sabendo; porque Ariano dominava, como ninguém, a arte de fazer rir, só pelo seu jeito de falar, de contar as coisas.
Mal acabou a sua última Aula-espetáculo, no 24º Festival de Inverno de Garanhuns, na última sexta-feira, tendo como tema o seu amigo Capiba, Ariano já está encantando todas as almas do Céu, as boas e as ruins, com os espetáculos de suas aulas geniais.
Um Viva, muitos Vivas a este genial brincante da vida, Ariano Suassuna.
Obrigado, Ariano Suassuna!
Olinda, 24 de julho de 2014

Espera

Foto: Pierre Verger
A sexta-feira é de Sérgio Ricardo: “Meu olhar, de tanto que anda à espera/Modelou no meu semblante/Esta queixa de saudade” 

24 julho 2014

De Matheus para Ariano

Matheus Naschtergaele escreve carta para Ariano Suassuna

No portal R7: Ele escreveu uma carta para o autor de O Auto da Compadecida. No texto, o ator que viveu o emblemático personagem João Grilo, da adaptação da obra para a TV, descreveu a importância do papel em sua carreira e falou, ainda, sobre o carinho que sente pelo dramaturgo. 

"Carta para Ariano,

Quem te escreve agora é o Cavalo do teu Grilo. Um dos cavalos do teu Grilo. Aquele que te sente todos os dias, nas ruas, nos bares, nas casas. Toda vez que alguém, homem, mulher, criança ou velho, me acena sorrindo e nos olhos contentes me salva da morte ao me ver Grilo.  Esse que te escreve já foi cavalgado por loucos caubóis: Por Jó, cavaleiro sábio que insistia na pergunta primordial. Por Trepliev, infantil édipo de talento transbordante e melancólicas desculpas. Fui domado por cavaleiros de Sheakespeare, de Nelson, de Tchekov. Fui duas vezes cavalgado por Dias Gomes. Adentrei perigosas veredas guiado por Carrière, por Büchner e Yeats. Mas de todos eles, meu favorito foi teu Grilo.  O Grilo colocou em mim rédeas de sisal, sem forçar com ferros minha boca cansada. Sentou-se sem cela e estribo, à pelo e sem chicote, no lombo dolorido de mim e nele descansou. Não corria em cavalgada. Buscava sem fim uma paragem de bom pasto, uma várzea verde entre a secura dos nossos caminhos. Me fazia sorrir tanto que eu, cavalo, não notava a aridez da caminhada. Eu era feliz e magro e desdentado e inteligente. Eu deixava o cavaleiro guiar a marcha e mal percebia a beleza da dor dele. O tamanho da dor dele. O amor que já sentia por ele, e por você, Ariano.  Depois do Grilo de você, e que é você, virei cavalo mimado, que não aceita ser domado, que encontra saídas pelas cêrcas de arame farpado, e encontra sempre uma sombra, um riachinho, um capim bom. Você Ariano, e teu João Grilo, me levaram para onde há verde gramagem eterna. Fui com vocês para a morada dos corações de toda gente daqui desse país bonito e duro. Depois do Grilo de você, que é você também, que sou eu, fui morar lá no rancho dos arquétipos, onde tem néctar de mel, água fresca e uma sombra brasileira, com rede de chita e tudo. De lá, vê-se a pedra do reino, uns cariris secos e coloridos, uns reis e uns santos. De lá, vejo você na cadeira de balanço de palhinha, contando, todo elegante, uma mesma linda estória pra nós. Um beijo, meu melhor cavaleiro. 

Teu, Matheus Nachtergaele"  

Atitude

De um breve diálogo nas redes sociais: “A vida é uma sucessão de escolhas. Uma vez tomada uma decisão, é preciso ir adiante com paixão e coragem.” 

Palavra certeira

Marcelino Granja 65100 revela-se um candidato seguro em suas convicções, convincente na apresentação de seus compromissos como deputado estadual. Natural que assim seja. Sua militância no PCdoB ultrapassa três décadas. E nos últimos anos vem acumulando larga e produtiva experiência na gestão pública. Foi secretário da Fazenda de Olinda nas duas gestões de Luciana Santos. Como secretário estadual de Ciência e Tecnologia, de 2011 a 2014, liderou pessoalmente programas como o PROUPE, que garante 12 mil bolsas estudos de educação superior, a instalação de novos cursos da UPE em cidades do Agreste e do Sertão; o Conexão Cidadã, que leva telefonia móvel e acesso à internet para 126 vilas e povoados do interior de Pernambuco. Tem participação direta no fortalecimento da UPE (Universidade de Pernambuco). Tem o meu voto, o meu entusiasmo militante e a minha confiança.