O espetáculo da vidaMelka Pinto*
Demoro a escrever crônica, por falta de
tempo ou preguiça, por inspiração nunca, as crônicas são escritas através da
matéria-prima da vida e de viver, como foi ontem o espetáculo da Escola de
Frevo do Recife.
Um dia desses pensando sobre a vida e
nas situações e desfechos diversos que ela pode ter, cheguei à conclusão que a
vida acontece, a vida simplesmente acontece e não temos nenhum controle sobre
os eventos que nela incidem e sabendo disso é preciso sempre lembrar que o
tempo que temos de viver é o de agora. A vida acontece e agora,
inevitavelmente.
Ontem depois de dois anos impedido de
ser realizado devido a situação de pandemia, pude assistir como mãe de aluna,
ao espetáculo que finaliza as atividades letivas da Escola de Frevo e
descarreguei choros de emoção em quase todas as apresentações de um verdadeiro
e grandioso espetáculo.
Quem esteve no Teatro do Parque pode
sentir e se conectar com a energia do carnaval se aproximando novamente,
pudemos assistir homenagem à Copa do Mundo, que mesmo com a nossa eliminação
nas quartas de finais não diminuiu a alegria de ser torcedor brasileiro,
relembramos através das apresentações a dor que a pandemia trouxe sem frevo e
sem carnaval, vimos e aplaudimos o frevo nas mais diversas formas e ritmos de
iniciantes aos passistas de nível avançado, intercalado de resgates dos
contextos históricos através da arte dançada e encenada, foi 'redondamente'
espetacular.
Eu chorei ontem sentido a mesma emoção
que senti no começo do ano quando pude assistir pela primeira vez uma aula da
minha filha na Escola, naquela aula vendo as e os pequenos dançarem com máscara
de proteção contra Covid me fez passar um filme na cabeça, depois de dois anos
de tanta espera para voltar a viver a vida, com tanta sede de viver, ou
esperando para conhecer a vida real como os mais pequenos, parecia que nós,
sobreviventes da pandemia e do genocídio que testemunhamos, enfim podíamos
cantar e dançar novamente, podíamos pensar no carnaval novamente, na vida!
E foi no espetáculo no Teatro do Parque
que vi essa vida acontecer de novo diante dos meus olhos, que me fez chorar,
sorrir e gritar, no espetáculo vi que é possível apresentar para as nossas
crianças a vida de novo, a vida pulsante, alegre, colorida e fazendo passo de
frevo com muito brilho e com gente de todas as idades, tamanhos e cores.
Como disseram os professores, aquele
espetáculo serviu para nos mostrar que não existe impedimento para dançar frevo
e Matheus, passista cadeirante irreverente, nos mostrou isso cheio de
performance em cima do palco, como disse o professor Pinho Fidélis "é pra
todos os corpos, pessoas com deficiência física, intelectual, autismo, síndrome
de Down" e vimos ali como disse o professor Bruno Henrique "toda a
diversidade de gente através da individualidade de cada um" e com certeza
saímos de lá pensando que no próximo espetáculo pode ser um de nós a estar se
apresentando naquele palco. Quem sabe?
Gravei na cabeça ontem de Antônio
Nóbrega, "olhai, olhai, admirai como isso é bom, é bom demais" e no
espetáculo olhei e admirei chorando feliz a vida simplesmente acontecendo no
agora. Obrigada, Escola de Frevo do Recife.
*Ex-presidente da União dos Estudantes de Pernambuco, enfermeira
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