20 dezembro 2023

Cláudio Carraly opina

Nova Rota da Seda - a China como centro do m
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Cláudio Carraly*



A República Popular da China, um dos países mais influentes do mundo e que potencialmente poderá se tornar a maior economia do século XXI, experimentou um crescimento econômico notável nas últimas décadas, tornando-se a segunda maior economia mundial, e ao continuar crescendo a taxas significativas, poderá chegar à liderança ainda nessa década. Investimentos maciços em pesquisa e desenvolvimento têm impulsionado o país para a vanguarda da inovação e tecnologia, setores como inteligência artificial, tecnologia 5G e energias renováveis têm sido alvos estratégicos, posicionando o país como líder global em diversas áreas de inovação. Com uma população colossal, representa um mercado consumidor massivo , seu potencial econômico é impulsionado pela crescente classe média e pelo aumento do poder de compra da população, o que atrai investimentos e estabelece o país como um centro vital para negócios globais.

A China planejou a ampliação da economia e da influência geopolítica mediante iniciativas como o Belt and Road Initiative - BRI, ou como chamamos, a "Nova Rota da Seda", esta refere-se à iniciativa chinesa lançada pelo presidente chinês Xi Jinping em 2013, essa ambiciosa estratégia de desenvolvimento busca reforçar as conexões econômicas e infraestruturais entre diversas regiões do mundo, utilizando a alegoria das antigas rotas comerciais históricas do país. A Rota da Seda original era uma rede de rotas comerciais que conectava o Oriente e o Ocidente, facilitando o comércio , auxiliando ainda na troca de conhecimentos e tecnologias, o termo "Rota da Seda" só foi cunhado no século XIX, pelo geógrafo alemão Ferdinand von Richthofen e desde então tem sido amplamente utilizado para descrever essas antigas rotas comerciais nascidas na China.

O período histórico da Rota da Seda original abrange vários séculos, mas seu auge ocorreu durante as dinastias Han e Tang na China, especialmente entre o século II antes da era comum e o século XIV depois da era comum. Vale destacar que a Rota da Seda não era uma única rota, mas uma série de rotas interconectadas que variavam ao longo do tempo e passavam por diversas regiões, incluindo a Ásia Central, Oriente Médio, Subcontinente Indiano e o Mediterrâneo, o declínio desta começou no século XIV, devido a uma combinação de fatores, como o aumento das rotas marítimas, conflitos regionais e a disseminação da peste-negra, o comércio ao longo das rotas terrestres diminuiu, e a importância relativa da Rota da Seda também, muito e mbora mesmo após seu declínio a memória dela e seu impacto na interconexão global continuaram a influenciar a história e a cultura das regiões envolvidas.

A Nova Rota da Seda tem ambições semelhantes, visando impulsionar o comércio global e fortalecer as relações multilaterais, utilizando para tanto rotas terrestre e marítimas, a rota terrestre conecta a China à Europa por meio da Ásia Central e do Oriente Médio, isso envolve a construção de ferrovias, rodovias e corredores econômicos para facilitar o transporte de mercadorias, já a rota marítima concentra-se em expandir os laços marítimos, conectando os portos chineses aos portos da África, Europa, Ásia, Américas e Oceania, por meio de investimentos em novos portos e melhoria da infraestrutura. Essa iniciativa apresenta várias vantagens potenciais tanto para a China quanto para os países participantes, criando essa rede de rotas, impulsionar&a acute; a atividade econômica, promovendo a diplomacia e comércio entre as nações.

A iniciativa ainda visa promover a criação de Zonas Econômicas Especiais – ZEE’s, que oferecem benefícios fiscais e regulamentares para atrair investimentos e estimular o desenvolvimento local dos países participantes, a Nova Rota da Seda, incentiva a colaboração em pesquisa e desenvolvimento, especialmente em setores tecnológicos e energéticos, isso pode levar a avanços compartilhados, promovendo a cooperação em pesquisa e desenvolvimento, especialmente em setores de ponta, compartilhar conhecimentos e avanços tecnológicos pode ser o diferencial estratégico dessa iniciativa, esses investimentos em projetos de energia, como gasodutos e usinas elétricas, contribuem para a diversificação dessas fontes, como criação de fazendas de energia s olar e eólicas, ajudando a mudar a matriz energética não por iniciativas individuais, mas de forma global.

A Nova Rota da Seda representa uma oportunidade para uma cooperação global mais estreita e o desenvolvimento equitativo, mas sua implementação bem-sucedida dependerá da gestão eficaz dos desafios associados e do comprometimento mútuo dos países envolvidos, essa iniciativa abrangente visa impulsionar a cooperação econômica e o desenvolvimento de infraestrutura entre a China e os países participantes, ao melhorar as conexões terrestres e marítimas, facilita o comércio entre os países envolvidos, aumentando as oportunidades de exportação e importação, e o aumento do comércio pode impulsionar as economias e gerar receitas significativas, investimentos maciços em infraestrutura, como estradas, ferrovias, portos e telecomunicaçõ ;es, não apenas criam empregos durante a construção, mas também estabelecem as bases para um desenvolvimento econômico sustentável a longo prazo, os projetos ao longo da BRI não têm apenas o potencial de estimular o crescimento da economia em regiões menos desenvolvidas, mas também de criar novos centros de atividade onde antes nada havia.

Essa iniciativa atrai investimentos estrangeiros significativos, não apenas da China, mas também de outros países, isso pode impulsionar setores específicos e criar oportunidades para empresas locais, por natureza a BRI focaliza em setores estratégicos, como energia, tecnologia, logística e manufatura, que têm potencial para gerar riqueza e emprego em larga escala, a melhoria das conexões de transporte pode impulsionar o turismo, gerando receitas significativas e promovendo o intercâmbio cultural entre os países participantes. Apesar do potencial de criação de riqueza, a iniciativa também enfrenta desafios, incluindo questões de sustentabilidade ambiental, gestão da dívida e considerações geopolíticas, esses desafios precisam ser abordados para garantir que os benefícios sejam distribuídos equitativamente e de maneira sustentável com todos os participantes.

O diferencial fundamental da Nova Rota da Seda encontra-se no fornecimento por parte da República Popular da China de empréstimos diretos aos países participantes da mesma, esses valores servirão para financiar os projetos necessários destes, as instituições financeiras chinesas, como o Banco de Desenvolvimento da China e o Banco de Exportação e Importação da China, desempenham um papel crucial no financiamento de projetos da BRI, esses bancos fornecem empréstimos e apoio financeiro para projetos específicos, em alguns casos, serão promovidas parcerias público-privadas – PPP, esses fundos podem ser utilizados para investir em uma variedade de setores de interesse de cada país.

Ainda no campo do financiamento internacional, outras instituições multilaterais, como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura – AIIB, e o Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, também fornecerão financiamento adicional aos partícipes da iniciativa, em resumo, o financiamento para a criação de infraestrutura ao longo da BRI é multifacetado e envolve uma combinação de empréstimos, investimentos diretos, parcerias público-privadas e cooperação com instituições financeiras internacionais, a natureza e os termos específicos do financiamento podem variar de projeto para projeto e de país para país. Outra inovação fundamental será a permissão para que os países participantes paguem suas dívidas em moedas locais em vez de dólares ou euros, isso reduz a dependência das moedas estrangeiras e facilitam as transações financeiras bilaterais e dentre os demais parceiros.

Em resumo, a Nova Rota da Seda tem um potencial de criação de riqueza significativo, estimulando comércio, desenvolvimento e crescimento econômico global, a iniciativa permite que a China projete sua influência de maneira positiva ao oferecer ajuda financeira e cooperação a uma ampla gama de países, isso ajuda a fortalecer relações diplomáticas e construir uma imagem positiva do país no cenário internacional, no entanto, é essencial gerenciar cuidadosamente os desafios associados para otimizar os benefícios a longo prazo, ao criar a BRI os chineses buscam se posicionar como uma liderança diferenciada, exercendo sua forma de "soft power", o que é algo muito benfazejo, pois aponta que a política externa não é necessariamente um jogo de soma z ero, podendo ser benéfico para ambos os lados, e acaso seja exitosa essa iniciativa, estará inaugurado um formidável novo momento na história da diplomacia mundial, sendo assim, portanto, que floresçam as mil flores!

*Advogado, ex-secretário executivo de Direitos Humanos de Pernambuco
A explosão do comércio entre o Brasil e a China https://bit.ly/3TsJU4s

2 comentários:

Alberto Henrique disse...

Excelente!

Cláudio Carraly disse...

Obrigado Beto, valeu meu irmão