Verdadeira atitude republicana
Enfim um ministro da Justiça decidido a
exercer a sua autoridade. É o que depreende da entrevista do ministro, Eugênio
Aragão, à Folha de S. Paulo, onde ele afirma que trocará equipe da Polícia Federal
em caso de vazamento.
"Cheirou vazamento de informação por um
agente nosso, a equipe será trocada, toda. Não preciso ter prova. A Polícia
Federal está sob nossa supervisão", afirmou. Ele classificou de
"extorsão" o método com que as delações premiadas são negociadas na
Lava Jato, e minimizou as declarações do ex-presidente Lula, em uma escuta
telefônica, afirmando que ele deveria ter "pulso firme" no
ministério, um dia depois de sua posse no governo. Ele nega ter a intenção
de influenciar na Operação Lava Jato, da qual a PF é parte central. O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre criticou o antecessor de Aragão,
o hoje advogado-geral da União José Eduardo Cardozo, por não "controlar a
Polícia Federal."
Veja alguns dos principais trechos:
Folha
- Fala-se muito de sua ligação com petistas e que foi escolhido para
influenciar na Lava Jato. O sr. vai atuar para barrar a investigação?
Eugênio
Aragão - Não, de jeito
nenhum. Não tenho essa prerrogativa, essa competência.
Mas
poderia mexer na equipe da Polícia Federal....
Eles
têm de me dar motivos. Não posso simplesmente dizer "não gosto desse
daí" porque está sendo muito eficiente. Eles têm de ultrapassar a linha
vermelha, terem comportamento que não seja profissional. Venho do Ministério
Público e sei quão caro é a independência funcional. Não que eles (polícia)
tenham independência funcional, a polícia é um órgão hierárquico, muito
diferente do Ministério Público. Mas não posso mexer com a atividade fim da
polícia. Seu planejamento só me interessa na medida que tenho que me preparar
para seu impacto político.
A
presidente Dilma fez algum pedido especial ao senhor?
Não.
Ela me conhece e sabe quais são minhas posições. Só pediu apoio dentro do
ministério. Um dos problemas estratégicos é a questão do vazamento de
informações, que alguns dizem que são seletivos. Não podemos tolerar
seletividade. Há uma politização do procedimento judicial, seja por parte do
juiz, seja por parte dos agentes públicos em torno.
O sr.
identificou abusos na Lava Jato em relação à PF?
É
difícil divisar no Paraná [onde ocorre a investigação] quem é quem. O próprio
uso da delação premiada tem pressupostos. No Direito alemão, a colaboração tem
de ser voluntária. Se houver dúvida sobre essa voluntariedade, não vale. Na
medida em que decretamos prisão preventiva ou temporária em relação a suspeitos
para que venham a delatar, essa voluntariedade pode ser colocada em dúvida.
Porque estamos em situação muito próxima de extorsão. Não quero nem falar em
tortura. Mas no mínimo é extorsão de declaração. Se a gente tolera que o
grandalhão vai para cadeia enquanto não resolve abrir a boca, então o pequeno
pode ir para o pau de arara.
E o
vazamento de delação, preocupa?
Aí nós
temos uma atitude criminosa, porque quem vaza a delação está querendo criar
algum tipo de ambiente.
Mas
esse vazamento pode vir da própria polícia...
Estou
falando de polícia, Ministério Público, do juiz, e eventualmente do advogado.
Mas o advogado tem uma vantagem: não é agente público. Mas os agentes públicos
têm código disciplinar. O Estado não pode agir como malandro. A minha grande
preocupação é com a qualidade ética desses agentes. Se vaza, é coisa
clandestina. Se vaza, esse agente está querendo atribuir um efeito a esses atos
públicos, que são essas delações.
Mas
poderia o ministério punir algum agente que vazou?
A
primeira atitude que tomo é: cheirou vazamento de investigação por um agente
nosso, a equipe será trocada, toda. Cheirou. Eu não preciso ter prova. A PF
está sob nossa supervisão. Se eu tiver um cheiro de vazamento, eu troco a
equipe. Agora, quero também que, se a equipe disser "não fomos nós",
que me traga claros elementos de quem vazou porque aí vou ter de conversar com
quem de direito. Não é razoável, com o país num momento de quase conflagração,
que os agentes aproveitem esse momento delicado para colocar gasolina na
fogueira.
A
sociedade não tem direito de saber o que ocorreu? Não há interesse público?
Há um
conflito entre o interesse público pela informação e a presunção de inocência.
Quando se trata de colocar lado a lado esses dois valores, prefiro a presunção
de inocência.
O
diretor-geral da PF, Leandro Daiello, fica ou será trocado?
Não
conversamos sobre isso ainda. Eu preciso, e isso ele vai me fazer, de um
levantamento da situação lá. Quero evidentemente na PF pessoas que tenham
alguma liderança interna. Essas instituições que têm competências autárquicas,
e são independentes na sua atuação, precisam ser dirigidas por lideranças.
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