Por Haroldo
Lima, no Blog do Renato
Inequivocamente
foram grandes as manifestações desse domingo, 13 de março de 2016. Afinal, foi
grande o dinheiro gasto pelos seus organizadores, na sequência dos
investimentos que estão sendo feitos para desestabilizar o governo
constitucional brasileiro.
Conseguiu-se
sim, unificar palavras-de-ordem contra Dilma, Lula e pró Moro; foram
distribuídas camisas em profusão; fizeram-se desfilar inúmeros caminhões de
som; bonecos gigantes; bandeiras quilométricas, todas das mesmas cores e
talhadas no mesmo estilo. E tudo isto, de norte a sul deste país continental,
em todas as capitais e grandes cidades. É um custo enorme. Quem o
financiou?
Algumas
pistas nós temos. A mega manifestação de São Paulo contou com as catracas
abertas do metrô, autorizadas pelo governo do PSDB, e pagas com o dinheiro do
contribuinte. Desde muitos dias antes, a grande mídia fazia a mobilização para
as passeatas, conclamando o povo para o ato. No dia 13, a GloboNews, da Rede
Globo, com uma legião de jornalistas, cobriu os eventos de todas as partes do
Brasil, desde cedo de manhã até a noite, sem intervalos. Uma coisa estupenda. E
estranha. De onde vem tanto interesse, o que é mesmo que a Globo quer? Combater
a corrupção? mas então, por que ela não começa pagando a exorbitância de
dinheiro que deve ao Governo?
Há
precisamente 52 anos atrás, na famosa sexta-feira 13 de março de 1964, um
evento memorável realizou-se no Rio de Janeiro, o Grande Comício da Central do
Brasil. Diversos oradores falaram, o último foi o presidente João Goulart.
Todo a
grande mobilização visava objetivos elevados, nacionais, democráticos e
populares – as reformas de base. Perfilavam-se aí as reformas agrária,
bancária, administrativa, universitária, política. O Presidente assinou
dois decretos, desapropriando refinarias e entregando-as à Petrobras e
desapropriando terras bem localizadas, para fins de reforma agrária.
O Comício da
Central do Brasil pregava o progresso, sem ferir a Constituição vigente.
Apesar disso, as elites, assombradas com a possibilidade da ascensão das
massas, juntou-se ao governo americano e incitaram os militares brasileiros a
romperem com a Constituição e derrubarem o governo. O golpe se deu 18 dias
depois do grande comício. Instaurou-se uma ditadura no país, que durou 21 anos.
As
manifestações havidas agora, 52 anos depois, voltam-se contra um governo
constitucional, ocupado por uma pessoa contra quem não há um só crime cometido
que ensejaria sua retirada do Governo. Agridem Lula, o maior líder popular já
surgido nas Américas, o operário que alterou a geografia da fome no mundo,
retirando do Mapa da Fome da ONU um dos maiores países que lá estavam com
cadeira cativa – o Brasil.
As
manifestações de agora atacaram corretamente a corrupção, que é um absurdo de
fato, mas que só passou a ser concentradamente combatida a partir dos Governos
de Lula e Dilma. Porque, não nos esqueçamos: quando foi feita a farra da venda
de uma porção de nossas estatais, a corrupção campeou; houve gravação
acertando negócio espúrio com a voz, nunca negada, do próprio então presidente
da República, FHC. E que se fez? Nada. Os deputados cujos votos foram comprados
por R$200 mil cada, para aprovarem a reeleição do próprio FHC, tiveram seus
nomes publicados em jornais, alguns declararam que receberam mesmo, o dinheiro,
e o que se fez? Exatamente nada.
Corrupção
começou a ser combatida quando Lula e Dilma liberaram essa atividade.
Há 52 anos,
o Comício da Central, que não pregava golpe, terminou sendo pretexto para o
golpe de 1964.
As
manifestações de agora, querem o que? combater a corrupção? mas ela está sendo
combatida, e poucos duvidam que deixará de ser na hora em que um golpe aparecer
e forem afastados os personagens que têm garantido esse combate. Querem tirar a
Dilma? por que? ela foi eleita com 54 milhões de votos, e só poderia ser
retirada legalmente do poder se for comprovada que cometeu crime de
responsabilidade. Já fizeram de tudo para encontar esse crime da Dilma, e
não conseguiram. Alijá-la na marra, ou com pretextos fúteis, levianamente
construídos, é um golpe na Constituição e aí o país perde as referências de sua
vida, o arbítrio aparece, a insegurança, e tempo sombrio avança sem saída à
vista.
A
impopularidade da presidenta Dilma é, sem dúvida, decorrência do insucesso de
seu governo. Este, é fruto da situação geral difícil por que passa a economia
do mundo e dos erros da propria gestão Dilma. A gestão Dilma é séria, mas não
tem sido desenvolvimentista. Assistiu, sem maiores iniciativas, à
desindustrialização do país, ao recuo enorme da produção do setor de bens de
capital. Suspendeu, por cinco anos, as licitações para blocos exploratórios de
petróleo, atrofiando um setor que crescia bem. Estabeleceu políticas de preços
de combustíveis que prejudicaram bastante a Petrobras. Descoberta a riqueza do
pré-sal, já lá se vão 10 anos e fizemos um único leilão, de um único bloco,
nessa província. Sem falar dos juros elevados, moeda, por anos,
valorizada etc.
Entretanto,
no regime presidencialista, impopularidade não é razão para se retirar
presidente. Se querem retirar a Dilma, para alterar a política do país, que
ganhem as eleições de 2018, como ela ganhou as de 2014.
Um futuro de
trabalho e progresso para os brasileiros, passa pelo respeito à
Constituição. Esta, ainda que tenha debilidades, é a que mais tempo garantiu ao
Brasil uma existência sem golpe. Tem suas lacunas, mas tem avanços importantes.
Nenhuma constituição do mundo garante uma relação tão grande de direitos
individuais e coletivos, como a nossa, no seu artigo 5º.
Contudo, a
crise está aí. Temos que procurar uma saída, saída para o Governo, mas saída
para o Brasil, nos marcos da Constituição.
Para que o
Governo possa governar é preciso ser fortalecido, com gente representativa de
setores amplos, de liderança na sociedade, de capacidade comprovada.
Pessoas dessa imprtância devem ser chamadas ao Governo e não podem se furtar a
colaborar com a busca de uma saída. Quem precisa de apoio não é a Dilma, é o
Brasil. Meter nosso país agora em um “buraco-negro”, é fazer o jogo de seus
inimigos. Mesmo a oposição, sem perder sua identidade, deve colaborar na
necessária travessia.
A Chefe de
Estado, que tem demonstrado a fibra admirável de uma mulher de luta, deve
também ser mais solícita, perceber a gravidade do drama pelo qual passa o país,
reconhecer a correção de críticas que lhe são feitas, abertas ou veladas, de
que escuta pouco, prestigia pouco, compartilha pouco, a responsabilidade grande
que tem.
Haroldo Lima – é engenheiro, ex-deputado
federal e membro do Comitê Central do PC do Brasil.
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