José Carlos Ruy*, no Vermelho
Usar denúncias de
corrupção tem sido a saída política da direita para afastar do poder governos
que não seguem a cartilha favorável aos interesses conservadores.
O uso e abuso de
recursos públicos revolta os brasileiros de bem e deve, mesmo, ser severamente
punido.
Mas o programa da
direita não é punir a corrupção - é impor seus interesses. Seu programa é usar
denúncias desse tipo como biombo para esconder a privatização do estado de que
ela é campeã desde a fundação do Brasil, faz 516 anos!
E é o que volta a
acontecer no Brasil de nossos dias. O mesmo confronto entre aqueles que querem
o progresso do país, o avanço da democracia, o bem-estar dos brasileiros e a
afirmação da soberania nacional. Contra aqueles que querem afirmar apenas o
atendimento de seus interesses particulares, o uso do Estado em benefício
próprio mesmo que seja à custa de colocar o Brasil de joelhos ante as potências
imperialistas e os multimilionários que mandam no mundo.
O mero exame daqueles
que querem o golpe e defendem o impeachment da presidenta Dilma Rousseff mostra
a persistência da ação dessas forças do atraso. O chamado movimento “Vem pra
rua”, da direita, divulgou um Mapa do impeachment como ferramenta para
pressionar deputados e senadores a votar a favor dessa proposta insana.
Alega que é uma
“ferramenta criada por voluntários do Vem Pra Rua”, mas sabe-se quanto custa
produzir uma ferramenta tão sofisticada! E não esconde seu objetivo: defender o
impeachment de Dilma Rousseff expondo a a posição dos parlamentares sobre a
questão. Quer pressionar os parlamentares diretamente, e divulga os endereços
eletrônicos de cada um deles. Diz: “Use os dados do parlamentar para escrever a
ele, telefonar, postar nas suas redes sociais, cobrando seu posicionamento”.
A começar pelos que
participam da Comissão Especial do Impeachment. Quem são eles? Além do notório
Eduardo Cunha, o presidente da Câmara e, como tal, o comandante das ações
contra a presidenta Dilma Rousseff, um terço dos deputados que formam aquela
comissão tem culpa no cartório.
Como o deputado Paulo
Pereira da Silva, investigado em três processos de corrupção. Há 15 deputados
réus de processos no Supremo Tribunal Federal (STF).
Isso é, os que defendem
a saída da presidenta Dilma Rousseff querem a raposa tomando conta do
galinheiro!
A direita, nunca é
demais insistir, tem sido o principal fator de instabilidade política no
Brasil, e intensificou essa ação desde a década de 1940.
Não se acanharam
inclusive de comprar membros da Assembleia Nacional Constituinte de 1946, como
foi denunciado na época. O cidadão norte-americano Paul Howard Schoppel,
representante da família Rockfeller, dona da Standard Oil (que depois se
transformou em Esso e, agora, em Exxon), subornava constituintes da direita que
votassem a favor dos interesses de seus patrões norte-americanos. E influenciou
diretamente o governo do general Eurico Gaspar Dutra, direitista e aliado do
imperialismo norte-americano. Schoppel influenciou diretamente na nomeação de
assessores do presidente, como os advogados norte-americanos especialistas em
petróleo, Herbert Hoover Jr. e Arthur Curtice.
A associação entre
aquele representante do imperialismo e parlamentares conservadores antecipou a
força do dinheiro e do suborno que marcaria a ação da direita na política
republicana.
E a hipocrisia das
denúncias que contra todos os governos progressistas e democráticos que não
aceitavam o predomínio exclusivo dos interesses da elite conservadora, hoje
representada pelas 20 mil famílias mais ricas do país (que são menos de 1% da
população) e seus aliados do imperialismo, principalmente dos EUA.
Essa classe dominante
conservadora e a imprensa favorável a seus interesses (como o jornal O Globo e
hoje a Rede Globo) agitou a bandeira da corrupção contra qualquer mudança que
investisse contra seus privilégios inaceitáveis. Conspirou contra os governos
constitucionais de Getúlio Vargas (cujo suicídio em 1954 foi sua forma de
enfrentar o assalto ao governo da República), Juscelino Kubitschek, João
Goulart (tirado do governo pelo golpe de estado de 1964) e, em nosso tempo, os
governos de Luís Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff.
A mesma aliança entre
setores conservadores e antinacionais da classe dominante com gente financiada
pelo imperialismo norte-americano repete-se hoje na articulação da direita
brasileira e sua ação golpista.
Há denúncias de que
grupos como “Estudantes pela Liberdade” (EPL) e “Movimento Brasil Livre”, que
se destacam entre os que convocam manifestações pelo impeachment são amplamente
financiados pela Koch Industries, dos Irmãos Koch, os Rockfellers de nosso
tempo.
As Koch Industries
colecionam denúncias pelo mundo afora. Ataca direitos indígenas, depreda
ambiente e, no Brasil, tem um interesse óbvio, o controle da Petrobras e do
pré-sal. Interesse no petróleo, semelhante ao da Standard Oil no passado!
Na manifestação da
direita ocorrida na avenida Paulista (São Paulo), no dia 13, um dirigente do
MBL defendeu aos brados, no palanque, a venda da Petrobrás! E o comprador
preferencial é, claro, a Koch Industries, que é a segunda maior empresa privada
dos EUA, com faturamento anual de 115 bilhões de dólares. Atuam na exploração
de óleo e gás, oleodutos, refinação e produção de produtos químicos derivados e
fertilizantes. Estão entre os maiores financiadores da extrema-direita nos EUA,
como o chamado Tea Party.
A classe média
conservadora, iludida pela bandeira anticorrupção agitada pela direita e seus
aliados, se subordina mesmo papel que seus avós e seus pais cumpriram no
passado. São a mão do gato dos muito ricos, dos quais se sentem aliados.
Mas não são! Esta é a
ilusão de classe na luta política em curso no Brasil. O passo seguinte da
direita já está planejado, e inclui o fim da Operação Lava Jato! E a salvação
dos verdadeiros corruptos.
Em 1964 a classe média
conservadora já caiu nesse conto e, depois da tomada do poder pelos golpistas,
foi posta à margem e sofreu as mesmas arbitrariedades (perseguições, prisões,
assassinatos políticos) impostas ao país.
Mesmo seu grande líder,
o jornalista de direita Carlos Lacerda, apelidado O Corvo por sua conduta
traiçoeira, teve, logo em seguida ao golpe de Estado, de aliar-se a seus
adversários de antes do golpe, entre eles o presidente deposto João Goulart.
A palavra de ordem
anticorrupção foi logo abandonada depois que a direita fascista tomou o poder,
e a apropriação de recursos públicos passou a acontecer em escala nunca vista,
protegida agora pelo governo dos generais e pela censura que a ditadura impôs à
imprensa.
Aquela história
terrível, que infelicitou o país durante mais de duas décadas, não se repetirá.
Se a alta classe média endinheirada foi às ruas pelo golpe, no dia de hoje (18)
os brasileiros que defendem o avanço da democracia e do progresso social
defendem a legalidade, o mandato da presidenta Dilma Rousseff e a continuidade
das mudanças iniciadas com aposse de Lula na presidência da República em 2003.
Não haverá golpe, dizem nas ruas os brasileiros.
José Carlos Ruy é jornalista e escritor
José Carlos Ruy é jornalista e escritor
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