Em artigo na Carta Maior, “Brasil: a democracia à beira do caos e os perigos da
desordem jurídica”, Boaventura de Souza Santos afirma que “pela
importância do impulso externo e pela seletividade da ação judicial que ele
tende a provocar, a Operação Lava Jato tem mais semelhanças com uma outra
operação judicial ocorrida na Alemanha, na República de Weimar, depois do
fracasso da revolução alemã de 1918. A partir desse ano e num contexto de
violência política provinda, tanto da extrema esquerda como da extrema direita,
os tribunais alemães revelaram uma dualidade chocante de critérios, punindo
severamente a violência da extrema esquerda e tratando com grande benevolência
a violência da extrema direita, a mesma que anos mais tarde iria a levar Hitler
ao poder.
No caso brasileiro, o impulso
externo são as elites econômicas e as forças políticas ao seu serviço que não
se conformaram com a perda das eleições em 2014 e que, num contexto global de
crise da acumulação do capital, se sentiram fortemente ameaçadas por mais
quatro anos sem controlar a parte dos recursos do país diretamente vinculada ao
Estado em que sempre assentou o seu poder. Essa ameaça atingiu o paroxismo com
a perspectiva de Lula da Silva, considerado o melhor Presidente do Brasil desde
1988 e que saiu do governo com uma taxa de aprovação de 80%, vir a postular-se
como candidato presidencial em 2018. A partir desse momento, a democracia
brasileira deixou de ser funcional para este bloco político conservador e a
desestabilização política começou. O sinal mais evidente da pulsão antidemocrática
foi o movimento pelo impeachment da
Presidente Dilma poucos meses depois da sua tomada de posse, algo, senão
inédito, pelo menos muito invulgar na história democrática das três últimas
décadas. Bloqueados na sua luta pelo poder por via da regra democrática
das maiorias (a "tirania das maiorias"), procuraram pôr ao seu
serviço o órgão de soberania menos dependente do jogo democrático e
especificamente desenhado para proteger as minorias, isto é, os tribunais. A
Operação Lava Jato, em si mesma uma operação extremamente meritória, foi o instrumento
utilizado. Contando com a cultura jurídica conservadora dominante no sistema
judicial, nas Faculdades de Direito e no país em geral, e com uma arma
mediática de alta potência e precisão, o bloco conservador tudo fez para
desvirtuar a Operação Lava Jato, desviando-a dos seus objetivos judiciais, em
si mesmos fundamentais para o aprofundamento democrático, e convertendo-a numa
operação de extermínio político. O desvirtuamento consistiu em manter a fachada
institucional da Operação Lava Jato, mas alterando profundamente a estrutura
funcional que a animava por via da sobreposição da lógica política à lógica
judicial. Enquanto a lógica judicial assenta na coerência entre meios e fins
ditada pelas regras processuais e as garantias constitucionais, a lógica
política, quando animada pela pulsão antidemocrática, subordina os fins aos
meios, e é pelo grau dessa subordinação que define a sua eficácia. Leia
o texto na íntegra http://twixar.me/FF7
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