16 dezembro 2025

Palavra de poeta

Soneto
Carlos Pena Filho  

O quanto perco em luz conquisto em sombra.
E é de recusa ao sol que me sustento.
Às estrelas, prefiro o que se esconde
Nos crepúsculos graves dos conventos.

Humildemente envolvo-me na sombra
que veste, à noite, os cegos monumentos
isolados nas praças esquecidas
e vazios de luz e movimento.

Não sei se entendes: em teus olhos nasce
a noite côncava e profunda, enquanto
clara manhã revive em tua face.

Daí amar teus olhos mais que o corpo
com esse escuro e amargo desespero
com que haverei de amar depois de morto.

[Ilustração: Edgar Degas]

Leia também um poema de Pablo Neruda https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/08/palavra-de-poeta_2.html 

EUA x América Latina

A América Latina diante da ameaça Trump
Análise da nova Estratégia de Segurança Nacional da Casa Branca. Enfraquecidos, EUA renunciam a dirigir instituições globais. Querem controlar o antigo “quintal”. Agressão à Venezuela pode ser só o começo. Brasil precisa estar atento
Jeffrey Sachs | Tradução: Rôney Rodrigues/Outras Palavras  


A Estratégia de Segurança Nacional (ESN) de 2025, recentemente divulgada pelo presidente Donald Trump, apresenta-se como um projeto para o renovado fortalecimento da América. Ela é perigosamente equivocada de quatro maneiras.


Em primeiro lugar, a ESN está ancorada na grandiosidade: na crença de que os Estados Unidos desfrutam de uma supremacia inigualável em todas as dimensões-chave do poder.

Em segundo lugar, baseia-se numa visão francamente maquiavélica do mundo, tratando outras nações como instrumentos a serem manipulados em benefício dos Estados Unidos

Em terceiro, assenta-se num nacionalismo ingênuo que desconsidera o direito e as instituições internacionais como entraves à soberania do país, em vez de quadros que fortalecem a segurança estadunidense e global em conjunto.

Em quarto lugar, sinaliza uma atitude de gangster no uso que Trump faz da CIA e das forças armadas. Poucos dias após a publicação da ESN, os EUA apreenderam descaradamente um petroleiro com óleo venezuelano em alto mar – com o frágil argumento de que a embarcação havia violado anteriormente sanções norte-americanas contra o Irã.

A apreensão não foi uma medida defensiva para evitar uma ameaça iminente. Tampouco é minimamente legal apreender embarcações em alto-mar com base em sanções unilaterais dos Estados Unidos. Apenas o Conselho de Segurança da ONU detém tal autoridade.

Pelo contrário, a apreensão é um ato ilegal concebido para forçar uma mudança de regime na Venezuela. Ela segue a declaração de Trump de que ordenou à CIA a realização de operações secretas dentro da Venezuela para desestabilizar o regime.

A segurança estadunidense não será fortalecida por alguém agindo como um valentão. Ela será enfraquecida – estrutural, moral e estrategicamente. Uma grande potência que assusta os seus aliados, coage os seus vizinhos e desrespeita as regras internacionais acaba por se isolar. A ESN, em outras palavras, não é apenas um exercício de arrogância no papel. Está sendo rapidamente traduzida numa prática descarada.

Um lampejo de realismo, depois uma guinada para a arrogância

Para ser justo, a NSS contém momentos de um realismo há muito atrasado. Ela admite implicitamente que os Estados Unidos não podem — e não devem — tentar dominar o mundo inteiro, e reconhece corretamente que alguns aliados arrastaram Washington para guerras de escolha custosas, que não atendiam aos verdadeiros interesses estadunidenses. Também recua — ao menos no plano retórico — de uma cruzada exaustiva entre grandes potências.

A estratégia rejeita a fantasia de que os Estados Unidos podem ou devem impor uma ordem política universal.

Mas a modéstia é de curta duração. A ESN reafirma rapidamente que a América possui “a maior e mais inovadora economia do mundo”, “o principal sistema financeiro mundial” e “o setor tecnológico mais avançado e lucrativo do mundo”, tudo respaldado pelas “forças armadas mais poderosas e capazes do mundo”.

Essas afirmações não servem apenas como declarações patrióticas, mas como uma justificativa para usar a dominância estadunidense a fim de impor condições aos demais. Ao que parece, os países menores arcarão com o peso maior dessa soberba, já que os EUA não podem derrotar as outras grandes potências, sobretudo porque elas dispõem de armas nucleares.

Maquiavelismo deslavado na Doutrina

A grandiosidade da NSS está soldada a um maquiavelismo explícito. A pergunta que ela coloca não é como os Estados Unidos e outros países podem cooperar para benefício mútuo, mas como a alavancagem estadunidense — sobre mercados, finanças, tecnologia e segurança — pode ser aplicada para extrair concessões máximas de outros países.

Isto é mais pronunciado na discussão da ESN sobre a seção do Hemisfério Ocidental, que declara um “Corolário Trump” para a Doutrina Monroe. Os Estados Unidos, declara a ESN, garantirão que a América Latina “permaneça livre de incursão estrangeira hostil ou propriedade de ativos-chave”, e alianças e auxílio serão condicionados a “reduzir a influência externa adversária”.

Essa “influência” refere-se claramente a investimento, infraestrutura e empréstimos chineses.

A ESN é explícita: “Acordos dos EUA com países ‘que mais dependem de nós e, portanto, sobre os quais temos mais alavancagem’ devem resultar em contratos de fonte única para empresas estadunidenses. A política dos EUA deve ‘fazer todos os esforços para expulsar empresas estrangeiras’ que constroem infraestrutura na região, e os EUA devem remodelar instituições de desenvolvimento multilaterais, como o Banco Mundial, para que ‘sirvam aos interesses americanos’.”

Governos latino-americanos, muitos dos quais mantêm intenso comércio tanto com os Estados Unidos quanto com a China, estão sendo efetivamente advertidos: vocês devem negociar conosco, não com a China — ou enfrentarão as consequências.

Tal estratégia é estrategicamente ingênua. A China é o principal parceiro comercial da maior parte do mundo, incluindo muitos países do hemisfério ocidental. Os EUA serão incapazes de compelir as nações latino-americanas a expulsar empresas chinesas, mas prejudicarão gravemente a sua própria diplomacia na tentativa.

Aliados próximos alarmados

A NSS proclama uma doutrina de “soberania e respeito”, mas sua prática já reduziu esse princípio a soberania para os EUA e vulnerabilidade para o restante. O que torna essa doutrina emergente ainda mais extraordinária é que ela agora assusta não apenas pequenos Estados da América Latina, mas até mesmo os aliados mais próximos dos Estados Unidos na Europa.

Em um desdobramento notável, a Dinamarca — uma das parceiras mais leais dos Estados Unidos na OTAN — declarou abertamente que os EUA representam uma ameaça potencial à segurança nacional dinamarquesa. Planejadores de defesa da Dinamarca afirmaram publicamente que Washington, sob Trump, não pode ser presumido como respeitador da soberania do Reino da Dinamarca sobre a Groenlândia, e que uma tentativa coercitiva dos EUA de tomar a ilha é uma contingência para a qual o país agora precisa se preparar.

Isso é espantoso em vários níveis. A Groenlândia já abriga a Base Espacial de Pituffik e está firmemente integrada ao sistema de segurança ocidental. A Dinamarca não é antiamericana, nem busca provocar Washington. Ela está simplesmente reagindo de forma racional a um mundo em que os Estados Unidos passaram a se comportar de maneira imprevisível — inclusive em relação a seus supostos amigos.

O fato de Copenhague sentir-se compelida a considerar medidas defensivas contra Washington diz muito por si só. Isso sugere que a legitimidade da arquitetura de segurança liderada pelos Estados Unidos está se corroendo por dentro. Se até a Dinamarca acredita que precisa se precaver contra os EUA, o problema já não é mais o da vulnerabilidade da América Latina.

Trata-se de uma crise sistêmica de confiança entre nações que antes viam os Estados Unidos como o garantidor da estabilidade, mas que agora os encaram como um agressor possível — ou mesmo provável.

Em suma, a NSS parece canalizar a energia antes dedicada ao confronto entre grandes potências para a intimidação de Estados menores. Se os Estados Unidos aparentam estar um pouco menos inclinados a lançar guerras trilionárias no exterior, mostram-se mais propensos a instrumentalizar sanções, coerção financeira, apreensões de bens e o confisco — ou roubo — em alto-mar.

O pilar ausente: Direito, Reciprocidade e Decência

Talvez a falha mais profunda da ESN seja o que ela omite: um compromisso com o direito internacional, a reciprocidade e a decência básica como fundamentos da segurança estadunidense.

A NSS encara as estruturas de governança global como obstáculos à ação dos Estados Unidos. Desqualifica a cooperação climática como “ideologia” — e, segundo um discurso recente de Trump na ONU, como uma verdadeira “farsa”. Minimiza a Carta das Nações Unidas e concebe as instituições internacionais principalmente como instrumentos a serem moldados de acordo com as preferências estadunidenses.

No entanto, são precisamente os quadros legais, os tratados e as regras previsíveis que historicamente protegeram os interesses estadunidenses.

Os fundadores dos Estados Unidos compreenderam isso com clareza. Após a Guerra de Independência Americana, treze Estados recém-soberanos logo adotaram uma Constituição para compartilhar poderes fundamentais — sobre tributação, defesa e diplomacia — não para enfraquecer a soberania dos Estados, mas para garanti-la por meio da criação do governo federal dos EUA. A política externa dos Estados Unidos no pós-Segunda Guerra Mundial fez o mesmo por meio da ONU, das instituições de Bretton Woods, da Organização Mundial do Comércio e dos acordos de controle de armamentos.

A NSS de Trump agora inverte essa lógica. Ela passa a tratar a liberdade de coagir outros como a essência da soberania. Sob essa perspectiva, a apreensão do petroleiro venezuelano e as apreensões da Dinamarca são manifestações dessa nova política.

Atenas, Melos e Washington

Tal arrogância voltará para assombrar os Estados Unidos.

O historiador grego da Antiguidade Tucídides registra que, quando a Atenas imperial confrontou a pequena ilha de Melos em 416 a.C., os atenienses declararam que “os fortes fazem o que podem, e os fracos sofrem o que devem”. No entanto, a soberba de Atenas também foi a sua ruína. Doze anos depois, em 404 a.C., Atenas caiu diante de Esparta. A arrogância ateniense, seu excesso de ambição e o desprezo pelos Estados menores ajudaram a galvanizar a aliança que, em última instância, a derrotou.

A NSS de 2025 fala em um registro de arrogância semelhante. Trata-se de uma doutrina que privilegia o poder em detrimento do direito, a coerção em vez do consentimento e a dominação no lugar da diplomacia. A segurança dos Estados Unidos não será fortalecida ao agir como um valentão. Ao contrário, será enfraquecida — estrutural, moral e estrategicamente. Uma grande potência que assusta seus aliados, coage seus vizinhos e despreza as regras internacionais acaba, em última instância, isolando-se.

A estratégia de segurança nacional dos Estados Unidos deveria se basear em premissas inteiramente diferentes: a aceitação de um mundo plural; o reconhecimento de que a soberania é fortalecida, e não enfraquecida, pelo direito internacional; o entendimento de que a cooperação global em áreas como clima, saúde e tecnologia é indispensável; e a compreensão de que a influência global estadunidense depende muito mais da persuasão do que da coerção.

[Qual a sua opinião?]

Contradições aguçadas no mundo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/11/palavra-do-pcdob.html

Minha opinião

Nem tudo o que é digital vale ouro
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65 

É de Nelson Rodrigues a assertiva de que "toda unanimidade é burra". Jornalista, cronista, dramaturgo e escritor, ele tinha autoridade para proclamar a sentença. Cá com meus modestíssimos botões,  nela me inspiro para afirmar que nem toda generalização é errada. 

Mas muitas são — quando tentam simplificar em demasia fenômenos em curso.

"Ninguém se dispõe mais a ler artigos, reportagem ou livros" — errado!

"Amigos, colegas de trabalho ou de escola ou moradores do meu bairro já não topam participar de reunião, comunicam-se exclusivamente pelo celular" — igualmente errado! 

Evidente que a comunicação digital se alastrou e envolve a grande maioria dos viventes mediante muitos atrativos e absurda simplificação da compreensão da realidade. E de estímulo aos sentimentos mais primários do ser humano.

Dizem os especialistas no assunto que um vídeo de 20 segundos, se razoavelmente concebido, vale mais do que centenas de conversas presenciais e de que milhares de palavras escritas. 

Será? Tenho para mim que não. Pelo menos me parece equivocada tão drástica conclusão. 

Conheço gente de todas as gerações, desde os ainda quase analógicos aos viciados em smartphone e memes, que diante de determinados fatos ou fenômenos que nos acometem no cotidiano, desejam o debate, a leitura de opiniões fundamentadas, a reunião presencial. 

Acontece comigo com frequência. Gente que quer discutir e aprofundar a compreensão de determinado assunto, logo sugere um encontro em torno de um cafezinho ou um chopp, que ninguém é de ferro. 

E o bate-papo se estende às vezes para além da conta. Aqui e alhures, como garante o amigo Epaminondas citando o tailandês Sulak Sivaraksa, o paraibano Zé Limeira e o italiano Umberto Eco.

Ou seja, nem tudo o que é digital é ouro. O milenar hábito da conversa olhos nos olhos resiste e se afirma indispensável, levando em sua esteira o afeto e a convergência de ideias e propósitos.

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Leia também A morte e a infelicidade do ministro japonês https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/minha-opiniao_8.html

Palavra de Drummond

Calo-me, espero, decifro./As coisas talvez melhorem./São tão fortes as coisas!”

Carlos Drummond de Andrade 

Leia: Comunicação digital entre a virtude e a culpa e a luta política https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/minha-opiniao_13.html 

Enio Lins opina

O som democrático que emana das ruas contra o golpismo
Enio Lins  

DOMINGO FOI MAIS UM DIA DE LUTA e de festa pela Democracia no Brasil. Manifestações maravilhosas puxadas pela dita Cidade Maravilhosa, com Caetano Veloso, Djavan, Fafá de Belém, Fernanda Abreu, Gilberto Gil, Fernanda Torres, Chico Buarque e tantas outras vozes notáveis em sintonia com a multidão; ruas cheias igualmente em São Paulo, Salvador, Recife, Fortaleza (só para citar as mais comentadas concentrações). Maceió também se fez presente, embora com uma aglutinação menor que o potencial, fez bonito. No apurado do dia, a confirmação da importância vital do povo nas ruas em defesa do Estado Democrático de Direito, e contra todas as formas de golpes políticos – inclusive os perpetrados pelo parlamento, poder que deve representar a população.


NESTA QUESTÃO DA REPRESENTAÇÃO, 
deve-se insistir no óbvio ululante: o quão estratégico é o voto proporcional, até porque os posicionamentos do Congresso Nacional foram o centro da motivação no domingo em tela. As multidões nas ruas em protesto precisam ter capacidade de transformarem-se em massas muito maiores termos de votos nas urnas, ou nada feito. Vejamos o exemplo alagoano das eleições de 2022. Em termos majoritários, resultados coerentes: Lula ganhou em Alagoas com 59% dos votos válidos e Renan Filho foi eleito para o senado com 57% do eleitorado. Rimou. E indicou a necessidade de ser ampliado o percentual de votos contra a direita.

PARA A CÂMARA DOS DEPUTADOS, 
em 2022, entretanto, esse cálculo envolvendo os mandatos – para além da esquerda oficial – fica mais confuso, pois nem todo MDB votou em Lula, assim como nem todas as candidaturas dos partidos em apoio ao candidato do PL votaram em Jair. Deve-se levar em consideração que outras candidaturas, além dos nomes da Federação Brasil Esperança (PT, PV e PCdoB), fizeram campanha para Lula, especialmente, mas não apenas, no MDB liderado por Renan Calheiros. Na base de apoio formal, a Federação, foram eleitos apenas dois deputados federais– Luciano Amaral, com 101.528 votos, e Paulão, com 65.814 sufrágios; e não é um detalhe a constatação de que a votação do primeiro garantiu a vaga do segundo. Luciano, no exercício do mandato, trocou o PV pelo PSD. O que significa dizer que ficou extremamente difícil para a Federação conquistar uma vaga em 2026 para a Câmara Federal, caso não consiga trazer para o grupo uma candidatura com capacidade de obter 100 mil votos ou mais.

POLITIZAR O VOTO PROPORCIONAL
 é vital para o equilíbrio das forças no Congresso, e as forças antibolsonaristas precisam ter isso como lição de casa. As ruas precisam ir até as urnas. As vias precisam se converter em avenidas, evitando rotas e becos vicinais que desviem votos para outros destinos. Não se conseguirá isso sem romper as bolhas e, infelizmente, as recentes manifestações alagoanas têm ficado restritas às siglas que apoiam Lula, sem aglutinar lideranças outras dispostas a votar contra a extrema-direita bolsonarista. A estreiteza fica evidente quando se presta atenção na lista de quem usa a palavra. Inclusive, ao contrário do modelo – de grande sucesso – utilizado no Rio, São Paulo, e outras cidades que conseguem reunir as maiores multidões, em Maceió, a participação de artistas nos microfones tem sido bem menor que o potencial local, como se pode ver pelo grande número de cantores, cantoras, atrizes, atores caminhando no asfalto, longe do palanque, como manifestantes comuns.

POLITIZAR SIGNIFICA AMPLIAR 
nomes e centralizar propostas. Significa ir além das siglas. Alagoas precisa copiar o exemplo carioca, seguir o ótimo exemplo dado por Caetano Veloso, Djavan, Fafá de Belém, Fernanda Abreu, Gilberto Gil, Fernanda Torres, Chico Buarque... basta estender a mão e passar o microfone para uma quantidade maior de artistas locais, sendo coerente com a generosa e ampla alma artística-cidadã alagoana.

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Leia: A mentira como essência de uma estratégia https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/enio-lins-opina.html

Fotografia

 

Luciano Siqueira

15 dezembro 2025

Boa notícia

Lula celebra a abertura de 500 novos mercados para exportações brasileiras
Presidente esteve na inauguração da sede própria da ApexBrasil, oportunidade em que foi comemorada a marca alcançada de novos mercados internacionais para produtos do agro
Murilo da Silva/Vermelho 

Desde 2023, com o retorno de Lula à presidência, o Brasil já ultrapassou a marca de 500 mercados internacionais abertos para os produtos da agricultura nacional. A expressiva marca alcançada foi comemorada nesta segunda-feira (15), durante a cerimônia de inauguração da sede própria da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), em Brasília (DF).

Com a presença de produtores rurais e técnicos de comércio exterior, o presidente Lula destacou a volta do crescimento econômico do país sob o seu governo, assim como a maior massa salarial da história e a menor taxa de desemprego já registrada.

Ele também ressaltou que é necessária uma visão compartilhada sobre a questão produtiva e ambiental, uma vez que a derrubada dos vetos presidenciais, pelo Congresso Nacional, no caso do PL da Devastação, prejudica, principalmente, os empresários, ainda que se estendam os malefícios para toda a população.

“Nesse país que estamos construindo, as coisas estão dando certo, os mercados estão aparecendo, o nosso pessoal está tendo mais capacidade de produzir, a mão de obra está se qualificando, a gente está respeitando mais a questão ambiental. Quando o Congresso Nacional derrubou o meu veto, não pense que eu fiquei chateado, porque eu não vou perder um milímetro, quem vai perder são os empresários que exportam produtos agrícolas se estiverem cometendo bobagem de não respeitar a questão climática”, afirmou.

“Quando chegar uma denúncia da União Europeia, ou quando o Xi Jinping [China] disser que não quer comprar porque estão cometendo tal delito na floresta, não sou eu que vou perder, são os empresários que vão perder. Então essa responsabilidade não pode ser só do governo e do Ministério Público”, completou Lula.

Apesar da crítica ao Congresso nessa questão, o presidente agradeceu aos parlamentares por aprovações de importantes medidas como a da reforma tributária e da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.

Lula ainda declarou que não existe no mundo outro país para competir em exportações do agro com o Brasil, dada a fartura vista por aqui, sendo primordial investir em condições que facilitem os negócios.

Parte dessa atuação em prol de novos mercados será vista em fevereiro na Índia e na Coreia do Sul, e em abril, na feira de Hannover, na Alemanha, que terão missões do presidente para articular mais exportações dos produtos brasileiros.

O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, ainda projetou que o Brasil deverá bater recordes de exportações no ano.

“Vamos bater neste ano um recorde, mesmo com o mundo crescendo menos e preços menores. Nós devemos bater um recorde, 345 bilhões de dólares de exportação e 629 bilhões de dólares de corrente de comércio. Até o panetone aumentou a exportação, aumentou 4% a exportação de panetone esse ano”, acentuou Alckmin. 

500 novos mercados

O presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, destacou a importância da integração entre os ministérios para chegar ao resultado, sendo que a marca de novos 500 mercados é fruto da integração de esforços da agência com os ministérios da Agricultura e Pecuária (Mapa), do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), das Relações Exteriores (MRE) e da Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). 

“O governo passado [Bolsonaro] abriu pouco mais de 200 mercados em quatro anos. O nosso governo, em três anos, abriu mais de 500 mercados, já são 506”, celebrou Viana.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, também comemorou o feito: “Tenho certeza de que nenhum país no mundo consegue ampliar dessa forma, em três anos, os seus mercados”.

De acordo com os cálculos do Mapa, os novos 500 mercados representam um potencial de exportação superior a US$ 37,5 bilhões por ano. A marca foi alcançada na semana anterior com a conclusão das negociações sanitárias para a exportação de carne bovina brasileira para a Guatemala.

São 80 países envolvidos nas operações com destaque para as vendas de carne, algodão, fruta e pescados. Entre 2023 e 2025, foram feitas 19 missões oficiais presidenciais e 5 vice-presidenciais, visando aumentar as oportunidades em mercados prioritários. Além disso, o governo Lula junto com a ApexBrasil realizou 170 ações internacionais em 42 países, o que permitiu atender três mil empresas nacionais e reunir mais de 8 mil empresários nas missões.

“O governo passado queria fechar a ApexBrasil. O então ministro da Economia [Paulo Guedes] que acumulou tudo, falou: ‘tem que fechar ou então a Apex tem que gerar recurso próprio com os empresários. Os empresários que promovam o Brasil’. Essa era a visão passada. O senhor [Lula] investiu na Apex, me chamou para cá. Mas o maior investimento na agência é o presidente Lula, porque ninguém vende mais um país do que a diplomacia presidencial, por mais que a gente se esforce”, disse Viana, ao lembrar que a ApexBrasil foi lançada em 2003, no primeiro mandato presidencial de Lula.

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Leia: PCdoB: obstáculos ao desenvolvimento https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/palavra-do-pcdob-obstaculos-ao.html