19 novembro 2025

Palavra de poeta

Vigília

Geir Campos  

Não, meu amigo, não precisas ter
nenhum cuidado: havendo o que cuidar,
cuidarei eu constantemente a te poupar
coitas que vão teu coito arrefecer.


Coitado de quem deixa a noite ser
vinda fora de tempo e de lugar
sombreando as alturas do prazer
com rasteiras tribulações do lar.


Antes que venha a noite, vai o dia
mostrando os horizontes de alegria
que tem a palmilhar no corpo dela:


são costas, são gargantas, são colinas
— toda uma geografia em que te empinas
enquanto pelo teu meu amor vela.


[Ilustração: Van Gogh]

Leia também: "Cantiga para não morrer", poema de Ferreira Gullar https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/08/palavra-de-poeta_80.html 

Boa notícia

Lula sanciona lei que garante comunicação mais clara e acessível ao público
A nova lei, que já está em vigor, é válida para todos os poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios
Iram Alfaia/Vermelho  

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou nesta segunda-feira (17) a lei que cria a Política Nacional de Linguagem Simples para se comunicar de forma clara, direta e acessível com o público. O objetivo é fortalecer o direito à informação e à participação social.

A nova lei, que já está em vigor, é válida para todos os poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.

Ela estabelece objetivos da comunicação centrada nas pessoas, considerando a diversidade da população brasileira.

Desse modo, os órgãos deverão usar linguagem simples em todas as comunicações; ajudar o cidadão a entender e utilizar as informações oficiais; reduzir a necessidade de intermediários; diminuir tempo e custos com atividades de atendimento; facilitar o controle social e a participação popular; e tornar a comunicação acessível para pessoas com deficiência.

A legislação também define princípios como foco no cidadão, transparência, facilidade de acesso a serviços públicos, estímulo à participação popular e garantia do exercício pleno de direitos.

Além disso, detalha técnicas que devem orientar a redação de textos destinados ao público. Entre as principais diretrizes estão:

– Priorizar frases curtas, em ordem direta e com voz ativa;
– Desenvolver uma ideia por parágrafo;
– Usar palavras comuns, evitando jargões e explicando termos técnicos quando necessários;
– Evitar estrangeirismos que não estejam incorporados ao uso cotidiano;
– Colocar as informações mais importantes logo no início;
– Não utilizar formas de flexão de gênero ou número que estejam fora das regras da língua portuguesa;
– Usar listas, tabelas e outros recursos gráficos sempre que ajudarem na compreensão;
– Testar a compreensão do texto com o público-alvo e;
– Garantir linguagem acessível às pessoas com deficiência, conforme o Estatuto da Pessoa com Deficiência.

“Um ponto importante é que, quando a comunicação for destinada a comunidades indígenas, deverá ser disponibilizada, sempre que possível, uma versão na língua da comunidade, demonstrando o respeito à diversidade cultural e linguística do país”, diz o governo.

[Qual a sua opinião?]

Leia também: Para além do “economicismo governamental” https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/minha-opiniao_5.html

Postei nas redes

Todo “depois” é precedido de um “antes” e um “durante”. Construa o que deseja com calma, consciência e determinação. 

Leia também um poema de Jorge Luis Borges https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/palavra-de-poeta_13.html 

Abraham Sicsu opina

Estratégias empresariais: contrariando o senso comum
Abraham B. Sicsu
Para Bernardo que até hoje me chama de Conselheiro  

No imaginário da sociedade foram difundidas “verdades” que são absolutas, não podem ser contestadas.

Na área da concorrência empresarial, três são muito fortes e sempre repetidas. Em primeiro lugar, a visão de que a concentração de mercado sempre é prejudicial a sociedade. Também, a noção de que as empresas sempre conseguirão “fugir” das restrições que lhes são impostas pelo poder público. Ainda, que, no Brasil em particular, as empresas não se preocupam com a inovação, pois os mercados são fechados e protegidos das mudanças advindas do progresso técnico.

Entre 2006 e 2008, fui juiz conselheiro do órgão responsável pelo controle da área concorrencial no país. Era um trabalho árduo. De quinze em quinze dias tínhamos plenária onde tudo era decidido. Para não haver um acúmulo excessivo de processos tínhamos que relatar, cada um dos seis juízes conselheiros, quase dez processos por sessão, processos sempre muito diversificados. Só conseguíamos por ter uma equipe de jovens assessores muito competentes. No meu caso quatro advogados e três economistas.

Nessa atividade aprendi muito da realidade do setor empresarial brasileiro e passei a relativizar muitas das idéias preconcebidas. Três casos interessantes que estiveram sob minha relatoria.

Uma empresa brasileira que detinha mais de sessenta por cento do mercado nacional resolve comprar uma empresa espanhola que tinha uma subsidiária aqui que detinha aproximadamente vinte e cinco por cento de nosso mercado. Juntas se aproximavam de noventa por cento e, para alguns produtos chegavam à totalidade.

Um colega juiz, o mais brilhante de nós todos, me advertiu que era um caso complicado, que tínhamos que impor restrições, que não poderíamos deixar passar impunemente. Sabendo da importância do caso, fomos estudar.

Verificamos que essas empresas tinham como seus principais mercados as grandes concorrências internacionais. Também, que as maiores empresas do setor eram chinesas, as quais tinham escalas de produção muito maiores, algumas quase dez vezes. Em outras palavras, empresas que podiam dividir seus custos de logística, de distribuição e mesmo administrativos por um número muito grande de unidades. Além disso, a própria produção era feita com equipamentos mais eficientes e de maior porte. Ou seja, tinham custos unitários menores e estavam mais bem posicionadas para as grandes licitações.

Dois cenários se apresentavam. Ou a empresa brasileira comprava a companhia e com isso otimizava seus custos, tornando-se mais competitiva, ou, em curto espaço de tempo, as grandes companhias internacionais a inviabilizariam, inclusive com a entrada ostensiva no mercado brasileiro. Aprovamos a transação e a empresa teve condições de crescer em escala e até hoje ser bem competitiva.

Cartel é uma prática ilegal. Empresas que através de acordos “subterrâneos” simulam concorrência para, em processos licitatórios públicos, manipular resultados fixando preços, definindo ex ante os vencedores, dividindo o mercado ou eliminando possíveis outros concorrentes, cometem um delito. Uma prática anti-competitiva que pode causar enormes prejuízos à administração pública. Empresas que os praticam estão sujeitas a severas punições.

Acontece que é muito difícil comprovar essa prática. A não ser que um dos participantes se sinta lesado por ser preterido e denuncie publicamente. Exatamente o que ocorreu. Ele foi à televisão e gravou um programa denúncia.

O caso caiu na minha relatoria. Evidentemente seriam condenados. Nada havia a negar. No entanto, embora as multas fossem pesadas, parecia que o grupo já tinha contabilizado essa possibilidade. Dividiriam entre eles e se reorganizariam continuando a prática ilegal.

Um assessor sugere que colocássemos uma clausula adicional à sentença. Aceita, foi inserida. Proibia-se que qualquer empresa que contasse com um dos participantes, seus familiares ou membro da direção superior das empresas punidas participasse de concorrências públicas nos próximos cinco anos.

Aprova-se em plenário. Tumulto geral. Quebram-se as pernas do cartel. Recebo um advogado, que pretende entrar com embargos, com insinuações nada legais. Única vez em toda a minha gestão. Estando acompanhado por meu grupo de colaboradores, peço que anotem e gentilmente que ele assine a ata da reunião. Retira-se indignado sem assinar. Não conseguiram reverter a decisão.

Duas empresas de grande porte, concorrentes, começam a se preocupar com o rápido progresso técnico em seu setor. Acompanhá-lo é difícil financeiramente. Equipamentos que produzem em grande escala foram desenvolvidos, diminuem em muito o custo dos produtos, mas exigem investimentos não compatíveis com os mercados regionais que essas firmas dominavam.

Uma solução inventiva, pensando a médio e largo prazo. A melhoria da qualidade e a maior eficiência podia ser um diferencial.

Propõe um novo arranjo empresarial. Criar uma empresa específica para a produção, em conjunto, cada uma detendo metade do investimento, com saídas para um porto seco, totalmente separado e dividido em duas partes. À direita para uma empresa e à esquerda para a outra.  Os pedidos e especificações não seriam conhecidos pela concorrente e continuariam disputando o mercado final.

Para a grande maioria dos especialistas não era crível. Como uma empresas dona de metade da firma produtora não vazaria informações para seus proprietários? Seria possível não haver colusão, ou seja, acordos internos que permitissem praticar um poder de mercado quase absoluto? Difícil de acreditar.

Fomos analisar o caso. Por mais de seis meses. Verificou-se que o sistema era seguro, que não havia fluxo de informações de especificidades estratégicas dos produtos e de mercados de uma para a outra. Mesmo a seleção dos profissionais responsáveis pela administração da empresa produtora estava sendo feito por empresas especializadas autônomas e tinham como requisito não haver nenhum vínculo com as duas empresas detentoras da quase totalidade do mercado final.

Aprovou-se a operação, as empresas melhoraram a qualidade de seus produtos, atenderam às demandas dos mercados finais, avançou-se no progresso técnico do setor no país com redução de custos e preços.

Muitos outros casos poderão ser elencados. A visão externa da concorrência empresarial parece distorcida. Não há dúvida que cada empresa pensa em seus interesses individuais, mas, estes, em um número significativo de ocasiões, vêm atender aos anseios da própria sociedade. Condená-los, a priori como prejudiciais, pode levar a sérios problemas para a sociedade, defasando nosso parque fabril em termos técnicos, ou mesmo gerando custos insuportáveis para a população.

Aprendi no Órgão de Defesa da Concorrência CADE que ponderação sempre é necessária, bem como antecipação com inventividade para evitar práticas que lesam a população em geral. Uma experiência por demais enriquecedora.

[Qual a sua opinião?]

 Leia também: Artistas na Sala de Visitas https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/05/uma-cronica-de-abraham-b-sicsu_17.html 

Palavra de poeta

Ao amor antigo
Carlos Drummond de Andrade  

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

[Ilustração: Edvard Munch]

Leia também “Segunda-feira”, poema de Primo Levi https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/palavra-de-poeta_48.html 

18 novembro 2025

Partido renovado e influente

O lugar do PCdoB na cena política 
Análise, ancorada na Resolução Política do 16º Congresso, examina desafios internos, atuação nas frentes de massa e o papel do partido na construção de caminhos táticos para o desenvolvimento nacional
Luciano Siqueira/Portal Grabois www.grabois.org.br   

Óbvio que o tamanho das bancadas parlamentares tem peso específico considerável em razão da conformação do ringue institucional em que transcorre a política brasileira, tanto quanto a ocupação, além do governo federal, do poder executivo nos níveis estadual e municipal. Por aí, comumente se mede o peso das correntes políticas em presença.

Isto no desenho atual em que, da Constituição promulgada em 1988 aos dias que correm, o poder real do governo da República tem sofrido corrosões significativas, na medida em que parcela dos processos decisórios se transferiram, na prática, crescentemente, para o Parlamento federal, acentuando o peso das bancadas partidárias.

Por exemplo, a adoção das emendas impositivas através de Proposta de Emenda Constitucional, aprovada em 2019, sob o governo de Jair Bolsonaro, praticamente desfez o chamado “presidencialismo de coalizão”, que possibilitava ao presidente da República meios através dos quais obtinha uma espécie de pacto razoavelmente estável no âmbito do Congresso Nacional — incluindo a emissão de medidas provisórias, associadas à prerrogativa exclusiva sobre matérias orçamentárias. Do que resultava boa margem de governabilidade, reduzindo em muito os impactos negativos da fragmentação partidária e mesmo de correlação de forças momentaneamente adversa no Parlamento.

Também “a voz das ruas”, assim denominada a força efetiva dos movimentos sociais, dos sindicatos em particular, tem reduzido seu poder de influência no âmbito de um descenso que enfraquece o campo democrático e popular praticamente em todo o mundo ocidental.

No Brasil, como bem assinalou o dirigente comunista Nivaldo Santana em intervenção especial sobre o tema no plenário do 16º Congresso, é preciso “buscar novas e criativas formas de organização que respondam às profundas mudanças no mundo do trabalho, adotar novos métodos de diálogo com a classe, estudar os meios para desenvolver a consciência de classe, a organização e a capacidade de mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras”. 

A influência da linha política

Consideradas essas variáveis, entretanto, cabe assinalar o peso das correntes políticas na medida em que expressem alternativas táticas a cada conjuntura, tradução do projeto estratégico que propugnam.

Historicamente, como comprovado na experiência brasileira e de outros povos, este é um fator que muitas vezes se faz decisivo. Aí reside trincheira privilegiada da atuação dos comunistas.

Como se constata na história recente do Brasil, desde a superação do regime militar ao complexo desenrolar do conflito político nacional desde então, verifica-se inquestionável contribuição do Partido Comunista do Brasil na construção de alianças políticas largas e eficazes, incluindo no arco-íris partidário o matiz vermelho.

No PCdoB, um marco dessa concepção tática se encontra desde a resolução política da 6ª Conferência Nacional partidária, realizada em 1968, sob as duras condições da luta clandestina, “União dos brasileiros para livrar o país da crise, da ditadura e da ameaça neocolonialista”. 

Naquela resolução, traduz-se o postulado tático leninista, que indica a construção de alianças políticas as mais amplas possíveis, atraindo para o campo democrático todas as forças passíveis de serem atraídas; neutralizando forças outras que embora desgarradas do campo inimigo não se disponham a integrar a coalizão e, desse modo, isolar, enfraquecer e derrotar o inimigo principal.

Essa concepção – vale conferir – é exposta pelo próprio Lenin de modo magistral em sua obra “Esquerdismo doença infantil do comunismo”, que Renato Rabelo, em artigo, considera “uma enciclopédia da tática e da estratégia do proletariado” (1).

Unidade e luta

Justamente considerando o lugar específico, muitas vezes decisivo, da corrente comunista em sucessivas situações conjunturais, a Resolução Política do 16º Congresso é precisa ao assinalar como tarefa preponderante no desenvolvimento das forças subjetivas do movimento transformador “reposicionar e revigorar o Partido para um novo ciclo de acumulação de forças e elevá-lo à condição de legenda influente no curso da luta política e social, inserção relevante no debate de ideias e na definição de rumos para o país” e assim se tornar um polo aglutinador das forças da esquerda e progressistas (2).

Óbvio que a corrente comunista há que se fortalecer no curso da luta concreta, pugnando pela ampliação de sua representação parlamentar, a presença influente em instâncias de governo e, em dimensão mais elevada, nos movimentos sociais.

Os comunistas são sempre e em todas as circunstâncias embandeirados de uma plataforma unitária, sem contudo, concomitantemente, deixar de afirmar seus próprios propósitos programáticos.

A vida tem comprovado que não há empreitada política de envergadura que dispense o elemento consciente que, permeando distintas formas e circunstâncias, funcione como fio condutor, independentemente até da força orgânica relativa específica entre as diversas correntes aliadas.

Daí a necessidade de superar a discrepância entre a importante e consistente influência do PCdoB no seio da frente ampla e a sua reduzida força orgânica — contradição que se expressa sobretudo no tamanho das bancadas parlamentares nos três níveis federativos.

Elevar a prática cotidiana ao nível programático

Tamanha discrepância não se supera sem uma correta relação entre três linhas de acumulação de forças – a luta de ideias, a presença institucional e a ação de massas. Sob muitos aspectos, acentuando a luta no terreno das ideias.

Daí se considerar que a Resolução Política do 16º Congresso não é propriamente um lugar de chegada, mas antes um ponto de partida, tamanha a dimensão dos desafios postos na ordem do dia em plano mundial e nacional.

O texto, se lido atentamente, mostra-se rigoroso no sentido de evitar conclusões além do nível de compreensão alcançado.

Por exemplo, sublinhe-se o termo transição na caracterização da passagem a um novo desenho geopolítico mundial – em razão de que “a dinâmica de acumulação do capitalismo levou a um acelerado deslocamento territorial/nacional do lócus do dinamismo produtivo, com enfraquecimento relativo do poder dos Estados Unidos, da Europa e do Japão” e, em contraposição, “num mundo em transição, a força do processo de multipolarização se efetiva de modo intenso e célere. O declínio da hegemonia estadunidense e a emergência de novos polos de poder econômico-financeiro, tecnológico, político-diplomático, cultural e militar” – cenário em que se insere a política externa proativa do governo brasileiro.

Do mesmo modo, no que se refere à luta em curso no país, a afirmação de “duas grandes tarefas: conquistar uma nova vitória da nação e da classe trabalhadora em 2026 e realizar mudanças estruturais para impulsionar o desenvolvimento soberano como caminho para o socialismo”.

Em outros termos, a reafirmação do rumo da transformação social de caráter socialista (objetivo estratégico) e um caminho (tático) assentado na busca de um novo projeto de desenvolvimento nacional, fundado em reformas estruturais — agrária, urbana, do sistema educacional, tributária, do Judiciário, etc. — cuja consecução demanda luta popular renhida, persistente e de larga dimensão, podendo resultar em extraordinária elevação do padrão de vida material e espiritual do proletariado e do povo, propiciando consciência política mais avançada, que vislumbre o horizonte socialista.

Para além dos limites do governo

Nesse contexto, ao PCdoB cabe combinar corretamente o empenho na unidade e no dinamismo do governo Lula, do qual participa com relativo destaque, dirigindo com êxito o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, com a inarredável afirmação de opinião própria sobre todas as questões relevantes postas na ordem do dia – no melhor espírito leninista, a combinação entre a unidade e a luta, a amplitude e a afirmação do matiz político próprio.

Referências

  1. Rabelo, Renato. Ideias e rumos. Editora Anita Garibaldi/Fundação Maurício Grabois, 2ª edição, São Paulo, 2015.
  2. Vitória do Brasil em 2026. Mudanças para o desenvolvimento soberano, resolução política do 16º Congresso do PCdoB

Luciano Siqueira foi vice-prefeito do Recife (PE) por quatro mandatos. É membro do Comitê Central do PCdoB e coordenador do Grupo de Pesquisa Cultura & Sociedade da Fundação Maurício Grabois. Autor do Blog de Luciano Siqueira

Ilustração: Ato de abertura do 16º Congresso do PCdoB, no Centro de Convenções, em Brasília, 16/10/25. Foto: J.lee Aguiar

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Leia também: O mundo cabe numa Organização de Base https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/05/minha-opiniao_18.html

Boa notícia

Lula envia ao Congresso o Plano Nacional de Cultura 2025-2035
Em cerimônia no Palácio do Planalto, presidente assinou a mensagem de envio do Projeto de Lei do PNC 2025-2035 e o decreto que cria a Comissão Intergestores Tripartite
Murilo da Silva/Vermelho 

O presidente Lula assinou, nesta segunda-feira (17), o decreto que cria a Comissão Intergestores Tripartite (CIT), para acompanhar a execução do orçamento da cultura, e também a mensagem de envio ao Congresso Nacional do Projeto de Lei do Plano Nacional de Cultura 2025-2035.

“A partir de amanhã vocês terão trabalho de transformar definitivamente a política cultural deste país para que nenhum presidente da República, de qualquer partido que seja, de qualquer matiz ideológica que possa, um dia ou outra vez, achar que pode proibir a cultura desse país”, afirmou Lula, em referência ao governo Bolsonaro, que extinguiu o Ministério da Cultura (MinC) em 2019.

“A gente não pode esquecer nunca o que aconteceu nesse país em 2016 [impeachment de Dilma Rousseff]. Não pode acontecer, como no governo passado, em que eles acabaram com o Ministério da Cultura, acabaram com o Ministério da Igualdade Racial, acabaram com o Ministério da Mulher, acabaram com vários ministérios”, completou.

De acordo com Lula, após a recriação do MinC e os investimentos feitos em seu governo, a cultura vive um dos seus melhores momentos em questão de investimentos no país.

“O dado concreto é que nós vivemos o melhor momento cultural deste país. Nós nunca tivemos tantos recursos por conta das leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo. Nunca tivemos tanto dinheiro. E esse dinheiro, quando a Margareth [ministra da Cultura] resolveu distribuir para os municípios, ela colocou que não é só distribuir o dinheiro. Tem que fiscalizar para saber se estão sendo feitas as coisas que precisam ser feitas. Graças a Deus estamos tendo um sucesso extraordinário na política cultural”, concluiu o presidente.

Já a ministra Margareth Menezes destacou as entregas realizadas com a finalidade de estabelecer o SUS da Cultura.

“Estamos concretizando um sonho sonhado por muitas pessoas. Como faremos para transformar a cultura no Brasil nos próximos anos? Pelo Plano Nacional de Cultura, nossa bússola que vai nos indicar o caminho a seguir. Implementaremos as diretrizes a partir da pactuação da Comissão Intergestora Tripartite em diálogo e articulação com os estados e municípios, pactuando o novo PNC. Será o nosso SUS da cultura, amarrando as responsabilidades das cidades, dos estados e do governo federal com o setor cultural. Essa articulação é muito importante, já necessária há muito tempo para que a gente consiga materializar a força que tem a cultura brasileira”, disse a ministra.

CIT e PNC

A CIT tem como responsabilidade acompanhar a execução do orçamento na área, assim como a abertura do Encontro de Comitês e Agentes Territoriais de Cultura.

De acordo com o governo, a proposta é elaborada desde a 4ª Conferência Nacional de Cultura, em março de 2024. O evento reuniu mais de 5 mil delegados e elegeu 30 propostas prioritárias.

Já o novo Plano Nacional de Cultura substitui o encerrado em 2024, depois de ter sido prorrogado duas vezes a partir da extinção do MinC, recriado no governo Lula em 2023.
 

O PNC orienta a formulação e a execução das políticas culturais e a versão enviada ao Congresso para os próximos dez anos traz como destaques, conforme o Ministério da Cultura:

  • Processo de Participação Social ampliado e integrado, com participação territorial e digital, que geraram um rico diagnóstico do campo cultural brasileiro. 
  • Oito eixos estratégicos que organizam as políticas culturais em temas estruturantes e oferecem um caminho para a formulação de planos e políticas estaduais, municipais e setoriais. Entre eles eixos inovadores de Cultura, Bem Viver e Ação Climática e Cultura Digital e Direitos Digitais, que apontam para o futuro e conectam políticas com agendas globais.
  • Transversalidades que estruturam o PNC e trazem aspectos prioritários que atravessam a cultura de forma transversal: Interseccionalidade; Territorialidade; Acessibilidade Cultural; Culturas Indígenas e Afro-Brasileiras; Intergeracionalidade e Intersetorialidade.
  • Direitos culturais definidos nos Princípios do PNC, sob oito dimensões que consolidam e orientam as políticas culturais no país.

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Leia também: Para além do “economicismo governamental” https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/minha-opiniao_5.html