25 dezembro 2025

Minha opinião

Ravi e Miguel bem na frente de Luciano 
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65  

Despertei para o significado do meu nome quando inscrito por minha mãe num cursinho de catecismo, preparatório para a primeira comunhão na igreja de São João Batista, na Lagoa Seca, bairro em que residia em Natal. 

Uma freira de origem italiana, se bem me lembro chamada Angélica, ao anotar meu nome o saudou com entusiasmo: "Luciano é da parte de São Lucas, protetor dos médicos. Quem sabe você será médico quando crescer!?"

De pronto me senti diferenciado em casa, os meus irmãos Humberto e Airton nada tinham de sagrado. Minha irmã Socorro, sim: batizado em alusão a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, santa da devoção da minha mãe Oneide.

Da premonição da irmã Angélica vim me lembrar apenas quando ingressei na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, muitos anos passados. 

Mas hoje constato que Luciano não está entre os mais escolhidos pelas famílias brasileiras. Ravi e Miguel, sim.

Por quê? 

Segundo a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, pelo visto fonte importante da grande mídia no trato do assunto, tanto os prenomes masculinos como Helena, a preferida com larga margem de vantagem entre as mulheres, pode ter a influência de diversos fatores: além de preferências individuais, tendências culturais, sociais e midiáticas. 

Donde você vê que a coisa não é simples. Além de Helena no primeiríssimo lugar, ocupam o pódio Maitê, Cecília, Maria Cecília, Aurora e — viva! — Alice, nome da minha neta de 12 anos. 

Qual a importância disso? Para mim, nenhuma; mas me intriga ter sido batizado Luciano, hoje tão pouco escolhido por mães e pais brasileiros.

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Leia também: "O auto-retrato", poema de Mario Quintana https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/palavra-de-poeta_11.html

Palavra de poeta

Canção
Joaquim Cardozo  

Venho para uma estação de águas nos teus olhos;
Ouves? É o rumor da noite que vem do mar.
Meu amor.
Perto de mim o teu corpo cheirando a flor de cajueiro.
Que saudades do sol. Do mar de sol.
Do nosso mar de jangadas.
Escuta:
A noite que vem cantando
Vem do mar.
Para que eu voltasse tu me prometeste novas carícias
No entanto o que me dás agora é ainda o mesmo amor
De antigamente.
E depois estás mais velha.
Os teus olhos bruxuleiam.
Os teus lábios se apagaram.
Eu vou partir.
As barcaças vão passando junto ao cais.
Eu vou partir, viajar.
Itapissuma. Goiana. Itamaracá.
Olha o verão que vem!
Viva o verão que vai chegar.
Viva a paisagem roxa dos cajueiros que vão florir!
Eu vou partir, viajar.

[Ilustração: Wayne Thiebaud]

Leia também: "Lembrança alada", poema de Mia Couto https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/palavra-de-poeta_71.html 

24 dezembro 2025

Minha opinião

Vivido e curtido para todos os efeitos
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65    

No ônibus que transporta os passageiros da pista do aeroporto à entrada do setor de desembarque, em Brasília, o jovem me oferece, respeitosamente, o assento. Recuso agradecido. Ele insiste. Volto a recusar. Ele então dispara o argumento definitivo: - Faço questão, senhor, sempre cedo o lugar aos idosos.

Idoso!? Logo eu que ignoro a contagem das décadas vividas e me vingo vivendo mais ainda, intensamente, tive que me render à deferência e me aboletei ao lado de um gordo nem tão idoso assim, mas em evidente desvantagem em relação mim no quesito disposição para a guerra. O dito cujo, em sua exuberância de paquiderme, exibia enfado de despertar inveja no mais radical dos preguiçosos.

Pois bem. No caminho para o hotel meu ingresso oficial na terceira idade não me saiu da mente. Bem que o jovem educado não errara. Mais gente tem me tratado assim - e não é de agora. Imagens de igual veredicto foram se revezando como em videoteipe. 

- Gosto de ver essa energia. Você ficou um velho entusiasmado - sapecou outro dia uma amiga, em meio a uma conversa sobre planos futuros.

- Puxa vida, eu escutando você falar sobre as teses do 13º. Congresso do Partido e pensando: ah se esse cara só tivesse 40 anos!, arrematou um militante de Igarassu. E quando acusei o golpe perguntando se me achava tão gasto assim, tentou um remendo ainda pior: - Não, camarada, você está em forma; e se tomar mel de abelha rainha vai viver mais quarenta anos!

Tudo bem que eu acredite que ainda tenho muita estrada pela frente, animado com o aumento da expectativa de vida do brasileiro, mas mel de abelha rainha é de lascar. 

Tem mais. Uma tarde fui tratado como "tio" por um vendedor da Livraria Saraiva, no shopping Recife, um marmanjo magricela de evidentes quarenta e tantos anos. E ao comentar a desfeita com Luci, já transpondo a cancela do estacionamento, o danado de um flanelinha gritou a súplica:

- Vai 1 real aí, vô? 

Realmente, não há o que fazer senão me conformar e alimentar a autoestima guardando na memória o enxerimento de eleitoras ousadas durante caminhadas na última campanha eleitoral:

- O vice é coroa, mas dá pro gasto, ora se dá!

Já no quarto do hotel, não resisti e me olhei ao espelho para conferir o estado da arte do velho animado, que ainda dá pro gasto e pode ser turbinado com o mel de abelha rainha. Enquanto constatava o óbvio - como faço todas as manhãs ao fazer a barba e botar um mínimo de ordem nos cabelos irremediavelmente rebeldes, vi-me recitando em silêncio os versos de Cora Coralina: “Não te deixes destruir…/Ajuntando novas pedras/e construindo novos poemas./Recria tua vida, sempre, sempre./Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.”

Paciência. O jeito é tocar a vida com a chama da esperança e a inesgotável energia militante, ao invés de me deter na contemplação das rugas, marcas do tempo vivido. 

Uma crônica de agosto de 2013

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Leia também: As palavras e suas artimanhas https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/11/minha-opiniao_61.html

Palavra de Maiakovsk

“As ameaças/e as guerras/havemos de atravessá-las,/rompê-las ao meio,/cortando-as/como uma quilha corta/as ondas.”

Vladimir Maiakovski 

Leia: A palavra e o gesto https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/06/minha-opiniao_14.html 

Boa notícia

Emprego cresce, sindicalização reage e desafios do trabalho seguem na pauta
Com quase 5 milhões de vagas criadas desde 2023, dirigentes sindicais destacam avanços do governo Lula, retomada da organização coletiva e alertam para precarização, juros altos e novas armadilhas patronais
Cezar Xavier/Vermelho  

O mercado de trabalho brasileiro vive um ciclo de recuperação desde o início do governo Lula, com a criação de quase 5 milhões de empregos formais entre janeiro de 2023 e setembro de 2025, segundo dados do Novo Caged. Para o vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), René Vicente, esse movimento recoloca o trabalho no centro do projeto de desenvolvimento nacional.

“O governo Lula tem buscado avançar na geração de empregos com carteira assinada por meio de programas estruturantes, como o PAC, a Nova Indústria Brasil e o impulso à construção civil”, afirma em entrevista ao Portal Vermelho. De acordo com ele, os dados confirmam um dos menores patamares de desemprego da série histórica, o que representa uma vitória concreta para a classe trabalhadora.

Programas públicos e retomada do mercado interno

Os números do governo corroboram a avaliação sindical. Apenas em outubro de 2025, o país gerou 85.147 postos formais, puxados sobretudo pelos setores de Serviços (+82.436 vagas) e Comércio (+25.592). No acumulado de janeiro a outubro, foram 1,8 milhão de novos vínculos, crescimento de 3,8%.

A retomada das obras do PAC, a ampliação do crédito, a valorização do salário mínimo e políticas de incentivo à indústria e aos pequenos negócios criaram um ambiente mais favorável à geração de emprego e renda, com impactos diretos no consumo e na atividade econômica.

Sindicalização volta a crescer

Um dos efeitos mais relevantes desse novo cenário é a reversão da queda histórica da sindicalização. Segundo René Vicente, após anos de retração, a taxa voltou a subir, passando de 8,4% para 8,9% no último trimestre, o que representa cerca de 840 mil novos trabalhadores sindicalizados.

“Isso demonstra que o trabalhador quer buscar sua representação sindical e percebe que voltou a existir espaço de diálogo”, avalia. Para ele, a valorização do emprego formal fortalece não apenas a renda, mas também a organização coletiva e a capacidade de luta por direitos.

Precarização e rotatividade seguem como entraves

Apesar dos avanços, René alerta que a precarização continua sendo uma marca estrutural do mercado de trabalho brasileiro. Um dos principais problemas é a alta rotatividade. Em 2024, por exemplo, houve cerca de 25,5 milhões de admissões e 23,8 milhões de demissões, resultando em saldo positivo de apenas 1,69 milhão de empregos.

“Essa rotatividade debilita a organização dos trabalhadores. Eles não têm tempo de se identificar, se sindicalizar e lutar por melhores condições”, afirma. Para o dirigente, o desafio agora é avançar na criação de empregos de qualidade, com maior estabilidade, salários mais altos e presença em setores de maior densidade tecnológica.

Salários ainda baixos e impacto dos juros

Outro ponto crítico destacado pelo movimento sindical é o nível salarial. O salário médio real de admissão chegou a R$ 2.304,31 em outubro, com crescimento real de 2,4% em um ano. Ainda assim, René considera o valor insuficiente. “A grande maioria dos empregos gerados tem renda muito baixa. Precisamos avançar para garantir salários dignos.”

Nesse contexto, a política monetária é vista como obstáculo central. Com a taxa Selic em 15% ao ano, uma das mais altas do mundo, o investimento produtivo é desestimulado. “Nenhum industrial vai investir com juros nesse patamar. Isso breca o desenvolvimento, a geração de empregos e a distribuição de renda”, critica.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, reforça essa leitura ao afirmar que os juros elevados já provocam desaceleração dos investimentos e cobrou maior sensibilidade do Banco Central para destravar o crescimento.

Trabalho por aplicativo e novos direitos

A precarização também se manifesta de forma intensa no trabalho por aplicativos. René defende a regulamentação do setor, com reconhecimento de vínculo empregatício, aplicação da CLT e garantia de direitos previdenciários. “Esses trabalhadores atuam 12 horas por dia, seis dias por semana, sem férias, 13º ou aposentadoria. Isso é insustentável.”

Segundo ele, centrais sindicais acompanham projetos no Congresso e ações no STF que discutem o vínculo trabalhista, pressionando por uma regulamentação que assegure proteção social, licença-maternidade e aposentadoria digna.

Do desmonte à reconstrução institucional

Para Márcio Ayer, presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, Miguel Pereira e Paty do Alferes, o atual momento representa um ponto de inflexão após anos de retrocesso. “Um sopro novo atravessa fábricas, campos e lojas do Brasil. É o fim de seis anos de desmonte, precarização e criminalização do movimento sindical”, diz ele em entrevista ao Portal Vermelho.

Ele lembra que a reforma trabalhista de 2017, a terceirização irrestrita e o esvaziamento do Ministério do Trabalho fragilizaram sindicatos e ampliaram a informalidade. A partir de 2023, o governo atuou em duas frentes: medidas emergenciais, como a valorização do salário mínimo e a isenção do IR até R$ 5 mil, e a reconstrução institucional, com fiscalização, combate ao trabalho escravo e retomada do diálogo social.

Vitórias parciais e riscos à frente

Ayer alerta, porém, que os avanços não podem gerar acomodação. A luta contra a escala 6×1, por exemplo, conquistou a adoção da 5×2 em algumas empresas, mas manteve jornadas de 44 horas semanais, concentrando a exploração em menos dias. “Trocaram uma gaiola por outra um pouco maior, mas ainda é uma gaiola”, critica.

Ele também vê com preocupação a tentativa de vincular a redução da jornada para 40 horas à ampliação da pejotização. “É uma armadilha: concedem a redução em troca da precarização total, o que anula qualquer ganho real.”

Cerco jurídico e financeiro aos sindicatos

Além das disputas no local de trabalho, o movimento sindical enfrenta um cerco institucional. De um lado, propostas que ameaçam extinguir a Justiça do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho; de outro, ataques ao financiamento sindical, como a tentativa de inviabilizar a contribuição assistencial.

“A tática é clara: asfixiar financeiramente os sindicatos para enfraquecer sua capacidade de negociação”, afirma Ayer. Pesquisas recentes indicam, contudo, que 68% dos trabalhadores consideram os sindicatos fundamentais, sinalizando que o problema não é rejeição social, mas ofensiva patronal organizada.

Autonomia, organização e próximos passos

Para os dirigentes, o crescimento da sindicalização é apenas o início. O desafio central é transformar esperança em força organizada, com sindicatos autônomos, financeiramente sustentáveis e enraizados na base.

“A proximidade com um governo aliado é uma conquista tática, mas a pressão direta sobre o patrão é insubstituível”, resume Ayer. A agenda inclui a redução da jornada para 40 horas, a regulamentação do trabalho por aplicativo, a defesa da Justiça do Trabalho e a valorização permanente do emprego e da renda.

Com quase 49 milhões de vínculos formais no país, os indicadores mostram que o Brasil voltou a crescer. Para o movimento sindical, a tarefa agora é garantir que esse crescimento se traduza em trabalho digno, direitos ampliados e distribuição de renda, consolidando um novo ciclo de desenvolvimento com justiça social.

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Maior investimento social da História https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/boa-noticia_20.html

Minha opinião

Ministro Dino barra nova mutreta
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65  

Tudo tão simples como manda a tradicional esperteza: a Câmara dos Deputados e o Senado acolheram um poderoso jabuti ao aprovarem o projeto de lei que reduz em 10% parte dos benefícios fiscais do país, na última quarta-feira.

Antes mesmo de a peça ser encaminhada a sanção pelo presidente da República, o ministro do STF Flávio Dino, usando do seu poder constitucional, suspendeu o artigo que espertamente ressuscitava emendas parlamentares ao Orçamento incluídas como restos a pagar entre 2019 e 2023 e que tinham sido canceladas. 

Uma arma eleitoral de certo porte, na medida em que os parlamentares beneficiados poderiam utilizar os recursos daí provenientes para reforçar suas bases junto a prefeituras de municípios onde são votados ou esperam conquistar novos apoios, ampliando o seu potencial de reeleição. 

No total, o tesouro despenderia cerca de 1,9 bilhão de reais.

A manobra legislativa marota criava mecanismo próprio para viabilizar o pagamento da emenda, mesmo em caso de insuficiência do montante para execução integral dos projetos em tela, com abertura para juntar recursos de mais de uma emenda. 

Analistas midiáticos e estudiosos da academia lamentam frequentemente, com razão, que o STF seja chamado com assiduidade inusual a impedir mutretas do parlamento federal. Mas evidentemente o problema não está no STF, está na carência de espírito público que inspira maiorias nas duas Casas legislativas.

[Qual a sua opinião?]

Palavra do PCdoB: defesa da democracia com Lula https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/a-orientacao-do-pcdob.html

Sylvio: "irmãos Metralha"

Deputados Sóstenes e Jordy, falsos moralistas, usavam verbas públicas para pagar despesas inexistentes. A prova da bandalheira foi encontrada com vultuosa quantia em armário de flat do parlamentar evangélico Sóstenes. Que vergonha!!!

Sylvio Belém 

Leia: "Cópia desbotada" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/minha-opiniao_21.html