Os detalhes e problemas do histórico acordo da COP27 para
ajudar países mais afetados por mudanças climáticas
Com a criação de um histórico fundo de reparação de danos,
quase 200 países chegaram neste domingo (20/11) a um acordo para ajudar as
nações mais afetadas pelas consequências catastróficas das mudanças climáticas.
BBC Brasil
Após mais de duas semanas de intensas negociações, os
participantes da cúpula do clima das Nações Unidas no Egito, a COP27, firmaram
o compromisso de financiar um novo fundo para compensar "perdas e
danos" causados pelos desastres naturais nos países em desenvolvimento que
são "particularmente vulneráveis para os efeitos adversos das mudanças
climáticas".
O acordo, que ainda tem muitos detalhes
a serem definidos, respalda a chamada "solução mosaico" pedida pelo
bloco negociador da União Europeia, entre outros países, que defende que possam
recorrer a novos instrumentos financeiros para ajudar a custear os danos
causados por fenômenos extremos da crise climática.
O debate sobre a compensação econômica por perdas e danos era
um grande tema adiado nas cúpulas do clima, realizadas desde a década de 1990.
Mas diante do rápido aumento dos eventos climáticos extremos
e da pressão dos países menos desenvolvidos, que são os menos poluentes, o tema
esteve cada vez mais no centro da agenda.
No início da cúpula na cidade de Sharm
el Sheikh, parecia quase impossível chegar a um acordo por medo de que um
sistema de compensação pudesse abrir as portas para eventuais reclamações
multimilionárias no futuro.
No entanto, pela primeira vez na
história, houve um acordo sobre esse assunto.
Quem são os "particularmente vulneráveis"?
O fundo fornecerá financiamento "previsível e
adequado" a "países em desenvolvimento particularmente
vulneráveis", segundo o texto definido na reunião.
No entanto, o documento não especifica
quais serão os países que poderão ser beneficiados com o fundo, nem os detalhes
do mecanismo de financiamento dele, pontos fundamentais que serão definidos em
próximas reuniões.
Um comitê de transição formado por 24
países, entre eles três da América Latina e o Caribe, elaborará os detalhes
sobre essa iniciativa durante um ano, para definir como funcionará e o como
será o financiamento, com o objetivo de adotar essa medida a partir da COP28,
no fim de 2023.
O financiamento basicamente recairá
sobre os países ricos, que mais contribuíram para o aquecimento global, mas uma
das linhas de trabalho acordadas neste domingo prevê "ampliar as fontes de
financiamento", o que deixaria um espaço aberto para que outros países
participem como doadores, uma demanda expressa pela União Europeia e Canadá,
entre outras nações.
O acordo COP27 também convida o Banco Mundial e o Fundo
Monetário Internacional (FMI) a fornecer "soluções de financiamento".
Porém, não menciona a possibilidade de perdão da dívida externa, por exemplo,
como medida de alívio.
O secretário-geral da ONU, António
Guterres, disse que o acordo foi um "passo importante para a
justiça", mas fez uma advertência fundamental sobre o fundo de reparações.
"Claramente isso não será o suficiente, mas é um sinal político muito
necessário para reconstruir a confiança quebrada."
Redução de emissões de poluentes
Independentemente da criação do fundo, a União
Europeia havia expressado a vontade de assumir um compromisso maior de redução
de gases de efeito estufa, de olho na China, país que atualmente é o maior
emissor mundial, responsável por quase 30% do total.
Essa polêmica foi uma das que mais
atrasaram o fim da cúpula, que oficialmente deveria ter sido encerrada na
sexta-feira.
No fim das contas, a União Europeia não
conseguiu que a sua demanda de aumentar as metas de redução de emissões fosse
aceita, o que deixou um gosto amargo entre os que defendem esse argumento.
Apesar do acordo histórico de
compensação financeira para os países mais pobres, a cúpula "não aumentou
a ambição de abordar a causa fundamental da mudança climática: as emissões de
gases de efeito estufa que estão aquecendo o nosso planeta", disse Justin
Rowlatt, editor de assuntos climáticos da BBC.
Na verdade, acrescentou o editor, houve
a introdução de uma nova categoria de energia de "baixas emissões", o
que pode fazer com que "muitos acreditem que retrocederam em relação ao
que foi acordado na última conferência climática da ONU em Glasgow",
avalia.
"Significa que o que poderia ter
sido um trunfo para o Egito, provavelmente, acabará sendo considerado um
fracasso", argumentou Rowlatt.
No Acordo de Paris em 2015, os países
se comprometeram a tentar manter o aquecimento global em 1,5 graus Celsius. E
era esperado que fossem definidos planos mais ambiciosos de redução dessas
emissões ao longo dos anos, incluindo a redução do uso de combustíveis fósseis,
mas isso não aconteceu.
Por enquanto, vários países se
comprometeram individualmente a atingir a meta de emissões líquidas zero de
carbono até 2050. Isso significa reduzir as emissões de gases de efeito estufa
ao máximo e equilibrar as emissões restantes.
Leia também: A agenda
ambiental volta a ter papel central no governo federal, reconstruindo o
desmonte realizado no setor https://bit.ly/3TBxmUB
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