Anuncia a Europa o repeteco da tragédia dos anos 30/40?
Enio Lins
Confirmando as expectativas, a extrema-direita a avançou nas eleições para o Parlamento Europeu. Sem surpresas, embora avaliações apressadas escorreguem na suposição de que o neofascismo venceu e passou a ser maioria naquela casa supranacional – não é assim também. O centro e a direita, como dantes, seguem no comando, e os retratos de Hitler, Mussolini, Pétain... continuam parcialmente escondidos, embora os 3x4 de Stephan Bandera estejam espalhados pela Ucrânia há anos, onde os símbolos nazistas estampam as fardas de milícias como o Batalhão Azov.
DESENHO DO PARLAMENTO
Pelo publicado n’O Globo, os resultados parciais “confirmaram a guinada à direita da Casa, o braço legislativo do principal bloco econômico do mundo”, e “o grupo da direita se manteve como maioria, embora tenha recuado de 39% para 36% no número de cadeiras, segundo apuração parcial. Já bloco ultradireitista avançou de 16% para 18%, e os ambientalistas caíram de 10% para 7%. Siglas da esquerda, que eram 25%, passaram a 23% dos assentos”. Segundo essa análise, “a ascensão da extrema direita foi menor que a esperada, e que a direita tradicional deve conseguir, através de alianças, garantir o poder. Siglas da esquerda sofreram perdas significativas, mas a maior derrota foi a de partidos ecologistas, mostrou também o resultado parcial”.
PERIGO CONTINUADO
Se a ultradireita não ganhou o poder neste pleito europeu de 2024, ela avançou bastante – isto é inegável. E isto é um enorme perigo para o mundo. O fato é que as chamadas condições subjetivas (aquelas que dependem da vontade das pessoas) seguem evoluindo a favor do caquético pensar autoritário, suprematista, armamentista, desumano, ultranacionalista, xenófobo – graças a erros nos campos democrático e das esquerdas. E como nos anos 1930, o epicentro desse ideário doentio é a Europa, com ocorrências da mesma patologia noutras plagas, com Trump nos Estados Unidos, mito no Brasil, Milei na Argentina e Netanyahu em Israel. Entre 1920 e 1933, Mussolini e Hitler foram produtos de um crescimento real, popular, das políticas odientas e antissociais – vermes que surgiram na carne podre, mas não por geração espontânea, num passe de m ágica. E tem carniça fedendo em muito lugar do mundo, não só no território europeu.
FRENTE ANTIFASCISTA
Nos anos 20 e 30 muito se demorou para o aceitamento da ampla união contra a extrema-direita. Enquanto a Alemanha se armava aos pulos, o resto do mundo capitalista investia no nazismo como arma contra o comunismo e os comunistas consideravam o fascismo e a social-democracia como “almas gêmeas”. No lado canhoto, o entendimento da frente única contra o nazifascismo só seria aprovado pela III Internacional em agosto de 1935, via o famoso informe de Dimitrov, dois anos depois dos nazistas conquistarem o poder germânico e 13 anos depois dos fascistas se apossarem do governo italiano; enquanto isso, os britânicos insistiam numa aliança com Hitler praticamente até 1940, quando Chamberlain foi substituído por Churchill no posto de primeiro-ministro. E os Estados Unidos se escondiam na neutralidade até que os japoneses detonaram Pearl Harbor em 1941. Há mais de 80 anos, a aliança entre a banda s&atild e;, ou menos ruim, da humanidade (Estados Unidos, Grã-Bretanha e União Soviética) contra a banda podre nazifascista (Alemanha, Itália e Japão) só seria construída dentro da carnificina da II Grande Guerra Mundial. Unidade essa desfeita antes mesmo de começarem as comemorações pela vitória. E agora, vamos assistir um filme semelhante?
Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2022/11/fascismo-ameaca-persistente.html
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