Ao camarada Arthur Moreira Lima, os tributos por sua arte e sua generosidade
Enio Lins
“Morre Arthur Moreira Lima, o ‘Pelé do piano’, aos 84 anos” – este foi o título dado ontem pelo Correio Braziliense ao noticiar a morte de um dos maiores pianistas de todos os tempos, e personagem que mais se dedicou à popularização da música clássica no Brasil. Carioca, gênio precoce, começou a estudar piano aos seis anos de idade, em 1946, e se apresentou em público pela primeira vez aos oito anos, tocando uma peça de Mozart num concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira. Cresceu em público, junto com a música. Em Paris, 1960, obteve o primeiro prêmio da Academia Marguerite Long. Convidado para cursar academias musicais nos Estados Unidos, na França e na União Soviética, optou pelo Conservatório Tchaikovsky, em Moscou, onde morou e estudou por cinco anos (e ensinou por mais três, depois de formado). Com a bagagem reche ada de prêmios internacionais, voltou ao Brasil nos anos 70. Comunista romântico, passou por filiações ao PDT e ao PSB, levando suas memórias bem-humoradas; e, quando em Alagoas, sempre perguntava: “Cadê os Meninos da Albânia?”.
TESTEMUNHO PESSOAL
Conheci Arthur Moreira Lima em 1993, por obra e graça do Dr. Ismar Gatto, médico e intelectual alagoano profundamente ligado à música e amigo do grande pianista. Era o primeiro ano da gestão Ronaldo Lessa como prefeito de Maceió, e, por intermédio da professora Thereza Braga (mãe do arquiteto e músico Nelsinho Braga), chegou até a Secretaria Municipal de Cultura a demanda, articulada pelo Dr. Ismar, para uma apresentação de Arthur Moreira Lima e a Orquestra de Câmara de Moscou, que percorriam algumas cidades brasileiras numa turnê especialíssima. Considerando a dimensão do espetáculo, os custos eram insignificantes, algo como US$ 20 mil (o dólar voltara a ser usado como referência, pois o real só seria realidade no ano seguinte). O problema era que a SMC, criada naquele mesmo ano, não dispunha de orçamento, e a prefeitura estava em pro cesso de reorganização total com a chegada do primeiro prefeito de esquerda na capital alagoana. Autorizado pelo prefeito, Luiz Abílio, chefe de gabinete, conseguiu brecha orçamentária para alocar 5 mil. O restante teve de ser cavado junto à iniciativa privada. Mas Arthur era uma lenda e a palavra Moscou sempre teve sua magia, mesmo entre as altas finanças: João Tenório, pela Cooperativa dos Usineiros, liberou 5 mil e José Martinez, pela Salgema, mais cinco. Zezinho Nogueira, líder da construção civil, viabilizou (via a Prévia, sua empresa) os cinco mil finais na forma de mão de obra e material para a montagem da estrutura na areia da praia de Pajuçara. Léo Villanova, pela 666, cuidou da campanha publicitária. E foi uma maravilha o espetáculo!
POPULARIZANDO O PIANO
Estive com Arthur noutras ocasiões, e uma das mais marcantes foi durante as comemorações pelos 40 anos de fundação da Sococo, em 2006, quando Emerson Tenório proporcionou, como belo presente de aniversário da empresa para o público alagoano, um espetáculo solo de Moreira Lima na praia de Ponta Verde. As apresentações de Arthur Moreira Lima primavam, além da excepcional qualidade musical, pela mesclagem das partituras, alternando Mozart, Tchaikovsky, Chopin, com Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga... e sempre eram aulas, com a explicação sobre cada peça, cada compositor. Ele voltou a Alagoas várias vezes, numa delas a bordo de seu projeto “Piano pela Estrada”, numa magnífica apresentação em Penedo, à céu aberto, tendo o então governador Ronaldo Lessa entre os presentes – sempre com a fabulosa mistura entre erudito e popular, onde coube, além de Hekel Tavares e Luiz Gonzaga, até o hino do Fluminense.
Ao bom camarada Arthur, o Pelé do Piano, glória eterna!
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