02 abril 2025

Palavra de poeta

EU E MEU CÁRCERE
Maurílio Rodrigues* 

Eu e meu cárcere.
Esse buraco numa caverna,
Em que me encontro agora.
De configuração em ciclo,
Para, sequer disponibilizar
Um encontro de linhas.
 
Nesse escuro cárcere,
A luz sou eu,
O som sou eu,
E todas as coisas
Resume- se a mim.
Por mais que quisesse,
Ele não me permite sair,
Pois na verdade,
Esse cárcere
É o meu interior.
 
Alguns dias penso,
Que não chegarei
Nem mesmo ao amanhecer,
Pois, meu alimento,
É solidão e sofrimento,
Alternando com  horas ,
De escuridão total.
Pois, dentro de mim,
A luz do sol não pode entrar.
 
Meu cativeiro
É dentro de mim.
Aqui, rezo o meu rosário,
Fazendo de meus dedos
As contas do meu terço.
Assim, vou me confundindo,
Com o meu destino,
E suas circunstâncias.

[Ilustração: Chaïm Soutine]

*Médico cardiologista, poeta
 
Leia também um poema de Mia Couto https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/palavra-de-poeta-mia-couto_24.html 

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