14 maio 2025

Editorial do 'Vermelho'

Lula reforça na Rússia e na China alianças pelo desenvolvimento do Brasil
Presidente reafirmou Brasil como importante ator em cenário de declínio dos EUA e formação da nova realidade multipolar
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A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Rússia e à China tem grande relevância. No caso da Rússia, tem o simbolismo do “Dia da Vitória”, evento que celebrou os oitentas anos da derrota do nazifascismo. A celebração remete à história da luta contra a barbárie, uma conjuntura formada pelas crises do capitalismo ante o avanço das ideias socialistas. No conflito, a União Soviética ergueu-se com sua força política, ideológica e militar contra a barbárie nazifascista.

A presença de Lula remete também à história da luta contra as forças reacionárias no Brasil, que tem no século 20 feitos de heroísmos, como o combate à extrema direita na trajetória de ascensão e queda do nazifascismo e, mais recentemente, à ditadura militar. A presença de Lula em Moscou evoca esse histórico e traz para a contemporaneidade a marca de um governo que mostrou estar ao lado dos ideais de soberania e autodeterminação dos povos, da defesa democracia num momento de crescimento da extrema direita.

Lula relatou que discutiu diretamente com o presidente russo, Vladimir Putin, o interesse do Brasil em uma resolução pacífica para o conflito na Ucrânia e se disse à disposição para facilitar o diálogo. Destacou também que fez a visita à Rússia para dizer que o Brasil está defendendo o fortalecimento do multilateralismo, argumento que se liga à proposta, em conjunto com a China, de maio de 2024, de uma solução pacífica para a guerra, recusada pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

A ausência de representação do Reino Unido, França e Estados Unidos, aliados da União Soviética no combate ao nazifascismo, recebeu críticas de Lula. Ele lembrou que toda a Europa deveria “estar festejando” a data. Esses países optaram por reavivar antigas hostilidades à Rússia na forma de nova conflagração diplomática e, no caso do conflito na Ucrânia, de aberta ingerência – inclusive militar – numa região definida por fronteiras históricas, assunto que deve ser resolvido pelas partes envolvidas.

A ingerência na verdade tem como pano de fundo interesses imperialistas movidos pela diplomacia de guerra do governo estadunidense, pela ofensiva ideológica midiática e por ameaças sistemáticas de uso militar, expressas na expansão desenfreada e ostensiva da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para Leste.

No plano interno, a grita reacionária contra a viagem da comitiva do Brasil à Rússia, sob a liderança de Lula, expressa o ideal de sempre: a conhecida retórica midiática carregada de hipocrisia e estereótipos. É o alinhamento acrítico e interesseiro das oligarquias às potências ditas “ocidentais”, um conluio para submeter o país aos ditames neocoloniais, traduzido por Lula como “exploração política”. “Se tudo for exploração política, você não pode fazer nada”, disse.

O Brasil firmou importantes acordos na Rússia, entre eles um memorando de entendimento voltado à promoção da pesquisa conjunta em diversas áreas, como clima, pesquisa polar, biodiversidade, biotecnologia, pesquisa nuclear, ciência e tecnologia espacial, tecnologias quânticas, astrofísica, física de astropartículas, pesquisa científica marinha e geodésia numa reunião entre a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, e o ministro de Ciência e Educação Superior da Rússia, Valery Falkov. Segundo o ministro russo, o memorando ajuda a dar continuidade nas parcerias entre os países do BRICS nesse momento em que o Brasil está sucedendo a Rússia na presidência do grupo.

Luciana Santos destacou a importância da cooperação com a Rússia. “Poderemos intensificar uma nova frente de ação, além das tradicionais atividades conjuntas que temos na área nuclear, por meio da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e da Companhia Estatal de Energia Nuclear da Rússia (Rosatom), e espacial, por meio da Agência Espacial Brasileira (AEB) e da Roscosmos”, afirmou.

Na China, numa visita de Lula com duração de quatro dias, já foram anunciados novos investimentos de R$ 27 bilhões no Brasil e acordos para a promoção de produtos brasileiros no mercado chinês. “Na última década, a China saltou da 14ª para a 5ª posição no ranking de investimento direto no Brasil. Trata-se do principal investidor asiático em nosso país, com estoque de mais de US$ 54 bilhões”, disse Lula, que participará do IV Fórum Ministerial China-Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), juntamente com os presidentes do Chile e da Colômbia.

Essa é a quarta visita de Lula à China, um processo de fortalecimento de relações comerciais e políticas iniciadas em seus governos anteriores, transformando o gigante asiático em principal parceiro comercial do Brasil. Em 2025, o intercâmbio já soma aproximadamente US$ 38,8 bilhões. Para sublinhar a importância que o Brasil atribui à relação sino-brasileira, o presidente Lula afirmou que essa relação “é indestrutível”.

A viagem do presidente Lula a Moscou e a Pequim tem grande relevância no cenário mundial de mudanças, de declínio dos Estados Unidos e formação de uma realidade multipolar, na qual o Brasil precisa definir suas alianças estratégicas na região da América Latina e no plano mundial. Essa realidade internacional conturbada, a um só tempo é carregada de riscos e oportunidades. E o Brasil, a exemplo de outros países do Sul Global, acerta ao buscar alianças estratégicas que impulsionem o desenvolvimento soberano.

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