10 setembro 2012

Consciência social e busca do voto

O bolo e o glacê na peleja eleitoral
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Folha 

O objetivo óbvio é a conquista do voto. Mas entre a intenção e o resultado há um espinhoso e às vezes turbulento caminho a percorrer, palmilhado por ideias, propostas e, em alguns casos, busca ansiosa de um fato fortuito, uma denúncia ou lance de efeito que possa, pela emoção, superar a dificuldade de convencer pela argumento.

Emoção e razão, entretanto, não podem caminhar em paralelo, devem estar entrelaçadas, sob pena de artificialismos estéreis.

Quando a campanha para cargo executivo – prefeito, governador, presidente – se inicia mal posicionada politicamente, esse equilíbrio se torna inalcançável. O discurso colide com a realidade, não obtém aderência junto ao eleitorado e mesmo a técnica apurada no programa de TV resulta inútil.

Diferentemente, o bom posicionamento político faz-se ponto de partida de uma trajetória ascendente, pela razão exata de que o discurso combina com a prática, encontra sustança na realidade concreta, sensibiliza, conquista e empolga.

A propaganda bem feita na TV, no rádio, na internet e nos meios impressos ajuda, sim; mas não faz milagres. Às vezes, a carência de recursos técnicos apurados prejudica, mas não impede a vitória. Em última instância, o essencial é a empatia com o eleitor mediante propostas e gestos que o conquiste e o leve não apenas a apoiar, mas a admirar o candidato.

Não se trata de tese. Essas considerações refletem a experiência acumulada, para além da observação empírica. E cabem na hora presente: que o debate de ideias flua tão natural quanto o parto aos nove meses de gestação, respeitando-se as diferenças, submetendo-se ao crivo popular projetos díspares. A tentativa de turvar o debate com manobras verbais diversionistas ou a busca inglória do “fato novo” capaz de mudar (sic) o curso da disputa certamente não encontram receptividade num eleitorado que amadurece a cada pleito, ainda que o senso comum o julgue despreparado e desatento.

Arraes advertia que em tempos de liberdade reconquistada, pós ditadura militar, já não temíamos os canhões e as baionetas, o risco a partir de então era não sermos compreendidos porque entre a palavra e o ouvinte se interpunha a mistificação midiática. Hoje é possível concordar ainda com a observação arguta do ex-governador, porém vale sublinhar que a experiência democrática das últimas três décadas vem plasmando uma consciência social que se eleva.

Recife, cidade rebelde (no dizer de Agamenon) historicamente tem sido palco de campanhas polarizadas e duras, em que ao final sempre se decide entre candidaturas que se distinguem não exatamente pelo invólucro, mas pela consistência – ou seja, vale mais o bolo do que o glacê.

Não há nenhuma razão para que se supor que neste abençoado ano de 2012 o resultado seja outro. A maioria certamente optará por quem se apresente capaz de arrostar os desafios atuais e futuros, em favor de uma cidade mais humana.

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