Fagulha
Ana
Cristina Cesar
Abri
curiosa
o
céu.
Assim,
afastando de leve as cortinas.
Eu
queria entrar,
coração
ante coração,
inteiriça
ou
pelo menos mover-me um pouco,
com
aquela parcimônia que caracterizava
as
agitações me chamando
Eu
queria até mesmo
saber
ver,
e
num movimento redondo
como
as ondas
que
me circundavam, invisíveis,
abraçar
com as retinas
cada
pedacinho de matéria viva.
Eu
queria
(só)
perceber
o invislumbrável
no
levíssimo que sobrevoava.
Eu
queria
apanhar
uma braçada
do
infinito em luz que a mim se misturava.
Eu
queria
captar
o impercebido
nos
momentos mínimos do espaço
nu
e cheio
Eu
queria
ao
menos manter descerradas as cortinas
na
impossibilidade de tangê-las
Eu
não sabia
que
virar pelo avesso
era
uma experiência mortal.
[Ilustração: Tereza Costa Rêgo]
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