Caso Eletrobras, instituições sem responsabilidade pública
Luis Nassif, Jornal GGN
O Brasil está indefeso. Lobbies atuam em
defesa de interesses de mercado, de compradores de estatais, mas não há uma
instituição sequer em defesa do país. A votação do Tribunal de Contas da União
(TCU), de aprovar por 7 x 1 a privatização da Eletrobras é a prova maior. Assim
como a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de permitir a venda de
subsidiárias das estatais.
Tome-se,
primeiro, o caso das refinarias da Petrobras. Para a privatização houve até o
impensável, o CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico) impondo à
Petrobras a obrigatoriedade de vender suas refinarias e gasodutos, em nome da
competição. Quando o país retomar o controle democrático, os diretores do CADE
que cometeram esse abuso mereciam ser julgados.
Primeiro,
pelo fato de um órgão de regulação não poder se sobrepor a uma questão
constitucional – o monopólio da Petrobras. Depois, pelo engodo de vender a
ideia de que a existência de refinarias privadas trariam competição ao mercado.
Mentirosos,
com mentiras aceitas pela mídia. Pelo próprio custo do transporte de
combustíveis, cada refinaria tem o monopólio de fato na região em que está
instalada. A soma de absurdos fez com que a refinaria Ataulpho Alves, da Bahia,
fosse vendida para um sheik árabe que se aproximou da família Bolsonaro através
de um professor de jiu jitsu da família Gracie. E sua primeira decisão foi
aumentar o preço dos combustíveis.
Em relação à Eletrobras, o abuso é maior
ainda. A Eletrobras é a maior geradora de energia do país. E parte relevante de
sua geração é vendida a distribuidoras através de contratos que garantem preços
módicos.
No
momento em que for privatizada, essa energia será jogada no mercado livre, com
dois efeitos imediatos. O primeiro, o aumento substancial dos lucros,
beneficiando os acionistas atuais. O segundo, a divisão do mercado em dois
grupos. O das grandes empresas fechará contratos razoáveis com
comercializadoras de energia. Os consumidores residenciais e pequenas e médias
empresas arcarão com um salto enorme nos custos da energia.
Se
é uma questão com tais desdobramentos, o que explica a insensibilidade do TCU e
do próprio STF? O fato de não haver instituições que se considerem responsáveis
pelos interesses gerais do país.
É
um país jogado à própria sorte, no qual quem tem influência consegue lucros
assombrosos, e a rapa se vê jogada à própria sorte. Como se pretende construir
uma Nação assim? Como os conselheiros Aroldo Cedraz, Jorge Oliveira, Benjamin
Zimler, Bruno Dantas, Antonio Anastasia e Augusto Nardes se sentirão, mais à
frente, quando houver a explosão das tarifas? Se considerarão responsáveis pela
alta? Ou confiarão no déficit de informação nacional, quem varrerá para baixo
do tapete relação de causalidade e de responsabilidade.
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