Copa vai derrubar muitas máscaras
de preconceituosos
Alguns machistas se acham
respaldados por estarem no Qatar
Walter
Casagrande, Folha de S. Paulo
O futebol não é só uma bola rolando. Futebol é política social,
é luta por igualdades.
A bola rola, os gols acontecem, mas o esporte não deveria ser
conivente com a falta de respeito aos direitos humanos, não deveria aceitar
homofobia nem tratamento às mulheres como seres inferiores.
A Copa no Qatar é
tudo isso, com a conivência da "senhora" Fifa.
No dia da abertura, vimos as mulheres ignoradas na
cerimônia e naquela torcida "masculina" do Qatar, que de
espontaneidade não tinha nada.
No segundo dia, ocorreram três jogos, e o primeiro deles foi a goleada por 6 a 2 que a
Inglaterra aplicou no Irã.
Alguns
capitães das seleções, entre eles Harry Kane, planejavam entrar em campo com a
braçadeira nas cores do arco-íris e as palavras "One Love", mas foram
ameaçados de punição pela Fifa, que deixa claro nesta Copa de qual lado da história está.
Foi um ótimo jogo do English Team, com toques rápidos, muita
movimentação e troca de posições. Isso ficou evidente na atuação de seu
artilheiro Kane, que não fez gols, mas participou direta ou indiretamente das
jogadas de gols. É um atleta de inteligência futebolística rara nos tempos de
hoje.
Já a seleção do Irã mostrou o que todos já sabíamos: fragilidade
técnica e de competitividade enorme.
Porém, os seus jogadores não
cantaram o hino em protesto, a favor dos direitos das mulheres, e
seus torcedores também se
manifestaram nas arquibancadas.
Mas na entrevista coletiva, o treinador do Irã, o português
Carlos Queiroz, se mostrou contrário às manifestações, ao dizer: "Todos os
iranianos são bem-vindos ao estádio. Eles têm o direto de criticar o time. Mas
aqueles que causam perturbações com problemas fora o futebol não são
bem-vindos".
Para esse senhor, perturbações são protesto a favor dos direitos
das mulheres, e não o contrário.
Esta Copa vai derrubar muitas máscaras de preconceituosos e machistas que se
acham respaldados por estarem no Qatar.
Já o segundo jogo era o mais esperado: Holanda x Senegal.
Mané, o grande astro, não só pela bola que joga, como também pela preocupação
com direitos humanos e as crianças de rua de seu país, infelizmente se machucou
e está fora da Copa.
O jogo, no entanto, foi muito bom. As duas seleções primaram
pelo ótimo passe em progressão, sempre pensando em agredir o adversário.
O time de Van Gaal tentou se impor o tempo todo, mas correu
riscos quando demorava para recuperar a bola. O Senegal, além do ótimo toque, tinha
a esticada pelos lados para pular a marcação do ataque holandês.
Mas no final da partida, com dois vacilos de um dos melhores
goleiros do mundo, Mendy, a Holanda fez dois gols e matou o jogo.
Já o terceiro jogo do dia, Estados Unidos x País de
Gales, vi no aeroporto, esperando o meu embarque para Doha. Uma
partida entre equipes parecidas.
São dois times que jogam duro, com muita força física, e por
isso se equivalem. Os americanos conseguiram chegar ao seu gol ainda no
primeiro tempo, com Timothy Weah (filho do craque George Weah), que demonstrou
velocidade e ótima finalização.
O segundo tempo teve entrega total. Os galeses foram para cima,
atrás do empate e deixando brechas. Foi uma luta digna de Copa do Mundo.
O empate só veio no final da partida, de pênalti, com uma batida
forte, precisa e de uma das grandes estrelas da Copa, Gareth Bale.
O English Team terá que jogar muito focado contra esses dois
adversários.
O meu próximo texto já será em terras qataris, no clima da Copa,
mas também observando atentamente tudo o que se passa ao redor de mim e todas
as pessoas.
Leia também: Capital do Qatar é uma selva de aço e vidro, sem fronteiras entre a miséria e a riqueza, porque os pobres são excluídos mesmo https://bit.ly/3hVTfB9
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