Os
juízes que comprometeram a Justiça
Do exibicionismo inicial, nasceram os juízes
guardas da esquina; dos juízes guardas da esquina nasceu o bolsonarismo
Luís Nassif, Jornal GGN
Parece que foi a uma eternidade, mas foi outro dia, juíz colocando
selfies tiradas em academias, juiz participando de comícios e exibindo a
musculatura, procuradores se apresentando como salvadores da pátria e querendo
sua parte em cachês, Ministros do Supremo dando palestras remuneradas.
Não creio que tenha havido outro tempo com tal desmoralização do
Judiciário. Para conseguir controlar o Supremo, a ditadura precisou aposentar
vários Ministros que não perderam a dignidade. Houve o Estado Novo, um Supremo
que levou Olga Benário para a morte, com apoio dos jornais da época, Mas o
exibicionismo vulgar é uma criação contemporânea, fruto da insanidade de
transmissões de julgamentos da corte, transformando personalidades mais
vaidosas em simulacros de influencers.
De Olga Benário à Lava
Jato
Ao longo da história, a imagem da Justiça
foi salpicada por atos dos Ministros Bento de Farias, Carlos Maximiliano,,
Eduardo Spindola e Edmar Pereira Lins, executores de Olga Benário;
por Vicente Rao, o Ministro da Justiça implacável; por Joaquim Barbosa, que
usou o mensalão para uma revanche da vida; de Luis Roberto Barroso, Luiz Edson
Fachin e Luiz Fux, que embarcaram na onda da Lava Jato. Barroso valeu-se de
estratégias de marketing campeãs. Enquanto seu escritório preparava minutas de
Projetos de Lei para lobistas de grandes empresas apresentarem ao Congresso,
ele atuava pro bono em boas causas.
Empossado Ministro atropelou todos os princípios da Justiça, foi
autor da declaração mais estapafúrdia em período democrático – a de que o
Supremo tinha obrigação de ouvir a “voz do povo”. E chegou a ir aos Estados
Unidos visitar grandes escritórios de advocacia, em um programa destinado a explorar o mercado
de compliance no país.
Assim como Pedro Aleixo alertou que o
problema das ditaduras eram os “guardas da esquina”, o deslumbramento das
cúpulas promoveu os “guardas da esquina” do Judiciário, juízes sem um pingo de
medo do ridículo.
O ovo da serpente
Definiu-se um padrão de exibicionismo inédito para o Judiciário, a
partir do momento em que juízes foram transformados em atração da mídia pela
Lava Jato e que a imagem do julgador foi substituída pela do juiz da força,
midiático, halterofilista, tocador de guitarra, profeta da nova ordem.
Há imagem mais ridícula do que um juiz exibindo a musculatura em selfies
na academia, ou um juiz brandindo uma metralhadora em um helicóptero e saindo
correndo como se fosse um membro da Swat?
Agora, um responde a processos, depois de impichado do cargo de
governador; o outro responde a um inquérito do Conselho Nacional da Justiça.
Mas sua herança fica.
Do exibicionismo inicial, nasceram os juízes guardas da esquina; dos
juízes guardas da esquina nasceu o bolsonarismo.
O
instigante mundo atual https://bit.ly/3Ye45TD
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