20 setembro 2023

Minha opinião

Sobre terreno minado e movediço
Luciano Siqueira


O presidente Lula enfrenta, sob todos os títulos, o maior desafio de toda a sua trajetória política.

Óbvio?

Nem tanto.

É que o ex-líder sindicalista tem vivido situações as mais complexas e desafiantes no transcurso de tantas lutas. Governar mais uma vez o Brasil obviamente tem uma dimensão extraordinária, mas necessariamente não teria o status de maior desafio se o fizesse sob outras circunstâncias.

As circunstâncias de agora, internas e internacionais, são de tal monta complexas que de fato exige do presidente, mais do que liderança, descortino de estadista.

Pois se é fato que o Brasil retomou seu protagonismo internacional em alto estilo, navegando com bom proveito nos oceanos revoltos da transição a um novo desenho geopolítico multipolar, é verdade também que forças poderosas, fincadas em território nacional e articuladas com os interesses sobretudo de Wall Street, pressionam incessantemente por uma adesão ao roteiro praticado pelos Estados Unidos e seus aliados da União Europeia em nome de um ocidentalismo fora de época.

E, no plano interno, o presidente caminha como hábil e corajoso equilibrista sobre corda esticada pelas contingências macroeconômicas ultra liberais, tensões recorrentes com as Forças Armadas e múltiplas chantagens por parte das bancadas parlamentares de centro-direita.

A retomada de políticas sociais compensatórias vêm alcançando o êxito. A inclusão de 2,15 milhões de famílias no Bolsa Família nos últimos seis meses é bom exemplo.

Mas a superação de limites orçamentários impostos por um fiscalismo antipopular e antinacional ainda não se deu. O novo arcabouço fiscal e a reforma tributária não chegam a arranhar de fato os interesses essenciais do rentismo dominante.

Ainda que fosse mais do que o líder popular que é e adquirisse feições de estadista, Lula teria ainda muita dificuldade de trabalhar com descortino mais largo porque o governo carece ainda de um handicap indispensável: o apoio ativo de amplas e diversificadas camadas da sociedade, expresso nas ruas de modo a repercutir sobre a postura dos demais atores salientes na cena política.

Sim, além de ter que transitar sobre terreno minado, é preciso dar forma e consequência a um pacto social progressista que impulsione o governo a passos mais largos.

Navegar é preciso, viver não é preciso https://bit.ly/3Ye45TD

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