Na busca do voto nem tudo vale a pena
Luciano Siqueira
Na busca do voto, tudo vale a pena? Para muitos, sim; para quem assume compromissos reais perante o povo e preza o aperfeiçoamento do processo democrático, seguramente não. Daí a necessidade de se dar atenção ao conteúdo da pregação dos candidatos, tanto ao Executivo quanto aos postos legislativos – e, na medida da consciência (e do grau de exigência) de cada um, estabelecer um crivo mais ou menos rigoroso na definição do voto.
Tirante a minha condição de postulante, cá com meus botões e no exercício elementar da cidadania, sinto-me à vontade para comentar o assunto. Por duas razões: uma, o pouco caso da grande mídia em relação aos programas dos candidatos à presidênciada República e aos governos estaduais. Serra, que – diga-se – tem rebaixado muito o seu discurso, corretamente reclamou outro dia de um repórter do execessivo destaque ao “tititi” (expressão dele) da política, em detrimento das propostas dos candidatos. E é a pura verdade. O que em nada ajuda na elevação do nível de consciência do eleitorado.
A outra razão: a avalanche de material de proganda (através de todas as mídias, inclusive a internet) despida de conteúdo. Ou, melhor dizendo, de contéudo primário e anódino. Através dos Correios, então, tenho recebido em minha casa panfletos que nada dizem além do nome e do número do candidato e, quando muito, uma vaga promessa de defender boas causas (sem especificar quais).
Por e-mail, dentre várias, recebi uma peça emblemática. O autor do texto, quadro político outrora respeitado, anuncia a sua opção por uma dupla de candidatos a deputado federal e estadual justificando-a pela “vocação de ambos para a atividade política” e pelo “apoio que ambos me deram após as eleições de 2008”. Ou seja: o leitor que se vire para saber qual o sentido e o conteúdo dessa suposta “vocação” (um link com os “perfis” dos candidatos só funciona para quem usa determinado software), assim como trate de compartilhar a gratidão do missivista por ter sido ajudado em presumível momento de dificuldade.
Isso me faz lembrar Walfrido Canavieira, personagem de Chico Anísio da década de setenta, na Rede Globo, que ao discursar para a multidão terminava com a expressão: “palavras são palavras, nada mais do que palavras”.
Isso dá resultado? Alguém pode pensar que sim – e até dá mesmo, vez que quem esconde conteúdo em geral esbanja oferta de benesses passageiras, no mais exaercerbado fisiologismo, em que se apóia para conquistar parcelas não raro expressivas do eleitorado menos esclarecido. Porém em médio e longo prazo, creio que não, pois é visível a progressiva formação de uma consciência social avançada em nosso País, do resulta um eleitorado crescemente exigente.
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