20 dezembro 2017

Uma crônica para descontrair

Meus amigos na varanda
Luciano Siqueira, no Blog da Folha e no portal Vermelho

Costumo dizer que tenho um milhão de amigos —e isso me faz um bem enorme!
Inimigos pessoais não os tenho. Pelo menos que eu saiba.

Alguns desafetos, certamente. Nas redes sociais. Todos em razão das minhas posições políticas, quer dizer: gente que não concorda comigo e que se deixa contaminar pelo vírus antidemocrático da intolerância.

Estes se manifestam de vez em quando. Agressivos, desrespeitosos, odientos. Mau humorados. Não querem debater, limitam-se ao desaforo. Não tenho tempo sequer para me deter em suas diatribes; os ignoro tranquilamente e os bloqueio.

Já os amigos e amigas me dão um enorme prazer, inclusive quando me criticam e expressam opiniões diferentes das minhas.

Conservo boas amizades construídas no curso da luta política, desde o movimento estudantil na década de 60 do século passado, exatamente com pessoas de correntes políticas divergentes. Afinidades que perduram até hoje e que, paradoxalmente, brotaram em meio a intensas polêmicas.

Essa é uma das razões da minha profunda gratidão a duas entidades que me educaram assim: a minha mãe Oneide, para quem desrespeitar a opinião do outro era “falta de caridade”; e ao PCdoB, que forma seus militantes para a busca da unidade entre os diferentes.

Pois bem. Nessa matéria de amizades prazerosas acrescento também uma penca de beija flores e canários da terra, que visitam a varanda, a área de serviço e a janela do meu quarto, em meu apartamento, onde encontram estrategicamente dependurados pequenos bebedouros contendo uma garapa feita de água e mel.

Especialmente na varanda, onde me quedo numa rede e alterno a leitura, o devaneio, o sonho e o sono. 

Na rede, à noite, quando posso, às vezes admiro a lua, outras vezes converso com as estrelas.
Durante o dia, bem cedinho, antes de sair para a caminhada matinal, ou em momentos vespertinos do sábado ou domingo (quando a agenda permite), meu diálogo é com eles, meus amigos beija flores e canários da terra. 

Falamos linguagens diferentes, é verdade. Mas creio que nos entendemos muito bem. Eles bebem da água adoçada, circulam pela varanda, pousam sobre os punhos da rede, emitem sons harmoniosos e me olham com afetuosa curiosidade.

Eu os observo encantado e me permito reminiscências de criança, quando imaginava o teor de conversas entre os pássaros e atribuía papéis e “missões” aos muitos guerreiros do meu exército de canários, pintassilgos, galos de campina, azulões...

Nunca fui inclinado a ter em casa animais de estimação — cães, gatos e que tais. Por um período curto, quando na clandestinidade, um pequeno cágado circulava pela casa.

Passarinhos, sim — porém preferencialmente dessa forma como convivo com os beija flores e os canários da terra: livres para virem até aqui quando necessitarem e sair quando quiserem, jamais presos em gaiolas.

Da mesma forma como desejo que vivam meus amigos e amigas: livres para sonhar, amar, pensar e lutar segundo suas crenças e ideais. Sempre.


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