Pesquisa da Unicamp, Fiocruz e UFMG mostra que adolescentes têm piora no sono, no humor e no aprendizado durante a pandemia
Uma pesquisa
divulgada nesta semana e desenvolvida em parceria pela Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas), pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e pela UFMG
(Universidade Federal de Minas Gerais) revela que os adolescentes enfrentam piora no
sono, na alimentação, no humor e no aprendizado durante a pandemia da Covid-19.
A Convid
Adolescentes – Pesquisa de Comportamentos foi realizada com 9.470
adolescentes, de 12 a 17 anos, de todo o país. O levantamento
foi feito entre 27 de junho e 17 de setembro por meio de
questionário preenchido pelo adolescente por celular ou computador, após
autorização do responsável.
De acordo
com os resultados publicados no site da Faculdade de Ciências Médicas da
Unicamp, o percentual de adolescentes que tiveram diagnóstico
de Covid foi de 3,9%. Na comparação por sexo, o percentual para o sexo
masculino foi de 4,3% e, para o feminino, de 3,6%. Na comparação por
faixa etária, foi de 4,9% entre os de 16 a 17 anos e de 3,5% entre os de 12 a
15 anos. Diferenças por região também foram encontradas. O percentual de
diagnóstico da doença variou de 2,1% na região sul do país a 6,1% na
região norte.
Sobre
o isolamento social, a maioria (71,5%)
aderiu às medidas de restrição social, com 25,9% em restrição total e 45,6% em
restrição intensa, saindo apenas para supermercados, farmácias ou casa de
familiares.
Considerando
a restrição intensa e a total restrição de contatos com outras pessoas, a maior
proporção ocorreu no sul do país (74,1%), enquanto o menor percentual (66,1%)
ocorreu no norte. Diferenças foram encontradas por faixa etária. Enquanto
os mais novos aderiram em maior proporção à restrição social total (27%), os
mais velhos mostraram maior proporção de adesão à restrição social intensa
(50,7%).
Considerando
o estado de saúde geral, 30% achou que a sua saúde piorou durante a pandemia.
Diferenças foram encontradas por sexo e faixa etária, com as meninas relatando
maior proporção de piora do estado de saúde (33,8%) do que os meninos (25,8%),
e os adolescentes mais velhos (37%) mais do que os mais novos (26,4%).
Em relação à
qualidade do sono, o percentual de adolescentes que relataram piora durante a
pandemia foi de 36%, sendo que 23,9% começaram a ter problemas com o sono na
quarentena e 12,1% relataram que já enfrentavam
problemas anteriormente, que pioraram. A qualidade do sono foi mais
afetada entre as meninas e nos adolescentes com 16 a 17 anos, em relação aos
mais novos.
A sensação
de estar isolado dos amigos foi observada por 32,8% dos adolescentes,
sendo que 22,4% deles disseram ter esse sentimento na maioria das
vezes e 10,4% sempre tiveram esse sentimento durante o período. Sentir-se
isolado foi mais frequente entre as meninas e entre os adolescentes mais
velhos.
De acordo
com a pesquisa, 31,6% dos adolescentes se sentiram tristes na maioria
das vezes ou sempre. O relato de tristeza na maioria das vezes ocorreu em 22,4%
dos adolescentes e 9,2% se sentiu sempre triste durante a pandemia. O
percentual de sentimento de tristeza foi duas vezes maior nas meninas. Entre
elas, 27,7% se sentiram sempre tristes. O relato do sentimento de tristeza na
maioria das vezes ou sempre foi maior entre os adolescentes mais velhos (38,3%)
do que entre os mais novos (29,6%).
Sentir-se
preocupado, nervoso ou mal-humorado foi relatado por 48,7% dos adolescentes, na
maioria das vezes ou sempre. Entre as meninas, o percentual foi de 61,6%. Os
adolescentes de 16 a 17 anos relataram esse sentimento mais frequentemente (55,3%)
do que os de 12 a 15 anos (45,5%). Cerca de 20% dos adolescentes (19,3%)
sentiu sempre preocupação, nervosismo, ou mau humor –27,7% das meninas e 10,8%
dos meninos.
O consumo de
alimentos não saudáveis em dois dias ou mais por semana também aumentou entre
os adolescentes durante a pandemia. Foi registrado aumento de consumo de 4%
para pratos congelados e de 4% para os chocolates e doces. Destaca-se a maior
ingestão de doces e chocolates entre as meninas: 58,1% das adolescentes
consumiram doces em 2 dias ou mais por semana. Já o padrão de consumo de
alimentos saudáveis, tais como frutas e hortaliças, foi similar antes e durante
a pandemia.
Sobre a
prática de atividades físicas, 40% não praticaram exercícios por 60
minutos em nenhum dia da semana durante a pandemia. O percentual de jovens que
não faziam esse tempo de atividade física em nenhum dia da semana antes da
pandemia era de 20,9% e passou a ser de 43,4%. A prática de 60 minutos de
atividade física em cinco ou mais dias semanais diminuiu em torno de 13 pontos
percentuais, de 28,7 para 15,7%.
Em
isolamento, mais de 60% dos adolescentes relataram ficar por mais de 4 horas em
frente às telas de computador, tablet ou celular. Entre os adolescentes de 16 a
17 anos, o percentual alcança 70%. O tempo sedentário aumentou cerca de duas
horas durante a pandemia. O tempo que os adolescentes costumavam ficar sentados
assistindo a televisão ou jogando videogame aumentou de 3 horas e 20
minutos antes da pandemia para 5 horas e 3 minutos durante a pandemia.
Dificuldades
em acompanhar as aulas de ensino a distância (EAD) foram
citadas pelos adolescentes: 59% relataram falta de concentração, 38,3% falta de
interação com os professores, 31,3% falta de interação com amigos. As meninas
relataram maior dificuldade em acompanhar as aulas, principalmente em relação à
falta de concentração e falta de interação com professores. Enquanto 10,7% dos
meninos não teve nenhuma dificuldade, o percentual foi de 6,9% entre as
meninas. Entre os adolescentes de 16 a 17 anos, 65,5% citaram falta de
concentração como dificuldade para acompanhar as aulas.
Em relação
ao entendimento do conteúdo das aulas no EAD, 47,8% dos adolescentes relataram
estar entendendo pouco (51,3% das meninas e 44,1% dos meninos) e 15,8% disseram
não estar entendendo nada (17,4% das meninas e 14,1% dos meninos). Os
mais velhos têm mais dificuldades no entendimento do conteúdo das aulas
remotas. Apenas 1 em cada 4 adolescentes de 16 a 17 anos relatou estar
entendendo tudo ou quase tudo das aulas presenciais.
Todas as
respostas da Convid Adolescentes – Pesquisa de Comportamentos foram
anônimas e sem qualquer outro tipo de identificação dos participantes. O
convite aos participantes foi feito por um procedimento de amostragem em
cadeia. Na primeira etapa, os pesquisadores do estudo escolheram pais de
adolescentes de diferentes estados brasileiros para iniciarem o processo.
Após
preencher o questionário, os adolescentes convidavam outros jovens pelas redes
sociais, compondo a cadeia de recrutamento. Adicionalmente, a equipe de
coordenação da pesquisa entrou em contato com escolas públicas e privadas e
secretarias estaduais e municipais de educação, por meio de e-mail
institucional. As instituições que aderiram à pesquisa enviaram os
questionários eletrônicos para os alunos.
Desafios atuais de um Partido centenário https://bit.ly/3aqiB45
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