21 março 2023

Desigualdade no mundo

Crises relacionadas à água colocam em risco 190 milhões de crianças

Relatório aponta que doenças, mudança climática e falta de serviços de saneamento e higiene afetam especialmente 10 países da África Ocidental e Central, regiões com maior insegurança hídrica e climática do mundo; estudo é divulgado às vésperas da Conferência da Água, de 22 a 24 de março.
ONU News

 

O Fundo da ONU para Infância, Unicef, alertou nesta segunda-feira que cerca de 190 milhões de crianças em 10 países africanos estão em risco devido a “tripla ameaça” relacionada a questões da água: doenças, alterações climáticas e condições de higiene e saneamento.

O estudo, divulgado às vésperas da Conferência da Água da ONU, revela onde as crianças enfrentam mais riscos e onde o investimento em soluções deve ser urgente para evitar mortes desnecessárias.

Impacto da seca para crianças

Para o diretor de Programas do Unicef, Sanjay Wijesekera, a África está enfrentando uma catástrofe hídrica. Ele adiciona que enquanto os choques climáticos e relacionados à água estão aumentando globalmente, em nenhum outro lugar do mundo os riscos aumentam tão severamente para as crianças.

O representante do Unicef ainda alerta que as secas já estão destruindo instalações e casas, contaminando os recursos hídricos, criando crises de fome e espalhando doenças.

Segundo ele, por mais desafiadoras que sejam as condições atuais, sem uma ação urgente, “o futuro pode ser muito mais sombrio”.

Crise da água e conflitos

Os países mais afetados são Benin, Burquina Faso, Camarões, Chade, Costa do Marfim, Guiné Conacri, Mali, Níger, Nigéria e Somália, tornando a África Ocidental e Central uma das regiões com maior insegurança hídrica e climática do mundo.

Muitos dos países mais afetados, principalmente no Sahel, também enfrentam instabilidade e conflitos armados, agravando ainda mais o acesso das crianças à água potável e ao saneamento.

Nos 10 locais, quase um terço das crianças não tem acesso a água em casa e dois terços não têm serviços básicos de saneamento.

O estudo aponta que um quarto das crianças não tem escolha a não ser praticar a defecação a céu aberto. A higiene das mãos também é limitada, com três quartos das crianças incapazes de lavar as mãos por falta de água e sabão em casa.

Vítimas da falta de serviços de saneamento

Como resultado, esses países também carregam o fardo mais pesado de mortes infantis por doenças causadas falta de serviços adequados, como as diarreicas. O estudo aponta que seis dos 10 enfrentaram surtos de cólera no ano passado.

Globalmente, mais de mil crianças menores de cinco anos morrem todos os dias de doenças relacionadas a problemas com água, com cerca de dois em cada cinco concentradas apenas nesses 10 países.

Essas nações também estão entre os 25% dos 163 países do mundo com maior risco de exposição a ameaças climáticas e ambientais. Temperaturas mais altas aceleram a replicação dos micro-organismos, que estão aumentando 1,5 vezes mais rápido do que a média global em partes da África Ocidental e Central.

Vulnerabilidade a ameaças climáticas

Os níveis das águas subterrâneas também estão caindo, exigindo que algumas comunidades cavem poços com o dobro da profundidade de apenas uma década atrás. Ao mesmo tempo, as chuvas se tornam mais inconstantes e intensas, levando a inundações que contaminam os escassos recursos hídricos.

Todos os 10 países críticos também são classificados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Ocde, como frágeis ou extremamente frágeis. O conflito armado em alguns países ameaça reverter o progresso em direção à meta global sobre acesso à água potável e ao saneamento.

O Unicef cita que Burquina Faso tem visto uma escalada de ataques a instalações de água como uma tática para deslocar as comunidades: 58 pontos de acesso ao recurso foram atacados em 2022, contra 21 em 2021 e três em 2020.

Como resultado, mais de 830 mil pessoas, sendo mais da metade das quais são crianças, perderam o acesso à água potável no ano passado.

Mortes causadas pela seca na Somália

Em outro relatório, divulgado pelo Unicef em parceria com a Organização Mundial da Saúde, OMS, as agências apontam que 43 mil pessoas morreram em meio à maior seca registrada na Somália em 2022. Metade das vítimas provavelmente eram crianças menores de cinco anos.

A previsão é de que a seca no Chifre da África deixe cerca de 18 a 34 mil vítimas nos primeiros seis meses de 2023. Essas estimativas sugerem que, embora a fome tenha sido evitada por enquanto, a crise está longe de terminar e já é mais grave do que a crise da seca de 2017-2018.

A Somália enfrenta cinco temporadas consecutivas de chuvas fracas. A situação deixou milhões de pessoas enfrentando insegurança alimentar aguda e quase 2 milhões de crianças em risco de desnutrição.

As Nações Unidas precisam de mais de US$ 2,6 bilhões para atender às necessidades prioritárias de 7,6 milhões de pessoas em 2023.

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