03 maio 2024

Cláudio Carraly opina

Construindo resiliência: desafios e estratégias diante dos eventos climáticos extremos

Cláudio Carraly*



A crescente instabilidade climática lança uma sombra cada vez mais ameaçadora sobre o destino da humanidade, eventos climáticos extremos, outrora raros e excepcionais, agora são assustadoramente comuns. Inundações avassaladoras, secas prolongadas, tornados devastadores e ondas de calor insuportáveis assolam comunidades em todo o mundo, inclusive e crescentemente no Brasil. Nossa diversidade climática e a vasta extensão territorial do país não o imunizam contra a fúria da natureza, inundações recorrentes, secas intermináveis e ondas de calor extremo em todo o território nacional servem como um lembrete cruel da vulnerabilidade da nação diante dos caprichos do clima.

O Brasil enfrenta desafios monumentais diante das crescentes mudanças climáticas globais, para responder de forma eficaz a esses desafios, é imperativo adotar uma abordagem abrangente e multifacetada que não apenas mitigue os impactos adversos, mas também promova a resiliência e a sustentabilidade a longo prazo, pois o problema veio para ficar. Uma parte essencial dessa resposta envolve o compromisso com o financiamento adequado e a alocação inteligente de recursos, é fundamental que os governos em todos seus níveis, estabeleçam políticas claras de financiamento sob o prisma climático, garantindo que os recursos necessários estejam disponíveis para implementar medidas de adaptação e mitigação em todas cidades mais vulneráveis do país, além disso a mobilização de financiamento internacional, bem como a exploração de instrumentos financeiros inovadores, como títulos verdes e fundos de resiliência climática.

Além disso, é crucial reconhecer e incentivar o papel ativo da sociedade civil, das comunidades locais na resposta às mudanças climáticas, o engajamento comunitário promove a participação das comunidades afetadas e fortalece a solidariedade em nível local. No entanto, a resposta do Brasil não pode ser apenas uma questão de infraestrutura e financiamento, também deve abordar questões de justiça climática, garantindo que as medidas adotadas levem em consideração as necessidades e os direitos das comunidades mais vulneráveis. Isso significa proteger os direitos das populações indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais, bem como garantir uma distribuição equitativa dos benefícios conseguidos para o enfrentamento das situações extremadas.

Além disso, é essencial promover a adaptação resiliente em todos os setores da sociedade, isso inclui a promoção de práticas agrícolas sustentáveis, o planejamento urbano que leve em consideração os riscos climáticos e a proteção dos ecossistemas naturais que desempenham um papel fundamental na regulação do clima, por fim, a resposta do país às mudanças climáticas deve ser informada por um monitoramento e avaliação contínuos e crescentes, garantindo que as medidas implementadas sejam eficazes e permitindo ajustes conforme necessário em cada nova circunstância. Além disso, o monitoramento e avaliação transparentes fornecerão a fundamental prestação de contas, garantindo que os recursos sejam utilizados de forma eficiente e que os objetivos de sustentabilidade e qualidade de vida sejam alcançados.

Em suma, construir resiliência diante do nível críticos das mudanças do clima global, requer uma abordagem abrangente que integre financiamento, parcerias eficazes, justiça climática, adaptação em todos os setores e monitoramento contínuo, somente através de esforços coordenados e sustentados, poderemos enfrentar efetivamente os desafios climáticos e construir um futuro mais seguro para toda cidadania. Diante desse cenário desafiador, o poder público, em todas as suas instâncias, precisa agir com urgência e determinação, a implementação de uma nova ferramenta como a “Operação Inverno Permanente”, aliada à reinvenção da Defesa Civil, tirando-a de uma situação de coadjuvante para protagonista das administrações, configuram-se como um escudo vital para proteger a população brasileira dos impactos gerados pelos climas extremos e minimizar os efeitos devastadores destes nas populações atingidas.

A realidade imposta, demanda uma resposta enérgica e estratégica por parte das autoridades, a inexistência de ações concretas pode resultar em consequências catastróficas para milhões de pessoas a proposta da Operação Inverno Permanente, concebida como um plano de ação contínuo e abrangente, surge como uma resposta eficaz a essa realidade premente. Não se trata apenas de lidar com as consequências imediatas das intempéries, mas sim de adotar uma abordagem proativa para observar situações que podem a se tornar críticas futuramente e operar com vistas a minimizar os danos potenciais protegendo as comunidades mais vulneráveis. 

O inverno, antes uma estação de serenidade e contemplação, tornou-se uma época de ansiedade e apreensão para milhões de brasileiros, as chuvas torrenciais, as inundações repentinas, os deslizamentos de terra e as temperaturas oscilantes colocam em risco a vida e o bem-estar das comunidades mais suscetíveis. A ausência de um plano de ação permanente e compartilhado expõe desnecessariamente a população a elevados perigos e dificulta os esforços de recuperação em áreas afetadas.

Essa operação não é apenas uma medida reativa, mas sim uma estratégia proativa e contínua para lidar com os desafios impostos pelos eventos Climáticos extremados, esse programa deve atingir várias frentes de atuação, desde o monitoramento constante e alerta precoce até a implementação de medidas de prevenção e a capacitação de equipes de resposta emergencial e imediata. Implementar ainda sistemas avançados de monitoramento climático, utilizando tecnologias como radares meteorológicos e sensores de inundação, ferramentas essenciais para identificar e prever com precisão a ocorrência de eventos extremos.

A precisão e a prontidão das informações são essenciais para mitigar os impactos desses, investir em tecnologias de monitoramento sofisticadas permite uma identificação precoce de padrões climáticos adversos, possibilitando uma resposta rápida e eficaz das autoridades e comunidades afetadas, salvando vidas e diminuindo os prejuízos materiais. Realizar obras de infraestrutura robusta, como barragens, canais de drenagem, barreiras de contenção, sistemas de alerta sonoro, reflorestamento e desapropriação de áreas de risco, é crucial para minimizar os impactos das inundações e deslizamentos de terra. 

A construção e manutenção de infraestrutura resiliente desempenham um papel crucial na redução da vulnerabilidade das comunidades às catástrofes naturais, investir em projetos de engenharia civil que fortaleçam as defesas contra inundações e deslizamentos de terra pode salvar vidas e proteger propriedades durante os crescentes períodos adversos. Estabelecer canais de comunicação eficazes com a população, utilizando mídias tradicionais e digitais, é fundamental para informar sobre os riscos iminentes e orientar sobre as medidas de segurança a serem tomadas, a informação é uma ferramenta poderosa na gestão de crises, estabelecer canais de comunicação confiáveis e acessíveis permite que as autoridades transmitam alertas e orientações de segurança de maneira direta e eficaz, capacitando os cidadãos a tomar medidas imediatas para proteger suas vidas e ajudar ao conjunto da sociedade.

Criar equipes multidisciplinares de resgate e salvamento, treinadas e equipadas para atuar de forma rápida e eficiente em situações de emergência, é crucial, uma resposta eficaz a desastres requer uma abordagem coordenada e colaborativa entre diversos órgãos e agências governamentais. Equipes de resgate bem treinadas e equipadas são fundamentais para garantir uma resposta rápida e eficiente em situações de crise, reduzindo o tempo de resposta e maximizando o impacto das operações de socorro, elaborar planos de contingência detalhados para cada região, levando em consideração suas características climáticas, topografia e suas vulnerabilidades, é essencial, as necessidades e desafios enfrentados por diferentes regiões variam significativamente de acordo com suas peculiaridades, sejam climáticas, ou socioeconômicas. Desenvolver planos de contingência específicos, adaptados às realidades locais, é essencial para garantir uma resposta eficaz a desastres e maximizar os recursos disponíveis durante situações de crise.

A Operação Inverno Permanente busca não mais se limitar a um período específico do ano, ela deve ser vista como uma ação contínua, com planejamento permanente e investimentos constantes, para garantir a segurança da população durante todo o ano, reconhecer a natureza contínua e multifacetada dos desafios climáticos doravante é fundamental para o sucesso. O compromisso com o planejamento a longo prazo e o investimento continuado em medidas preventivas e de resposta a desastres são essenciais para garantir a eficácia e a sustentabilidade desse programa ao longo do tempo. A adaptação às mudanças climáticas em curso exige uma abordagem dinâmica e flexível, capaz de responder às ameaças e aos novos desafios que surgem continuamente. Portanto, essa operação deve ser concebida como um processo em constante evolução, sujeito a revisão e aprimoramento contínuos com base em dados e experiências acumuladas e troca sistemática de conhecimentos.

A Defesa Civil desempenha um papel fundamental na proteção da população em situações de risco e desastres naturais, no entanto, sua eficácia está diretamente ligada à sua capacidade de se adaptar às demandas e desafios em constante evolução. Para garantir uma resposta eficaz e ágil às emergências, é imperativo investir na modernização e no fortalecimento dessa instituição vital, dotar a Defesa Civil de infraestrutura moderna e eficiente, incluindo centros de controle de operações, salas de situação e sistemas de comunicação avançados, é crucial. A infraestrutura adequada é o alicerce sobre o qual repousa a capacidade da Defesa Civil de coordenar e executar operações de resposta a desastres de forma eficaz e célere, centros de controle de operações bem equipados e sistemas de comunicação robustos são essenciais para garantir a coordenação eficiente das atividades de socorro e assistência imediata a população.

Implementar tecnologias de última geração, como drones, sistemas de geoprocessamento e ferramentas de modelagem de risco, é essencial para auxiliar na avaliação de áreas de risco, no monitoramento de eventos climáticos e na elaboração de planos de contingência. O uso de tecnologias avançadas pode ampliar significativamente a capacidade da Defesa Civil de coletar dados, analisar ameaças e planejar intervenções de forma precisa e eficaz. Também é fundamental investir na capacitação constante dos profissionais da Defesa Civil, através de cursos, treinamentos e workshops, além de intercâmbio nacional e internacional para aprendizado de novas abordagens e boas práticas. Ressalte-se que o conhecimento e as habilidades dos profissionais da Defesa Civil desempenham um papel crucial na eficácia das operações de resposta a desastres, investir na formação e no aprimoramento contínuo desses indivíduos é fundamental para garantir que estejam adequadamente preparados para enfrentar os desafios complexos e em constante evolução associados à gestão de crises que nos dias atuais são crescentes.

Fortalecer a integração da Defesa Civil com outros órgãos públicos federados, como, Forças Armadas, e o Corpo de Bombeiros, para facilitar a coordenação das ações de resposta a desastres, é essencial, a colaboração e a cooperação entre diferentes entidades governamentais são essenciais para garantir uma resposta eficaz e coordenada a desastres de grande escala. Estabelecer mecanismos de integração e coordenação entre a Defesa Civil e outras instituições relevantes, inclusive secretarias de saúde, assistência, educação, dentre outras, permite uma utilização mais eficiente dos recursos disponíveis e uma resposta mais ágil às emergências.

Inúmeros países ao redor do mundo já implementaram medidas eficazes para lidar com eventos climáticos extremos, estudar e aprender com as experiências e melhores práticas desses países pode fornecer saberes valiosos e orientar a formulação de políticas públicas e estratégias mais eficazes para fortalecer a resiliência do Brasil diante das mudanças climáticas, ao adotar uma abordagem ativa e multifacetada, combinando medidas de prevenção, preparação, resposta e recuperação, o país pode fortalecer significativamente sua resistência diante dos desafios impostos. 

Investir de imediato na implementação de uma Operação Inverno Permanente e na modernização da Defesa Civil é um passo crucial para proteger vidas, preservar recursos e promover a segurança e o bem-estar de todos os cidadãos brasileiros. No entanto, para garantir o sucesso dessas iniciativas, é essencial um compromisso contínuo com a inovação, a colaboração internacional e a conscientização do conjunto da população, somente através de esforços coordenados e sustentados, o Brasil poderá enfrentar efetivamente os crescentes desafios climáticos e construir um futuro mais seguro e sustentável para os que aqui estão mas também para as gerações vindouras.

*Advogado, ex-secretário executivo de Direitos Humanos de Pernambuco
O direito de ter a própria opinião https://bit.ly/3vIZjUP

3 comentários:

Anônimo disse...

artigo/matéria espetacular, sensata, abrangente e desafiadora ... parabéns

Anônimo disse...

Obrigado pelo carinho

Cláudio Carraly disse...

Fico feliz que tenha gostado, obrigado de coração