A parceria com a China é mais do que a rota da Seda
O próprio modelo de desenvolvimento da China - e o modelo precursor de desenvolvimento do Brasil dos anos 50 - ensina o caminho.
Luis Nassif/Jornal GGN
A superficialidade da cobertura midiática transformou o Ministro Celso Amorim em adversário da Rota da Seda. Sua posição é de racionalidade. Há duas formas de integração, a comercial e a industrial. A Rota da Seda ambiciona aproximar a China dos mercados afastados, como América do Sul. Uma integração comercial com a China, sem maiores cuidados, significará o fim da industrialização brasileira. Por isso mesmo, as relações Brasil-China têm que se situar em um patamar muito mais elevado.
O próprio modelo de desenvolvimento da China – e o modelo precursor de desenvolvimento do Brasil dos anos 50 – ensina o caminho.
O Brasil é muito mais relevante para a China do que a China para o Brasil – apesar de ter se tornado o maior parceiro comercial do país. Mas é uma relação comercial desbalanceada, na qual o Brasil exporta commodities e compra produtos industrializados. Além disso, o Brasil é peça chave nas disputas geopolíticas da China, como grande liderança do Sul Global.
Isso, mas o mercado de consumo brasileiro, permite ao país uma negociação muito mais efetiva com a China. Nessa negociação tem que se conseguir avanços em várias áreas:
- Transferência de tecnologia.
- Espaço para o capital privado nacional, seja como acionista de filiais de empresas chinesas, seja como fornecedores.
- Criar cotas de preferência para exportações das filiais chinesas no país.
- Parcerias em novas áreas relevantes, como telecomunicações e lançamento de satélites.
Reduzir todas essas possibilidades a um mero acordo em torno da Rota da Seda é subestimar o potencial da parceria chinesa.
No início dos anos 2.000, a Embraer fechou um acordo com a China. Pelo acordo deveria transferir tecnologia para uma empresa chinesa. Em troca, teria acesso por alguns anos ao mercado interno da China. Foi esse mesmo pragmatismo que permitiu à China, depois de ter se transformado no chão de fábrica do capitalismo mundial, tornar-se uma gigante industrial.
Obviamente, acordos desse porte não podem ficar restritos a conversas de gabinete. O governo deveria convocar a Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, os quadros do CGEE, as instituições empresariais para um amplo balanço das contrapartidas a serem propostas à China.
Junto com a Neo Industrialização, com os programas de transição energética, aos poucos vai se constituindo o quadro para o grande salto brasileiro para a próxima etapa da economia, depois de termos perdido a etapa da digitalização.
Leia sobre o Brasil visto pela China https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/04/brasilchina-perspectivas.html
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