Findas as eleições 2024, o que mesmo nos dizem as urnas?
Enio Lins
Muitas são as interpretações das vozes das urnas neste ano da graça do voto municipal. No meritório e indispensável conflito das ideias, teses e antíteses, temos pouco tempo e muitos torvelinhos de paixões políticas para decantar, sedimentando conclusões mais acuradas. E já estamos cara a cara com as eleições 2026.
QUE MUDOU?
Numa primeira vista d’olhos, percebem-se poucas mudanças em relação ao longo de uma década, quando as eleições de 2016 e 2020 mantiveram a proeminência do chamado “Centrão”, com crescimento de lideranças e siglas mais posicionadas à direita, e o surgimento e salto do bolsonarismo. Confirma-se também a tremenda dificuldade dos partidos ditos de esquerda em acompanhar as performances presidenciais de Lula. Observemos o caso paulistano: a única novidade foi o destaque da candidatura-marginal de Pablo Marçal, engolindo 1.719.724 votos (28,14% dos votantes) e exibindo força como uma candidatura escatológica de extrema-direita, diferentemente de quatro anos atrás, onde o eleitorado paulistano não se sensibilizou com as bizarrices de Arthur do Val “Mamãe Falei” (mas cravou 9,7% dos votos) nem de Joice Hasselmann (com 1,8%). No c&ocir c;mputo final paulistano, Boulos nada acrescentou a seu desempenho em 2020 (quando obteve 40,62% dos votos no 2º turno, e neste ano cravou 40,65%); e a extrema-direita, embora tenha sua parcela de culpa na recondução do sorumbático Nunes, ficou a reboque da centro-direita hoje emedebista, ontem tucana, na pauliceia despudorada (Bruno Covas ganhou com 59,38% em 2020 e Nunes levou com 59,35% em 2024). Obviamente, a reeleição segue comprovando “a força da máquina”: 81% dos nomes que buscavam seguir na cadeira abocanhou o segundo mandato (porém, em 2008, esse índice foi de 95%).
RENOVAÇÃO É A QUESTÃO
Um velho dilema se reforça com esses resultados municipais: o nó górdio da renovação de lideranças, processo sempre tumultuoso e marcado por insucessos em boa parte do mundo. Nacionalmente, no campo da direta, se fortaleceu o tal Tarcísio, governante que surgiu de repente, aterrissado de paraquedas em São Paulo, em 2022, lançado na rabeira da candidatura de Jair Messias naquele ano, e viabilizado pela união férrea da centro-direita com a extrema-direita no mais rico Estado brasileiro. O atual governador paulista – a quem o insosso Nunes agradeceu e dedicou a vitória na reeleição, deixando o mito de lado – passa a incomodar seu criador e mexe para jair se alevantando como postulante à faixa presidencial. No território canhoto, danadamente, nada alumiou o cenário pós-Lula; e a centelha alvissareira de João Campos, faiscando desde o Recife, tem sobre si o peso da triste tradição do petismo só se engajar em candidaturas da própria sigla. Assim, apesar do baque no banheiro, que lhe rendeu uns pontos na cabeça e sobressaltou o país, Lula segue sendo a única esperança democrática para 2026, mesmo lá chegando aos provectos, e temerários, 81 anos de idade.
E AS CÂMARAS?
Sim: é de bom alvitre olhar com mais atenção o quadro pintado pelas urnas para o cenário das 58 mil cadeiras nas Câmaras Municipais, a base real da pirâmide eleitoral. Nenhum partido considerado canhoto figura nas cinco melhores posições dessa tabela da edilidade Brasil afora. Confira a lista, publicada n’O Globo, das 10 siglas que mais elegeram, por ordem decrescente: 1º) MDB, com 8.114 vereadores; 2º) PP, com 6.953; 3º) PSD, com 6.625; 4º) UB, com 5.490; 5º) PL, com 4.961; 6º) REP, com 4.649; 7º) PSB, com 3.593; 8º) PT, com 3.130; 9º) PSDB, com 3.002; 10º) PDT, com 2.503 assentos. Não é brinquedo não, gente.
Leia 'Editorial' sobre as eleições municipais https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/10/editorialo-do-vermelho.html
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