Naasson e a
Caixa do Tempo
Abraham
B Sicsu
7 de novembro, data que me é muito significativa. Meu pai faria 114 anos. Lembro sempre, todo ano, muito aprendi, muito vivi, muito afeto tive, ele me ensinou. Este ano, 2025, algo especial vai acontecer.
Também na família, à
qual me agreguei, faz quase cinquenta anos. Uma efeméride inusitada, esperada
por muitos anos, um século se passou. Envolve o avô de minha mulher, Naasson
Figueredo.
Naasson nasceu em
Pombos, na Mata pernambucana. Região das casas de farinhas, das plantações de
macaxeira. Não terminou o primário, mas, autodidata, leu de tudo da literatura
universal. Sua paixão, a História, fez com que estudasse os fortes de
Pernambuco e Paraíba. Escreveu e se tornou sócio do Instituto Arqueológico de Pernambuco.
Trabalhou no campo,
mas foi para a cidade. Empregou-se na extinta Livraria Francesa de onde passou
para o Diário de Pernambuco. Lá foi noticiarista, como se chamavam os que
escreviam e buscavam notícias, tipo de reportes que participa da redação. E,
esteve presente no centenário do Jornal, centenário que à época foi comemorado,
onde começa nosso relato.
Vocês sabem o que é
uma “Caixa do Tempo”? Muito comum em comemorações de datas significativas, pelo
menos há pouco tempo atrás.
Preservar a memória,
prever passos futuros. A Caixa é um recipiente, com formas e materiais
variados, em que se depositam documentos e objetos para serem abertos no
futuro, para contar a história vivida e os sinais que ela aponta para um tempo
vindouro.
Exatamente, algo que
não pode ser revelado num determinado momento, mas que se deseja ser conhecido
num futuro, em geral, distante.
Naasson fez uma
participando das comemorações. Mais precisamente uma Lata do Tempo. Quando o
Diário completava cem anos. Teria que ser aberta, nos duzentos anos.
Depositou no
Instituto Arqueológico, pelo orgulho que tinha da Instituição a que pertencia.
Na frente, um aviso em letras garrafais, no português como escrito à época:
“Esta lata contem a notícia exacta de tudo quanto fez o DIARIO DE PERNAMBUCO
para solenizar o seu primeiro centenário , em 7 de novembro de 1925. Oferecida pelo sócio deste “INSTITUTO”
Naasson Figueredo com a condição de somente ser aberta em 7 de novembro de 2025”
Mistério, por que
esperar cem anos? Que segredo estaria protegido? As pessoas daquela época não
conheceriam nunca? Aguça a curiosidade, faz com que se aguarde com interesse o
momento.
Pois é, assim foi
feito. A data está chegando e começam os preparativos.
A família e o
instituto se mobilizam. A única filha viva mora distante e com dificuldades de
locomoção, 96 anos, não poderá se fazer presente. Mas, seus quatro filhos já
confirmaram a presença. Passagens na mão virão de longe.
A esposa de outro
neto também confirma seu deslocamento para o Recife. Bisnetos e até tataraneta
estarão presentes. Todos querendo saber o que será revelado, uma data que junta
a descendência entorno de um evento por demais esperado.
O Instituto honra a
tradição e prepara a comemoração conforme o desejo de seu antigo membro.
Prepara-se para o acontecimento. Às 15
horas será aberta. Um frugal, mas muito significativo brinde. Um pequeno cálice
de vinho do Porto e um pedaço de pão de ló. Não qualquer um. Da tradicional
Padaria de Santa Cruz, orgulho do centro festivo da nossa cidade. Tudo
organizado.
Ansiosos, esperamos o
momento. Um homem que veio do campo, se firmou pelos autoestudos e pelo desejo
de absorver conhecimento, consegue fazer com que parentes e agregados se unam
para entender melhor o que é compartilhamento e sentimento de união. Será essa
a mensagem?
Consegue, através da
curiosidade saudável, lembremos que esta é a base do método dedutivo, base da
nossa ciência que ele tanto respeitou, fazer que cem anos após gente se
desloque e, com felicidade, diga ser pertencente a este grupo que teve um
visionário.
De quê? Saberemos na
sexta feira.
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Leia: "O cheiro da tangerina", poema de Ferreira Gullar https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/palavra-de-poeta_20.html

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