Científico
estímulo à preguiça
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Leio aqui que
pesquisadores holandeses sugerem que sete ou mais horas de sono por noite podem
trazer benefícios para o coração quando combinadas a um estilo de vida
saudável. Ou seja: comer com parcimônia, não fumar, beber com moderação e fazer
exercícios físicos com regularidade.
Anoto a receita com o sentimento de que a tal pesquisa concluiu o óbvio.
Com todo o respeito à equipe de cientistas envolvida no trabalho, da
Universidade de Wageningen e do Instituto Nacional de Saúde Pública e Meio
Ambiente da Holanda, e à amostragem examinada, mais de 14 mil homens e
mulheres; e ao tempo dedicado, uma década. Mais: ao final da empreitada, 600
haviam sofrido de doenças cardiovasculares ou infarto e 129 haviam morrido, conforme
noticia o European Journal of Preventive Cardiology.
De toda sorte, o detalhe que chama atenção é o tempo desejável dedicado
ao sono. A pesquisa assevera que as pessoas que cultivam hábitos saudáveis
tinham 57% menos chances de desenvolver doenças cardiovasculares e risco 67%
menor de morrer desses males. Porém se acresce uma boa noite de sono – se 7
horas ou mais – a estimativa pula para 65% menos chances de desenvolver
problemas do coração e um risco 83% menor de morrer.
Embora analistas afirmem que esta é a primeira pesquisa sobre o tema que
enfatiza a variável tempo de sono como decisiva, com a devida ressalva – ainda
segundo a citada publicação – de que quem dorme pouco necessariamente não está
ameaçado de infarto, vejo que o assunto talvez não mereça, mas tem lá seu
interesse.
Aqui do lado uma companheira protesta: “Por que estão diminuindo a
necessidade de sono? Sempre soube que é de pelo menos oito horas por dia!”
Já o companheiro que se aproxima para bisbilhotar o que escrevo, põe em
dúvida a validade das conclusões do estudo, de olho na chamada dieta saudável.
“Do jeito que vai esses cientistas vão terminar proibindo tudo o que é bom:
sal, açúcar, álcool. Falta proibir sexo! "
Cá com meus botões, mais modesto sou ao ler a notícia. Desde adolescente
me habituei a dormir em média 5 horas e meia por noite. Sempre. E me sinto
muito bem. Nem sei direito porque adquiri esse hábito. Até me lembro de uma
entrevista de James Dean, protagonista do hollywoodiano “Juventude transviada”,
em que dizia perder tempo de vida enquanto dormia. Mas o fato é que o tempo de
sono me satisfaz – e já não tenho idade para perseguir as mais de sete horas
recomendadas.
Pelo sim, pelo não, por mais que a conclusão dos cientistas holandeses
nos pareça banal, vale prestar atenção. E seguir as recomendações, se possível.
Desde que o bolso permita e as noites possam ser bem dormidas, livres de
angustias financeiras e dores amorosas. Preguiçosamente.
“Aí também já é o paraíso!”, exclama o outro bisbilhoteiro aqui do lado.
(É que escrevi essas despretensiosas linhas enquanto espero o início de uma
reunião plenária do PCdoB).
Bom sono a tod@s!
[Ilustração Simone Cosac Naify]
Crônica publicada no Jornal da Besta Fubana em julho de 2013
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Leia também: A militância nossa de cada época https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_29.html

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