01 agosto 2012

A palavra instigante de Jomard


Picasso
Por QUEM escreveremos poemas de amor?
Jomard Muniz de Britto, jmb setentonto
Qual a diferença entre a Boa Vista do
Recife e a Bela Vista de SãoPaulo?
Recantos familiares de igrejas, bares,
pensões e padarias. Entrelugares do ócio,
teatralidades e oficiosos negócios.
Além do simbólico, sua JANGAda nem partiu
pro mar nem desencantou nosso bemquerer.
Todas as coisas AINDA estão cheias de
deidades que não (a)guardam nem
desesperam pela ressalva das palavras.
Para QUEM escreveríamos poemas d'amor?
Florbela Espanca e Fernando Pessoa
continuam TROCANDO OLHARES esquecidos
dos visgos do virtuosismo.
Boa Vista, Bela Vista: sem o azul do ar
sobrevoando azulejos em ruínas e mofos.
Pode ser mais fértil sair dos armários
da intelectualidade do que mendigar
versos simulados da beleza sublime.
Por que poetizar cidades-enigmas
reencantando corações solitários?
Poetas da sagração da primavera tremem
diante de Lady Gaga, enquanto renegamos
nossa mental e metálica gagueira.
Bela Vista, Boa Vista dos Beatles e
Aves Sangradas. Versos perVERtidos.
Cidades cheias de fome nos becos, mares,
avenidas, manguezais, oceanos, auroras
longe de João Cabral e Josué de Castro.
Por que , QUEM continuar escreVIVENDO
poemas de amor e indignação?
Tão inúteis quanto chupar picolé de
frutas cítricas e depois ir ao cinema
São Luiz libidinando em câmera alta.
Tudo já revisitado?
Entrelugares de fumaça, vapores,
paradas e tabloides para QUEM
confundir est'ética da crueldade
com narcisismo falocrático e ou
vômito dos egolombrismos.
Recife, agosto 2012.

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