19 agosto 2012

Uma crônica minha no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

Sabe com quem está falando?
Luciano Siqueira
Íamos entrando, com Luci e os companheiros sergipanos Ana e Bosco Rolemberg na antiga Livraria Síntese, no Recife, quando o cidadão de estatura mediana, corpo roliço, calvície pronunciada e raros cabelos grisalhos, óculos discretos, nos aborda:
- Siqueira, tá lembrado de mim? Diga meu nome...
- Ih, rapaz, vá desculpando, seu nome...
- Não sabe meu nome!?
- Não é bem assim, a memória é que está falhando...
- Pois entre, faça sua compra, que vou ficar esperando pra ver se você lembra.
Era o “Mês do autor pernambucano”, com muitos títulos interessantes, da Bagaço, da Massangana, da Editora da UFPE. Gilvan Lemos, Raimundo Carrero, Gilberto Freyre, Amaro Quintas, Manoel Correia de Andrade, Ariano Suassuna, Ascenso Ferreira. Óbvio que minha atenção se concentrou nos livros, esquecendo por completo o cidadão que nos cobrava a lembrança do seu nome. Ao passar no caixa e me dirigir à porta de saída, lá estava o dito cujo a insistir:
- E aí, lembrou?
- Rapaz, desculpe, não teve jeito de lembrar, você sabe, vendo os livros... Como é o seu nome mesmo?
- Isso é um absurdo! Você não reconhecer um eleitor seu, não admito. Pois não vou dizer o meu nome! – E saiu visivelmente contrariado.
Escapou para sempre. Jamais o vi. O pior é que relembrando muitas vezes o inusitado diálogo, nunca me veio à memória exatamente de quem se tratava. Não tem jeito mesmo.
Hoje, passado o tempo e diante de novas tarefas públicas, natural o contato com muita gente. E que esteja sujeito a situações embaraçosas como aquela. Sobretudo para quem tem boa memória para fatos, idéias, circunstâncias – mas sempre teve dificuldade em fixar números, datas e, a partir de um primeiro e breve contato, nomes.
Agora, não há porque esconder. Tem duas coisas que me embaraçam e me angustiam. Uma, é quando no melhor de uma festa alguém vai ao microfone e interrompe a música e a dança para que o “nosso companheiro possa dirigir uma mensagem a vocês”. A gente fica com cara de desmancha prazer. Diz qualquer coisa e quase sai correndo.
A outra é quando gente como aquele nosso indigitado eleitor nos aborda:
“Tá lembrado de mim? Diga de onde?”

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