23 fevereiro 2016

Contra a reforma da Previdência

Uma equação equivocada

Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Quem apoia também critica - na intenção de corrigir erros, alterar a agenda. Como agora: o governo se equivoca ao colocar a reforma da Previdência na ordem do dia, como uma espécie de moeda de troca para aprovar o retorno (necessário) da CPMF.
Merece a crítica.
O erro é antes de tudo político: como manter e ampliar o apoio popular ferindo interesses diretos da massa de trabalhadores?
Óbvio que o movimento sindical deve se levantar contra a anunciada reforma. Muito mais do que por dever corporativo; em defesa do desenvolvimento nacional.
Isto porque os argumentos em favor de uma reforma da Previdência são inconsistentes e livram a cara do principal culpado pela explosão da dívida pública: os juros astronômicos, que beneficiam o setor rentista.
Estudiosos isentos e não comprometidos com o "mercado" são unânimes ao afirmarem que o nó górdio das contas públicas não está nos gastos com a Previdência, mas sim nos juros, que entram no Orçamento como gastos correntes.
Em 2015, os juros altos levaram o governo a despender nada menos do que 501 bilhões de reais, equivalente a 80% do déficit público. 
As despesas com a Previdência, por seu turno, aumentaram apenas 6 bilhões de reais, correspondente a 1,4%/ano.
Sabe quanto os juros cresceram no mesmo período? 130 bilhões de reais! Isto significa 21 vezes mais que o déficit decorrente das despesas previdenciárias.
Ao final, justo o principal causador da crise global, que também nos atinge duramente agora - o capital financeiro, o rentismo - sai premiado.
O mesmo que vem acontecendo nos EUA e na Europa onde, desde final de 2007 e início de 2008 a crise global atual começou. Os que comandam a ultrafinanceirização da economia extorquem a produção via usura, são os que têm o domínio das medidas de enfrentamento da crise... por eles mesmos criada.
O Brasil não pode entrar nessa. Será renunciar à continuidade do crescimento econômico com expansão de postos de trabalho e respeito aos direitos fundamentais.
Pelo que está posto, mais uma vez, na quebra de braço entre a especulação versus produção, ganhará a especulação.
A usura não leva o País à superação da crise, antes a agrava.
Cumpre aos segmentos mais avançados da base do governo, a exemplo do PCdoB, e aos movimentos sociais, pressionarem a presidenta Dilma para que mude essa infeliz equação. 
Imediatamente.
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