22 agosto 2016

Prática democrática

As redes sociais e o debate
Nagib Jorge Neto, no Diário de Pernambuco

As redes sociais vêm dando espaço às pessoas que usam a internet para emitir opiniões, críticas, louvações, quase sempre na expectativa de ter apoio, elogios ou divergências. Nesse aspecto, as críticas, discordâncias, com frequência tendem a ser julgadas como reflexo de posições políticas, ideológicas, contra ou a favor de ideias, atos e fatos ligados a temas que a mídia enfoca como verdade absoluta. Na prática, as redes se aliam, ou vão além dos jornais, emissoras de televisão e rádio que difundem versões com base em delações, acusações ou ilações.   
Nessa linha, o debate perde sua essência e elegância, com agressões, xingamentos, que na maioria dos casos termina sendo motivo de expressão de ódio, raiva, baixo nível, visível em momentos, situações, que separam conhecidos, amigos ou pessoas que nunca se viram, nem tampouco é possível saber se existem, são verdadeiras ou falsas. Apesar dessa evidência, as postagens passam a circular como provas que alguns escribas, fariseus, difundem como sendo verdadeiras.  
Esse tipo de rixa aconteceu nos anos 1970, quando alguns jornalistas, escritores, artistas, intelectuais, cidadãs ou cidadãos, usavam como arma o argumento de “patrulhamento ideológico” contra aqueles que condenavam as omissões ou posições simpáticas ao regime militar. A expressão era uma forma de tentar encerrar ou ignorar o debate, uma metáfora que visava ganhar respaldo da opinião pública, irritar, postura que redundou em rompimentos, chateações, enfim espaço para a intolerância que agora aumenta com as redes sociais, com pessoas e grupos usando xingamentos, palavrões, acusações de baixo nível.
De resto, tem um pouco a ver com a reflexão de Umberto Eco, autor de A Obra Aberta, segundo o qual as redes sociais, a internet, deu voz a “todos os imbecis”, perspectiva que afasta muita gente de comentar ou ver o que há de parcial, intolerante;  essa atitude também não ajuda em nada, pois é importante saber o que pensam os que usam com distorções as redes sociais que devem ser espaço de debate e informação com base em dados concretos.
É claro que há casos em que é impossível discutir esta ou aquela questão, na medida em que alguém decide que não quer mais conversa, nem receber notícias e comentários. Daí nada se pode fazer, pois qualquer diálogo, debate, só pode existir quando é aceita a velha regra do ataque, defesa, ironia ou raiva. Mas a tendência, infelizmente, vem sendo da intolerância e então, mais uma vez, com a palavra Umberto Eco: no fundo, a pergunta básica da filosofia (como a da psicanálise) é a mesma do romance policial: “de quem é a culpa?”. Enfim, quando há ruptura, a culpa é sempre uma indagação, porque “há tanta verdade, que é verdade demais”. Não serve ao debate, ao Legislativo, à Justiça ou à Imprensa que se proclama defensora da sociedade.  

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