Crescimento da construção civil decepciona no 3º trimestre
Valor Econômico
Setor que tem se beneficiado dos juros mais baixos, a construção
registrou crescimento no terceiro trimestre de 5,6% em relação ao segundo. Mas
o resultado decepcionou.
A alta foi considerada tímida depois do recuo no primeiro semestre e,
principalmente, dos fortes dados de produção de insumos típicos da construção e
vendas de materiais entre julho e setembro.
O PIB da construção caiu 1,7% no primeiro e 8,1% no segundo trimestre.
Na comparação com o mesmo período do ano passado, a queda de 7,9% de julho a
setembro foi menor que a de 13,6% de abril a junho. O número morno da
construção no lado da oferta também pode ter contribuído para a alta menor que
a esperada no investimento, de 11%. O setor representa quase metade desse
componente da demanda.
“Esperava um número mais vigoroso no terceiro trimestre. Os dados da
indústria de materiais de construção vieram muito fortes no período, embora não
o suficiente para recuperar as quedas anteriores”, afirma Ana Maria Castelo,
coordenadora de projetos da construção do Instituto Brasileiro Economia da
Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Ela cita em especial a produção e a venda
de cimento, que têm crescido tanto por causa do setor formal, das construtoras,
quanto do informal, de consumidores que constroem e reformam suas casas.
Ela observa que na sondagem mensal realizada pelo Ibre/FGV, o indicador
de nível de atividade mostra queda de 2% no ano, contra recuo de quase 8% no
PIB. Para o Banco Safra, o desempenho da construção civil foi a principal
surpresa negativa no PIB do terceiro trimestre divulgado ontem pelo IBGE. O
resultado do setor contribuiu para a diferença de -0,5 ponto percentual da
estimativa do PIB do Safra, de queda de 3,4%, para o realizado, de recuo de
3,9%, na comparação com o mesmo período do ano passado. O que pode estar por
trás da frustração das expectativas é o indicador de emprego na construção na
Pnad Contínua, levado em conta no cálculo do PIB.
“Os números ensaiaram uma melhora nos últimos meses, mas ainda está
muito negativo”, diz Ana Castelo. Nesse sentido, o PIB do setor poderia não
estar captando muito bem a recuperação da atividade no terceiro trimestre.
Olhando à frente, a economista diz que há uma clara perspectiva positiva na
construção, que tem sido puxada pelo mercado imobiliário. Como este é um
segmento de ciclo longo, haveria um crescimento contratado pelos negócios já
fechados nos meses anteriores, diz Ana. O Safra avalia que, apesar do resultado
menor que o esperado, o setor é muito sensível à taxa de juros, que deve seguir
baixa, e “deve impulsionar o crescimento econômico nos próximos trimestres”.
Já a sondagem de novembro mostra queda na confiança do setor, após seis
altas consecutivas, provocada pelo arrefecimento das expectativas. “Há
preocupações com a evolução da covid e há muita incerteza no cenário
macroeconômico, com a questão fiscal. Mas há um ciclo que está contratado, não
vejo isso enfraquecendo”, afirma Ana, para quem as expectativas, por enquanto,
mostram que o ambiente de negócios ficou mais incerto. É preciso ver como o
cenário vai evoluir. Na infraestrutura, onde o emprego melhorou ao longo do
segundo semestre, sobre uma base muito deprimida, o cenário segue à espera de
uma melhora nessas condições macroeconômicas. “Qualquer movimento positivo,
seja na infraestrutura, seja no segmento imobiliário não continuará à revelia
da economia”, afirma.
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