'Quem quer se vacina, e quem não quer não se vacina?' Entenda por que essa escolha não é individual
Vacinação
só irá diminuir os impactos do coronavírus se for pensada de forma coletiva. A
médio prazo, para desafogar os hospitais e os leitos; a longo prazo, para trazer
a imunidade de rebanho.
Carolina Dantas, G1
Por envolver uma atitude individual, em
que cada pessoa vai até o posto de saúde, à primeira vista pode parecer que a
vacinação é algo totalmente pessoal, na linha do "toma vacina quem
quer". Mas não é bem assim: segundo especialistas ouvidos pelo G1, a vacinação é um ato de proteção coletiva.
Além de proteger o indivíduo imunizado, a vacina contra a Covid-19 tem dois objetivos principais com importantes reflexos na coletividade:
- desafogar o sistema de saúde sobrecarregado, garantindo que não faltem vagas
- reduzir a capacidade de disseminação da doença
Desafogar
o sistema
O
papel a médio prazo para os primeiros grupos a serem vacinados – no Brasil,
serão 3 fases, incluindo profissionais
de saúde, indígenas, quilombolas, idosos, pessoas com comorbidades, entre outros -
é desafogar um sistema que já voltou a lotar. Exemplo disso é o colapso dos hospitais de Manaus
na última quinta-feira (14), quando pacientes com Covid-19
ficaram sem oxigênio.
Segundo
Domingos Alves, pesquisador da faculdade de medicina da Universidade de São
Paulo em Ribeirão Preto, a taxa de eficácia das vacinas é satisfatória, mas,
mais que isso, é muito alta quando se trata de proteger contra casos mais
graves. E são esses pacientes que lotam as unidades de saúde.
No caso da
CoronaVac, uma das vacinas em aplicação no país, Alves explica que o grupo que
recebeu a vacina, em comparação com o que não recebeu durante os estudos, não apresentou casos graves da Covid-19. O Instituto Butantan mostra que a grande maioria dos
vacinados (92%) apresentaram apenas a versão muito leve da doença, sem precisar ir
ao médico.
A perspectiva, de acordo com os especialistas entrevistados
pelo G1, é que quanto mais
gente se vacinar logo no início, menos gente terá a versão grave e, assim, será
mais fácil de tratar nos hospitais eventuais pessoas que ainda não receberam
suas doses.
O uso da máscara ainda será
fundamental, assim como o isolamento. As vacinas não garantem que o paciente
não terá Covid-19 novamente, apenas diminuem a chance de infecção e também a
gravidade da doença em relação às pessoas que não receberam. Por isso, mesmo os
vacinados ainda poderão transmitir o coronavírus. Mais uma vez, usar
máscara e ficar em casa será uma decisão também em prol do coletivo, assim como
a vacina.
"Nenhuma vacina é 100%
eficaz. Você só consegue maior proteção quando a maior parte da população se
vacina, porque quando tem muita gente vacinando, o vírus diminui a circulação
e, então, acaba protegendo também quem não está vacinado. Por isso que não é
'toma quem quer'", explica Denise Garret, epidemiologista e
vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas.
Imunidade
de rebanho
Ainda
é difícil de definir o prazo para atingir a imunidade de rebanho contra a
Covid-19 – quando a cobertura vacinal atinge um
índice que começa a frear a transmissão para quem ainda não foi imunizado.
Um dos motivos é a falta de definição de qual será a quantidade de doses
disponíveis por mês no Brasil, além de uma certa incerteza dos cientistas com
relação à porcentagem da população que é necessária para barrar a transmissão.
Por enquanto, o governo federal
prevê mais de 340 milhões de doses das duas principais vacinas, a CoronaVac, da Sinovac, e a ChAdOx1, da Universidade de Oxford em parceria com
AstraZeneca. O ministro da saúde, Eduardo Pazuello, chegou a cogitar a
aplicação de apenas uma dose na população para ampliar a margem de vacinados.
Há, ainda, a chance de uma produção maior caso o Instituto Butantan e a
Fundação Oswaldo Cruz tenham acesso a mais insumos e, no caso dos estados,
material para aplicação, como as seringas.
Com todas essas dúvidas, fica
difícil determinar uma data final da campanha, quando todos – ou quase todos -
os integrantes do grupo de risco estarão vacinados. Esse seria o momento em que
chegaremos à imunidade de rebanho.
Independente
dessas indefinições, não é possível chegar ao índice mínimo da imunidade de
rebanho sem o apoio da população, a consciência coletiva da vacinação. As
pesquisas falam em taxas que variam de 60% a 80%, mesmo número citado pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) em suas reuniões, e também por Anthony S.
Fauci, um dos principais integrantes da força-tarefa criadas pelos Estados
Unidos para responder à pandemia.
A pergunta
é: quanto tempo será necessário para atingir 60% a 80% da população? Os
pesquisadores ainda estão tentando determinar, mas acreditam que não será em
2021. Independente disso, só será possível chegar lá se as pessoas aceitarem se
vacinar. Receber uma dose é chegar mais perto da taxa que vai reduzir a
transmissão para toda a população.
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