O que deve ser considerado na hora de escolher a
escola para o seu filho
Renata Jatobá*, na Folha de Pernambuco
Não existe nada mais importante do que o período da Educação
Infantil para o desenvolvimento da criança. Logo nos primeiros momentos de
vida, a família deseja projetar as melhores vivências e contribuir com todos os
momentos de construção dos seus filhos.
Uma
das primeiras preocupações é com a escolha da escola que a criança irá
construir suas primeiras experiências fora do âmbito familiar, e que terá
contribuições significativas para a base da vida adulta.
Saber
lidar com as escolhas que poderão favorecer a elaboração da memória afetiva das
crianças, que iniciam na Educação Infantil, pode ser uma das situações mais
complexas para os pais no período inicial escolar. Tudo isso em consonância com
insegurança da família em deixar suas crianças pequenas com pessoas
desconhecidas. Essa situação potencializa e proporciona a dúvida do “como fazer
para escolher” o melhor espaço de educação para os filhos.
Como
ponto de partida dessa reflexão, vamos mencionar seis (6) elementos fundamentais para
que os pais possam compreender melhor a importância da escolha consciente para
a superação das angústias que envolvem esse momento.
Esses
elementos irão ajudar no que deve ser observado, em qualquer unidade
educacional; como contemplar de forma abrangente o ambiente seguro, planejado
para criança pequena, de maneira a facilitar as interações.
1)
O primeiro deles, e o mais importante, é o acolhimento inicial das pessoas da
escola, no momento do primeiro contato da família para conhecimento do local,
do espaço e da proposta pedagógica. O coletivo de profissionais que constituem
o espaço escolar é partícipe da proposta pedagógica que, só será amplamente
efetivada, a partir do sentimento de pertencimento dos envolvidos no ambiente
educacional.
2)
É importante observar os detalhes da rotina dos profissionais da unidade e
verificar como lidam com as crianças. Outra observação importante é perceber
como o grupo pedagógico da unidade educacional, busca trabalhar no coletivo, se
possuem atenção para com a criança que é cuidada pelo coletivo, se a criança é
vista e se é notada como criança de todos da escola; o segundo elemento diz
respeito ao conceito de educador. O conjunto dos profissionais da escola,
independentes dos seus cargos, são educadores. É preciso visualizar se a equipe
possui essa consciência, com conceitos, procedimentos e atitudes que serão
vivenciados no espaço escolar com intencionalidade educativa;
3)
O terceiro elemento refere-se à parceria e integração entre dos professores no
cotidiano escolar, ou seja, verificar se o professor solicita participação do
outro professor ou das crianças de outra turma, nos diferentes momentos de sua
aula;
4)
O quarto elemento trata da vivência na prática da proposta pedagógica
apresentada. Se a criança realmente tem a ludicidade nas vivências do seu dia a
dia, se aprende brincando e se a escola cultiva o prazer em estudar partindo do
interesse da criança e incorporando as demais temáticas estabelecidas;
5)
O quinto elemento está relacionado a formação cultural e desenvolvimento
integral da criança. Os conteúdos trabalhados na escola precisam representar a
importante ação cultural, disponibilizados por diferentes níveis. Através da
ação e do pensamento, a criança vai interagindo com informações, com as
intervenções do professor e vai construindo a sua bagagem cultural sólida e
relevante. É preciso ver o mundo de maneira integrada com os aspectos físicos,
sócio-afetivos e cognitivos e com acompanhamento individualizado e coletivo. O
processo de ensino-aprendizagem deve respeitar as reais necessidades e
conquistas das crianças;
6)
Por fim, o último elemento apresenta o olhar para a infra-estrutura que precisa
ser harmoniosa, projetada para contribuir com a proposta pedagógica
diferenciada. Sala de aula vista como laboratório de investigação, com materiais
adequados para promover o aprendizado e o cuidado com a vida das crianças
pequenas. O ambiente deve ser agradável, descontraído e seguro. E os produtos
utilizados, tanto de higiene como na alimentação, precisam ter qualidade e
cuidado com o desenvolvimento infantil.
É
importante pensarmos a escola que precisa ser para o tempo presente, século
XXI, com uma proposta pedagógica que deve nascer de uma análise do mundo
complexo, plural, conflitante. De um tempo em que a diversidade humana está em
exibição. De um espaço que os limites não são geográficos. De uma época que
existe o avanço tecnológico e a busca pela humanização. De um momento pandêmico
e de possibilidades virtuais. De um lugar onde o conhecimento ora é objeto de
poder, ora é sujeito de transformação de um contexto ora excludente, ora
envolvente. Da gestão da Avaliação que conduz a Gestão do Ensino (OLIVEIRA,
2019). De uma era ora de coisas, ora de gente. De uma ciência, com teorias, que
conduz uma prática. Isso é a conjuntura escolar.
Então,
resgatamos a pergunta: qual é a escola ideal para este tempo? Para preparação
da vida ou para o conhecimento como produto mais cobiçado do mercado? Na
educação infantil, a escola é preparada para receber a criança em suas
proporções físicas; deve-se permitir que a criança vivencie as situações do
cotidiano da vida; deve-se fazer o mundo ser sentido pela criança. Maria
Montessori (educadora, médica e pedagoga italiana, viveu entre 1870 e 1952),
pensou nisso em um tempo muito diferente deste.
A
escola precisa centrar a sua atenção na criança, nos seus interesses e
movimentos, disponibilizando a experimentação dos conteúdos da vida. Esta
proposta era nova quando o movimento da Escola Nova era novidade. As vivências
para a conjuntura do aprendizado integral da criança estão para uma base que
envolve a formação integral do ser e, também, será importante para o
aprendizado dos objetivos futuros.
Assim,
a escola precisa deixar a criança descobrir, tentar, investigar, observar e se
expressar. Era o que defendia Freinet (pedagogo francês, importante referência
da pedagogia 1896 – 1966), tempos atrás. Essa é a nossa base, ou seja, aquela
com teorias construtivistas, interacionistas, sócio-interacionistas porque a
escola é o lugar onde a criança constrói seus próprios brinquedos, suas
próprias atividades, seu próprio dia a dia. A escola é o lugar onde se faz
amigos, se brinca de forma direcionada e livremente, se faz o que é preciso e o
que se deseja. Em que se parte do contexto da criança e dos seus conhecimentos
prévios e, muitas vezes, se chega à sua própria realidade.
Entretanto,
existem versões de práticas escolares que não acreditamos, são aquelas que são
isoladas as letras como o “B”, e se desenha o “B”, se pinta o “B”, se
dramatizar o “B”, se cobre o “B”... Em nada vai contribuir se não existir o
contexto de significações para a criança. O que pensaria Piaget (cientista
suíço revolucionou o modo de compreender a educação) e Vygotsky (psicólogo
bielo-russo que realizou diversas pesquisas na área do desenvolvimento da
aprendizagem)? Poderíamos incluir Freire (educador e filósofo brasileiro mais
importante da pedagogia mundial) nessa lista.
A
escola da Educação Infantil deve ter uma proposta que trata as vivências e as
atividades considerando os direitos de aprendizagem 1) Conviver, 2) Brincar, 3)
Participar, 4) Explorar, 5) Expressar, 6) Conhecer-se - e os cinco campos de
experiências (O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons,
cores e formas; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações;
Escuta, fala, pensamento e imaginação) e de acordo com os eixos estruturantes
da Educação Infantil: interações e brincadeiras, conforme o documento oficial
da Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL, 2017).
Assim,
as crianças podem aprender e se desenvolver, a partir dos objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento e da integração dos campos de experiência. A
organização das vivências deve estar planejada para ter o protagonismo,
criatividade e autonomia e a construção investigadora da criança que devem
estar presentes desde a contação de histórias e da leitura de textos do mundo
infantil até as possibilidades que envolvem práticas híbridas e as metodologias
ativas. Essa é a escola que cada um precisa buscar para os seus filhos, a
partir da mudança de uma escola estática para uma escola transformadora na ação
prática.
*Doutora em Educação
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Base
Nacional Comum Curricular. Proposta completa. Terceira versão revista.
Brasília: MEC, 2017. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/pdf/0_BNCC-Final_Apresentacao.pdf.
Acesso em: 23 out. 2017.
OLIVEIRA, R. A. J. Saberes e práticas
pedagógicas dos professores alfabetizadores nos contextos escolares no Brasil e
na França: gestão da avaliação através da intermediação-planejada no ciclo de
alfabetização. 412 f. : Il Tese (Doutorado em Educação) – Centro de Educação,
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2019.
.
Veja:
A quem interessa o caos? https://youtu.be/yLfPBPiRBik
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