Vacine
seus filhos contra o coronavírus, é irracional ficar com medo
Pesquisa com as crianças foi
estatisticamente muito significante: eficácia de 90,7% na prevenção de sintomas
Drauzio Varella, Folha de S. Paulo
Como esse vírus vai permanecer entre nós por muitos anos, quase todas as crianças que não
receberem a vacina um dia serão infectadas. A maioria terá sintomas leves ou ficará assintomática,
mas uma minoria apresentará a forma grave da doença. E se for sua filha ou
filho?
Não é essa a mesma razão que nos faz vaciná-los
contra sarampo, difteria, coqueluche e outras doenças de curso benigno na
maioria das crianças, mas que podem causar complicações graves?
O caso da Covid é comparável: crianças infectadas costumam evoluir
com poucos ou nenhum sintoma, mas uma minoria desenvolve quadro de
insuficiência respiratória que coloca a vida em risco.
A revista Science traz os últimos dados tabulados pelos
Centros de Controle e Prevenção de Doenças, os CDC, dos Estados Unidos, os mais
completos já publicados. No início de 2020, as crianças representavam apenas 3%
dos casos de Covid, no país. Hoje, eles ultrapassam 25%, um contingente de mais
de 6 milhões. Cerca de 2 milhões pertenciam à faixa dos 5 aos 11 anos.
No fim de outubro deste ano, eram infectadas
aproximadamente 100 mil crianças americanas por semana. Entre as dezenas de
milhares hospitalizadas, um terço não apresentava problemas de saúde. Apesar de
saudáveis, muitas necessitaram de internação em UTI.
Nos Estados Unidos, já morreram 700 crianças.
Covid está hoje entre as dez principais causas de óbito na infância. Não há um
caso sequer de morte causada pela vacina.
Apesar da contundência desses dados, as pesquisas revelam que
42% a 60% dos pais americanos admitem ser relutantes ou estar decididos a não
vacinar seus filhos.
Um dos argumentos é o de que a vacinação não foi
testada em número suficiente de crianças. O estudo que levou à aprovação das
preparações da Pfizer e da Moderna (ambas com a tecnologia do RNA mensageiro)
para adultos, envolveu 40 mil participantes, enquanto aquele realizado na faixa
etária de 5 a 11 anos reuniu 2.400.
Embora com números menores, entretanto, a pesquisa
com as crianças foi estatisticamente muito significante: eficácia de 90,7% na
prevenção de sintomas da doença, isto é, apenas uma em cada dez imunizadas
apresentou algum sintoma. Não houve mortes.
Outro argumento contra a vacinação seria o risco de miocardite, processo inflamatório que
atinge as células musculares do coração. Nos estudos de acompanhamento depois
da autorização das vacinas Pfizer e Moderna, juntando crianças e adultos o
risco de miocardite foi de cinco casos em cada 1 milhão de pessoas vacinadas.
Esse risco é insignificante comparado aos problemas cardíacos provocados pela
Covid e, no caso das crianças, aos da síndrome inflamatória multissistêmica,
complicação grave que se instala em diversos órgãos (entre os quais o coração),
e pode levar às unidades de terapia intensiva e ao óbito.
Além disso, como a dose aplicada em crianças equivale a um
terço daquela administrada aos adultos, a possibilidade de miocardite se torna mais improvável.
Estudos conduzidos em Israel e nos Estados Unidos mostraram que a incidência de
miocardite pós-vacinal na faixa etária de 12 a 15 anos é mais baixa do que na
população de 16 a 25 anos de idade. Por analogia, nas crianças com 11 anos ou
menos devemos esperar riscos mais baixos ainda.
Todos os que tivemos ou têm filhos pequenos
vivemos a experiência de vê-los com resfriados de repetição, contraídos a
partir do momento em que são mandados para a escola. Crianças brincam juntas,
correm e se aglomeram na hora do recreio, impossível mantê-las distantes umas
das outras. Depois, trazem para casa os vírus que circulam no ambiente escolar,
agem como vetores de transmissão para os mais velhos que, no caso da Covid,
podem adquirir uma forma grave.
Esses dados mostram que o Brasil precisa vacinar
todas as crianças com mais de dois anos (futuros estudos talvez demonstrem que
pode ser antes). As perdas cognitivas por mantê-las em casa por quase dois anos
são incalculáveis, especialmente no caso das mais pobres. Cada vez que uma
delas adoece as aulas são suspensas, prejudicando todas.
Por essas razões, leitora relutante, leve seus
filhos para vacinar. Ao contrário dos perigos da doença, as vacinas são muito
seguras. Não vá ficar morta de remorsos ao vê-los doentes, seja racional.
.
Veja: Quem semeia o caos colhe o quê? https://youtu.be/yLfPBPiRBik
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