29 junho 2023

Enio Lins opina

ERAM UMA VEZ OS ARRAIAIS, AS FOGUEIRAS E O FORRÓ 
Enio Lins


Encerra-se hoje o Ciclo Junino, período de comemorações pelo Solstício de Inverno, com cada vez mais gente na pândega e cada vez mais gente sem saber o que está festejando, o porquê e o “para que” disso. Virou simplesmente um negócio milionário para alguns.

Ciclo é uma série de fenômenos que se repetem de forma constante. Junino vem de Juno, deusa romana (consorte de Júpiter), solstício é o ponto do movimento cíclico celeste onde a terra está mais distante do sol, pândega é uma festa pagã. Oquei.

Mais arraigado no Nordeste brasileiro, esse ciclo festivo é produto das velhas tradições populares europeias trazidas pelo colonizador pobre, que aqui se juntou com as excluídas culturas nativas e as importadas d’África – e daí saiu esse forrobodó.

Certamente já chegou como festa absorvida e apadrinhada pela igreja católica que, assim como no Natal, cristianizou um evento pagão, substituindo Juno pela tríade Santo Antônio, São João e São Pedro. Mas não foi possível mudar o nome, nem certos rituais.

Das antigas raízes, ficaram por longo tempo os sortilégios típicos do período, como os rituais pró-casamento, normalmente praticados pelas mulheres solteiras, e que, por pressão católica-romana, trocaram Juno (deusa casamenteira pagã) por Santo Antônio.

São João, ali no meio do calendário da festa, assumiu a denominação do ciclo, ou melhor – dividindo com Juno, pois “Festas Joaninas”, se foi tentado vernaculamente, não pegou. No Nordeste ancestral essa festividade foi ficando, mas está se transformando.

As fogueiras lembravam as referências pagãs das festas solsticiais europeias e aqui, no hemisfério Sul, eram acesas cerimonialmente e corretamente no solstício de inverno. Só que na calota Norte, isso acontecia no final do ano, pela inversão das estações.

Quase desapareceram as fogueiras juninas, pressionadas pela urbanidade (colocar fogo no asfalto não dá, né?) e pelas justas preocupações ecológicas – cuidados com os incêndios, né? Residualmente, apenas resistem, até nas urbes, típicas como as chuvas do período.

Estão desaparecendo também as características culturais miscigenadas que marcaram o ciclo junino forrozeiro até o começo do século XXI, e que no cadinho ancestral de raças e ritos se mantiveram fortes, por séculos, nesse Nordeste que já foi profundo.

Nos dias em curso o Ciclo Junino se transforma em um período raso de celebração de grandes negócios da indústria de entretenimento. Abandonadas as raízes, vale apenas um casamento: circulação de milhões de reais (para poucos) + ajuntamento de multidões.

Onde cabe quase tudo - sem preconceito nem sectarismo https://tinyurl.com/3y677r7f

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