O governo Lula num labirinto de vasos comunicantes*
Luciano Siqueira
Não há situação política simples, mesmo quando parece ser, pois o conflito entre movimentos contrários irreconciliáveis sempre existirá — de modo aberto ou subterrâneo.
Tudo se relaciona, aprendemos com a concepção dialética do mundo. E é o que vemos nos dias que correm: seja em relação aos inúmeros fatores dinâmicos internos à sociedade brasileira, seja nas relações que guardamos com o mundo atual, marcado por impasses econômicos e financeiros, pelo agravamento crescente da exclusão social e pela multiplicidade de conflitos regionais em meio a complexa transição a um novo ambiente geopolítico multipolar.
No Brasil vivemos um verdadeiro labirinto de vasos comunicantes, onde as forças democráticas e populares buscam a transição para um novo ciclo de transformações de sentido progressista, frequentemente aturdidas por resistências caleidoscópicas.
Transição que antecipadamente não nos permite prever quem vencerá a quem: se as forças que governam ou as forças que permanecem na oposição.
O rentismo e o poderoso agronegócio - forças sociais dominantes - cercam o governo de obstáculos de toda ordem, apoiados no parlamento majoritariamente conservador e em fortíssimo aparato midiático.
O novo arcabouço fiscal, por exemplo, se constitui em autêntico dique de contenção de investimentos públicos.
Em seus primeiros dez meses, o governo celebra um leque de iniciativas de apelo social, de certa repercussão positiva (pesquisas têm revelado lenta mas crescente confiança no presidente Lula e no governo), mas ainda sob os olhares semi passivos da classe trabalhadora e das massas populares, ainda não convocadas, nem motivadas, a se manifestarem nas ruas.
Uma ausência perigosa, pois o conjunto das políticas e projetos iniciados pelo governo e a sua plena concretização implicam ruptura com os fundamentos macroeconômicos ultraliberais vigentes — e para tanto é preciso força política de base social ativa.
Nada que se possa saudar em clima de oba-oba. Pois nesse labirinto, possibilidades e riscos dão o tom da luta social e política.
*Texto da minha coluna no portal Vermelho
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