20 fevereiro 2024

Roberto Trevas: Antiga Rota da Seda

A Diáspora Chinesa no Mundo: Brasil e Recife

Roberto Y Plá Trevas*
 
Diáspora no mundo
A República Popular da China representa o terceiro país onde o maior
número de pessoas deixaram seu território para migrar para outras partes
do mundo. Essa história da migração chinesa, marcada por diversas e
sucessivas vidas, remete ao início da antiga Rota da Seda marítima, e é
objeto do presente trabalho.

Segundo a Organização Internacional para as Imigrações, atualmente,
10,7 milhões de chineses vivem no exterior, e cerca de 60 milhões, se
forem incluídos seus descendentes. Portanto, esse é um dos mais
elevados índices de Imigração em todo o mundo, tendo se iniciado há
mais de dois mil anos, com imigrantes se deslocando principalmente para
o Sudeste Asiático.

Porém, foi no final do século XVI que teve início a migração em grande
escala. No início do século XVII havia cerca de cem mil chineses no
Sudeste Asiático, e cerca de trinta mil no Japão. Já em meados do século
XIX, havia cerca de um milhão. Observa-se que, de meados do século
XIX até o início de 1940, uma segunda onda de migrações teve início na
China, onde surgiu uma classe de trabalhadores não qualificados,
denominados “peões contratados” da China.

Durante as duas Guerras do Ópio, no século XIX, a França e
Grã-Bretanha forçaram o governo chinês a autorizar um êxodo
substancial de trabalhadores chineses para os países ocidentais. E então,
com essa atitude, teve início a dispersão dos chineses para todo o
mundo, notadamente para o Sudeste Asiático, Américas, África, Europa e
Austrália.

Na década de 1940, havia cerca de 8,5 milhões de chineses expatriados
em todo o mundo, sendo que 90% deles se encontravam no Sudeste
Asiático, em países como Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e
Tailândia. Com a fundação da República Popular da China em 1949, a
migração em grande escala deixou de ser permitida, e a maré de
Imigração chinesa no mundo, após cerca de 300 anos, foi praticamente
interrompida.

Diáspora no Brasil
A Diáspora Chinesa para o Brasil teve início no século XIX, com a vinda da
corte de D. João VI em 1808, chineses provenientes das províncias de
Guangdong e Fujian se estabeleceram no Jardim Botânico no Rio de
Janeiro para trabalhar nas plantações de chá. Conforme trabalho
publicado na Revista Janus.set da Universidade Autónoma de Lisboa, pelo
Professor Daniel Bicudo Veras, a Diáspora Chinesa no Brasil trabalha com
as seguintes hipóteses:

1) A China expulsa (push factors);
2) O Brasil recebe (pull factors);
3) Os sino-brasileiros emergem (a síntese do processo).

Dentro desse contexto, a migração chinesa para o Brasil começou a ter
um aumento nos anos 60 e 70 do século passado, inicialmente com
chineses vindo de Taiwan que, na sua maioria, eram comerciantes. À
partir da década de 80 e início dos anos 90 do século passado, a grande
maioria dessa leva de chineses vieram da República Popular da China,
indo originalmente para Foz do Iguaçu e, posteriormente, migrando para o
estado de São Paulo, notadamente para a cidade de São Paulo.

Atualmente, cerca de trezentos mil chineses vivem no Brasil, dos quais a
metade vive na cidade de São Paulo. Essa proporção não se compara a
outras cidades, na América, na Austrália e em outras regiões.

Um outro aspecto de considerável importância refere-se aos “retornados”,
pois, a partir de 1997, a China tem atraído pessoas de todo o mundo,
principalmente pelas excelentes condições de estabilidade que a
República Popular da China voltou a proporcionar aos seus habitantes,
notadamente tendo como semente a implantação da nova forma de
sociedade chinesa, proporcionando através do “socialismo de mercado”
que teve como artífice e principal condutor Deng Xiaoping.

Diáspora Chinesa em Recife, Pernambuco
Após o período da Revolução Chinesa de 1949, quinze famílias
provenientes de Taiwan que residiam em São Paulo, mudaram-se para
Recife, onde abriram lojas e trabalharam como autônomos. A partir de
1970, começa a segunda leva de chineses para o Brasil a partir do
Paraguai, pois mantinham relações com Taiwan, e não com a República
Popular da China.

A partir dos anos 1990, esses imigrantes chineses que se localizavam no
Paraguai se deslocaram para o Brasil, principalmente para a cidade de
São Paulo. É bom salientar que os chineses são a quarta nacionalidade
mais expressiva no Brasil, atrás apenas dos bolivianos e argentinos.

Em Pernambuco, a imprensa local destacou que no ano de 2016
constatou-se que aproximadamente dez mil chineses viviam na região
Nordeste, sendo quatro mil no estado de Pernambuco. Em 2020, a
jornalista pernambucana Juliana Aguiar, munida de informações passadas
pelo Consulado Geral da China em Recife, publicou uma matéria que
trazia o número de oito mil chineses residindo no Recife, o que demonstra
a força e o substancial aumento da migração chinesa na capital
pernambucana.

Os chineses estabelecidos no Recife desenvolvem diversas atividades,
alguns são professores, a maioria são empresários, outros trabalham na
fábrica da Shineray, localizada em Suape. Na Região Metropolitana do
Recife possuem restaurantes que são encontrados em várias localidades,
especialmente no antigo bairro de São José. Em lojas e galerias que se
espalham pelas ruas de São José, no Cais de Santa Rita, na Rua Direita,
dentre tantas outras, encontram-se centenas de empresários e
trabalhadores chineses nessas atividades comerciais.

Concluindo, podemos afirmar que na cidade do Recife, encontram-se
chineses em diversas atividades laborais, destacando-se entretanto
aqueles que ocupam o centro da cidade, onde podem ser observados
negociando os famosos produtos “made in China”.

Referências
• CUNHA, Paulo Gustavo de Araújo. China: de Confúcio a modernidade.
São Paulo: Scortecci, 2015.
• TREVAS, Roberto. Socialismo de Mercado: um estudo sobre a
influência das diretrizes do Partido Comunista da China na cidade de
Shenzhen. TCC do curso de Especialização em Ciência Política -
Universidade Católica de Pernambuco, Janeiro de 2020.
• VERAS, Daniel Bicudo. A Diáspora Chinesa no Brasil: dispersão,
mitologia da terra de origem e promessa de retorno. JANUS.NET,
e-journal of international relations, vol. 13 N2, TD1 - Dossiê Temático
“Perspectivas sobre a presença internacional da China”. Dezembro 2022.
Disponível em <https://dol.org/10.26619/1647> Acesso em 15/01/2024.
• VILLARIM, Mariana, COZIC, Bertrand. Passado e Presente da
Diáspora Chinesa: reflexões e aproximações com o fenômeno migratório
chinês e sua presença no Recife-PE. Trabalho apresentado no XIV
Encontro Nacional de Graduação e Pesquisa em Geografia. 10 a 15 de
Outubro de 2021

*Engenheiro, ex-Coordenador de Relações Internacionais da Prefeitura do Recife
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