25 setembro 2024

Palavra de poeta: Orley Mesquita

Poema biográfico

Orley Mesquita         


Minha vida sou eu de lado alado.

Se colho uma flor do meu jardim

Um gato reinventa-se no telhado.

 

Quando a lua me deixa embriagado,

Cerro os olhos de nojo e sofrimento.

Visto meu terno branco, hoje cinzento,

E vou-me divertindo com o diabo.

 

A noite do que fui deixou-me cego;

Nem me restaram versos a rezar.

Cubro meu corpo de jóias impossíveis

E bebo geometrias do sonhar.

 

Faço contas. Passo tudo a limpo.

Varro o chão de vidro do pesar.

Embriaga-me o fruto adormecido

E sou meu próprio sangue: sou o mar.

 

Prego bandeiras de papel carbono

Datilografo o nome a rasurar.

Corrijo o verbo, penso esquecimentos,

E referto de mim vou-me deitar


[Ilustração: Edward Hopper]

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