O realejo de vinho
Para quem me queira ouvir:
Sou um homem aos frangalhos.
Parte por culpa de tudo.
Parte por culpa de nada.
E digo mais ao casual
Ouvinte deste relato:
Não sendo herdeiro nem rico,
Não tenho crédito na praça.
Amo as japonas escuras
De mangas e tudo vasto.
E os colarinhos puídos
Uso desabotoados.
Ao pôr a minha gravata,
Fabrico um laço bem largo.
E acho triste andar com ela.
E mais tristes as gravatas.
Eu nunca faço questão
Que uma roupa seja cara.
Mas ampla e, sendo possível,
Com certo ar desesperado.
Eu prefiro aos bons charutos
Um velho e forte cigarro.
E odeio fumar cachimbo
Pois sou muito angustiado.
No mais, um vento me agita,
Interior e largado.
E me devasta os cabelos,
Rosto, sorriso e palavra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário